Tag: David Mazouz

  • Review | Gotham – 4ª Temporada

    Review | Gotham – 4ª Temporada

    Três anos se passaram e o plano da Fox em adaptar uma “história do Batman” obteve algum êxito, já que Gotham é um sucesso de audiência. Após os acontecimentos bastante agressivos da terceira temporada de Gotham, a série retorna relembrando os fatos da temporada anterior. Apesar de gastar muito tempo nessa reconstituição, a questão da toxina/vírus é deixada de lado e a situação que mais comove a cidade é a liberação de Oswald Cobblepot (Robin Lord Taylor) como prefeito, com uma licença para alguns criminosos criarem problemas. Isso é tão esdrúxulo que o personagem de James Gordon (Ben Mckenzie) ignora as ordens da polícia e prende as pessoas assim mesmo.

    Independente da péssima caracterização de outros personagens, o quarto ano começa bem, mostrando Jonathan Crane (David W. Thompson) atormentado, e agindo como o Espantalho. Seu visual de vilão é bem construído, assim como as alucinações de fobias dos que  sofrem com seu gás. Mas não demora, obviamente, a se dar atenção para mais personagens ressuscitados, artigo tão comum nos outros anos que nem causa mais estranhamento por parte do público.

    Finalmente se dá alguma importância a Lucius Fox, ele ajuda Bruce, como foi em Batman Begins, com um traje diferenciado, embora esta versão de Chris Chalk não tenha um motivo tão bem construído quanto nos roteiros de David S. Goyer e Christopher Nolan, mas de todos os muitos problemas de Gotham, esse nem de longe é o pior. Além disso, há duas mudanças estranhas, com Hera sofrendo outra mutação, para ser feita por Peyton List. Ao menos, visualmente a transformação é legal, ela age como a versão do desenho Batman: a Série Animada, e domina os homens através  do aroma de suas plantas, mas os atos que pratica soam estranhos, graças a péssima construção do roteiro.

    A outra mudança envolve Bruce, que passa a ser um vigilante. O Ra’s Al Ghul desta série é feito pelo doutor Bashir de Deep Space Nine, o ator Alexander Siddig, e seu desempenho é bom. A forma como o Poço de Lázaro é apresentado condiz bastante com os quadrinhos, visualmente o artefato é bastante belo mas a demonstração do primeiro uso feito pelo vilão é um bocado estranha e gratuita, assim como os desdobramentos de sua chegada a Gotham, seja na aproximação de Bruce, no seu affair com Barbara Kean (Erin Richards) e também na subtrama que o coloca como líder da Corte das Corujas e responsável pelo vírus que assolou a cidade no terceiro ano. Apesar do seriado ter 22 episódios no ano, o roteiro não explora bem nenhum desses elementos.

    As cenas de ação envolvendo Mazous são risíveis, ele tentando impedir Selina de roubar – sem saber que é sua amiga/par que está ali – beira o patético, mas é nesse ponto que ator pode exercer um papel legal e parecido com suas contrapartes no audiovisual, em especial quando ele gasta em um leilão. Mas não demora a série retomar suas sub-tramas estranhas, com Gordon se reaproximando de Carmine Falcone (John Doman) para controlar Gotham, se interessando ainda por Sofia (Crystal Reed), que também vai para Gotham para ter um monte desventuras desnecessárias dramaticamente e que tem pouco ou nenhum peso no final do ano.

    Robin Lord Taylor consegue extrapolar ainda mais o overacting e de modo cada vez mais insuportável. Antes ele era irritante, mas quando se enfurece com  o Charada a sua falta de inteligência salta aos olhos, fazendo-o parecer um adolescente. Diante disso, até a questão da licença para cometer crimes ser tão amplamente comentada por todos e ser uma regra legal e cedida de maneira oficial aos bandidos não é nem tão chocante, pois nada é real – aliás, ainda como político ele abre mão disso, traindo seus eleitores. Os exageros fazem lembrar em vários momentos a visão de Joel Schumacher sobre o Batman, em especial pelo tom esdrúxulo e gritante dos eventos que seguem nesse quarto ano.

    Uma nova policial começa a ajudar James, a oficial Harper (Kelcy Griffin), já que Harvey Bullock (Donal Logue) fica de fora de boa parte do drama, mas o freak show continua imperando, com a (péssima) introdução de Solomon Grundy, na verdade uma versão ridícula sua, parecida com um bebê gigante do ressuscitado Butch (Drew Powell). Todo arco dele com o Charada e a questão do Narrows é pessimamente mal pensada e construída e não faz sentido, ainda mais no que toca Leslie Thompson, que parece estar ali unicamente por conta de um contrato longo com Morena Baccarin.

