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  • Crítica | X-Men Origens: Wolverine

    Crítica | X-Men Origens: Wolverine

    Em 2009, surfando na onda de extrema popularidade da trilogia X-Men, iniciada pelo diretor Bryan Singer, começava a primeira tentativa de aventura solo do universo mutante, e coube a Gavin Hood, diretor de Infância Roubada e que ganhou três anos antes o Oscar de melhor filme em língua estrangeira, comandar essa iniciativa. O filme já começa mostrando a que veio, quando traz o jovem e frágil James Howlett (Troye Silvan) saindo do seu leito, onde claramente estava doente, para desferir um golpe no assassino de seu pai de criação. A cena, que deveria adaptar o clímax da revista clássica Origem consegue ser um evento dos mais mal construídos do cinema de ação recente, dada a artificialidade do movimento do jovem em direção a figura assassinada, só não aparecendo o cabo que o faz ter esse movimento por muito pouco.

    Logo após essa apresentação, os irmãos Victor Creed (Liev Schreiber) e James Howlett (Hugh Jackman) são mostrados em uma montagem parecida com a que abre Watchmen, onde aparecem juntos lutando em eventos importantes da história. Ainda que lembre muitos dos clichês de filmes da Segunda Guerra e Vietnã, esse é o melhor momento do filme até o seu  encerramento.

    X-Men Origens: Wolverine sofreu de um mal parecido com o de Tropa de Elite, ainda que os efeitos para si fossem totalmente avessos ao que ocorreu no filme de José Padilha. Um release inacabado caiu na internet, com efeitos especiais a serem finalizados, e isso causou uma má impressão tremenda, com campanhas da parte dos produtores para que as pessoas fossem ao cinema conferir o resultado final. A grande questão aí é que Tropa realmente justificava o ingresso por sua qualidade, enquanto esse é tão repleto de falhas de concepção que assisti-lo sem os efeitos especiais de computação gráfica por completo não tornaria o filme pior.

    O filme transita muito mal entre grandes espaços temporais. Depois da famigerada montagem videocliptica, o público é apresentado a um grupo de mutantes, liderados por William Stryker (Danny Huston), que funciona como uma força-tarefa que  deveria adentrar em uma republiqueta típica dos filmes genéricos de brucutus, onde acontece mais uma vez uma demonstração de ruptura entre James e Victor, com o primeiro impedindo o outro de matar alguém. Essa parte serve tão somente para introduzir Wade Wilson, de Ryan Reynolds, que faria anos depois o filme Deadpool, o personagem descolado Espectro do rapper Will I Am, e outros mutantes genéricos, como Blob (Kevin Durand) e outros, formadores da Equipe X.

    Seis anos depois, James está casado com Kayla (Lynn Collins), vive uma vida calma, no campo, sem maiores preocupações, enquanto isso, os outros coadjuvantes são abatidos um a um. O mutante de garras parece sentir a ausência desses, pois tem pesadelos quase premonitórios, acompanhados de um despertar no susto, onde põe suas garras para fora. Essa representação é de uma ignorância atroz e de uma tentativa de imprimir uma gravidade à situação, além da própria sensação de premonição que nunca existiu com o personagem. Wolverine não é Xavier ou  Jean Grey, tampouco é Sina (personagem secundária dos X-Men que tinha poderes sensitivos fortes), ele é tão somente o melhor no que ele faz, e aparentemente, não poderia ter uma vida tranquila e feliz exatamente por conta desses predicados e de seu passado.

    Poucas coisas irritam tanto no filme quanto o cabelo de galã do personagem principal. Não combina com ele, aliás toda a postura dele não faz sentido, ele é pacífico, menos impulsivo que seu irmão – a ideia do roteiro em mostrá-lo como uma fera anestesiada é até boa, mas não cabe aqui porque o único momento em que ele realmente age como um predador é no seu início, em uma das cenas mais constrangedoras de uma obra que é equivocada em quase tudo que se propõe. Quando os antigos patrões vão atrás do homem que assumiu a alcunha de Logan, o impacto pelas perdas pessoais que ele tem é completamente suavizado, pois esse claramente não é o sujeito sem escrúpulos e de natureza selvagem que o leitor ou fã dos filmes do universo dos mutantes se acostumou a ver.

