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  • Review | Supergirl – 1ª Temporada

    Review | Supergirl – 1ª Temporada

    Supergirl 1

    Após ter seu piloto vazado, a primeira temporada de Supergirl daria prosseguimento ao seu seriado, usando parte do visual dos sobreviventes de Kripton visto em  O Homem de Aço, de Zack Snyder. Os primeiros momentos do seriado situam a fuga do planeta condenado, tanto de Kal-El quanto da jovem Kara, que só chegaria a Terra 24 anos após seu parente, envolvida em um estranho evento cósmico que não a permitiu envelhecer. Na vida adulta, enquanto tenta uma carreira na imprensa, Kara Danvers é interpretada por Melissa Benoist, que apesar de sua pouca experiência, compensa com muito carisma, sendo sua performance o ponto alto da série.

    Como era esperado em Smallville: As Novas Aventuras de Superboy, além de outros programas do Canal CW – como Flash 1ª Temporada – há um resgate de atores envolvidos de alguma forma com a franquia, mostrando os pais adotivos da moça interpretados por Dean Cain (o Super-Homem de Lois & Clark: As Aventuras Novas do Super-Homem) e Helen Slater (a Supergirl de 1984), que interpretam Jeremiah e Eliza Danvers, respectivamente. O enfoque é na vida urbana da jovem e as pessoas que a rodeiam, como o belo e seguro fotógrafo James Olsen (Mehcad Brooks), em uma versão mais adulta e sexualizada, deixando de lado o sidekick sem poderes do herói de Metropolis.

    Kara tem como melhor amiga sua irmã de criação, Alex (Chyler Leigh), uma das poucas que sabem o segredo que envolve os seus poderes, e que claramente é avessa à ideia da heroína se aventurar como uma vigilante. Desde o início é exibida uma relação dúbia entre ambas, incluindo uma competição que faz sua irmã delata-la ao Departamento de Investigação de Atividade Alienígena.

    A decisão pelo uso de seu uniforme faz referência direta a uma cena semelhante de Lois & Clark, tendo como parceiro da heroína o seu amigo claramente apaixonado platonicamente por ela,  Winn Schott Jr. (Jeremy Jordan), que a ajuda a escolher a melhor vestimenta.

    Supergirl 2

    O trabalho da moça na revista CatCo Worldwide Media faz todos os arquétipos se assemelharem ao universo do Superman, com a diferença de que Cat Grant (Calista Flockhart), sua editora-chefe, é uma megera insensível que busca no alter ego de sua funcionária um símbolo de adulação, copiando mais uma vez a motivação do Planeta Diário nas histórias do Superman. A impressão dentro do programa criado por Greg Berlanti, Ali Adler e Andrew Kreisberg é aludir aos momentos clássicos do herói de maneira velada, adaptando-o a um estilo mais rápido e ligado ao estereótipo feminino de comédias românticas.

    Já no segundo episódio é apresentada uma disputa entre heroína e vilã, sua tia Astra (Laura Benanti), irmã gêmea de sua mãe, que foi banida para a zona fantasma. Com exceção de Astra, os vilões são bastante genéricos e a jornada da moça super-poderosa é provar ser mais do que a simples prima do Superman, em uma trama de auto-afirmação que combina mais com uma adolescente do que com uma mulher adulta. A subida de popularidade e mostra de seus poderes pouco têm a ver com a importante questão do empoderamento feminino, se assemelhando mais as lamúrias e choramingo de um alguém que ainda não amadureceu, fato que pouco se justifica em razão de todas as desventuras se assemelharem as do herói original, inclusive o fato de ludibriar uma jornalista com olho clínico, trabalhando para ela e usando apenas um óculos como estratégia de disfarce.

    A fragilidade da personagem ajuda a denegrir a representação feminina, além do conceito de garota em apuros, servindo como artifício metalinguístico para as falhas de concepção existentes, assim como o uso indiscriminado de personagens dos quadrinhos executando funções genéricas, como o empresário Maxwell Lord (Peter Facinelli), que serve de Lex Luthor cabeludo e substituto. O Tornado Vermelho, personagem dúbio nos quadrinhos, serve apenas como um capanga qualquer, que evoca na personagem-título lembranças de seu passado e a motiva a se superar, em mais um momento gratuito e sem sentido.

    Para desviar a atenção de problemas no texto, há o mesmo apelo ocorrido em Smallville, com aparições de personagens clássicos, como o kriptoniano Non (Chris Vance), que é par romântico de Astra, e mais tarde com o acréscimo de um arco mais sério e interessante, com o Caçador de Marte, vivido por David Harewood, que se disfarça de chefe de operações Hank Henshaw. Este acaba sendo um dos poucos momentos realmente interessantes dramaticamente, no entanto a trama segue boba, trazendo vilões clássicos, como o Mestre dos Brinquedos, que acaba por passar em National City ao invés de Metropolis, graças ao seu filho Winn, o eterno amigo gay/paixão platônica não correspondida de Kara, além de um grande número de equivalentes vilões do Azulão, sempre pautados pelo desuso dos mesmos nos filmes da Warner.