    Jim volta a ter pulso firme contra a corrupção e mesmo que sua promoção a chefe de polícia só tenha ocorrido  por conta de subornos e armações de criminosos, ele resolve se insurgir contra o Pinguim, ainda que  esse confronto ocorra por conta da morte de um mafioso. O discurso inflamado dele com seus policiais transforma todos os agentes da lei que antes se sujavam em paladinos incorruptíveis,  uma solução sem sentido e maniqueísta para uma série que parece ter roteiristas mais insanos que seus personagens.

    Gotham peca principalmente no modo de retratar as mulheres, sobretudo as que tem envolvimento amoroso com Gordon. O que Lee faz com Sofia não tem sentido, mesmo com a mudança radical que sua personagem tem, mas na hora de tornar complexa essa mudança, nada é feito. Além disso, parece existir uma tara dos roteiristas em transformar Barbara no auge do banditismo da cidade. Ela toma o poder da Liga das Sombras de maneira mais gratuita e faz insurgir um grupo de mulheres, as Irmãs das Sombras, mas mesmo isso é insuficiente na tentativa de equilibrar a balança, pois o seriado não consegue mostra-las em posição de poder de forma sem que seja de  maneira hiper-sexualizada.

    Outro evento pouco desenvolvido nesta temporada é que o Pinguim sai da prisão e não se repercute o fato dele ter sido prefeito. Não há sucessão ou discussão mais abrangente sobre a política da cidade, ao invés disso se mostra só trivialidades e assassinatos cometidos pelo psicopata. A tentativa de adaptar Terra de Ninguém também soa gratuita, uma imitação barata de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Há até uma tentativa de remake da cena da delegacia em TDK. A cena do fim deste arco é ruim, cheia de exageros e não tem peso algum, vazios de significado, como é a Gotham pensada por Bruno Heller e seus roteiristas.

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  • Review | Gotham – 3ª  Temporada

    Review | Gotham – 3ª Temporada

    Após  Gotham 2ª Temporada que ficou conhecida por abrir mão de qualquer fidelidade ou mínimo respeito pelo que é tradicional nos quadrinhos do Batman, Gotham volta para sua terceira temporada com um desencontro amoroso de James Gordon (Ben McKenzie), fazendo lembrar uma das principais influências para o seriado existir, que era Smallville, cujo espírito era também resgatar o passado, mas do Super-Homem ao invés do Batman. Por mais que a frustração romântica seja grande, não demora até o policial ter de enfrentar uma das muitas bizarrices que a cidade – ainda sem o Batman – produz.

    O personagem em questão, é só mais um dos bandidos soltos pela zona urbana, e foi liberto pelo vilão Hugo Strange (BD Wong). A cidade está louca ( o nome desse segmento é Mad City, para pontuar melhor ainda as obviedades) e entre os muitos fugitivos do Asilo Arkham está Barbara (Erin Richards), agindo como uma versão millenium da Arlequina, conversando com os foras da lei, entre eles, o Pinguim/Oswald de Robin Lord Taylor, que se torna um informante da polícia. Junto a Barbara, está Thea Galavan (Jessica Lucas), que desde que perdeu seu irmão, tem procurado alguém para ser sua dupla. As inversões de valores se tornaram algo tão corriqueiros que em meio as loucuras da série, isso nem choca tanto.

    Mad City compreende os 14 episódios e toda a polícia tem muito mais trabalho que o normal nos outros dois anos, e Jim tem de lidar não só com Harvey Bullock (Donal Logue), mas também com um novo elemento que além de ser extremamente enxerido, também vira um possível par romântico. A Valerie Vale (Jamie Chung), que vem a ser tia da famosa fotografa que namora Bruce/Batman Vick Vale, mas mesmo assim, James demonstra saudade de sua amada Leslie Lee Thompkins, interpretada por Morena Baccarin, que ganha mais destaque neste terceiro ano.

    Já da parte do jovem Bruce (David Mazouz), há não só um assumir de responsabilidades em suas empresas – isso feito obviamente com a supervisão de Alfred (Sean Pertwee) – mas Mazouz também vive o estranho 514, um clone seu, que é só uma das piores idéias que poderia ocorrer em uma série já pessimamente pensada, junto a tudo que ocorre com a versão de Hera Venenosa. A Ivy Pepper, que antes era feita por Clare Foy sofre a ação de um meta-humano, e envelhece horrores, era para ela morrer, mas é pouco exposta e só envelhece, para se tornar Maggie Geha. Essa solução que o produtor Bruno Heller e seus roteiristas tomaram talvez tenha ocorrido para se livrarem da questão de sexualizar uma criança, já que a Selina Kyle de Camren Bicondoya já era utilizada desta forma, e obviamente sofria com rejeição por parte das pessoas mais preocupadas com a ética e moralidade.