    Reza a lenda que a iniciativa Origens contemplaria não só Wolverine, mas outros tantos personagens mutantes, como Magneto, e para muitos, X-Men: Primeira Classe é a evolução desse pensamento, e dada a total falta de complexidade desse filme de 2009, é natural que o projeto tenha mudado. Logan aceita a proposta de Stryker em inserir adamantium em si, graças a perseguição que Victor faz ao seu antigo esquadrão que, é bom lembrar, teve apenas uma missão com o personagem principal, e que aparentemente, causa alguma preocupação nele.

    A escolha por essa atitude é tardia, e não é mostrado em tela momento algum que o homem que perdeu tudo não conseguiria vencer seu irmão mais velho em uma luta sem a utilização do adamantium. A cena inicial do processo cirúrgico e traumático em que ele viria a sofrer a experiência é mostrada de maneira fria, sem um clímax, toda colorida e iluminada, sem a violência e sujeira com que era premeditada em X-Men de 1998 ou no quadrinho Arma X, aliás, a sequencia dela é ainda mais irreal, já que ao sair da mesa de cirurgia, Logan, já com a dogtag de Wolverine sai nu da pós-operatório, mas quando sofreu a interferência o sujeito estava de cueca boxe. Talvez a tentativa do filme fosse utilizar o corpo do galã para alcançar um novo público, ainda que a via seja mais gratuita que Michelle Pfeiffer em uma roupa de couro em Batman: O Retorno, pois até no filme de Tim Burton isso era mais justificado.

    Por mais que rejeite a ideia de ser encarado como herói, Logan age de maneira muito correta, sem parecer o anti-herói que o tornou conhecido nos quadrinhos. Ele se refugia em uma fazenda com dois velhinhos simpáticos, que fazem as vezes de Martha e Jonathan Kent, e que são postos ali só para serem mais uma perda irreparável (desimportante, na verdade) para o protagonista. É tudo tão tolo que faz perguntar se os roteiristas David Benioff e Skip Woods estavam realmente levando a sério a história que estavam propondo ao público.

    Há desfiles em slow motion (talvez mais de uma dezena, ao longo apenas 107 minutos), show off de garrinha de adamantium — Wolverine a usa pra ver o céu e até para acender uma linha de álcool que está no chão. Há também a pretensão do roteiro em dar uma origem até para outro rival de Logan que não Dentes-de-Sabre, em uma personificação de Scott Summers ainda mais caricata e sem profundidade do que a que fizeram com James Marsdem.

    Por mais que Ciclope seja mostrado de forma torta, nada se compara ao que fizeram com Blob. Ele é mostrado mais velho e obeso, mas a forma como isso ocorre retira qualquer peso (sem trocadilhos das escolhas e dos eventos que ocorreram até agora no filme), e a justificativa para acontecer uma briga entre eles é completamente ilógica e estúpida.

    Por outro lado, Creed é mostrado perseguindo mais mutantes, demonstrando de forma didática ao espectador e ao personagem o quanto ele estava sendo manipulado no final das contas. Ver X-Men Origens: Wolverine é basicamente um pretexto para assistir Jackman atravessando o universo dos X-Men (ou uma paródia bem mal feita deste) para ter mini crossovers com personagens que não se fizeram presentes nos filmes da equipe, e claro, tendo essas inserções da maneira mais gratuita possível. Remmy Lebeau, por exemplo, tinha tido seu nome prenunciado nos arquivos da Arma X em X-Men 2, mas aparece aqui, como o Gambit de Taylor Kitsch, que é basicamente um show off do carteado, e nada mais.

