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  • Resenha | Y: O Último Homem – Volume 5

    Resenha | Y: O Último Homem – Volume 5

    Não há tempo a perder: o final é aqui. Yorick, seu macaco Ampe e a agente 355 precisam sair do Japão, e viajar até a China, antes que a Dra. Mann, mestre em clonagem e sequestrada, seja assassinada por inimigos ainda desconhecidos. No penúltimo arco da série, Pátria-Mãe, uma organização quer manter erradicada a existência dos homens ao acabar com os planos de clonagem da doutora, antes que hajam milhares de Yoricks povoando a Terra, e se reproduzindo à solta num mundo de mulheres. Agora, Y – O Último Homem, do selo adulto Vertigo da DC Comics, chega no auge da ação, descortinando todo o suspense tão bem arquitetado até então, em combates tanto físicos quanto dramáticos. Nenhum personagem, mesmo em situações limites, faz-se herói ou vilões, senão perdedores e vencedores de suas próprias causas, um tanto desesperadas. E não é assim mesmo no mundo real?

    Em Não Há Causa Sem Porquê, a narrativa segue, como sempre, fragmentada no presente e passado, a fim de nos embasar sobre as raízes, e ímpetos das figuras que aprendemos a gostar, acompanhando-as em sua odisseia coletiva em tempos sem lei, e de absoluta desvalorização da vida humana. Mas é nesse último arco em que fica estipulado, mesmo, o quanto a série de Brian K. Vaughan e da ilustradora Pia Guerra, publicada com êxito estético em 10 partes pela Panini, no Brasil, conseguiu naturalizar o desenvolvimento de suas subtramas tramas, mas é incapaz aqui, em seus momentos derradeiros, de dar um desfecho grandioso ou sequer equivalente ao bom gosto, e a força principal do enredo que veio antes. Deixamos até de sentir o peso de Yorick em ser o último do seu gênero, e ter sua cabeça posta a prêmio.

    Assim, o final de Y – O Último Homem não poderia ser mais agridoce, para muitos. Ao dividir a opinião dos leitores, a história se esquiva tanto em sanar as nossas expectativas, quanto em explicações racionais sobre a grande problemática da história: a extinção enigmática dos homens. De propósito, Vaughan idealiza duas opções plausíveis, e nos torna aptos a acreditar em dois possíveis motivos para o extermínio dos animais masculinos, bípedes ou quadrúpedes, na face da Terra. Nunca de fato sabemos a grande causa (se houver apenas uma), mas isso não importa: o alvo da novela gráfica sempre foi outro, e apenas nos seus finalmentes temos a certeza disso. A jornada portanto não busca por respostas, e sim o retrato do que a humanidade ganha e perde em tempos caóticos. Que Y fez história de 2002 a 2008, chega a ser indiscutível. Uma publicação vital para qualquer leitor casual de HQ’s – quanto mais aos colecionadores.

  • Resenha | Y: O Último Homem – Volume 4

    Resenha | Y: O Último Homem – Volume 4

    Para Yorick, O Último Homem, a pergunta acaba sendo sempre a mesma: o que sobra em ti, quando tudo é adversidade? Ele, o último, a vagar por ai, num mundo que não é mais dos homens, cármico ao que sobrou do gênero. Uma Terra de mulheres, que nunca parecem se acertar igual no tempo dos machos, na máxima ironia dessas utopias. A raça humana é errada nascendo ruim ou não, e Yorick, andando junto da Dra. Mann e sua amiga, a agente do governo 355, e viajam por entre seus cacos rumo a respostas. Entre suas leis que já não existem mais. Seu sistema, em chamas, e suas memórias, mais vivas do que eles mesmos. Brian K .Vaughan e Pia Guerra criaram uma saga épica das HQ’s que exclama questões filosóficas muito além da ação e das reviravoltas, sempre pontuais em todos os volumes. O que verte quando estamos totalmente livres? Para muitos, a barbárie, e para outros, a solidão.

    E engana-se quem acha que não há barbárie nos pequenos abusos entre as pessoas. Aqui, a jornalista Paloma West ouve os boatos de que um fóssil, ou melhor, um homem desembarcou na Austrália, e não mede esforços para chegar até ele, e garantir o furo jornalístico do ano! A ambição (e inteligência) de Paloma é desmedida, e nem com a ajuda de suas amigas Yorick tem a mínima chance de manter o anonimato. Assim, mesmo mais longo na duração do que poderia ser (eis um dilema na maioria dos volumes da série), o arco Bonecas de Papel discursa habilmente o papel construtivo e quiçá destruidor da mídia nas nossas vidas, e o preço que o ser humano paga por ser um animal social – para o bem, e para o mal. Em meio ao caos e a perseguição, e sem ousar confiar em ninguém, Yorick não desiste de viajar para o Japão, a fim de encontrar o seu macaco raptado, Ampe, antes que seja tarde demais para recuperar o símio que, muito provável, é a chave imunológica à sua sobrevivência.