    A questão de Pinguim prefeito pode parecer uma loucura, mas há de se lembrar que a primeira menção a isso não é de Gotham e sim de Batman: O Retorno, a diferença é que aqui de fato ocorreu com o vilão vencendo as eleições, e de certa  forma, faz sentido dentro desse universo galhofa em que o programa é inserido. Em se tratando de uma cidade doente, é natural que seu mandatário eleito seja um lunático homicida.

    Mas algumas situações seguem sem uma resposta plausível. Bruce cresce, ao ponto de já se pensar nele como possível Batman, mas ele não tem uma relação maternal com Leslie, James não consegue ser um policial correto, ao invés disso ainda faz as vezes de Serpico, Dirty Harry e outros tiras anti heróicos, e por quais motivos os roteiristas transformam dois vilões em quase um casal homossexual, para estigmatizá-los como insanos logo depois, da mesma forma que fizeram com Barbara antes. E o pior, nenhum dos loucos da série fogem da caricatura, e mesmo quando soavam irreais – afinal, são personagens de historias em quadrinhos –

    Os roteiros são confusos, e muitos elementos são adicionados para encher linguiça. Como parte da tentativa de tornar problemática a jornada de Selina, sua mãe aparece, basicamente para causar rebuliços na sua relação com Bruce, que nem bem são um casal, mas já tem brigas como se fossem. O mesmo ocorre de certa forma com Pinguim e Edward Nygma (Cory Michael Smith) que rompem sua amizade após o primeiro se eleger prefeito. O Charada aliás assume sua faceta de bandido, se aproximando de outros criminosos, fazendo com que o quase romance dos dois vá por água abaixo, com direito a muitas cenas de vergonha alheia da parte do político. Até Jim embarca nessa onda de brigas com seus parceiros, chegando ao cúmulo de matar o marido de Lee, no dia do casamento da mesma, uma vez que ele está infectado por um estranho vírus e está prestes a matar Leslie.

    Gotham seria tão mais honesta caso fosse uma comedia rasgada, ao invés de se levar a serio quanto a tramas politicas e no mergulho, ate as partes dramáticas sao desmedidas, seja a reação intempestiva de Leslie depois de ser salva por Gordon, ou as ilusões com fantasmas que Cobblepot sofre, mesmo Jerome (Cameron Monaghan), que poderia ser um bom adendo ja que seu interprete é bom ator acaba caricato demais, mesmo o ardil do Charada, que envolve muitos personagens e que teoricamente seria um belo plano soa caricato ao extremo. O fato de se levar a serio denigre também outro aspecto da serie, que é a questão de ser um produto de época.  Caso o tom cômico prevalecesse boa parte das sequências fariam sentido, assim como as liberdades poéticas referentes ao amadurecimento de clones,  ou o que ocorre com Hera Venenosa, mas não,  Heller não tem humildade para incorporar o camp de fato aos roteiros, então todos os exageros de atuação não passam de péssimas versões mesmo.

    Toda a sequencia de luta entre Jerome e Bruce até tem momentos emocionantes, mas ela não faz sentido, o príncipe aristocrata de Gotham não tem motivos para ter sua índole discutida ou corrompida, isso pouco importa, e é ridículo a cidade inteira caindo na porrada em um parque. Alem dos outros vilões introduzidos nas temporadas anteriores e ate do Chapeleiro Louco (Benedict Samuel), ha também o Senhor Frio (Nathan Darrow) e outros mais obscuros Victor Zsasz (Anthony Carrigan), mas um outro segmentos mais novo foi inserido, a Corte das Corujas, que “coincidentemente” é muito  mal enquadrada. A historia que ficou famosa após o arco de Scott Snyder na fase Batman: Corte das Corujas, do Morcego nos Novos 52, e fica deslocada demais dessa posição cronológica da origem do Batman. Os momentos finas, onde Lee utiliza da substancia tóxica para realizar sua vingança demonstra que a principal obsessão dos roteiristas é transformar os possíveis pares de Jim em vilãs,e surpreenderá se Valerie também não se tornar má caso reapareça.

