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  • Crítica | Ava

    Crítica | Ava

    O elenco de Ava é de encher os olhos: Jessica Chastain, Colin Farrell, Geena Davis e John Malkovich. O diretor Tate Taylor ficou conhecido por bons trabalhos como Get on Up: A História de James Brown e Histórias Cruzadas, seu filme mais conhecido e reconhecido. Olhando dessa maneira, não tinha como dar errado. Só que deu.

    Na trama do filme, Jessica Chastain é uma assassina que passa a ter crises de consciência durante os trabalhos que lhes são designados. Devido a isso, ela é afastada das suas funções por seu superior, interpretado por Colin Farrell. Aproveitando a deixa, Ava retorna aos Estados Unidos para se reconciliar com a sua família. Porém, ao ser avaliada como um risco para seus empregadores, torna-se um alvo e passa a ser perseguida.

    Ainda que o trailer do filme desse todas as pistas de que ser mais um genérico do já clássico Nikita: Criada para Matar, dirigido por Luc Besson, o elenco chamativo despertou a curiosidade sobre o resultado final da película. O início até se mostra interessante, com uma cena da protagonista e um alvo dialogando dentro de um carro. Já ali fica estabelecida a instabilidade psicológica da protagonista e logo após, em uma sequência de recortes que mostram fatos extraordinários da vida de Ava nos créditos iniciais, são demonstradas as razões que a fazem estar daquela maneira. É um início promissor, mas rapidamente tudo desanda de maneira brutal. O filme se torna um emaranhado de clichês de gênero que são utilizados de maneira horrível. O roteiro de Matthew Newton é fraco, lotado de melodrama barato e situações absurdas que fazem o espectador ficar cada vez mais desinteressado pelo que está sendo exibido na tela.

    A direção de Taylor não ajuda em nada. Se ao menos sequências de ação eletrizantes fossem empilhadas, o filme poderia cumprir a função de direção escapista. Entretanto, o que sucedem são cenas mal ensaiadas de luta, principalmente uma que envolve Malkovich e Farrell, além de outras de ação que não empolgam em nenhum momento. Isso tudo fica mais comprometido ainda pelo final absurdo do filme, inacreditável de tão tosco e despido de sentido. As únicas coisas que salvam são as atuações, em especial a de Chastain. A atriz defende com unhas e dentes o seu papel, mesmo em um filme que é totalmente aquém do seu talento.

    Enfim, essa tentativa de misturar John Wick e Nikita infelizmente é bastante fraca, ainda mais em vista de quem se envolveu no projeto. Uma pena.

  • Review | Space Force – 1ª Temporada

    Review | Space Force – 1ª Temporada

    O governo de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos é envolto em muitas polêmicas, não só de pregação de intolerância com minorias e grupos tradicionalmente excluídos, mas também com uma negação da ciência em diversos pontos. Em um tweet, o presidente norte-americano tinha dito que viria uma nova “força” governamental, em breve, a Space Force, e a ideia de Greg Daniels (de The Office, Upload e Parks and Recreation) seria explorar essa possibilidade.

    A primeira temporada da série começa imediatamente com a promoção do general Mark Naird (Steve Carrell) ao comando da Força Espacial. Já no episódio piloto é mostrado um pouco de sua personalidade e suas trapalhadas, mas não exatamente como seu personagem Michael Scott, em The Office. Apesar de Mark ser apresentado dessa forma, ele ainda possui uma capacidade de liderança razoável e consegue demonstrar bastante bom senso, diferente de Scott.

    Grande parte da problemática da série mora exatamente nas expectativas, pois o seriado foi vendido como uma comédia rasgada e muito similar a The Office. Existem muitos elementos de humor, mas também muito drama e crítica social, fator esse que esbarra também em outro problema, a  completa falta de acidez nos roteiros.

    Há muitas piadas fracas, e uma insistência nelas, como a gag cômica do gabinete de Mark estar sempre ocupado por um visitante não anunciado. O fato de Daniels já ter experiência com séries, e de ter tido inícios ruins como foi em The Office e Parks & Recreation faz ter esperança de que a série cresça nas temporadas seguintes.