    Mas é no Japão que a coisa pega, e sem ver a quem. Muitos mistérios já começam a ser revelados ao indicar os possíveis desfechos da trama – a narrativa de Vaughan reconhece os momentos perfeitos para desvendar os enigmas construídos pouco a pouco, e o leitor certamente agradece pelo nível da escrita. No arco Dragões de Quimono, as máscaras caem e traidores se expõem, subjugando os desavisados num terrível hotel de Tóquio, repleto de assassinos e mafiosos. O suspense aqui é pesado, rendendo momentos decisivos de pura tensão, redenção e até mesmo horror, para talvez Ampe voltar aos braços do dono – nada mais será normal após esta viagem. E o caminho para o fim já está traçado. Curioso notar como a evolução de Y – O Último Homem se dá, em todas as vertentes da revista, concebendo uma realidade e seus habitantes em constante transformação. A Terra sem homens é tridimensional, sai das páginas e se torna crível nas nossas mentes e corações, enquanto a natureza externa faz, o que ela deve fazer: ficar alheia ao Homem. É nós, por nós mesmos.

  • Resenha | Y: O Último Homem – Volume 1 (2)

    Resenha | Y: O Último Homem – Volume 1 (2)

    “Estou com medo. Da gente.” – O Senhor das Moscas

    Prestígio nunca faltou a Y: O Último Homem, a famosa série adulta do selo Vertigo, da DC, que discorre com muita tensão e correria a odisseia do único sobrevivente da extinção do homem. Homem mesmo, referindo-se aqui ao sexo masculino erradicado da face da Terra – e por motivos nunca revelados, o que explica o uso do Y no título (lê-se “Why” em inglês, ou seja, “Por quê?”). Só que as razões misteriosas são esquecidas diante do caos que as sociedades se encontram, já que agora as mulheres precisam tomar as rédeas desde os governos, a produção agrícola. Em Y – O Último Homem, um dia banal para a humanidade torna-se o início de uma nova era para qualquer ex-mãe, ex-mulher ou ex-filha, donas de um planeta sem saber se a espécie vai continuar sem uma gota de espermatozoide por ai. Ou melhor, quase nenhuma, já que o americano Yorick Brown, de eunuco, não tem nada.

    Junto do seu macaco adotivo, sobra para Yorick sair de Nova York nos Estados Unidos, e ir encontrar sua mãe deputada na capital do país, em Washington, o que não vai ser nada fácil. Logo, o cara (mestre em fugas) descobre que pode ser morto ou vendido a bordéis, e que por ser macho, tem que se esconder de qualquer um que não se chame Jennifer Brown – ou Hero Brown, sua irmã desaparecida. Em Washington, Jennifer ajuda seu filho deixando-o sob a guarda da agente secreta 335, ambos rumo a um esconderijo para quem, agora, pesa muito mais do que ouro. Aos poucos, a ambientação da história assegurada pelo seu bom roteiro, nos deixa a par dos conflitos que crescem não apenas entre mulheres democratas e republicanas na política, mas entre aquelas que prezam pela ordem, e as que pretendem manter a opressão machista e violenta do passado. Assim, nem com a experiente 335 do lado, Yorick está seguro, já que uma conspiração sombria vai sorrateira ao seu encalço, cada vez mais próximo.

    Ao criticar um tipo de feminismo fanático, o roteirista Brian K. Vaughan acentua o quão prejudicial a desunião pode ser a resistência de uma espécie, e o quão perigoso são os extremos alienantes. Enquanto Yorick e sua protetora tentam se livrar dos problemas que explodem em sua caminhada, sua irmã Hero vira uma “Filha das Amazonas”, uma comunidade de ódio que pretende varrer qualquer traço deixado de masculinidade – e sobretudo exterminar aquele que, segundo boatos, anda escondido por ai. No volume 1, Y: O Último Homem expõe o novo contexto perturbador de desconfiança e zero harmonia que, em teoria, de repente uniria os diferentes grupos de mulheres. No entanto, a realidade decepciona até a mais utópica das esperanças, e no segunda arco da série, a perseguição ao “último dos moicanos” atinge seu ápice com novos e ótimos personagens. Incrível como a humanidade, sem leis, sempre volta a barbárie da caverna, ou ao egoísmo dos líderes extremistas – manipulando multidões a bel prazer.

    Sob a junção de um realismo levemente distópico (assegurado também pelo traço de Pia Guerra), e um suspense a prova de bala que impossibilita nosso desinteresse, fica óbvio pelo menos o motivo do sucesso e da polêmica da saga distribuída no Brasil pela Panini, desde os seus primeiros volumes. Por isso, não é de hoje que Hollywood está de olho nesse material, tão rico de possibilidades na adaptação. Fato é que a releitura numa outra mídia, mesmo que válida para atrair leitores, vai precisar se esforçar (e muito) para superar o ritmo, a dramaticidade, o espanto e a exuberância de muitos momentos ilustrados para nos fazer fã da jornada de Yorick, 335 e seu macaco Amp. Ainda mais agora em 2020, com The Last of Us arrebatando corações. Talvez não seja de todo mal deixar o clássico gibi, no gibi. A emoção já está toda aqui, perfeita como só.

    Compre: Y, O Último Homem – Volume 1.