Tag: Jennifer Garner

  • Crítica | De Repente 30

    Crítica | De Repente 30

    Longa de Gary Winick (Noivas em Guerra, Cartas Para Julieta), De Repente 30 foi uma das comédias românticas mais populares de sua época. Sua história conta a trajetória de Jenna Rink, uma menina que aos treze anos não é popular, tem apenas um amigo e o sonho de se juntar as meninas lideradas pela patricinha Tom Tom.

    Um evento mágico e estranho ocorre e Jenna (Christa B. Allen) se transforma em uma nova versão dezessete anos mais velha (Jennifer Garner). Neste ponto, percebe que ao chegar aos trinta anos de idade se tornou editora da revista que mais amava. Além de bem sucedida, guarda uma porção de defeitos terríveis, optando pela popularidade à qualquer custo. Ao se deparar com essa nova vida, fica confusa e mesmo sendo próxima de uma pessoa do passado, Lucy Wyman (Judy Greer), procura seu único grande amigo da adolescência.

    Garner está muito à vontade no papel, mesmo que a premissa aqui seja extremamente não crível, como era com Quero Ser Grande. Acordar um dia, com muito mais idade e com licença poética até para beber (e Jenna bebe muito, possivelmente aludindo a uma predisposição genética sugerida subliminarmente no roteiro) não garante a personagem ou a qualquer possível contra parte dela uma maturidade mínima. A atriz faz muito bem uma mulher de meia idade, bonita, bem resolvida mas que ainda tem gosto e fome por coisas que crianças consomem, seja em questão de alimentos ou de meros sonhos e anseios.

    Ainda assim, nessa versão interrompida de si a personagem é mais amena, serena e singela, não à toa a aproximação que ela tem com Mathew (vivido por Mark Ruffalo e na juventude por Sean Marquette) traz à tona sentimentos amorosos. Ao se deparar com a possível mudança do paradigma do amor não correspondido, o amigo recua, com medo de se machucar e de ser injusto com as pessoas que sempre estiveram com ele.

    As piadas físicas são ótimas, mesmo quando Jenna bebe e faz coisas típicas de adulto ela não entende ironia. Há um espírito nessa produção bem semelhante ao clássico filme estrelado por Adam Sandler, Click, embora o longa tenha uma resolução de problemas bem diferenciada, bem como é feito para outro tipo de público, tentando atingir o espectador de meia idade mais sentimental, e não as meninas adolescentes como na obra de Winick.

    As escolhas do elenco são ótimas. Além de Garner, que está muito bem, Ruffalo faz um sujeito apaixonante e super fofo. Greer consegue imprimir bem a figura de vilã que finge ser boa – e que tem até algumas camadas de traição, repetindo o ciclo de traição a Jenna, mostrando que sempre foi uma pessoa sem escrúpulos – além é claro de Andy Serkis, cujo papel é pequeno (e caricato), mas que é muito simpático e aprazível. Até o elenco infantil é bem acertado, com destaque principalmente para B. Allen que, anos mais tarde, faria a versão mais jovem de Jennifer Garner novamente em Minhas Adoráveis Ex-Namoradas.

    O caráter de Matt e da Jenna dessa realidade são diferenciados entre si. A mulher que cresceu e se emancipou se tornou mesquinha e megera, e a versão criança certamente se decepcionaria demais com esta. Enquanto o homem seguiu doce, meigo e atencioso, além de muito charmoso e bonito, ou seja, tudo o que uma mulher madura quer. Por mais moralista que seja a mensagem do roteiro Josh Goldsmith e Cathy Yuspa, ele não cai na tolice de permitir que a historia se resolva de maneira fácil, embora arme um gatilho para que o final da historia não seja o pragmático e infeliz.

    De Repente 30 é um filme que marcou tanto a geração que o assistiu no cinema ou nas reprises da TV aberta que virou sinônimo de temas de inúmeras festas de aniversários de pessoas balzaquianas. Para além das questões modais externa, mostra a jornada de Jenna como a historia de uma pessoa refém de suas referencias, incapaz de conciliar uma vida particular e profissional bem sucedida. Gerando, com isso, a reflexão do público além do divertimento.