    Já o desenrolar da trama do Caçador de Marte é bastante interessante, trágica em si e bem mais significativa que qualquer subtrama secundária anterior utilizada. A guerra marciana é bem demonstrada, assim como o trauma estampado no rosto de Harewood, que consegue atuar em nível muito superior aos seus colegas de elenco. Os efeitos visuais também são bem executados nesse caso, assim como o design de produção.

    A sequência de tropeços segue, especialmente após o episódio Bizarro, em que Lord finalmente assume ser a versão copiada de Luthor, não só possuindo sua própria versão estranha da Supergirl, no período próximo de A Morte de Superman, como também criando uma versão mal feita da heroína, que mais uma vez precisa ser um rascunho do real último filho de Krypton.

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    Apesar de não ter grandes arcos dramáticos, exceto talvez por reencontros familiares de importância pequena, mora em Cat Grant a personagem mais rica do seriado, superando a personagem-título. A ideia de imitação de Meryl Streep, em Diabo Veste Prada, é deixada de lado para mostrar uma mulher que pode ser uma megera, malvada, autoritária e capaz de sentir empatia mesmo para os que estão patamares abaixo de si. Sua personagem é tão boa e faz tanto sentido que até destoa de todo o drama infantil apresentado. Os limites impostos na relação dela com Kara soam tão maduras que nem parecem pensadas pelo mesmo conjunto de argumentistas que planejam todo o resto.

    Laura Vandervoot, que havia interpretado a contraparte da heroína em Smallville, retorna para um papel vilanesco, como a personagem dos Titãs, Índigo, cuja versão nos quadrinhos é bastante diferente, desde a origem como pseudo-heroína para então se revelar má, tanto quanto ao alvo, já que sua programação era derrotar Donna Troy (a antiga Moça-Maravilha). O uso da kriptonita vermelha é bem semelhante ao de Superman 3, resultando em um pastiche bem oportunista, piorado graças à base terrível do roteiro de comédia de Richard Lester. O resgate a personagens famosos desimportantes segue. Nos quadrinhos, Índigo surgiu como uma heroína e depois se revelou uma vilã. Na série de TV, os produtores descrevem Índigo como um supercomputador vivo e de temperamento forte que foi sentenciado à prisão em Fort Rozz depois de se voltar contra o povo de Krypton.

    No capítulo Manhunter, finalmente se explora o passado do Caçador de Marte, se mostrando a parte mais interessante da temporada, a despeito do protagonismo da Super-Moça. As consequências referentes a ele são mais maduras, assim como a qualidade da construção de background, com um desenrolar mais adulto e discussões mais dramáticas. Já em World Finest, ocorre enfim o crossover com o Flash de Grant Gustin, fazendo também um contato com o canal CW, ainda que os produtores sejam os mesmos para ambas. O conceito de multiverso é apenas arranhado, uma vez que a explicação mais detalhada seria dada no programa do corredor escarlate. De ruim, há o subaproveitamento da vilã Curto Circuito (Brit Morgan), que nos quadrinhos e desenhos animados é uma vilã de terceiro escalão do Superman, e que não sustenta a necessidade de dois heróis alistados contra si, ainda que haja também a exploração tímida da Banshee Prateada, contraparte de Siobhan Smythe (Italia Ricci), que desde sua primeira aparição já guarda uma motivação que rivaliza com Kara.

    O equívoco mais irritante, em meio a tantos dentro desse primeiro ano, certamente é Miryad, que dá nome ao penúltimo episódio e que resume a tentativa de arma química de Astra, feito no início para salvar seu planeta natal através do controle mental de todos, e que é finalmente usado na Terra, em National City, por seu antigo amado Non, em parceria com Indigo e Lord. Os erros começam pela supervalorização da cidade, que até faz algum sentido, visto que não é um município como Metropolis, o qual é um alvo mais difícil de atingir, mas que soa oportunista, pois, exceto ser o cenário da temporada, não há qualquer importância no lugar. O outro erro fundamental é a quase participação do Superman, que também é afetado pelo transe graças a sua criação humana, a mesma que Kara recebeu, mas que ainda assim não mexe com os pensamentos da heroína novata.

    Lord consegue estabelecer laços com os alienígenas, exatamente como o Luthor de Gene Hackman em Superman 2: A Aventura Continua. É curioso como o Lex de Jesse Eisenberg em Batman vs Superman: A Origem da Justiça conseguiu antecipar os logotipos dos futuros heróis da Liga, como se fosse um empresário e assessor em comunicação do super grupo, como era o início do ideal do personagem. Ao menos, nesse final de participação, o papel de Lord passa a ser mais suportável ao atrelá-lo a Grant – em uma relação amorosa platônica forçadíssima, é claro – e na demonstração de uma mudança de caráter e espírito. Uma redenção um pouco incômoda, mas suportável diante dos outros tropeços da temporada.