    A união de vilões, sobretudo Charada e Barbara faz a cidade perecer, envenenada por uma droga que deixa a maior parte das pessoas agressivas.  No entanto a decisão de tomar o poder é tardia, os dois aliados só decidem isso após toda a zona urbana já estar tomada pelo caos. Outra questão que pairava sobre os episódios, e no capitulo final é dita com todas as letras é a origem de vários vilões através das experiências do professor Hugo Strange.

    Ao menos os capítulos são movimentados, Coblepott ludibria Nygma e ratifica sua parceira com Hera e Senhor Frio, personagens morrem e alianças são desfeitas, Gordon quase sucumbe ao mal  com a desculpa do tal vírus do mal. Há uma tentativa de redenção nos momentos finais, próximo aos créditos, onde Bruce salva uma pessoa, já  como um vigilante pró Batman, e incrivelmente isso é bem feito, apesar de ainda ser uma má ideia utilizar a figura do pequeno Wayne em Gotham, mas que ele está lá, é importante dá importância, sobretudo nas cenas em que ele está fora da cidade, em seu treinamento, no entanto, isso não salva o programa da obvia mediocridade deste terceiro ano.

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  • Review | Gotham – 2ª Temporada

    Review | Gotham – 2ª Temporada

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    A segunda temporada de Gotham começa com o pequeno Bruce Wayne (David Mazouz) e seu fiel tutor Alfred Pennyworth (Sean Pertwee) descobrindo um compartimento secreto na mansão Wayne. As cenas seguintes são do mais puro sensacionalismo, mostrando os personagens restantes do programa tendo sua rotina após o último season finale. James Gordon (Ben McKenzie) agora se junta a Leslie Thompkins (Morena Baccarin) como casal finalmente, ignorando por completo todo o cerne dos personagens do universo do Morcego assim como todo o cânone da DC clássica.

    O antigo panteão do departamento de polícia está em franca decadência. Jim foi rebaixado a guarda de trânsito, Harvey Bullock (Donal Logue) se torna bartender e todo o conjunto de vilões é liderado por Oswald Cobblepot, que é interpretado pelo ator que supostamente roubou a cena de todo o programa para si, Robin Lord Taylor, mas que só que fez ser histriônico na verdade. O Pinguim aproveita a proximidade com o policial e faz dele seu agente infiltrado, lançando mão de seus dotes e tornando o futuro comissário em um mero capanga.

    O segundo ano tem um bocado de coragem em comparação com o primeiro ano, apresentando mais gore, ainda que o escurecimento da fotografia tire bastante do impacto visual sanguíneo. No entanto, mesmo este aspecto positivo se dilui diante do núcleo do Asilo Arkham, onde está Barbara Gordon (Erin Richards) e o pseudo Coringa, Jerome Valeska (Cameron Monaghan). O pior fato da primeira temporada de Gotham segue como o aspecto mais estúpido desta, mostrando a personagem de Barbara de modo exagerado e completamente fora de tom, quase fantasioso de tão estranho, destoante de todo o clima urbano e verossímil pretendido.

    A pobreza do texto segue viva e a tentativa para disfarçar isso é uma série de eventos que se sobrepõem, acreditando que a alta atividade fará o espectador acreditar que algo relevante está acontecendo, ainda que isso seja uma inverdade.  O que realmente ocorre é uma miríade de enganações e trocas de poder no submundo, fazendo as figuras importantes da criminalidade, os insanos e até a polícia revezem-se entre o presídio de Blackpool, Arkham e o estado de fuga, pondo nessa bagunça narrativa o personagem de Gordon, Pinguim, Bullock e outros. Nem a criação do suspense em relação ao destino desses entes é respeitado, o status de homens dentro e fora da lei variam com uma velocidade tremenda.

    Há dois plots importantes e um secundário nesta temporada, os importantes se cruzam, envolvendo a adição de Theo Galavan (James Frain) e sua bela irmão Tabitha (Jessica Lucas) ao conjunto de vilões – o subtitulo dessa temporada é Rise of the Villains – que resgatam os detentos de Arkham, para servir a si, e claro o retorno de Gordon ao corpo de policiais, exatamente para ficar no rastro dos fugitivos do sanatório. A terceira e mais mirabolante das tramas aborda o passado, mostrando a parte secreta da mansão e todo um aparato que Thomas Wayne tinha, exibindo não só um dom de premonição assim como uma tradição de vigilantismo, que certamente inspiraria o jovem Bruce.