  • Crítica | A Justiceira

    Crítica | A Justiceira

    Jennifer Garner voltou a fazer filmes de ação após um longo hiato trabalhando em dramas e comédias, mas seu retorno ao filão em A Justiceira não deixa por menos em comparação com as fitas de aventura e adrenalina que a atriz fez no passado e nem as séries que participou ou protagonizou (principalmente Alias), sobretudo no quesito lutas e visceralidade.

    A primeira cena em que Riley North aparece é seca. A mulher bate em um sujeito num carro, ao estilo do que David Leitch fez em Atômica e que ele e Chad Stahelski conduziram em De Volta Ao Jogo e John Wick 2. Logo depois ela anda mancando, como a heroína falível que é, tentando fugir da situação violenta em que está e enquadrada de uma forma bem pontuada pela câmera que Pierre Morel conduz, fazendo lembrar em tom, clima e atmosfera os melhores momento de um outro filme seu, o primeiro Busca Implacável.

    Coincidência ou não Riley também é uma personagem trágica que perde seu esposo e filha assassinados por uma gangue de latinos, que obviamente seguiam as ordens de um magnata podre de rico, despreocupado com tudo e capaz de usar mão de obra barata para fazer o trabalho que ele mesmo não tem coragem de fazer, ainda que North seja pega em um fogo cruzado.

    Uma cena em especifico mostra bem como é o espírito deste filme. Quando uma ferida está aberta e exposta em seu braço, ela joga álcool ali, em uma movimentação nada glamourosa e distante demais do ideal higiênico. Ela usa fita isolante, outro material improvisado para conter seu ferimento, em uma versão feminina do que o personagem de Sylvester Stallone fez em Rambo: Programado Para Matar.

    Morel tem costume de colocar atores gabaritados em papéis de ação, no entanto, aqui se percebe uma melhor preparação de Garner para o papel em comparação com Liam Neeson, que até participava de blockbusters violentos, geralmente como vilão e passou a ser uma espécie de Charles Bronson repaginado. Com Garner isso não é uma realidade, o que ela faz é apenas um retorno às suas origens, em uma obra que se equilibra bem com os clichês de histórias de vingança, exploração de velhos estereótipos e discussão mais séria sobre vigilantismo, fato que torna o roteiro de Chad  ST. John um pouco mais responsável.

    Talvez o maior diferencial do filme seja exatamente quem é Riley. Ao mesmo tempo que o roteiro acerta em mostrar todos a tratando como uma louca, em uma exploração inteligente e não panfletária de como agentes da lei podem simplesmente ignorar o discurso de uma mulher unicamente por ela ser mulher, e por isso emocional demais.

    As cenas de ação são primorosas, especialmente as feitas em espaços pequenos. Garner se entrega muito ao seu papel e está em ótima forma, compondo uma mulher extremamente violenta e implacável em seu movimento de revanche, como um anjo de vingança que não consegue saciar sua fome de sangue sequer quando finalmente acha os culpados por seu infortúnio. Além das referências claras de Morel ao cinema de Paul Greengrass e homenagens as cenas animadas de Kill Bill, A Justiceira tem um desfecho que pune os bandidos e de certa forma julga a mulher que pratica a vingança, sem permitir uma visão de que aquilo é normal, ordeiro ou corriqueiro, ao contrário, o julgamento que se faz presente tem em vista a visão da opinião publica e dos órgãos de justiça, embora aponte que nenhum desses lados é composto por mocinhos, incluindo nisso até Riley e os North.