    Na época de seu lançamento, muitos elogiavam a performance de Liev Schreiber, até se comparando com Jackman, mas a realidade é que ambos tem papéis tão fracos e ilógicos que elogiá-los beira o ofensivo. Não há nada. Nem complexidade e nem gravidade em suas ações. Tudo que o roteiro dedica aos atores soa extremamente bobo, quando não risível.

    Uma nova ameaça surge, a Arma XI, e ela é tratada como o guerreiro superior, que reúne todos os poderes dos mutantes que passaram pelo projeto genético. Supostamente não seria Deadpool a identidade inicial do algoz, mas aparentemente Reynolds agradou muito nas exibições testes, e seus olhos foram inseridos em cima da péssima animação inserida em cima do ator e dublê Scott Adkins. Mesmo a cooperação entre irmãos é mostrada de forma burra, não há tática, não há justificativa para aquilo, mas ainda haveria de piorar muito nos momentos finais.

    Stryker para deter Logan usa uma bala de adamantium que seguindo os tecnobables, apagaria sua memória (?!). Raposa Prateada se vinga do vilão, usando seus poderes para convencer o mesmo a andar até seus pés sangrarem. Gambit ao cair do céu gira seu bastão, como se fosse um helicóptero (e como tem helicóptero esse filme…), e Xavier aparece no final, para salvar as crianças em uma tentativa horrorosa de rejuvenescer Patrick Stewart por computação gráfica. Toda a ideia por trás de X-Men Origens: Wolverine é extremamente bem intencionada, tanto Origem quanto Arma X são revistas incríveis e poderiam gerar ótimos filmes, e caso esse fosse um longa apenas sobre as ações de Wolverine nas guerras, poderia ter sido algo melhor, mas claramente não era essa a pretensão, o que resulta em um filme sem alma, sem história e equivocado até em suas cenas pós-créditos, tão asquerosas quanto todo o decorrer de suas tramas.

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  • Crítica | Decisão de Risco

    Crítica | Decisão de Risco

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    Dirigido por Gavin Hood, Decisão de Risco narra uma situação que inicialmente seria apenas a operação de captura de uma das cinco maiores terroristas, em Nairóbi, no Quênia, transformando-se em uma operação de eliminação de três perigosos terroristas em vias de cometer um atentado. Da Inglaterra, a coronel Katherine Powell (Helen Mirren) e o general Frank Benson (Alan Rickman) acompanham a movimentação através de drones estrategicamente posicionados.

    Mesmo não sendo o foco da narrativa, não é possível ignorar o questionamento sobre o uso dos drones como aparato militar. E o roteiro o faz de modo mais coerente e eficiente que a miscelânea mal estruturada do Robocop, dirigido por José Padilha. O grau de miniaturização dos artefatos impressiona e, mesmo duvidando que aqueles usados no filme sejam “de verdade”, uma pesquisa rápida esclarece que a mecânica de voo utilizada neles é perfeitamente factível.

    Apesar de, a princípio, parecer que a intenção da história é essa discussão sobre o uso dos drones, o roteiro vai bem além. Assistindo ao filme, o espectador se pergunta: até que ponto é aceitável bisbilhotar e invadir a intimidade de uma casa? Qual é o limite entre o respeito à privacidade e a prevenção de violência de qualquer tipo? E, polarizando ainda mais, quanto falta para que essa tecnologia deixe de ser aplicada apenas como recurso militar em defesa da segurança mundial e passe a fazer parte do cotidiano?

    Mas o ponto central da trama não é esse. É uma versão do clássico “dilema do bonde” ou “dilema do trem”. Apresentado a voluntários pelo filósofo e psicólogo evolutivo Joshua Greene, da Universidade Harvard, em linhas gerais, propõe o seguinte:

    Um trem está prestes a atingir cinco pessoas que trabalham desprevenidas sobre a linha. Você tem a chance de evitar a tragédia acionando uma alavanca que leva o trem para um desvio, onde ele atingirá apenas uma pessoa. Você mudaria o trajeto?

