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  • Crítica | 2021: O Ano que Não Começou

    Crítica | 2021: O Ano que Não Começou

    Luciano Huck é um apresentador bastante famoso por seus programas populares na TV aberta. Também tentou ser ator no clássico-trash Um Show de Verão e também dublador em Enrolados. Além disso, entre essas tentativas, cogitou uma carreira presidenciável, ainda que tenha (por enquanto) recuado dessa proposta. Em entrevistas recentes se declara participante ativo da esfera política e, em meio a isso, lança 2021: O Ano Que Não Começou. Dirigido por Fernando Acquarone e Guilherme Melles a produção se resume a visão do apresentador sobre o mundo.

    O especial da Globoplay é curto. Tem 43 minutos, possui um estilo moderninho, com elementos que tornam seu  consumo fácil. Desde o início a formula é pretensiosa, primeiro ao unir tanto celebridades quanto desconhecidos. Apela para um estilo aparentemente popular, ainda que toda sua ideologia seja claramente apoiada em pensamentos e teorias elitistas como a meritocracia e mercantilização da pobreza.

    Desde os tempos da Band, Luciano consegue conversar bem com a parcela popular brasileiro, de modo que não pareça um sujeito desonesto e explorador. Mas entre pessoas mais “estudadas”, o apresentador não tem essa mesma aderência ou popularidade. O documentário mira acertar esse nicho, dialogar com gente importante para fortificar a imagem tradicional de bom moço dentro dessa parcela de pessoas.

    Ao menos, o filme é explicativo e acerta em se fazer entender. Edição, fotografia, trilha sonora e o ritmo favorecem a mensagem. A fala pró ascensão das classes C e D não é tão diferente das provas do Caldeirão em que um miserável tenta equilibrar um ovo na colher enquanto resolve um problema matemático ao vivo em rede nacional. A busca por meritocracia é mais ou menos equivalente a esse tipo de humilhação.

    Huck ainda faz questão de fazer autopropaganda, referenciando como auge econômico o seu próprio programa: a versão brasileira de Quem Quer Ser Um Milionário. Ainda chega ao cúmulo de colocar pessoas pobres para chorar no meio do filme, ou seja, se sua ideia era mostrar uma nova faceta de sua personalidade, a tentativa fracassa retumbantemente.

    O filme é vazio de conteúdo. Os aspectos técnicos são cosméticos e nada mais. Não disfarça nem um pouco o discurso liberal ao extremo e erra ao tentar separar a desigualdade do capitalismo, negando o mercado voraz como o causador das desigualdades que o próprio roteiro acha péssimo para a humanidade. O pensamento de uma nova política e nova filosofia é basicamente uma nova roupagem do que já vigora.

    O filme soa vazio e desonesto, pois a violência urbana e a perseguição a pobres e negros condenada em cena é oriunda do mesmo capitalismo que o apresentador defendeu em um programa recente do GNT. O resultado é quase um game show mas, diferente de A Vida Depois do Tombo que tenta repaginar uma cantora, esse  documentário é mais complicado, tenta disfarçar as intenções de um sujeito com um claro projeto político futuro. Em uma época de pandemia, defender liberalismo enquanto se fala sobre fortalecer políticas públicas como o SUS é contraditório e incoerente.

  • Review | A Corrida das Vacinas

    Review | A Corrida das Vacinas

    A Corrida das Vacinas é uma série produzida pela Globoplay que tenta mostrar como funciona a luta para chegar a vacinação universal contra a pandemia do novo corona vírus. O programa é dirigido e apresentado por Álvaro Pereira Júnior e tem seu conteúdo aberto para não assinantes, mirando, evidentemente, um consumo amplo. Foram 5 episódios e um extra, e no primeiro (Nós Vamos ter essa Vacina) há uma pressa por elucidar o quadro mundial e como o Brasil lida com isso.

    Já nas primeiras cenas, os corredores do poder do governo de São Paulo são mostrados. O político João Doria autorizou a equipe a filmar parte da apresentação antes da conversa com a equipe do comitê de negociações para discutir os detalhes de eficiência da CoronaVac. Nesse cenário, o áudio de uma reunião vazou acidentalmente no equipamento da Rede Globo, em um fio que captava o vídeo de uma apresentação do documentário, nele se ouve algumas falas contundentes do governador e até do diretor do Instituto Butantã, Dimas Covas, sobre as dificuldades de conseguir negociar os insumos junto à China.

    O roteiro é didático. Uma pessoa que não saiba nada a respeito do vírus, dos seus efeitos e da politica nacional envolvendo a pandemia será completamente contemplada. Há um bom detalhamento do episódio do paciente da CoronaVac utilizado pelo governo federal de Bolsonaro para servir de espantalho contra o governo de São Paulo e a “vacina do Dória”. Além disso, há destaque a grupos especializados como funcionários da Anvisa, Instituto Butantã, Oxford, além de imunologistas e cientistas de renome.