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  • Crítica | Com Amor, Simon

    Crítica | Com Amor, Simon

    Eu odeio o fato do cinema americano precisar ser tão people pleasure business como acabou sendo, ou como foi engenhado pra ser, mesmo. Me refiro a essa parada de satisfazer as plateias a todo custo e evitar desconfortos, ou discussões a ponto de comprometer comercialmente uma franquia inteira, tal como ocorreu com Star Wars: Os Últimos Jedi. É um dos custos do entretenimento. Um dos custos de traduzir prazer em imagens em movimento, ao invés de preservar os culhões de um projeto de Cinema real, oficial. Com Amor, Simon é um projeto de cinema. Arriscado pela sua segmentação de público, raro por não ser mais uma comédia romântica de Nicholas Sparks, e falho por não saber ser tudo ou ao menos parte significativa do que poderia ter sido. Saudades do querido Lionel, de Dear White People

    Não há nada de errado com filmes, ou livros e games criados a partir do próprio marketing que vende-os no mainstream. Nadinha. Como não promover bem, até para um leigo em publicidade, o rótulo de uma “comédia romântica gay”, sendo o “filme” em questão um que não passa disso: Um rótulo, uma promessa. O problema, justamente, é quando a experiência não vai além das estratégias moldadas para a sua promoção; quando o produto se encerra em sua venda, algo que o universo da DC na telona amarga de forma simbólica, na cultura popular atual. Sobretudo, hoje, as pessoas compram muito pela emoção, pela validação social no status do WhatsApp do amiguinho, por exemplo, e foi também nessas peculiaridades da propaganda que Com Amor, Simon se apoiou com malandragem para ser um sucesso passageiro no competitivo mercado de cinema dos EUA, saturado de contos crepusculares sobre a relação de dois gêneros “opostos” que ninguém aguenta mais.

    A história não poderia ser mais previsível em torno de um garoto, branco, hétero (ops) e seus amiguinhos, todos de classe média e que passam pelas mesmas coisas que todo adolescente sob a influência da cultura norte-americana passa: Ansiedade, espetacularização de tudo, desconfiança familiar, estilização dos próprios sentimentos, etc. Curioso é perceber como o cineasta Greg Berlanti tentou florescer a vibe teen John Hughes para retratar os mesmos adolescentes da década de 80 que nunca mudam suas dúvidas, atritos e inseguranças nessa fase de turbulências gerais, aqui representadas na situação que muda tudo para o jovem e simpático (até demais) Simon: A primeira paixonite online (quem nunca, não é mesmo?). A faísca que ascende o motorzinho pra bombear mais rápido o coração virginal é tratada de forma objetiva pela história, até porque o romantismo anda capenga demais, e quando rola o primeiro beijinho sob os aplausos da panelinha, “ah, toda uma geração de LGBT’s jovens vai se sentir representada”, pensaram os marketeiros. E, de novo, eles estavam certos! O filme, ou melhor, o hype construído ganhou uma legião de fãs que só saíram do Tumblr e do Snapchat para irem nos multiplex de shopping glorificar algo que parece ouro, mas é de tolo. Isso é tão pós-moderno que chega a doer.

    Uma esquete de YouTube com um fiapo de roteiro que alongaram por duas horas e que emblema um par de fatores, extremamente atuais: A intolerância levemente menor do grande público por “novas” histórias com arranjos inusitados, devido talvez a falta de originalidade na ultra saudosista Hollywood de 2018, sem contar a verdadeira e cada vez maior não-necessidade dos jovens gays, e de todas as vertentes sexuais, de não precisarem, ao menos no Ocidente, se esconder mais nos armários que seus tios precisaram se refugiar, e onde tanto lutaram para seus sobrinhos não respirarem aquele ar, mofado. Com Amor, Simon encapsula a realidade do romance juvenil hoje em dia de forma realmente plena, sem exagero algum, tendo a noção realista de como as coisas são para os adultos de amanhã, e como certas normalidades se configuram para os que a vivem, algo minimamente esperado para um filme que escolhe debater na sua publicidade, sendo que na estória mesmo é tudo moldado de forma apática e inexpressiva, as paixões e a problemática que qualquer menino gay de dezessete anos é por elas imune de ser assolado.