    Assim como é difícil explicar a funcionalidade da Força Espacial, é difícil também explicar se o intuito do programa é fazer rir ou não. Lisa Kudrow tem algumas das melhores piadas, e ela sequer aparece em todos os episódios. Se gasta tempo demais criando casais sem química alguma, formando relacionamentos entre pessoas que ninguém se importa, resultando num tolo e fútil esforço.

    Space Force tem dificuldade em encontrar sua própria identidade, e termina com um gancho bastante inoportuno, basicamente para ativar no espectador uma curiosidade que não conseguiu ser criada de maneira espontânea ao longo de toda a temporada. A expectativa minimamente positiva que fica é que se invista mais no desenvolvimento dos personagens, e que eles criem química naturalmente com o tempo, como ocorreu nas outras séries do criador.

  • Crítica | Red 2: Aposentados e Ainda Mais Perigosos

    Crítica | Red 2: Aposentados e Ainda Mais Perigosos

    Red 2: Aposentados e Ainda Mais Perigosos também começa com os créditos iniciais referenciando a revista da DC Comics, com o traço característico, mostrando Frank Moses (Bruce Willis) lidando com seu par, Sarah (Mary Louise Parker) um mercado mega store, despreocupadamente, quando é interrompido por seu velho amigo Marvin (John Malkovich), para que retornasse a agencia de super espiões. Eis que o antigo amigo do protagonista sofre com a explosão do carro e o  chamado a aventura passa a ser algo impossível de ignorar. A forma como o roteiro de Jon Hoeber e Erich Hoeber lida com a recusa do protagonista é inteligente, ainda mais em se tratando de uma adaptação de quadrinhos.

    A ação que se segue após a sequencia inicial é frenética, e Willis se mostra muito bem fisicamente para esse tipo de historia, que não exige dele mais do que ser um sujeito forte mas que entende as limitações que a idade lhe impõe. 2013, o ano de lançamento desta continuação é o mesmo de Duro de Matar:  Um Bom Dia Para Morrer, e nesse capitulo cinco da saga de John McLane claramente não há o mesmo nível de comprometimento do interprete e nem de veracidade e fidelidade com o personagem, apesar de que a adaptação dos quadrinhos de Warren Ellis e Cully Hammer seja caricata e irreal também, mas dentro dessa proposta, funciona.

    O modo que Dean Parisot conduz o filme é baseado demais em um caráter super estiloso, que põe os personagens que são preparados ou não para o trabalho de super espiões para fazer proezas mil e para serem heróis de ação custe o que custar. Isso evidentemente tem um preço, a suspensão de descrença é completamente abdicada, mas em um produto que mira ser um pastiche das historias em quadrinhos isso não é exatamente um problema.

    Mesmo a exploração de clichês baixos, como a ressurreição de personagens e crises de ciúmes de outros é bem justificada, pelo fato do texto final não se levar a sério. Red 2 usa e abusa do escapismo e de algumas breguices, mas isso em nada denigre o resultado final, e apesar de esse não ser superior a Red: Aposentados e Perigosos, as cenas de ação são muito boas e o conteúdo é divertido e entretém sem dúvida nenhuma.

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  • Crítica | Bird Box

    Crítica | Bird Box

    São muitas as assombrações, muitos os demônios correndo soltos entre nós. O diabo mora no pequeno detalhe de que eles são atraentes. Uma pequena olhada em suas faces e é bem possível que nos entreguemos a seu poder de conquista. Mas esses demônios não querem apenas nos conquistar, sua satisfação é nos levar ao limite, à destruição, à autodestruição.

    [Esse texto contém spoilers. Não descrições de cenas e desfechos, mas interpretações da história. Sugestão: tendo chegado até aqui, assistir o filme é retornar a este ponto para o restante da leitura do texto.]

    Apesar de a descrição do filme indicar que se trata de drama, não é um erro de percepção entender que se está assistindo uma história de terror. A humanidade está sendo atacada por uma força incontrolável, que não se consegue explicar e que se espalha extremamente rápido. Ao primeiro, simples e breve contato com essa força, o indivíduo se torna autodestrutivo e comete suicídio logo em seguida.

    O enredo se confunde com a história de Malorie (Sandra Bullock), que, grávida já em estado avançado, se depara com as primeiras “contaminações” próximas a ela justamente quando saía do hospital onde havia ido para mais um exame pré-natal. Ela ainda, mesmo já no final da gravidez, não estava certa se queria ser mãe.

