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  • 10 Filmes com Temáticas Feministas (Pouco Lembrados)

    10 Filmes com Temáticas Feministas (Pouco Lembrados)

    Neste 8 de Março, confira nossa lista de longas com dramas políticos, cinema marginal, lutas contra o preconceito, histórias reais e comédias escapistas.

    Nesta quinta-feira é celebrado o Dia Internacional da Mulher. Três anos atrás, algumas participantes do Vortex Cultural relembraram a importância deste dia de luta e listaram 10 filmes cujas personagens femininas tinham um traço marcante e alguma discussão sobre o gênero. Em 2018, a seleção é um pouco de resgate de alguns filmes pouco lembrados, mas ainda assim que mostram a importância do feminismo. Fight like a girl!

    (confira também nossa lista de Filmes com Personagens Femininas Marcantes).

    Possuída (Clarence Brown, 1931)

    10 anos antes da histórica independência feminina da protagonista mulher de Rosalind Russell, em Jejum de Amor, Possuída já profetizava a igualdade entre os sexos em plena década de trinta, tão à frente do seu tempo, mesmo que numa concepção estética em partes ultrapassada.

    A Mulher do Dia (George Stevens, 1942)

    Uma guerra dos sexos banhada pela comédia, pelo olhar leve do entretenimento ainda que ácido e satírico de George Stevens, mas o certo aqui é uma coisa só: Depois da presença da jornalista Tess (Katharine Hepburn, fantástica) no cinema americano, o papel das protagonistas femininas nos grandes, pequenos e médios filmes dos estúdios de Hollywood nunca mais foi o mesmo, abandonando a partir de A Mulher do Dia e outros filmes tão importantes quanto inúmeros arquétipos e conveniências que as plateias tanto se acostumaram a tomar como verdade singular, em meio às temáticas das mídias que influenciam essa tal de opinião pública.

    Joana D’Arc (Victor Fleming, 1948)

    Aqui, Ingrid Bergman se faz como o símbolo da liberdade, Joana D’Arc, encapsulando com garra, em suas diversas e poderosas significações dentro do filme, o quanto o símbolo feminino pode ser versátil nas situações compelidas a ele, equilibrando toda a sensibilidade (a flor da pele) de uma pecadora submetida a sua crença, com a força (tão infalível quanto suas estratégias militares) de uma lutadora medieval para alcançar a custosa liberdade francesa contra os ingleses, numa época que ler ou escrever não eram de forma alguma exigências às mulheres – Joana era de fato analfabeta, encontrando na ultra expressiva Bergman uma intérprete ideal.

    Mônica e o Desejo (Ingmar Bergman, 1953)

    A feminilidade jovial e naturalista (e muito mais consequente que muitos críticos acreditam) mostrada por Ingmar Bergman numa das suas maiores polêmicas, sendo essa talvez digna do pódio. Isso porque, nos anos 50, essa liberdade com a figura feminina de uma Lolita foi um escândalo.

    Carmem Jones (Otto Preminger, 1954)

    Antes de Amor, Sublime Amor afirmar (e com toda razão, como a história vem provando) que não é possível ser feliz na América se você não for branco(a), o mestre Otto Preminger pegou uma ópera e transformou (guiado pela imagem de Dorothy Dandridge, a primeira mulher afrodescendente a ganhar o Oscar de Melhor Atriz, se a premiação fosse justa) em celebração simbólica parte da identidade e da realidade negra numa América racista e machista, tudo num cinemascope lindíssimo e contando com grandes músicas, atuações e uma glorificação própria.

    Mamma Roma (Pier Paolo Pasolini, 1962)

    Uma das mais impactantes e profundas odes a mulher na história dos filmes, refletindo na história de uma mãe, a força primordial do feminino, diante de um mundo duro e conflituoso. Acima de tudo, é arte pois é cinema, é de qualidade pois é Pier Paolo Pasolini, mas é vida, pois é materno.