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  • Crítica | Não Olhe Para Trás

    Crítica | Não Olhe Para Trás

    Não Olhe Para Trás 1

    Estreando na cadeira de direção, após um longo currículo como roteirista, Dan Folgerton realiza seu filme como uma peça de redenção, baseada em uma figura supostamente real que remeteria aos longevos musicistas sexagenários que tiveram seu auge nos anos sessenta e setenta. Danny Collins – ou Não Olhe Para Trás (principal música do astro de rock biografado) – inicia-se com um jovem Eric Michael Roy para mostrar o personagem-título ainda cru, comentando sua influência enquanto compositor através de John Lennon. Ainda assim, uma figura estranha, uma vez que todos os discos espalhados pelo filme usam as imagens do acervo fotográfico de Al Pacino.

    As próximas cenas mostram a entrada de Collins em uma palco, toscamente abrindo uma porta que o leva diretamente ao centro – cena esta que seria pervertida no futuro –, exibindo um homem preguiçoso e acomodado pela eterna questão de ser rico, famoso e de ter o mundo aos seus pés. O uso abusivo de drogas ajuda a montar um arquétipo de bad boy geriátrico, repleto de whiskey e cocaína, enquadrando o idoso interpretado por Pacino como um homem cujos luxos e desilusões o dominam.

    O quadro de tranquilidade muda quando seu único amigo remanescente, e empresário, Frank Grubman (de um subaproveitado Christopher Plummer), lhe entrega um presente, uma carta que John Lennon lhe escreveu em 1971 sobre a entrevista que ele deu a revista Chime In, presa com o então editor, para que pudesse barganhá-la por muito dinheiro. O entrevistador faleceu, e a mensagem foi parar nas mãos de um colecionador, até ser comprada pelo manager, que tinha em mãos algo semelhante a uma garrafa perdida ao mar.

    A postura visual de Danny muda, quando, em sua cama, se permite ser ele mesmo, de óculos espessos e grande armação, que pretensamente o fariam ler melhor a carta, livre de qualquer aparência pré-fabricada do ser extremamente sexual que precisava pintar no passado, e que na vida idosa já não fazia quase efeito nenhum. O texto da carta envolvia a superação de qualquer condição monetária ante o ofício artístico da composição. Envergonhado, em frente a um outdoor com a sua imagem anunciando o volume três de uma coleção de Greatest Hits, o sujeito decide abandonar as drogas e rumar a Nova Jersey para escrever novas canções e uma nova história.

    Em um hotel modesto, Danny se interessa visualmente pela gerente Mary Sinclair (Annete Benning), que não chega perto das beldades com quem costuma transar, interesse este certamente ligado ao fato de perceber estar envelhecendo. A realidade, em uma análise frívola, revela somente uma crise de meia-idade. A busca por elementos diferentes faz com que encontre pessoas que deveriam ser de sua rotina, mas nunca foram.

    O cantor visita então seu filho perdido, encontrando sua nora Samantha (Jennifer Garner), grávida de seis meses, além da brava e linda Hope (Giselle Eisenberg), sua neta que sofre do transtorno de déficit de atenção. Ao encontrar Tom (Bobby Cannavale), ele é rejeitado, tendo enfim a retribuição por décadas de ignorância.

    Não Olhe Para Trás relaciona-se a Mesmo Se Nada Der Certo, mas em versão madura, tendo muitos dos elementos do roteiro de Última Viagem a Vegas. No entanto, falta o carisma dos filmes citados, e claro, o ponto alto do escritor em Amor a Toda Prova. Depois de compor apenas um pedaço de uma futura música, Danny decide ajudar sua neta a despeito do desprezo de Tom, começando uma miniaventura nessa jornada de reconstrução.