    A maioria das pessoas diz que é aceitável mudar o trajeto e matar uma pessoa em vez de cinco. Há, nessa reação uma mescla entre o impulso biológico de preservação da espécie e a consciência moral de favorecer um “bem maior”. Mas a ética de escolher o mal menor tem alguns problemas. É possível mensurar o valor de uma vida para conseguir tomar essa decisão? Quem garante que essa outra pessoa que se escolheu matar não seria responsável por atos infinitamente mais benéficos à humanidade que as outras cinco, que foram salvas? E, não só isso, multiplique-se a quantidade de pessoas por milhares ou milhões e chegamos a uma situação similar à maioria dos regimes totalitaristas. O extermínio dos “diferentes” para benefício da maioria. Visto dessa forma, a decisão ainda é válida?

    Sobre a questão de mensurar o valor da vida, há uma cena bastante instigante, em que o general Benson está aguardando a decisão dos membros do alto escalão sobre a ação contra os terroristas, e uma executiva do governo norte-americano entra em contato. Ela explica que eles – exército e/ou governo americano – fazem uso de uma escala de pontuação (algo como a escala Richter de terremotos) para avaliar estatisticamente a situação e evitar que dilemas éticos e morais “atrapalhem” a tomada de decisão. E que, na presente operação, essa pontuação indica que a decisão correta é exterminar os terroristas o mais rápido possível.

    Inevitavelmente, a opinião do espectador oscila à medida que acompanha o evoluir da situação, já que não há uma verdade absoluta que dê conta de resolver esse dilema ético. Afinal, como é dito logo no início do filme, “Na guerra, a primeira coisa que perece é a verdade”. Em cada um dos locais em que a ação se desenrola, exibe-se uma das facetas da questão. Se, em dado momento, o espectador está convicto de sua opinião, no momento seguinte algo pode fazê-lo mudar de ideia com a mesma convicção anterior.

    E a montagem do filme colabora para esse alternar entre as diversas facetas da questão. Cada um dos cenários tem seus próprios pequenos dilemas. Em Nairóbi, Jama Farah (Barkhad Abdi) se arrisca para conseguir se aproximar do local onde os terroristas estão reunidos. Na cabine de operações, Steve Watts (Aaron Paul) e Carrie Gershon (Phoebe Fox), de certa forma representando o espectador, questionam as decisões tomadas e as ordens recebidas. No QG, a coronel Powell se esforça para chegar a termo da missão, driblando meandros legais. No gabinete do Ministério da Defesa estão o ministro Brian Woodale (Jeremy Northam), o procurador-geral George Matherson (Richard McCab), a conselheira parlamentar Angela Northman (Monica Dolan) deliberando sobre a decisão a ser tomada e pesando as implicações éticas, legais e políticas, sempre mediados pelo general Benson. Sem se demorar demais em cada um dos quatro locais, a montagem consegue dar ao filme o ritmo correto, nem lento nem corrido demais, fazendo as mudanças de locação agirem de forma a manter a tensão da narrativa.

    A direção de fotografia também está muito bem feita. Sem exagerar nos close-ups, consegue deixar o cubículo em que estão os operadores ainda mais claustrofóbico. Usa alguns enquadramentos das filmagens aéreas para intensificar a tensão e o suspense da trama. E, sendo um filme de guerra, sem ser um filme de ação, a câmera mantém-se sóbria, sem muitas movimentações, muitas vezes sendo apenas mera espectadora dos eventos.

    Além de os personagens serem suficientemente bem construídos a ponto de fazer o espectador se importar com eles, o elenco garante boas atuações. Helen Mirren e Alan Rickman (em seu último papel no cinema) em ótimas performances, dão a seus personagens a dose correta de seriedade e de urgência nas cenas. Aaron Paul, assim como o Jesse Pinkman em Breaking Bad, dá à trama a carga emocional necessária. E vale destacar Barkhad Abdi, que dá a seu personagem a justa dimensão da dificuldade de ação de um agente disfarçado num local como aquele.