    Outra questão que aparenta ser importante é a de Jerome, um ítalo americano insano que acompanha Barbara para depois se tornar um dos principais capangas de Galavan. Todos os indícios apontavam ele como o palhaço do crime, mas sua vida é encerrada, para que haja uma mística em volta do Coringa, como se uma cultura fosse instalada a partir dali. Há até uma cena posterior a morte dele, mas não há desenvolvimento desta, restando apenas mais uma ponta solta sem qualquer possibilidade de resolução aparente.

    A grotesca apresentação de Azrael começa com leves menções aos quadrinhos, fator até positivo dada a total galhofa da temporada, mas se encerra de maneira tola e infantil, abrindo a possibilidade de trazer de volta alguns vilões que já tiveram suas vidas encerradas, transformando assim o programa em uma péssima imitação de Resident Evil 5. A ideia de Rising of Villains não é só infantil mas também burra e desrespeitosa. Torna-se difícil avaliar qual das temporadas é a mais ofensiva, uma vez que o primeiro tomo foi fraco o suficiente para anestesiar o seu espectador para uma nova empreitada anual. A escolha dos produtores por fazer jus ao seriado do Homem Morcego de 1966 é tão errada que a identidade se faz perder por completo, já que as menções ao programa clássico é só na construção de alguns vilões, não em tom, pois Gotham não é uma comédia como era o seriado camp de Adam West e Burt Ward.

    Por se tratar de uma adaptação de histórias em quadrinhos, é evidente que certas liberdades criativas seriam tomadas e é natural que seja mais cômodo e lucrativo para o criador Bruno Heller tomar por base algo que já faz sucesso. O grave problema de Gotham não está em mudar um detalhe ou outro, mas sim o de usar todo e qualquer pretexto que envolva toda a mitologia da cidade fictícia que dá nome a série para contar uma história boba, genérica e que defenestra anos de tradição. Um dos princípios básicos das histórias do cruzado encapuzado era a prerrogativa de que o conjunto de vilões loucos que assola o município teria tomado o lugar por causa da presença do morcego. A série inverte isso, mostrando cada personagem décadas antes do vigilante surgir, unicamente porque seria divertido brincar com isso, não há significado ou qualidade dramatúrgica que apoie a mudança, tudo soa gratuito e inoportuno, o que é uma lástima, em se tratando de um exploitation a respeito do Batman.

  • Review | Gotham – 1ª Temporada

    Review | Gotham – 1ª Temporada

    gotham-posterPensado anteriormente sob a premissa de adaptar uma fase bastante específica dos quadrinhos do universo de Batman, cujo caráter foi mudado estrategicamente para arrebatar ainda mais os fãs do Morcego, Gotham deveria ter sido baseado nas aventuras dos policias que protagonizavam Gotham Central – ou Gotham City Contra o Crime -, uma revista pensada por Ed Brubaker e Greg Rucka, e levada por um grupo de policiais secundários.

    O protagonismo da série produzida por Bruno Heller seria do jovem James Gordon, vivido pelo eterno Ryan de OC – Um Estranho no Paraíso, Ben McKenzie, como o único jovem policial incorruptível da cidade, que tem em seu comportamento um quê de justiçamento forçado, semelhante ao dos anti-heróis clichês dos anos 90. Seu papel no início é servir de suporte ao menino Bruce Wayne (David Mazouz), que acabou de perder seus pais, e que graças ao “talento” do ator, seria um personagem recorrente na cidade, onde seria o paladino da luta contra o crime.

    Sua perseverança esbarra na burocracia do policial, avisado pelo veterano parceiro de James, o detetive Harvey Bullock (Donal Logue), um sujeito que não parece ser corrupto, a princípio, mas que claramente se mostra desacreditado no sistema judicial da cidade, e com a demora com que os culpados têm em ser encarcerados. Desiludido, ele mantém contato com os principais marginais da cidade, especialmente Fish Mooney (Jada Pinkett), uma negra, chefe de uma das gangues do submundo, que tem em seu plantel Oswald Cobblepot (Robin Lord Taylor), entre outras tantas referências a vilões e personagens canônicos das histórias do Batman.

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    Mesmo no começo da sua trajetória, Jim encontra enormes percalços, não só entre seus opositores, mas também entre os outros policiais que não toleram suas atitudes, especialmente Rene Montoya (Victoria Cartagena) e seu parceiro Crispus Allen (Andrew Stewart-Jones). A pressão em cima dele é grande. Obrigado a assassinar um opositor, claro, recusando tal ato, Gordon usa sua astúcia para fugir do ato fatal, atitude que faz dele um proto-Batman, para nenhum espectador desavisado reclamar.