    Quando o contágio começa em sua cidade, se alastra de forma estupidamente rápida. O cenário de caos e destruição é apocalíptico. Não apenas um contingente enorme de pessoas ao seu redor, mas inclusive sua irmã Jessica (Sarah Paulson) que dirigia levando-as de volta do hospital para casa se mata.

    Malorie, caída na rua, tentando fugir do contágio e recém espectadora do suicídio da irmã, acaba se refugiando na casa de um estranho, juntamente com outros seus completos desconhecidos. Naquele refúgio, eles viverão pelos anos seguintes. Ela, que até ali era uma pintora solitária e reclusa, que praticamente não saia de casa (até suas compras de supermercado quem fazia e a levava era sua irmã), há muito não falava com a mãe, passará a viver com diversos estranhos, um dia após o outro, lutando pelo mais básico: sobreviver.

    Não bastasse a profunda metáfora da história, o filme é excelente também pelo nível excepcional de mistura de sentimentos e tensão da história. Suas duas horas passam muito rapidamente, graças a seu enredo muito bem construído. A sequência de fatos, de profundidade das mensagens de cada cena, cada diálogo nos faz ficar vidrados na tela. Embora não seja possível aqui falar sobre o livro que baseia o filme, é relativamente certo que Josh Malerman (autor do livro que deu origem ao filme) entrega uma obra profunda. Também não sendo aqui viável julgar falhas isoladas do livro ou do roteiro do filme, percebe-se que Eric Heisserer (A Chegada) poderia ter feito uma melhor adaptação para tornar a história mais verosímil. Explicações a respeito de disponibilidade de energia elétrica, água e suprimentos gerais ficam um tanto quanto falhas, especialmente se considerarmos os cinco anos em que ocorre a história entre o momento do hospital e o desfecho do filme. Isso não chega, contudo, a comprometê-lo, são detalhes menores diante de todo o resto.

    A direção de Susanne Bier (Serena) coroa atuações fenomenais de todos os atores. Sua condução leva a um nível próximo do perfeito de dramaticidade e explosões de emoções. Bullock encarna Malorie a ponto de quase nos fazer esquecer que se trata apenas de uma atriz interpretando um papel. Os companheiros de morada de sobrevivência de Malorie: Douglas, Tom, Cheryl, Lucy, Olympia, Charlie, Felix e Greg, são trazidos à vida por excelentes atuações de (respectivamente) John Malkovich, Trevante Rhodes, Jacki Weaver, Rosa Salazar, Danielle Macdonald, Lil Rel Howery, Machine Gun Kelly e BD Wong. Destacam-se também as interpretações de Paulson, das crianças Vivien Lyra Blair e Julian Edwards, além de Tom Hollander (Gary) – convincente e importantíssima, por sinal.

    Verdadeira trama filosófica, a história nos faz refletir sobre: o quão atrativas são as promessas de satisfação e prazer ao nosso redor (consumo desenfreado, prazeres momentâneos, drogas, soluções rápidas e fáceis para nossos problemas mais complexos?) e ao mesmo tempo quentou elas nos levam à destruição; pessoas próximas a nós que podem de uma hora para outra se entregar a isso; indivíduos aparentemente frágeis poderemos fortes e resistir a essas tentações e mesmo salvar outros de nelas caírem; pessoas ranzinzas, mal-humoradas, de mal com a vida podem ser importantes em apoiar nessa resistência; existirem pessoas deslumbradas com aquelas promessas, as quais conseguem, contudo, resistir à autodestruição, e também sentirem satisfação em levar outras a sucumbirem; tentar ajudar uma pessoa aparentemente frágil poder ser uma armadilha de um ser ardiloso e vil; a fragilidade da juventude, que se entrega facilmente aos prazeres e à satisfação, acreditando ser imbatível; a existência de comunidades dedicadas a entender a importância de se manter cego a tais promessas e como ler sobre essa cegueira (a alegoria da escola para cegos no final do filme é fenomenal); dentre outras questões nas entrelinhas.

