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  • Crítica | Liga da Justiça de Zack Snyder

    Crítica | Liga da Justiça de Zack Snyder

    Parece que uma eternidade se passou entre o Liga da Justiça lançado nos cinemas e a Liga da Justiça de Zack Snyder veiculado pela HBO Max. Bem mais que o tempo cronológico entre 2017 e 2021. Houve clamor dos fãs, de gente da indústria e, finalmente, algo próximo do que seria a visão real de Zack Snyder chegou ao público: o tão falado Snydercut, que já começa bem diferente da outra versão, com uso largo de CGI e slow motion já nas primeiras cenas e em momentos estendidos nas sequências de ação.

    Esta versão se assemelha ao monstro de Frankenstein. É um ajuntamento de vários elementos que estariam no filme da Liga, outros que poderiam estar na parte 2 de uma saga, e ainda momentos que claramente foram pensados e amadurecidos depois, como partes mortas formando um ser vivo. É curioso como boa parte dos que defendem esta versão falam a mesma coisa: que esse não é um filme de cinema, basicamente para tentar blindar a obra e a própria carreira do diretor, sempre criticado por ter dificuldades em conectar as partes diferentes de suas histórias. Isso não exime o produto de parecer gorduroso, nem justifica o início arrastado, mesmo quando remonta o final de Batman vs Superman e boa parte do universo compartilhado. Se a ideia ao lançar esse corte em formato de minissérie fosse para frente, certamente seria uma opção mais inteligente.

    Snyder mira na versão estendida da trilogia Senhor dos Anéis, mas esses são produtos bem diferentes entre si. Os filmes de Peter Jackson são obviamente voltados para os fãs, mas o espectador comum certamente apreciaria tais versões de forma mais palatável que este novo Liga da Justiça. Um filme de orçamento tão grandioso não poderia ser tão voltado para nicho.

    Em questões musicais, a trilha sonora é mal encaixada principalmente nos momentos em que não há tanta ação. O uso é piegas, e casa muito mal com os momentos explicativos. O filme parece uma tentativa de transformar um produto heroico em uma ópera. As batalhas são artificiais, as frases de efeito não convencem, os conflitos empolgam menos que as lutas pseudo-realistas da trilogia Batman de Christopher Nolan, e tem a qualidade dramática do pior dos seriados CW da DC, fora a fotografia e o uso excessivo de câmera lenta. Mal parece que as gravações seriam destinadas a tela grande.

    O visual do Lobo da Estepe é arrojado, mas funciona de jeitos distintos quando o personagem está em ação ou apenas parado em cena. Ao menos a razão de entrar na Terra atrás das caixas maternas faz mais sentido, como um filho rebelde que busca a aprovação do pai, Darkseid. Já a participação dos vilões do Quarto Mundo é fraca. A batalha antiga entre a humanidade e os asseclas de Apokolips é cheia de bonecos digitais que fazem de 300 um filme ultra realista. Os atores rejuvenescidos parecem retirados de cutscenes de jogos de 64 bits e não casam bem com o clima proposto.

    A partir daqui, a análise conterá spoilers

    Toda a segunda parte do filme é bem melhor desenvolvida. A historia é mais fluida, há mais inserção de material inédito e não meras variantes do antigo. Se há algo positivo nesta nova visão do diretor é o tom heroico, após muitos tropeços, ele entendeu que não há motivo para deixar todos os personagens como versões sisudas e obscuras deles mesmos. Mesmo o Superman tem uma abordagem diferente, que claramente não combina com Homem de Aço, e sim com um resgate às origens do herói. Henry Cavill parece mais uma versão do desenho antigo do DCAU ou do seriado de cinema dos irmãos Fleischer, não é exatamente o Superman de Christopher Reeve, mas possui boa parte do espírito, e sua experiência de pós morte pode ser uma boa explicação para encontrar essa persona. Não há motivo para reclamar de um retorno ao correto estilo da personagem, mesmo que seja tardio.