    O caso se agrava com a descoberta de que seu filho tem uma doença, o que acumula ainda mais a barra de clichês, um traço comum entre as gerações – que inclui também o roteiro –: a petulância. Em um dos poucos movimentos inesperados, Danny decide montar um modesta apresentação final, que até começa promissora na entrada do músico por uma porta de saída. Porém, logo a aura é quebrada com o retorno do showman e sua música tema, exibindo os ecos de uma carreira viciada que se importa com o público caquético que o acompanha, mas não o suficiente para o cantor sair de sua zona de conforto.

    Apesar do belo elenco de apoio, há poucas luzes da ribalta, mesmo para o redescoberto Al Pacino. A mensagem final é de que a natureza humana não muda, mas os préstimos de atenção e carinho podem ser presentes, mesmo na rotina de um velho homem, algo já foi visto em praticamente toda a filmografia do roteirista/diretor, mas sem a mesma inspiração das obras anteriores.

  • Crítica | Homens, Mulheres e Filhos

    Crítica | Homens, Mulheres e Filhos

    Homens-Mulheres-Filhos

    O acesso à internet utilizando computadores pessoais, tablets e celulares demonstra o alcance da informação nos dias de hoje. Boa parte das interações humanas é atualmente mediada pela rede – provavelmente por uma conexão sem fio – e por algum sistema eletrônico. Uma rede mundial conhecida pela população, e utilizada em demasia para busca de necessárias informações sobre como viver melhor, e pelo vício inerente a qualquer atividade humana.

    Homens, Mulheres e Filhos, sexto longa-metragem de Ivan Reitman, é adaptado do romance de Chad Kultgen, conhecido pelos romances retratando as relações – principalmente, sexuais – dos Estados Unidos. A obra traça um panorama de personagens inseridos neste moderno mundo contemporâneo onde a comunicação virtual é uma realidade paralela ao nosso cotidiano.

    A primeira cena do longa-metragem apresenta o espaço e a sonda Voyager, parte de um projeto da NASA criado em 1977 para estudar outros planetas. Em 2013, a sonda foi o primeiro objeto a sair do sistema solar. O famoso cientista Carl Sagan foi responsável pela seleção de diversas informações terrestres com o intuito de comunicar com outros seres. Estas informações são apresentadas em uma narrativa em off como base comparativa entre a vastidão do Universo e a importância da Terra, uma casca insignificante perante o infinito.

    Uma teia de personagens é apresentada diante desta era virtual. São homens, mulheres e adolescentes que mal se comunicam e utilizam o meio virtual como projeção de suas frustrações, sejam elas sexuais, como ocorre com o primeiro personagem a surgir em cena, Don Truby, um pai que acessa sites de pornografia online no computador do filho; familiares, quando Patricia Beltmeyer monitora ativamente os passos da filha, Brandy; ou utilizando-se de um meio para conquistar lucro e fama, como faz a mãe de Hannah Clint ao criar um site para a publicação de ensaios semi nus de sua filha; entre outros personagens que, em maior ou menor escala, utilizam a internet para dar vazão a seus vícios ou desvios emocionais e sexuais.

    O roteiro transforma tais elementos de maneira redutiva, fazendo cada personagem uma representação de um vício, com situações que beiram a fatalidade iminente. Relações que são alteradas pelo curso de outras vidas, demonstrando que nem pais, nem filhos têm a orientação adequada para adaptar-se a estes novos tempos. Trata-se de uma maneira extremamente dramática que enfatiza o lado negativo da relação virtual. Seria ela a base ou parte da justificativa para os duros tempos atuais.

    Sendo uma ferramenta utilizada diariamente pela grande parcela da população mundial, torna-se evidente, através de observação direta, que o mundo virtual apresenta elementos positivos e negativos. O roteiro parece calculado para ser excessivamente dramático e, dada a ênfase no lado negativo das relações e destes mundos paralelos, um tanto panfletário.

    Para fundamentar as histórias apresentadas, o bonito texto de Carl Sagan, Pálido Ponto Azul, é citado em cena e está presente no começo e no fim da trama. Um recurso para demonstrar de maneira explícita um enredo que o público já compreendeu, a saber: devemos ter consciência de como estamos lidando com as relações humanas tanto no interior familiar como no cotidiano externo.