    Um filme de guerra sem oficiais berrando ordens no campo de batalha, nem saraivadas de tiros, nem soldados olhando fotos da família. Um roteiro que facilmente poderia pender para a pieguice, mas que consegue não apenas se sustentar como um ótimo suspense mas também instigar o público a (tentar) escolher um lado.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Ender’s Game: O Jogo do Exterminador

    Crítica | Ender’s Game: O Jogo do Exterminador

    Ender's Game - O Jogo do Exterminador

    Baseado no romance de mesmo nome, de Orson Scott Card, com roteiro e direção de Gavin Hood, o filme conta a história de Andrew Ender Wiggin (Asa Butterfield), uma criança que, mesmo sendo um “terceiro” (o filho excedente), é inteligente e muito bem-sucedido na escola de combate. Após a Terra ter sido atacada por alienígenas conhecidos como Formics – devido à sua semelhança física com os insetos – é formada uma Armada Internacional, que se encarrega de treinar uma geração de jovens talentos incumbidos de realizar um contra-ataque 100% efetivo. O Coronel Hyrum Graff (Harrison Ford) convoca Ender, acreditando que ele tem potencial para se tornar um líder estrategicamente tão bom quanto o lendário Mazer Rackham (Ben Kingsley), responsável pela primeira vitória sobre os Formics.

    O livro, apesar de ser leitura (quase) obrigatória entre fãs de ficção científica, perdeu boa parte do seu impacto com o passar do tempo devido aos avanços tecnológicos. O que resta – e não é pouca coisa – é o questionamento filosófico por trás da história: Até que ponto o governo tem direito de “brincar de Esparta”, recrutando crianças para serem treinadas em táticas militares? Até que ponto é válido utilizar esse único ataque sofrido como motivo para um contra-ataque, sem qualquer comprovação de que haverá outro? Até que ponto é ético abusar psicologicamente das crianças a fim de manipulá-las de acordo com os interesses militares? Enfim, há outras tantas perguntas que são feitas e cuja importância no enredo independe das traquitanas tecnológicas.

    Infelizmente, o roteiro conseguiu deixar tudo isso de lado e prendeu-se apenas à superfície da história, atendo-se somente à jornada do herói de um modo que peca pela falta de criatividade. A obra cinematográfica deve ser analisada, a priori, de forma independente e, sob esse ponto de vista, deve se bastar, não necessitando de conhecimento prévio para ser compreendida. No entanto, o espectador passa boa parte do filme com a sensação de que há algo a mais na história que ele deveria saber para a trama ficar mais interessante. E, desconsiderando o fato de ser uma adaptação, da dificuldade de transpôr a narrativa de uma mídia a outra, o roteiro parece ainda mais insosso. Há vários momentos em que se tem a impressão de que a trama vai deslanchar – “hmmm, agora vai ficar legal!”. Alarme falso. O momento passa e o filme continua se arrastando.

    Outro problema é a construção dos personagens, todos unidimensionais e tão “profundos” quanto um pires. Se ao menos o protagonista fosse bem desenvolvido, se suas motivações fossem mais definidas, se as características que levam Graff a escolhê-lo fossem mais evidentes, talvez o público se importasse um pouco mais com seu destino. Ele pode ter um momento de genialidade, tomar uma atitude extremada, sofrer um viés drástico e o máximo de reação que se obtém do espectador é um “Ah, ok.”. Nem se pode culpar Butterfield por sua performance. Ele até consegue transmitir um pouco o dilema do personagem, mas o resultado é aquém da expectativa. O Ender do filme é um moleque antipático o tempo todo e arrogante quando lhe convém.

    Que diferença faz se os cenários são boas representações das descrições de Orson Card? De que adianta se a sala de gravidade zero, utilizada nos treinos dos alunos, é muito fiel ao livro se o restante carece de complexidade? Enfim, para quem assiste sem ter lido o livro, o filme deixa a desejar por ser superficial demais e por deixar vários buracos não preenchidos no roteiro. Para quem assiste aguardando uma boa adaptação, deleita-se com os cenários e os figurinos e nada mais. Vale mais a pena ler o livro. Pois só assim o final do filme adquire algum sentido.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.