    A Mulher de Todos (Rogério Sganzerla, 1969)

    Primeiro que Rogério Sganzerla não fazia filmes, era esteta de manifestos filmados com uma câmera em cima do ombro através de suas vertigens criadoras que tanto inspirou o cinema brasileiro, antes de ser gourmetizado pelo marketing internacionalista dos anos 2000 pós-Cidade de Deus. Em A Mulher de Todos, nota-se o quanto o cinema marginal era absolutamente incontrolável na sua concepção incômoda às diretrizes eurocêntricas da produção cultural brasileira considerada até hoje como de bom-gosto; um bicho arredio sem rédeas e encarnado aqui pela icônica atriz Helena Ignez, e depois de proferido seu nome, não há mais nada a dizer.

    A Princesa Mononoke (Hayao Miyazaki, 1997)

    Mais uma aula honesta e soberba de cinema por Hayao Miyazaki, indo muito além dos gêneros. É incrível como seus épicos propriamente ditos parecem todos saídos do mundo de “Sonhos”, de Akira Kurosawa. É de fantástica trilha sonora e personagens vivendo esse impiedoso mundo de ação.

    A Vida, Acima de Tudo (Oliver Schmitz, 2010)

    Como a África enxerga o elemento feminino, e como sobreviver ao longo de uma narrativa invariavelmente dramática numa zona que subestima e inviabiliza sua figura o tempo todo sob as égides de um machismo intrincado, culturalmente. A Vida, Acima de Tudo é sobre isso, sobre tudo isso. Sobre uma garota, um mini-mulherão (negro) tentando apenas salvar as suas raízes.

    She’s Beautiful When She’s Angry (Mary Dore, 2014)

    Documentário feminista que resgata, com cenas de arquivo de força impressionante, uma série de relatos de uma história quase apagada pelo passar das décadas, sobre as inúmeras mulheres que fundaram um movimento social formado, e organizado, em nome dos seus direitos gerais, de 1966 a 1971; sobretudo imparcial ao peso de uma voz política subversiva e coletiva, e às atenções conquistadas, mas também as contradições existentes em todo movimento, é um documento filmado fundamental e inspirador, mesmo nos dias de hoje, para aqueles que acham que feminismo e radicalismo podem ser, apesar de tudo, sempre considerados a mesma coisa.

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  • Crítica | Ralé

    Crítica | Ralé

    Ralé 1

    Dependendo fundamentalmente da inserção do espectador em sua proposta, Ralé, ficção que usa alguns elementos documentais para fortificar seu texto é uma ode à anarquia e à parcela da cultura popular normalmente ignorada pelo público conservador e purista das regiões Sul e Sudeste do Brasil, iniciando sua narrativa a partir de um conhecido áudio que se tornou meme nos últimos anos, a diretora Helena Ignêz – realizadora de Feio, Eu? e prolífica atriz de Belair e Dejaloh – já demonstra o caráter de seu longa em sua introdução.

    O roteiro de Ignêz explora uma trama metalinguística, envolvendo a feitoria de cinema e teatro, aludindo à peça Ralé, de Máximo Gorki. Apesar do formato episódico, que se mistura entre um quadro e outro, nota-se um caráter de road movie, que discute o nada e o vazio da existência, versando através da abstração sobre ócio, criatividade, sexo e paixão.

    A tentativa de reinventar o formato pode até não ser alcançado, especialmente porque isso só é confirmado após uma análise distanciada temporalmente, mas o texto ensaísta funciona por tentar ousar em direção a uma arrogância dadaísta, exibicionista como o exercício fílmico dentro do roteiro.

    Na camada superficial, há algumas alegorias junto a Cecil Bem Demente, de John Waters, ainda que o escopo seja sob um olhar crítico, típico do analista de artes. A escatologia real faz assustar, especialmente pela entrega de alguns membros do elenco, como Ney Matogrosso, Ariclenes Barroso e Simone Spoladore, todos expressando o auge de seus talentos e corpos. Ralé trata fusão de tesão, anarquia, sexualidade e punk, em um formato que louva o cinema.

    RALÉ – Trailer from Mercúrio Produções on Vimeo.