    Em obras anteriores de Reitman, mesmo apresentando histórias contemporâneas ásperas, como a do vendedor de cigarros sem moral; da escritora de young adult que ainda vive como adolescente; do amor como uma fuga da realidade; e da gravidez na adolescência, o diretor e seus parceiros roteiristas sempre trabalharam enredos que variam tensões positivas e negativas, compondo um estilo agridoce e bem equilibrado.

    É inegável que as tramas apresentadas possuem uma base real, mas a concentração de tantos personagens exibindo seus vícios, parecendo desconhecer informações, análises, estudos e diversos elementos sobre a mudança de estruturas que a rede virtual trouxe, transforma o roteiro em um exagero calculado para provocar uma espécie de choque e de ruptura.

  • Crítica | A Grande Escolha

    Crítica | A Grande Escolha

    Que o Super Bowl é um espetáculo, todo mundo sabe. A grande final do futebol americano é um evento de proporções gigantescas, que move uma enorme quantidade de dinheiro, para os Estados Unidos e mexe com as emoções dos ianques. O que poucas pessoas fora de lá sabem é que antes do início do campeonato existe um evento chamado “Draft Day”, no qual os 32 times que compõem a NFL escolhem novos jogadores egressos do futebol universitário. É nesse ambiente que se desenvolve A Grande Escolha. Em vez de fazer mais um drama esportivo focando uma equipe disputando um campeonato, os roteiristas Scott Rothman e Rajiv Joseph e o diretor Ivan Reitman preferiram ambientar o filme na disputa que ocorre nos bastidores do esporte.

    A trama do filme retrata a jornada do gerente-geral do Cleveland Browns, vivido por Kevin Costner, em sua jornada de negociações durante o “Draft Day”. Além de ter que administrar a parte esportiva do time, o personagem ainda que lidar com vários aspectos de sua vida pessoal, com a relação delicada dele com o novo técnico do time e também com a expectativa de toda uma cidade que sonha em ver seu time de coração de volta à elite.

    Tudo isso pode parecer monótono e formulaico, mas o diretor Ivan Reitman consegue transformar o filme em um grande show sobre os bastidores do esporte. A direção ágil do diretor, que faz um excelente uso de telas divididas, não deixa a peteca cair em nenhum momento. Momentos melancólicos e cômicos são filmados com perícia e não sucumbem ao sentimentalismo gratuito. Existe ainda uma fuga do didatismo que costuma ocorrer nesse tipo de filme. Tudo é exibido de forma que mesmo os espectadores que não são familiarizados com o esporte possam entender. Os diálogos do filme também são muito bons, principalmente nos momentos de negociação.

    Kevin Costner tem uma ótima performance no filme, e seu rosto de homem comum transmite bastante credibilidade ao papel. Seu Sonny Weaver Jr. é um personagem muito inteligente e que tem uma lábia fora do comum. O ator se equilibra bem nos momentos mais tensos e também nos melancólicos, além de fazer uma ótima dobradinha com Ellen Burstyn, que interpreta sua mãe. Jennifer Garner, responsável por interpretar o interesse romântico de Costner, se sai muito bem e foge do estereótipo de mocinha deslocada em um mundo totalmente masculino. Sua personagem transita muito bem no ambiente sem parecer forçada. Denis Leary e Frank Langella, respectivamente o técnico e o dono do time, estão competentes como sempre. Cabe ressaltar também que os amantes do esporte vão se deliciar com as participações especiais de grandes ídolos (Sim! Terry Crews já foi jogador de futebol americano e aqui está fazendo um papel sério!).

    Dinâmico e bem conduzido, A Grande Escolha é um filme que remete aos bons momentos cinematográficos de Ivan Reitman e Kevin Costner, além de mostrar para as pessoas que os bastidores de um esporte podem ser tão tensos e interessantes como uma final de campeonato.