    A solução encontrada para romper o feitiço dos vilões é pueril, com uma transmissão feita pela heroína, em rede nacional, através de palavras sentimentalóides que recuperam a esperança e razão de cada um dos capturados pela Myriad. As palavras de uma adolescente loira e carismática são suficientes para quebrar um transe planejado pelos opositores, que são da mesma espécie e raça que ela. As concessões, como a ascensão de Lucy Lane (Jenna Dewan Tatum) ao posto de chefe do DEA beira o absurdo, soando extremamente forçado, assim como a batalha final entre Caçador de Marte e Supergirl contra Non e Indigo, com a batalha findando de um modo muito fácil e anti-climático.

    Pouco antes do final, um outro evento intergalático ocorre em National City, fato que faz os dois heróis se atentarem, com mais um cliffhanger que possivelmente não terá grande importância na segunda temporada que já foi confirmada. Apesar do martírio em assistir às desventuras da protagonista e dos demais personagens, o carisma de Benoist consegue tornar o show aceitável.

     

  • Review | Supergirl (Episódio Piloto)

    Review | Supergirl (Episódio Piloto)

    supergirl-pilotoA premissa semelhante ao ocorrido com o último filho de Krypton, adaptada para uma versão feminina, passa distante de qualquer visão típica do discurso feminista. A atuação pouco esmerada nos momentos pré-destruição planetária quase compromete o início da abordagem em Supergirl, que se inicia mostrando Kara ainda adolescente (Malina Weissman) sendo enviada à Terra. Os efeitos especiais são até bem feitos, especialmente em comparação com outras produções televisivas.

    A reverência à figura do Superman é notada em cada detalhe, ainda que a figura do Azulão seja timidamente tocada, uma vez que ele já havia se revelado ao mundo bem antes de sua prima mais velha, tendo em suas feições, claro, a aparência de ser bem mais maduro que ela. É curioso notar o pai adotivo de Kara, interpretado por Dean Cain, o Clark Kent de Lois & Clark – As Aventuras do Superman, ainda que seja mais uma referência do que qualquer outro aspecto.

    Melissa Benoist interpreta Kara Danvers e se mostra uma mulher jovial, empolgada, que tem uma carreira consolidada em comunicação social, se aproximando demais dos arquétipos de Kent, ainda que sua postura lembre a personagem de Anne Hathaway em O Diabo Veste Prada, já que sua patroa Cat Grant (Calista Flockharté bastante excêntrica e exigente consigo. Para que seu trabalho seja o mais prazeroso possível, um belo homem negro de meia-idade se apresenta a ela. Seu nome é James Olsen (Mehcad Brooks), antigo repórter fotográfico do Planeta Diário, chamado pelo “Big Guy” de Jimmy, alcunha famosa nos quadrinhos.

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    A primeira cena da kriptoniana em ação faz lembrar absurdamente a descoberta dos poderes de Peter Parker no primeiro Homem-Aranha, ainda que neste haja menos jocosidade do que no filme de Sam Raimi. A cena em si é bem executada, apesar da leveza, e é seguida do resgate de um avião, ação típica do Azulão, semelhante também à cena de resgate de Superman – O Retorno, de Bryan Singer.

    Diante da primeira aparição da proto-heroína, que poderia gerar um sem número de inspirações em mulheres que sofrem violência, há também o surgimento de um opositor misterioso que sabe da origem dos pais da moça, o que gera um fator importante para que a história seja crível. O que não combina em nada com a estética de super-heróis é a subtrama do amigo gay que não é gay no personagem de Winn Schott (Jeremy Jordan), cujo amor platônico sequer é notado por Kara, fortificando a aura de comédia romântica, adocicando a trama para tentar alcançar o público feminino, ainda que tenha bem menos elementos diabéticos quanto o trailer pretensamente faz esperar.

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    A inversão de paradigma de proteção, se voltando ao que deveria ser a escolta de seu primo, para tornar-se algo mais universal, é interessante, especialmente com a trama secreta revelada nos minutos finais. O potencial de tornar o seriado uma bomba é enorme, especialmente por misturar influências tão diversas. Mas a construção de arquétipos é bem mais interessante nessa série da CBS do que foi visto, por exemplo, na série fracassada da Mulher-Maravilha.

    Obviamente que por ser um episódio inicial, ainda mais vazado, os plots ainda pareçam demasiado infantis, mesmo o mistério envolvendo a figura estranha de Alura e Porto Rozz. No entanto, ao menos em matéria de retratar uma mulher que não precisa se submeter ao pensamento mandatário do homem, cumpre bem seu papel. Primeiro com a pecha de proteção ao jovem Kal-El, para depois a moça dar uma virada espiritual em sua rotina, mudando sua posição de menina submissa para intensa modificação do status quo, mesmo com as reprimendas dos “controladores” de super-poderosos. O seriado vem para suprir uma lacuna de protagonismo feminino, órfão desde as empreitadas de Mulher-Gato e Elektra no mainstream. O mínimo que se espera é que se mantenha o caráter desbravador, mesmo que comedido e despretensioso.