    Os pontos mais irritantes no decorrer da série são as concessões que desnecessariamente descaracterizam os personagens famosos nos quadrinhos de maneira absolutamente gratuita. Sarah Essen, que na história mais famosa foi amante de James Gordon em Batman – Ano Um, é apresentada como chefe do Departamento de Polícia. De loura fatal, semelhante às coadjuvantes de filme noir, passou a ser uma negra de meia-idade e amarga. Vivida por Zabryna Guevara, a personagem é absolutamente genérica e não necessitava de qualquer menção. Nem a beleza da atriz rivaliza com a da dondoca Barbara Kean (Erin Richards), com quem o tenente é amasiado.

    O roteiro parece mais preocupado em bradar que há mil personagens conhecidos do que se preocupar em contar uma história minimamente decente, se valendo de romances que evadem o conservadorismo unicamente para prender o espectador sob uma aura de polêmica que nada tem a ver com o clima do seriado, o qual já havia aberto mão do estilo noir na concepção de suas figuras retratadas.

    A quantidade de tramas paralelas é absurda. Há desde a pequena Selina Kyle (Camren Bicondova), que já na faixa de uma década de vida pula de prédio em prédio, como um gato, roubando quem se permite roubar, além de munir Gordon de algumas informações sobre o assassinato dos Wayne, investigação que se mistura ao principal plot explorado. Cory Michael Smith vive o auxiliar de mistérios do Departamento, Edward Nygma, desde já muito afeito a crimes cujas soluções fogem da ortodoxia pragmática comum do “tira e bandido”. Mas é o desaparecimento e reaparição do Coblepott que concentra a maior parte das atenções do espectador, questão piorada pela quantidade de assassinatos que comete a sangue frio, aproximando-o mais do arquétipo do Coringa do que do vilão ornitólogo. É deste núcleo do qual aparece a primeira figura vilanesca, que apresenta mais do que a simples vilania, pois é ao menos um clichê bem construído. O Sal Maroni de David Zayas ao menos inspira medo, aspecto que difere de Pinguim, Fishmoney e mesmo de seu rival, Carmine Falcone (John Doman) – o qual parece estar mais envolto em questões burocráticas do  que na busca por mais poder e expansão no submundo de Gotham. Maroni é o exato contraponto de Falcone: violento, cruel, arrogante e com uma megalomania que transcende a condição de vilão comum, aproximando-o do que deveria ser um bandido preso no Arkham.

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    A primeira virada realmente importante no combalido texto de Gotham acompanha a perseguição de Fish Mooney a Gordon, após descobrir que o policial foi honesto demais ao não assassinar Oswald. Além da óbvia perseguição dos malfeitores, há um sério problema de confiança entre o protagonista e Bullock, além de revelar que ambos estavam envolvidos com os contraventores de Gotham.

    Em determinado momento, os personagens passam a ser mais interessantes, autônomos, além da clara alusão às suas contrapartes quadrinísticas, mas ainda assim pecam demais na concepção. A mudança das indiscrições conjugais de James faz do personagem, apresentado em Ano Um como um homem repleto de falhas, um paladino gratuito, cujo monopólio da virtude é evidente, empobrecido em essência a troco de nada, fugindo mesmo das questões complicadas de modo demasiado fácil.

    A midseason se encerra com a derrocada de Gordon, já sem sua esposa, perdendo os direitos que tinha enquanto policial, gradativamente até se rebelar contra a figura do prefeito James Aubrey (Richard Kind), que usa seus contatos para rebaixar o detetive à guarda dos corredores da “nova” instituição que reabilita criminosos insanos. Trabalhar em Arkham é um dos poucos pontos irônicos do roteiro do seriado. A mudança serve basicamente para inserir a personagem Leslie Thompkins, e sua voluptuosa intérprete Morena Baccarin, uma vez que Gordon consegue através de manobras ardilosas retornar ao Departamento de Polícia, aumentando seus feitos ao faturar a bela mulher para si, a despeito de sua “separação” traumática.

    Constrangedoras são as interações de Selina com Bruce, quando a menina ensina o milionário a se equilibrar. Mais e mais aspectos toscos são levantados, como a origem do soro do medo usado pelo Espantalho, além da crescente interferência na disputa de poder do submundo do crime, mostrando uma estranha harmonia entre Maroni e Falcone, tendo em Fish Mooney a persona non grata. Cada um destes quatro pilares se arranja ao seu modo para permanecer vivo e prosseguir mandando em alguns aspectos da criminalidade urbana, ainda que os lucros estejam longe de ser prioridades para eles.