  • Crítica | Clube de Compras Dallas

    Crítica | Clube de Compras Dallas

    Dallas Buyers Club

    Ron Woodroof, personagem de Matthew McConaughey, é mostrado imediatamente como um sujeito desregrado cuja vida boêmia o empurrou para o estágio em que está. A câmera o registra a meia distância em suas atividades “marginais”, sua aparência é de decadência, seu corpo aparenta uma enorme fraqueza através da magreza excessiva e das tosses constantes. A notícia de que seria um soropositivo o pega de surpresa e o faz começar negando o problema. Dallas Buyers Club se passa nos anos 80, onde ainda não se tinha total clarividência sobre a doença, e onde ainda se acreditava que esta era algo passado somente em relações sexuais entre homossexuais.

    A percepção que está mal faz com que Woodroof apele para o suborno, numa brincadeira do roteiro com o Modelo de Kluber Ross (e seus cinco estágios: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação), mas não tira de si o comportamento machista. Tal postura pode ser encarada como um mecanismo de defesa, uma dificuldade de conviver com sua condição, especialmente no ambiente em que está, e a coisa só piora quando os seus “iguais” o tratam como as “bichas”, que são basicamente o seu objeto de ódio até ali.

    À sua maneira Ron tenta dar a volta por cima de seus problemas, a escolha do ramo de negócio o faz encarar sua condição com muito mais positividade, e aparentemente ele até melhora seu aspecto, tendo poucos ataques. Ele expande suas fronteiras, torna-se cosmopolita, na tentativa de retomar seu destino em suas mãos, mas as medidas não passam de paliativos.

    Os ataques e recaídas, simbolizadas com um zumbido intermitente são uma ótima artimanha para demonstrar o descontrole de Ron, a escolha de Jean Marc Vallée demonstra o quão suscetível ele permanece ao vírus, mas não invalida seu meio de vida marginal, visto a propensão da Doutora Eve Saks (Jennifer Garner) aos resultados que seus pacientes têm ao comprar de Ron seus medicamentos. A filmografia de Vallée costuma se valer de um discurso que aborda temas ligados a minorias secularmente excluídas, mas sem tratá-las como pobres coitadas (como em Lista Negra e Café de Flore). O clube de compras é mais do que uma tola tentativa de lucrar em cima da desgraça alheia – coisa que nem mesmo Ron percebe de início.

    As atuações estão impecáveis, Matthew McConaughey faz um sujeito bronco, preso numa situação calamitosa mas que tem criatividade o suficiente para se reinventar e reconsiderar seus conceitos. Os coadjuvantes também são competentes, Jennifer Garner e Denis O’Hare, mas é Jared Leto que obviamente rouba as atenções, com sua Rayon no começo como uma louca drag queen e ao final na decadência da doença, sem conseguir se livrar de seus vícios e definhando dia a dia. Sua vida afeta diretamente a de Ron e o faz perceber o quanto ele mesmo mudou.

    A discussão ética presente no roteiro é obviamente válida, especialmente quando de pensa na burocracia do sistema médico americano e no intervencionismo do homem comum para corrigir a conformidade que lhe é imposta. A venda ilegal das drogas impingida por Ron Woodroof evolui de estágio, de um simples tratamento próprio passando pelo lucro e desembocando na defesa de um ideal que beneficia uma parcela da sociedade que antes era até perseguida pelo indivíduo em questão, mas que mesmo diante de todas as qualificações honrosas ainda é diminuto se comparado ao poderio dos conglomerados farmacêuticos. A resistência de Ronald tem seus louros ao final e ele se torna um símbolo da luta de muitos doentes por melhores condições ao conselho médico estadunidense, ainda que este reconhecimento só tenha vindo anos após seu falecimento em 1992.