    Outra conclusão difícil de analisar é saber se foi essa versão que a Warner recusou anos atrás. Até porque o valor para a gravação de novas cenas foi aumentando ao longo da produção, claramente não influenciou só cenas de CGI (até porque esses efeitos são ruins, na maioria do filme). Mas como faltavam cenas, foram feitas refilmagens mesmo que Snyder e a produção negasse a princípio. Além disso, a culpa sobre o corte cinematográfico de Joss Wheddon é incalculável também, uma vez que não se sabe em detalhes qual foi o pedido do estúdio para ele. Seu crédito oficial foi de roteirista, mas sabe-se que ele dirigiu cenas extras, incluiu momentos diferentes do conceito de Snyder, adicionou humor e cenas como a do Flash em seu primeiro salvamento e Aquaman confessando a realidade de seus pensamentos por conta do laço da verdade que, obviamente, não estão aqui. Para além de cenas machistas conduzidas por Wheddon em Liga ou Vingadores: Era de Ultron, há de se lembrar que essa visão já foi abordada por Snyder, autor do filme autoral Sucker Punch em que moças andam de espartilho em cenários nerds fetichistas. Além, é claro, de cenas da Mulher Maravilha em poses exageradas ao laçar o Apocalipse em BvS.

    Além do arco do Cyborg, o de Superman é bem diferenciado, para além da mudança da cor de sua roupa. Mesmo que brevemente, Snyder remete ao melhor que seu filme de 2013 teve: as origens alienígenas do herói onipotente. Surpreendentemente, o diretor opta por um uso de cores mais variado fugindo da velha piada de filtros do Instagram que fazia com seu cinema. As sequencias de batalha no final tem bons momentos, com uso de veículos, gadgets e tudo que um filme de ação super heroica precisa para agradar crianças e vender brinquedos. Ao contrário do que supunha, as lutas não são super violentas, nesse ponto, entram no patamar dos filmes da Marvel de Kevin Feige.

    O diretor pôde amadurecer seu tom, que realmente só é estragado pela música que foi uma constante negativa do filme, assim como o cenário de Apokolips que aparece timidamente, mesmo que esse tenha um aspecto visual estranho. Assim como o epílogo que parece um amontoado de cenas excluídas e desconexas que lembram os sonhos do Batman. A maioria delas é despropositada, servem com teasers de arcos futuros que dificilmente serão filmadas. O Snydercut é uma realidade.

  • Crítica | Liga da Justiça

    Crítica | Liga da Justiça

    Um agradável retorno a esperança e ao conceito do herói clássico, dessa vez de verdade, e pela primeira vez em muito tempo, levando em conta obviamente a exceção de Mulher-Maravilha. Esse é o resumo das sensações pós apreciação de Liga da Justiça, filme de Zack Snyder que sofreu algumas alterações de Joss Whedon, que aqui, é creditado como corroteirista junto à Chris Terrio. É um esforço fútil tentar descobrir de qual dos dois diretores é o mérito pelos pontos positivos do longa, mas certamente esse é um dos produtos mais redondos dentro da filmografia de Snyder.

    A história começa quase que imediatamente após os eventos de Batman vs Superman: A Origem da Justiça, com a queda de Superman (Henry Cavill). A primeira cena do longa é uma gravação amadora, de crianças registrando uma ação do herói antes de sua morte, numa clara alusão a necessidade que o mundo tem de encontrar nos heróis os avatares da esperança. A mensagem é clara, direta e até um pouco pueril e óbvia, ainda mais por se tratar de um filme de herói de quadrinhos, mas que era absolutamente necessária, em se tratando desse universo cinematográfico construído por Snyder e David S. Goyer.