    A falta de apuro e verossimilhança no texto final trazem momentos completamente confusos, como o retorno de Barbara Gordon a sua casa, e a convivência pacífica da garota com Selina e Ivy Papper (Clare Foley), chegando a ponto dela se consultar com duas crianças a respeito de moda. Próxima do final do ano, há uma tentativa falha de amadurecer o plot ao mostrar o destino esquisito de Fish Mooney, apresentar uma nova faceta ciumenta para Barbara, e a apresentação de um serial killer, fazendo desse um dos poucos plots realmente interessantes em todo o folhetim. No entanto, mesmo os bons conceitos se perdem em meio aos acontecimentos chocantes, que não guardam qualquer possibilidade de seriedade, envolvendo tanto a dificuldade de Nygma em se relacionar com mulheres, e sua consequente agressividade, assim como o namorico entre os pequenos Bruce e Selina, com uma reedição da dança de Batman – O Retorno, ainda que em uma versão teletubizada.

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    Grande parte do mote de O Longo Dia das Bruxas é referenciada, com as inserções de guerras ente grupos mafiosos, que finalmente têm um embate minimamente interessante, apesar dos muitos problemas de amnésia do roteiro, que simplesmente ignora. Infelizmente, tais aspectos positivos ficam para trás, não só para os cosplayers mal desenvolvidos, como para a tramoia imbecil.

    Mais assustador ainda é notar que a guerra entre Maroni e Falcone, unido a traição de Cobleppot consegue ser jogada para o lado, em nome do ressurgimento de Fish Mooney, que pratica uma ressurreição com a imitação dos Morlocks. A profusão de plots mal concebidos faz com que uma porção de mortes desnecessárias ocorram, inclusive de personagens que um dia enfrentariam o Batman. A confusão do roteiro faz com que mesmo o protagonismo entre os vilões não seja claro, ao contrário; tudo soa falso, estúpido e vazio.

    As relações de amor e ciúmes se confundem, e as conclusões emocionais são catastróficas e sem sentido, especialmente as envolvendo James Gordon. Nada no combalido seriado é tão mal feito e chocante negativamente quanto o dos últimos vinte minutos da temporada, com reviravoltas infantis e trocas de lado que não fazem qualquer sentido, com direito a redenção de vilões e ataques de insanidade vindos de personagens que eram canonicamente inofensivos. Não há problema algum em se adaptar personagens, inverter falas ou fatos, desde que haja a manutenção da essência da atmosfera de Gotham City, o que definitivamente não ocorre no seriado homônimo.

    O destino dado às personagens, na imitação barata da sequência batismal de O Poderoso Chefão, revela o quanto Gotham é acéfala em matéria de vilões. A fala do Coringa de Heath Ledger em Cavaleiro das Trevas serve ao propósito, fazendo da afirmação de que “Essa cidade merece um tipo melhor de criminoso” estende-se, inclusive, aos arquétipos dos heróis, visto que não há como acreditar que um policial honesto como Gordon seria seduzido e inspirado por um mafioso, tampouco há graça na indicação premonitória do falecido patriarca Wayne, intuindo que seu filho precisaria de uma entrada secreta na mansão, preparada atrás de uma lareira. Gotham consegue deturpar, de uma maneira quase tão patética quanto os filmes de Joel Schumacher, os preceitos de Batman – Ano Um e de tantos outro clássicos do Morcego, possuindo pouquíssimos acertos, mesmo que o elenco não seja ruim.

  • Review | Gotham (Episódio Piloto)

    Review | Gotham (Episódio Piloto)

    gotham-pilotoTreze anos depois do sucesso de Smallville, agora é a vez de outra cidade fictícia ser adaptada dos quadrinhos para a televisão. Mas dessa vez a aposta não é em um drama adolescente, e sim em uma abordagem mais séria: uma série policial com personagens conhecidos da DC Comics.

    Produzida pela Fox e exibida no Brasil pela Warner, Gotham tem seu primeiro episódio exibido hoje (29/09) em terras tupiniquins. A diferença de apenas uma semana entre a exibição norte-americana e a nacional é um ponto positivo, pois quem não quer assistir a série por “outros meios” não precisa esperar tanto tempo entre um episódio e outro. Os leitores das HQs do Batman irão perceber a semelhança do episódio com a série em quadrinhos Gotham City Contra o Crime, aclamada pelo público e pela crítica.

    A análise a seguir contém revelações sobre o enredo. Portanto, se você for “spoilerfóbico”, fique avisado!