    Como uma linha que costura todas as peças de pena que compõem todo esse tecido, se apresenta a importância da mãe como protetora, guia e educadora de suas crias. Sem perder de vista o risco da super proteção e do exagero (incluindo o potencial de fazer o filho lhe temer e querer se afastar de si), somos colocados diante do fundamental papel da mãe que se mantém cega e cega seus filhos para a contaminação da maldade. Pássaros se agitam com a aproximação do mal, é importante estarem isolados dele (engaiolados?) e voarem em ambiente seguro!

    Texto de autoria de Marcos Pena Júnior.

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  • Crítica | Johnny English

    Crítica | Johnny English

    A paródia de filmes de superespiões Johnny English começa com um sonho do agente, vindo de auxiliar de escritório e se tornando o Agente Um, o mais especial e competente entre os espiões do serviço secreto britânico e da inteligência da agência fictícia do MI7.  Ainda nesse início, há uma óbvia referência ao James Bond, de Sean Connery, com o personagem de Greg Wise tacando seu terno num móvel, tal qual 007 fazia no móvel que habitava a sala de Moneypenny.

    O chamado à aventura no filme de Peter Howitt não demora a ocorrer, e daria tom aos outros episódios da cinessérie, pois através de uma obra do acaso – e também por força do caráter estabanado do personagem, uma explosão mata todos os agentes, menos Jonny, e ele passa então a ser o mais preparado para a ação, apesar de não o ser, de fato. Completamente desajeitado, English joga seu casaco pela janela, assim que vira agente de campo, achando que só a postura é o suficiente para exercer o cargo.

    O longa parte de um humor bem primário para fazer sua platéia rir, como boa parte da filmografia e obra de Rowan Atkinson. A transição de um um sujeito nada exímio para o agente competente é quase automática, English se atrapalha mas parece confiante. No entanto toda a postura de extrema confiança não é o suficiente para proteger as jóias da coroa britânica, missão que lhe foi dada e que seria até simples de resolver para um Bond, Ethan Hunt ou Jason Bourne.

    A maior parte da comédia do filme é baseada em humor físico descerebrado, e o texto é raso, quase só tendo graça quando apela para o politicamente incorreto onde se explora a xenofobia com os franceses. Ao menos o tom parodial de Mike Myers e seu Austin Powers tinha um satirismo mais engraçado. O plano de Pascal Savage (John Malkovich) é mirabolante tal qual os de Blofeld, Goldfinger ou o Homem da Pistola de Ouro, obviamente com uma carga de humor que o faz se assemelhar ao Doctor Evil, embora aqui o antagonista se leve mais a sério.

    Atkinson é carismático, mas é um ator de uma nota só . Não é que ele seja refém de Mr. Bean, mas claramente seu personagem famoso na TV provém dessa capacidade característica de humor. Ao menos, o desfecho desse primeiro Johnny English se mostra engraçado na medida que o astro precisa, com muito humor físico e piadas rasteiras, mas não tão baixas ao ponto de ofender uma parte do público.

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  • Crítica | Horizonte Profundo: Desastre no Golfo

    Crítica | Horizonte Profundo: Desastre no Golfo

    horizonte-profundo

    Assim que a voz verdadeira de Mike Williams no primeiro segundo de fita ecoou pela sala de cinema, entendi que esse filme poderia surpreender. Foi um misto de sensações, uma vez que o áudio em questão se tratava de um trecho de seu depoimento a respeito do acidente na plataforma conhecida como Deepwater Horizon. O acidente ocorrido em 2010 no Golfo do México foi o maior da história petrolífera americana. Apesar dos trailers repletos de explosões e fogo, muito fogo, referido áudio passou a impressão de que o filme seria investigativo com requintes de tribunal, o que seria sensacional. Mas eu estava errado. E que bom que eu estava errado.

    Logo somos apresentados ao Mike Williams de Mark Wahlberg e sua família, formada pela esposa Felicia, vivida por Kate Hudson e a filha do casal, Sydney (Stella Allen) no “tradicional” café da manhã familiar. É a despedida de Williams que ficará fora por algumas semanas a bordo da Deepwater Horizon, como de costume. No caminho, Williams se junta à colega Andrea (Gina Rodriguez) e ao seu chefe que também é o chefe da plataforma, apelidado carinhosamente por todos de Sr. Jimmy (Kurt Russel). Durante o percurso podemos aprender de uma forma bem didática quase todo o curioso procedimento de embarque a uma plataforma que se assemelha bastante a um procedimento de aeroporto, sendo que já no trajeto, Sr. Jimmy é informado sobre um teste de segurança que possivelmente havia deixado de ser feito pela empresa B.P., que visava maior lucro com o tempo ganho ante a ausência do teste.