    A série conversa bem com outras produções do gênero, como Por Um Respiro, especialmente quando mostra o cotidiano de pessoas lamentosas, sem permissão sequer de abrir as portas de suas casas para pessoas mais próximas, sob risco de contágio e morte. O lado emocional é bem demonstrado, e não abusa do sentimentalismo. A questão mais flagrante é o personalismo de Pereira Júnior que se faz personagem frequente nas coletivas de imprensa em São Paulo, além de sua proximidade com as autoridades que estudam a eficácia da primeira vacina feita no Brasil, a CoronaVac. É curioso que, ao perguntar sobre a eficácia e seus resultados, ele se aproxima e faz um ato não recomendado, batendo no ombro de um dos responsáveis pela comunicação. Ainda assim, seus apontamentos e questionamentos são válidos e sua insatisfação com alguns discursos é justa.

    Pereira Júnior viaja para outros cenários, percebe aglomerações em Nova Delhi, na Índia, com o povo não tendo receio de contrair o vírus, fato que dá um tom profético ao documentário, pois a situação estava tranquila na época da gravação e pouco tempos depois o país sofreu com uma segunda onda. Já no que diz respeito a sua visita à Rússia, o apresentador parece bem impaciente, chega a verbalizar que se montam circos midiáticos para ludibriá-los ao lado de outros órgãos da imprensa mundial. A favor dessa desconfiança, há também a percepção popular das pessoas na Rússia com a Sputnik V, mas ainda assim, a postura do diretor é um pouco inexplicável, beirando até a xenofobia no caso de algumas possibilidades de vacinas.

    A série é padrão Globo. Lembra os bons episódios do Profissão Repórter ou Globo Repórter, ainda que tenha uma abordagem mais incisiva, sensível e certeira. Os cinco episódios são boas introduções ao tema, especialmente para quem não lê tanto a respeito da procura pelas vacinas. De acordo com o sexto episódio (extra), possivelmente terão mais momentos. Ainda nesse episódio, temos a presença do imunologista Renato Kfouri, o professor Esper Kallás e a microbiologista Natalia Pasternak, fechando bem esse especial que certamente caberia em uma possível continuação visto os acontecimentos recentes da CPI da Covid.

    https://www.youtube.com/watch?v=nfXLpDusSuU

  • Review | A Vida Depois do Tombo

    Review | A Vida Depois do Tombo

    A forma de consumir cultura e entretenimento mudou no mundo quando a pandemia do novo coronavirus chegou. Sem esportes populares, que tiveram disputas interrompidas no início do contágio, o povo abraçou ainda mais os reality shows. O Big Brother Brasil, que vinha perdendo audiência ano a ano, de repente viu sua edição de 2020 batendo recordes de audiência e também em engajamento na internet. Quem participou dessa edição ganhou visibilidade, e oportunidades de trabalho com destaque a publicidade. Para 2021, o programa parecia sedutor para famosos, afinal o saldo para  o ator de Babu Santana foi bastante positivo, por exemplo. Seria natural pensar que a projeção poderia ser boa e foi nesse cenário que a cantora Karol Conká aceitou o convite para participar do BBB 21. A Vida Depois do Tombo é uma serie da Globoplay, com pretensão de discutir a trajetória da cantora curitibana no jogo, possivelmente com um mea culpa da moça, que saiu do programa com uma rejeição recorde.

    Dirigida por Patríca Cupello, a intenção do programa é humanizar Conká. Limpar a barra da artista, dar voz a pessoa que causou alvoroço e que chamou a atenção de quem não assiste \o programa graças o bombardeio nas redes e rodas de conversas dialogando sobre sua forma agressiva dentro do reality. As escolhas da direção são pontuais, evocando a simplicidade da compositora e interprete de Tombei!.

    Antes mesmo de mostrar o “jogo” proposto dentro dos episódios, aparece uma entrevista antiga, afirmando que ela queria atuar e viver como Nazaré Tedesco, vilã de Renata Sorrah em Senhora do Destino, novela das 9h bastante popular. O objetivo, claramente, é levantar a possibilidade dela ter atuado durante o programa, com a incômoda coincidência dessa entrevista ter ocorrido exatamente quando a cantora tocou na abertura de Malhação: Viva a Diferença, estrelado por Lucas Penteado, que esteve no BBB com a cantora e que foi vítima do gênio da participante.

    Porém, algumas abordagens não casam bem dentro do formato documentário. O fato é que a produção, apesar de ser anunciado como material documental, não é apenas isso. Há interação típica de jogo, fato que nos faz perguntar se esta é uma continuação do Big Brother A brevidade e a pressa do lançamento também nos faz perguntar se as conclusões que ela tem são realmente maduras, pois quase não houve tempo para reflexão ou arrependimentos. Mesmo que ela chore em todos os episódios, mesmo que diga que todos os anúncios de derrocadas financeiras são falsas.