    A Gotham City dessa série difere um pouco da que nos foi apresentada na trilogia cinematográfica de Christopher Nolan em aspectos estéticos, como iluminação e arquitetura, entretanto, a cidade não deixa de ser um lugar violento e corrupto para se viver. Com ares de grande metrópole, o cenário se encaixa perfeitamente com o propósito da série. Fãs das revistas do Homem-Morcego perceberão bastante easter eggs durante o episódio, como um certo Ed Nygma, que não consegue fazer uma afirmação sem transformá-la em uma pergunta. Ou um comediante de stand up muito parecido com o que nos foi apresentado na graphic novel A Piada Mortal, de Alan Moore.

    A cena inicial nos mostra uma adolescente interpretada por Camren Bicondova vagando pelos telhados da cidade enquanto comete pequenos furtos. A agilidade e furtividade da garota faz com que ela se locomova por entre escadas, telhados e paredes de forma graciosa, até chegar a um beco onde, usando o leite que acabou de roubar, alimenta um gato. Nesse mesmo beco, a garota – que nesse ponto, quem é leitor de quadrinhos já deve ter percebido se tratar de Selina Kyle, a Mulher-Gato – presencia uma cena terrível: um casal é assaltado e morto na frente de seu jovem filho.

    Enquanto isso, somos apresentados ao Departamento de Polícia de Gotham City (DPGC), onde o detetive novato James Gordon (Ben Mckenzie, o Ryan da série The O.C.) resolve um conflito que poderia custar algumas vidas sem a sua intervenção. Seu parceiro, o veterano Harvey Bullock (Donal Logue) não aprecia sua interferência. Os dois são, então, chamados para um caso de homicídio, e chegam até o beco onde o casal foi morto e a criança está em estado de choque. Gordon conversa com o garoto e tenta confortá-lo, enquanto Bullock descobre que os pais assassinados do menino são Thomas e Marta Wayne, uma das famílias mais ricas da cidade.

    Essa parte da trama reproduz muito fielmente o que os fãs estão acostumados a ver nos quadrinhos, inclusive explicando o que a família de ricaços estava fazendo num beco escuro após o cinema, tornando o fato mais verossímil do que em Batman Begins. A tragicidade do acontecimento e a frieza do crime impressiona até mesmo quem já conhece a história, e dá indícios do que podemos esperar durante a temporada.

    O episódio se desenvolve em torno da investigação do caso. Jim Gordon promete ao jovem Bruce Wayne que encontrará o assassino de seus pais, e o caso vai se desenrolando enquanto nos apresenta algumas figuras conhecidas. A princípio isso pode parecer um recurso usado apenas para agradar fãs, mas cada personagem apresentado tem muito potencial para ser desenvolvido. Somos apresentados ao jovem Oswald Cobblepot (brilhantemente interpretado por Robin Lord Taylor), cujo jeito de andar e o nariz pontudo lhe garantiu o apelido de Pinguim, à garota Ivy Pepper, que vive em um lar destruído por um pai extremamente violento e demonstra carinho com as plantas, à Carmine Falcone, chefão da máfia e à Fish Mooney, chefe do crime interpretada por Jada Pinkett Smith e criada especialmente para a série.

    Do lado dos “mocinhos”, temos alguns grandes conhecidos dos fãs de quadrinhos. Os policiais Crispus Allen e Renee Montoya, da Unidade de Crimes Especiais (U.C.E.) são importantes para a trama, pois são rivais de Harvey. Barbara Kean, noiva de Gordon também tem um papel importante e, aparentemente, teve um caso amoroso com Montoya no passado – nos quadrinhos, Renee Montoya foi uma das primeiras mulheres a se declarar gay nas histórias do Batman. Alfred Pennyworth, o mordomo dos Wayne, aparece aqui um pouco menos amoroso e mais rígido com seu patrão e protegido.

    O episódio termina com Jim Gordon entendendo que, para sobreviver em Gotham City, terá que reverter o jogo de corrupção no qual a cidade se encontra. Mesmo Bullock é apresentado como alguém que prefere se deixar levar pelo crime do que lutar em uma guerra perdida. Desde já fica aparente que Jim Gordon é o protagonista e não Bruce Wayne, sendo essa mais uma diferença entre essa série e Smallville. Sua caracterização está excelente, e difere do apresentado em Batman Begins não apenas por ser mais jovem, mas também mais decidido. Mesmo sabendo que Bullock não o quer como parceiro, ou que o DPGC está envolvido com a máfia, Jim se mantém firme em lutar contra a corrupção de sua cidade.

    Julgar uma série pelo episódio piloto pode ser um tiro no escuro. Mas se todo potencial apresentado nesse capítulo for explorado, Gotham tem chance de ser a melhor série já produzida sobre personagens da DC Comics.