    Apenas para situar o leitor que ainda não viu Horizonte Profundo – O Desastre no Golfo, aparentemente, a Deepwater Horizon está prestes a iniciar a extração de petróleo num lugar até então inexplorado e que, por tais motivos, necessário seria “vedar” parte da área do fundo do oceano com cimento para que a lama, o petróleo ou qualquer outra coisa não vazassem por esse cimento onde o teste deveria ter sido feito.

    A interação e a química de todo elenco é um dos pontos positivos do filme e isso só melhora com a entrada de John Malkovich em cena. O premiado ator interpreta o ganancioso Donald Vidrine, o engenheiro da B.P., responsável por não fazer o teste de segurança. Os embates intelectuais que Vidrine tem junto de Sr. Jimmy são sensacionais.

    Claro que é apenas uma questão de tempo para que o acidente aconteça e isso nem o trailer esconde. O diferencial é que, geralmente, em filmes de catástrofe, você não se apega aos personagens, uma vez que o que interessa é a catástrofe em si. Além do mais, também não se trata da história de um pai que, no meio ao caos, necessita atravessar a cidade para encontrar ou fugir com a família como já retratado em outras inúmeras histórias recentes. Em Horizonte Profundo, o espectador parece estar junto dos personagens como se estivesse vivendo aquilo. Méritos do diretor Peter Berg, responsável por filmes duvidosos como Hancock e Battleship: A Batalha dos Mares.

    Outro fato interessantíssimo e que se atribui crédito a Berg e toda a equipe técnica, na verdade, é uma indagação: como foram filmadas as cenas de ação do acidente? Num primeiro plano parece ser uma pergunta idiota, mas confesso que o realismo ali presente é impressionante, uma vez que o espectador consegue “enxergar” a aplicação de CGI é um momento ou outro apenas.

    E por último, talvez o destaque principal seja Mike Williams, mas não o Mike Williams retratado por Mark Wahlberg e sim o cidadão Mike Williams. Embora Williams seja retratado de forma competente por Wahlberg, o que chama atenção são as atitudes tomadas como ser humano e que foram mais que suficientes para que a sua história, no meio de tantas outras, fosse escolhida para virar filme.

    Como de costume, o que vemos ao final são imagens reais de todos os envolvidos, o que aconteceu com cada um deles, com o diferencial de uma bonita homenagem aos que faleceram no acidente.

    Horizonte Profundo: Desastre no Golfo é, portanto, um filme correto, de extremo bom gosto e muito bem executado que merece ser assistido no cinema e que com certeza se junta à lista das surpresas de 2016 que, convenhamos, não tem sido excelente no que diz respeito a cinema.

    Vale destacar que o próximo projeto da dupla Berg/Wahlberg também contará uma história real em Dia de Heróis que contará um episódio acontecido durante o ataque terrorista à famosa Maratona de Boston em 2013.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | A Troca

    Crítica | A Troca

    a troca

    A Troca (Changeling, EUA, 2008) acabou sendo um dos filmes mais diferenciados da carreira de Clint Eastwood como diretor por causa da temática progressista dentro de uma absurda história real de uma mãe que tem seu filho sequestrado e a polícia devolve outra criança no lugar.

    A telefonista e mãe solteira Christine Collins tem seu único filho levado por um estranho em 1928 e a polícia de Los Angeles devolve outra criança. Com a ajuda do reverendo Gustav Briegleb, ela entra em uma luta contra toda a polícia e acaba desbancando a corrupção dentro da corporação.

    O roteiro original de J. Michael Straczynski acerta ao seguir cronologicamente os fatos reais. Ao fazer sumir a criança logo no começo e ver que poucos policiais cooperam com o caso, já temos uma ideia do enorme drama que aquela mãe vai enfrentar. Ser apresentada à outra criança pela polícia com o intuito de posar para os jornais só piora a sua psiquê e estabelece o grande dilema ético do filme.