  • Crítica | Demolidor

    Crítica | Demolidor

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    Nos primeiros minutos de um documentário, que acompanha o primeiro disco desta versão de diretor, um dos editores faz comentários a respeito de sua metragem. Diz que para o lançamento do filme a opção foi reduzir um pouco da ideia original, deixando-o mais ágil e com mais cenas de ação, diferentemente da ideia do diretor, Mark Steve Johnson, que procurava algo mais denso e fluido, com momentos para explicações e um pouco menos de ação.

    Este pequeno trecho simboliza a diferença entre um editor pago para realizar um filme blockbuster sem se importar com sua qualidade e outros que tentam, mesmo em filmes neste formato, manter uma base narrativa.

    Demolidor foi a primeira adaptação de quadrinhos a ser um sub-produto dos sucessos anteriores. Pouco dinheiro foi investido no projeto, cuja missão primordial era um arrecadamento médio. Sem mais ganas, o resultado desse pensamento se tornou nada promissor. O descompasso é tão claro que o fraco diretor lançou sua própria edição do filme, com minutos a mais, tentando melhorar a fraca história e recuperar um pouco de sua imagem perante os fãs de quadrinhos.

    Mesmo trabalhando com um material bruto inexpressivo, seu trabalho tem um ganho positivo em relação ao original, mas nada excepcional. Os erros desenvolvidos na trama estão concentrados em sua estrutura. Nenhuma edição poderia salvá-la.

    A começar pela obtusa escolha do elenco — como colocar o gordinho Ben Aflleck para fazer o ágil Demolidor quando, por ator cogitado na época, Matt Damon seria mais indicado para o papel até fisicamente. Sem deixar de lado excessos de liberdade poética, transformando o rei do crime em negro e o Mercenário, grande vilão do Homem Sem Medo, em um patético personagem nas mãos de Colin Farrell, que despontou em um filme de Joel Schumacher e, depois de entregar mais uma atuação competente, vem desapontando desde então.

    Com um pouco mais de duas horas de duração, a nova edição deixa a trama mais explicada, tentando se aprofundar no drama de Matt Murdock. Mas a falta de credibilidade que Affleck passa, de um cego canastrão, não dá espaço para que se compreenda seu heroísmo.

    É lamentável que um personagem tão excelente como Demolidor tenha sido o escolhido para ser o primeiro filme B de quadrinhos, elemento parecido com o que aconteceria com o Quarteto Fantástico mas, dessa vez, voltado ao entretenimento familiar.

    Murdock é o herói que possui uma das carreiras mais estáveis nos quadrinhos, com sagas memoráveis, além de ser carismático. Nas telas virou uma mistura insossa de senso comum e de atores mal selecionados, que culminam na Electra Natchios de Jennifer Garner.

    Ouça nosso podcast sobre Ben Affleck.

  • Vortcast 22 | Ben Affleck

    Vortcast 22 | Ben Affleck

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    Bem-vindos à bordo. Nesta edição, Flávio Vieira, Rafael Moreira, Isa Sinay, Pedro Lobato, Mario Abbade e Carlos Britto comentam sobre a carreira cinematográfica do ator e diretor, Ben Affleck. Partido de seus “ótimos” trabalhos com atuação, as parcerias com Matt Damon, a grande ascensão de sua carreira com o Oscar de melhor roteiro por Gênio Indomável, passando também pela pior fase da carreira com seguidos flops em comédias românticas, até chegarmos em seus notáveis trabalhos como diretor.

    Duração: 93 mins.
    Edição: Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira

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    Comentados na edição

    Vortcast 05: Filmes Marvel
    As caretas de Calvin por Ben Affleck

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    Crítica Gênio Indomável (Good Will Hunting)Compre aqui
    Crítica Medo da Verdade (Gone Baby Gone)Compre aqui
    Crítica Atração Perigosa (The Town)Compre aqui
    Crítica Argo

    Filmes comentados

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    Shakespeare Apaixonado (Shakespeare in Love) – Compre aqui
    Demolidor (Daredevil) – Compre aqui
    Contato de Risco (Gigli)
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