    Na hora de falar a respeito das redes sociais e do cancelamento oriundo delas, há um exagero descabido. O programa valoriza as bravatas claramente artificiais como se fossem reais – e daí, se exclui as ameaças a integridade física, que deveriam sofrer sanções legais, obviamente . Compreende-se que o superlativo das redes não favorecesse artistas como a própria Karol Conká. Além disso, há algumas pessoas famosas que intercedem a favor dela, como o produtor de vídeos Kondzilla, o presidente da Sony Music Brasil que trabalha com a artista desde há três anos, o ex-marido dela e até ex-colegas de reality, esses últimos reunindo os momentos mais constrangedores dos quatro capítulos.

    Muitas teorias da conspiração foram levantadas desde a eliminação dela, de que teria assistência e dicas da direção dentro da casa, de que foi assessorada antes de entrar ao vivo nos programas da Globo pós saída, de que a série foi pensada até antes dela participar e que isso estava em contrato, e até que quem trabalha com ela não gosta de sua personalidade. Todas as possibilidades moram no campo das especulações. Fato é que, na frente das câmeras, ela parece mesmo ser uma pessoa de trato difícil como a acusam. A exemplo da conversa que tem com seu produtor executivo Caio Piovesan, em que subestima a rejeição extrema que sofreu. Além disso, a maioria dos seus antigos parceiros comerciais tem problemas judiciais contra ela, de modo que até seus hits não podem ser tocados em programas de televisão.

    A aposta na narrativa de que Conká é agressiva porque foi perseguida toda vida também não a faz alguém mais simpático ao público, o quadro só piora quando tenta explicar o tratamento cruel que deu a Lucas Penteado. Associar o rapaz a figura paterna, com quem ela teve uma relação conturbada, piora a situação. Parece presunçosa, sempre se colocando como vítima mesmo quando é abusiva e provocadora de bullying, rejeição e cancelamento.

    A Vida Depois do Tombo parece uma tentativa desesperada da emissora em explorar a polêmica surgida no BBB, tal qual ocorre com outros programas das televisões abertas. O formato estranho desse documentário mais lembra uma peça publicitária de assessoria, de caráter semelhante ao que Predestinado também da Globoplay faz com o jogador do Flamengo Gabigol.

    Não há nada de novo nesse documentário. Fora uma música que a rapper já havia feito e que agora tem a letra reformulada por conta de sua participação no BBB. Nem mesmo as histórias de bastidores de sua carreira saciam qualquer curiosidade, pois não há aprofundamento. Ao final, se percebe o óbvio: que os capítulos miram reverter sua rejeição. Uma desculpa para que ela expie os próprios pecados, mas sem qualquer reflexão além de frases feitas e postura altiva.

  • Review | Por Um Respiro

    Review | Por Um Respiro

    Por Um Respiro é uma série de documentários da Globoplay, dirigida por Susanna Lira que mostra o dia-a-dia de funcionários da saúde que lidam com a pandemia do Novo Coronavírus. Sua história se passa no Hospital Pedro Ernesto, referência em tratamento de Covid-19 no Rio de Janeiro.

    O seriado mostra em detalhes algumas das falas comuns do povo, como o uso ou não de celulares pelos pacientes. As enfermeiras em alguns momentos levam os telefones para que os internados possam ter algum contato com seus parentes. Ele também acompanha a evolução do quadro dos pacientes, mostrando os estágios de recuperação, não só físicos, mas também emocionais.

    A filmografia de Lira não é perfeita, mas ao menos no que toca questões emocionais o trabalho dela como realizadora é irrepreensível, e em se tratando de um documentário, é preciso ter esse apelo ao passional ainda mais numa questão como a proliferação de uma doença tão cruel e desacreditada pela população em geral, afinal se tratam de vidas, pessoas fragilizadas e que são naturalmente excluídas, visto a forma como o governo federal lida com a questão da pandemia e a ignorância em relação a vacina.

    Esteticamente a série é bem simples, e até esse aspecto ajuda a fomentar a urgência do discurso que é proposto, não há desvios narrativos, o foco é na esperança das pessoas em poder sair dessa situação, e no esforço dos profissionais em lutar para que as pessoas possam ficar bem ou ao menos se sentirem com algum conforto.

    A série tem seis capítulos, e o último se chama O Fim Não Está Próximo, e seu tom é quase profético, pois além de contradizer a fala de autoridades, também fortalece o cuidado que é preciso, com pacientes adoentados e com quem não leva a sério das medidas de proteção e de distanciamento. Para além das questões emocionais, Por Um Respiro é uma boa versão dos fatos colhidos a partir de quem viveu e vive um drama de guerra, de quem está na linha de frente e é tão desvalorizado por tanta gente.