    A teoria de conspiração que começa a permear a sua cabeça faz com que ela seja presa por policiais corruptos e vá parar no sanatório. A não cooperação com o médico da instituição demonstra a qualidade inquebrável da protagonista e é aí onde reside a força do roteiro. A luta incansável da protagonista só revela outros temas relevantes ao filme: ela precisou do auxílio do reverendo Gustav Briegleb para tirá-la do sanatório e ajudar na batalha dentro do tribunal contra o departamento de polícia.

    A atuação de Angelina Jolie é contida em quase a totalidade do filme, conseguindo criar uma mãe arrasada e sem vida, já que está sem seu filho. Ela se sobressai principalmente nas cenas dentro do sanatório, as mais memoráveis e que mais dialogam com a premissa do filme. John Malkovich, por sua vez, dá vida ao reverendo revoltado com a corrupção imoral da polícia de Los Angeles, suas nuances e atuação não comprometem a obra.

    A direção de Clint Eastwood continua sublime na composição do quadro e no posicionamento da câmera. Porém, ele opta pelo tom melodramático na direção geral dos atores, o que faz cair um pouco a qualidade de A Troca.

    A fotografia de Tom Stern (que trabalha com Clint desde Dívida de Sangue) é característica de filme de época, mas não é realista; possui um tom um pouco onírico. A edição de Joel Cox (que começou a trabalhar com o diretor em Rota Suicida) em parceria de Gary Roach (edita seus filmes desde Cartas de Iwo Jima) é invisível na maior parte da narrativa, não há um plano memorável.

    A Troca é dos filmes mais diferenciados de Clint Eastwood por causa da temática, que junto de Invictus e Cartas de Iwo Jima talvez seja a trilogia mais progressista do cineasta ao longo da sua carreira como diretor.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Filmografia Comentada: Os Irmãos Coen – Parte 2

    Filmografia Comentada: Os Irmãos Coen – Parte 2

    De Gosto de Sangue a Inside Llewyn Davis, uma análise geral e não-datada sobre as diretrizes da obra de Joel e Ethan Coen. Da parceria primordial com Sam Raimi a dois lugares cativos nas expectativas de crítica e público, feito mais que raro, senão raríssimo. Suas obras são trabalhadas com mãos de pelica juntamente a todas as possibilidades do cinema, em seu estado humilde, para apostar em temas ricos, intentando criar algo inédito, como que com o ímpeto de um fracassado que aposta tudo na única chance de sua vida.

    A moral e a força dessas obras vêm em forma de lenta infiltração atrás da parede da sala, apesar da rápida duração, geralmente, das mesmas. Em um punhado de entrevistas dedicadas a dissecar o que está por trás dos estímulos da filmografia vigente, os cineastas não cedem a surtos didáticos sobre seu caminho no cinema, carregado de marcos em dobro.

    O Homem que Não Estava Lá(2001)

    O expressionismo alemão que não se mostra herdeiro das consequências do passado, mas de uma irrevogável essência dúbia e ambígua da composição do mundo surreal desses realizadores, corajosos por experimentar de tudo, um pouco; formados na fórmula de como se sustentar na corda bamba da criatividade. As sombras do interior de um homem expostas nas calçadas no contra plongée de um enquadramento, na possibilidade do filme ser mudo, sem carência de pantomima, na caricatura de uma história contida, prestes a explodir a qualquer segundo como um dínamo desconfiado. Até onde pode se estender a luz nas sombras do mero ser, quiçá os domínios da técnica numa produção com coração e possibilidade de submersão, além do visual. O Homem Que Não Estava Lá é um convite para o espectador ter a responsabilidade de sentir a história separadamente ao belíssimo arranjo e aquisição do fotógrafo Roger Deakins, o oposto do que as produções bilionárias de Hollywood tentam evocar. É como se os irmãos, através de cada frame e close facial do ator Billy Bob Thornton, levassem o público pelas mãos por um campo já arado, esperando uma semeadura de consciência para algo poder ser colhido dali. É claro que o potencial poético do filme não é de todo renegado, mas desde que a estrutura dialoga em primeira e terceira pessoa, o que é unilateral nos filmes de Joel e Ethan não tem vez.