    Aliás, a saída de Goyer parece ter ajudado a simplificar muita coisa, uma vez que toda a problemático dos heróis inconsequentes é deixada de lado. Em alguns pontos, a busca por algo mais simples e maniqueísta pelo lado bondoso é tão absolutamente repetitivo que parece ser este um filme de Christopher Nolan – que aliás, ainda assina como produtor executivo. Não há a inteligência ou discussões adultas como em Batman – O Cavaleiro das Trevas ou Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, mas há um ideal por trás dessas questões, ainda que haja claramente uma influência de dois filmes da concorrente editorial da DC, em especial Vingadores e Vingadores: A Era de Ultron, não só pelo conjunto de piadas, envolvendo Barry Allen (Ezra Miller) e Aquaman (Jason Momoa), mas também por toda coordenação que o Batman de Ben Affleck faz, funcionando como um misto de Nick Fury com Amanda Waller, ainda que guarde todas as suas próprias características.

    Mais uma vez Gal Gadot apresenta a personagem mais altiva e forte do filme, sendo a dona da cena na maior parte dos momentos, subvertendo qualquer possibilidade de ter o papel diminuído por ser uma mulher. Sua experiência como amazona de quem ouvia bastante sobre as lutas com os para-demônios do Lobo da Estepe (Ciarán Hinds) foi fundamental não só para a simples trama, como também para explicar aos personagens masculinos como aconteceram as batalhas mais antigas. A sequência da explicação é bastante curiosa, pela quantidade enorme de referencias ao universo DC, com bastante fan service.

    Falando em agradar fãs e nostalgia, a música que Danny Elfman compôs para o filme beira a perfeição. O resgate do tema ouvido em Batman de 1989 e a utilização da versão que John Williams compôs para Superman – O Filme ajudam mais uma vez a resgatar o ideal heroico. Se ficasse apenas nessas músicas, haveria um problema, mas não, os embates físicos também funcionam, e tirando um outro problema de efeitos visuais, quase toda a interação física entre os personagens funciona, seja na tradicional luta entre eles, bem como nas investidas que dão em direção ao antagonista e a captura das caixas maternas, que é o artigo que o Lobo quer para reaver todo seu potencial.

    Os personagens coadjuvantes são pouco utilizados, o que é comum, já que esse é o um filme para apresentar o quinteto em ação. A Lois Lane de Amy Adams talvez seja a mais acionada, mas do lado do Morcego tanto Alfred (Jeremy Irons) quanto Gordon (J.K. Simmons) estão bastante a vontade, em seus papeis. Da parte dos outro heróis, a Mera de Amber Head pouco aparece, e só serve para aguçar a curiosidade em torno dos atlantes, já o Dr. Silas Stone (Joe Morton) tem uma participação maior, fato que ajuda o espectador a se afeiçoar mais pelo drama de Vic Stone/Cyborg de Ray Fisher. Ele aliás é o maior expoente positivo em matéria de efeitos especiais do filme.

    É incrível como o filme consegue dizer tanto em pouco mais de duas horas de filme. Há desenvolvimento dos fatos anteriores, conflito entre personagens, reaparecimento de heróis antigos, reunião dos vigilantes tudo em um ritmo que praticamente só peca no começo. Não há enormes ousadias, nem narrativamente nem dramaticamente, e como é um produto de Zack Snyder já se espera o velho uso do slow-motion, dessa vez não tão exaustivo quanto em 300 ou Watchmen.

    Ao final de Liga da Justiça a sensação que se tem é que esse é muito mais sóbrio e equilibrado que os episódios anteriores, e que a experiência com Mulher Maravilha finalmente colhe bons frutos, já que esse foi de fato o primeiro filme a estabelecer essa ideia do herói clássico como parâmetro básico, só assusta o quando que os produtores, em especial Geoff Johns, que veio da editoria de quadrinhos a fim de tentar consertar todos os defeitos do início da empreitada do visionário diretor e sua trupe. Agora, o esperado é que venha uma nova leva de filmes da DC, de tom mais leve, menos ambicioso e até medíocres, o que obviamente não justifica todos os graves defeitos de Homem de Aço e sua continuação. Há de se atentar para as cenas pós créditos, fato que ajuda a aproximar demais esse produto dos vistos a partir da Marvel Studios, em especial a que ocorre após o termino de todos os créditos, restando então a esperança de que esse seja um pontapé para uma nova fase de filme, como um Vingadores às avessas, já que aqui há de ser a gênese de uma fase e não fim dela.

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