    O Amor Custa Caro (2003)

    Crises existenciais sempre foram inerentes aos Coen, e aqui, em plena era da infinitamente atrasada igualdade entre os sexos, eles homogeneízam em uma inusitada paleta de cores quentes o que há de bom e ruim no interior humano, na fronteira entre o distinguível e as miragens da neblina moral, no caso, existencial. A ênfase às contradições, revogáveis vistas do lado de fora, da natureza do homem e da mulher são colocadas no microscópio conhecido por Cinema, imagens e sons novamente sob o prisma da interpretação variável. A começar por ser boêmio e não menos que simbólico, há alguns “novamentes” aqui, seja a repetida parceria com Thornton e Clooney ou o raro esforço por não serem tão óbvios no tratamento de um contexto pré-montado, há mais no sorriso de George Clooney e no vermelho de Catherine Zeta-Jones do que sonha nossa vã filosofia. Como nós aceitamos ser guiados por dois seres desprezíveis é cortesia nossa, só nossa, nascida do simples ímpeto de se envolver com uma boa história, humilde sem demais alegorias no fluxo de ideias velhas bem retocadas, num cenário de roupagens e vocabulários requentados; poucos podem ser culpados por tentar a nobre arte da revitalização clássica.

    Matadores de Velhinha (2004)

    O humor universal é o que há de mais caro no gênero. Tudo se assemelha em âmbito cultural e de repente a satisfação se esvai em prol da sede pelo original. Quase não há espaço para a inovação nessa questão, a menos que essa seja obtida por legítimos punhos de aço; um empurrãozinho da sorte, aliás, não faz mal a ninguém. Só nos resta ser o gato à margem da ponte, na cena derradeira de Matadores de Velhinha, filme que se recusa a ir ou a voltar no espaço-tempo: Vaga nesta filmografia como um espectro do que ficou na vontade, e do que os Coen poderiam ter sido na pior instância. O maior risco intelectual dos Coen se concretizou em escorregão, convertido aqui em plena irresponsabilidade no material final: É lugar comum, é a espreguiçada que se dá ao acordar no domingo de manhã. Equívoco que todo cineasta merece e faz bem de cometer para se mostrar hábil o bastante de espantar o pó e seguir de cabeça erguida adiante.

    Onde os Fracos Não Têm Vez (2007)

    E seguiram. Quando um(a) artista, no sentido amplo do termo, chega no auge do exercício almejado com unhas e dentes, ele(a) retorna talvez injustamente ao ponto de partida, pois sente que foi naquele ponto onde sua autenticidade falou mais alto, gritou e berrou ao mundo. Onde os Fracos Não Têm Vez é uma constatação rara que não tem espaço para nada mais do que a maturidade absoluta no ofício do realizador, este que arrisca toda a reputação até aqui conquistada para fazer o que é preciso dentro e fora da conjetura que se equilibra para não arredar o pé, com ou sem esforço. Tipo de peça que toda filmografia deve ter, é o currículo dos Coen falando lado a lado com a história árida e que casa mais que perfeitamente com os fundamentos dos irmãos, na hora certa e com o material certo. Estimulante a qualquer profissional da área, nota-se que, através dos paradoxos psicológicos e do desenvolvimento harmonioso do mosaico de sensações a ser desembrulhado, conforme a projeção se encarrega do próprio desfecho, a adaptação de McCarthy é a mais notável evolução moral desta dupla de mentes. Sua maior proeza extraestrutural é ser denso enquanto flexível, aberto a todo o tipo de interpretação a quem acompanha o cão (Tommy Lee Jones) perseguir o gato (Javier Bardem), que persegue o rato (Josh Brolin) e rata (Kelly Macdonald). De câmera intimista num mundo desesperado por lógica, intenções se desenham em terreno abstrato diante dos olhos; um manifesto imprevisível e amargo contra a violência e a favor do que pode ser ridículo nela. Os irmãos aqui assumem a figura de dois palhaços tristes que sempre nos fizeram rir com signos derivados de tiros a queima roupa e sangue sobre carne, se posicionando desta vez na lateral oposta do mesmo, sem máscaras ou maquiagem, acerca de uma modernidade ainda deficiente de humanidade. Se eles não conseguiram ser pretensiosos aqui na abordagem, por mais ativa que seja, eles certamente não mais poderão ser, pois sem o habitual humor negro, qualquer um morreria sufocado assistindo Onde os Fracos Não Têm Vez.

    Queime Depois de Ler (2008)

    Do veterano roteirista Marshall Brickman: “A mensagem do filme não pode estar no diálogo”, e para quem não tem ideia de onde mais poderia estar, os filmes desses instáveis irmãos chegam a ser uma boa resposta. Infelizmente, sendo uma resposta reflexiva para alguns, fato é que Queime Depois de Ler, dotado de um elenco estelar, faz parte do que já pode ser analisado como a segunda fase dos Coen: A fase que eles não precisam mais provar nada a ninguém, quando o motor do carro para de ranger após subir a colina e chegar ao topo do planalto. É possível descansar nessa hora, esticar as pernas e deixar rolar tudo o que o desejo assim apontar. Instáveis, porém incansáveis, o céu não é o limite para quem anda com a cabeça nas nuvens, e à medida que a câmera desce na abertura do décimo quarto filme da dupla rumo ao foco no teto de uma instalação governamental em Washington, Estados Unidos, é como se o tempo tivesse parado e aquelas comédias, dos tempos de Arizona Nunca Mais, nunca tivessem saído do lugar para alçar voos mais altos. Premissa claramente iniciada do zero, um filme interessante de corroer as bases, morder os princípios ao longo da projeção, por lá estar contido um punhado de estruturas submersas, à tona aos poucos: Um strip-tease ofertado pelas toneladas de relações humanas trágicas apresentadas, terrivelmente familiares para muitos de nós, e em constante impacto quase cármico. Um círculo social de diálogos subversivos vindos de condições, apenas e, sobretudo, masoquistas por excelência. A obra é o picolé de limão mais ácido no dia de verão mais quente, conquistando quem vive a vida real e acha graça nos imprevistos irresistíveis e contínuos. Como Cartola já cantou: “Rir, pra não chorar”. É a vida.

    Um Homem Sério (2009)

    Uma rara metalinguagem não-admitida. Por mais abstratas que sejam suas cognições, Um Homem Sério é um antifilme onde os Coen brincam de ser Deus e se fazem ilegíveis, portanto. O excesso de subjetividade é totalmente proposital, e entre fenômenos naturais improváveis e a lógica matemática que também não chega a lugar nenhum, os irmãos assumem a ironia de o cineasta ser capaz de criar seus mundos, mantê-los e destruí-los quando e como bem quiser, seja através de um divórcio ou de um furacão geológico. Indo além do masoquismo e sendo tão imparcial quanto as constelações nos são, Um Homem Sério não parte mais do pressuposto artístico de investigar os mistérios da vida, mas passa a aceitá-los sem a pretensão de entendê-los, como sugere um personagem em devido momento quando a força do que vem a ser dispensável pontua qualquer julgamento, cético ou não, agnóstico ou não, quanto a confusão que é provável de se formar da abrangência da produção em relação ao tudo e ao nada. Os rostos interrogatórios de todas as figuras no filme promovem signos indecifráveis, embora para com a dupla de cineastas, sempre serenos e donos das verdades que não aceitam compartilhar, no caso, os rabinos desta história que olha para si mesmo e rejeita um final, pois é um retrato do ciclo da vida que só termina quando a montagem exibe os créditos finais e tudo fica escuro, na técnica do fade out. Filosófico sem levantar bandeiras, e bem sucedido enquanto amplo em torno de embalagens melancólicas, como projetos cinematográficos no início foram idealizados a ser, aqui os Coen riem baixinho da vida com as mãos na frente da boca, após gargalharem do caos existencial em Queime Depois de Ler. Logo, a filmografia desses irmãos tem humor negro próprio, caso seja procurado um sentido para cada filme existir.

    Bravura Indômita (2010)

    Silenciar as impressões dos Coen quanto a um gênero não funciona com eles. É tentador imaginar os irmãos na premissa de um terror a seus moldes, assim como era um western visto a temperatura e o fluxo de calor que suas produções são submetidas, de vez em quando, na direção que o gênero imortalizado por LeoneFord e Hawks era inevitável, em uma visão senão mais próxima de Sam Peckinpah, é verdade, se esse fosse adepto de Proust. Se de estereótipos se faz o gênero, os irmãos se aproveitam disso e mostram a jornada da vida através de quem vai, e só não ignora o cenário devido à beleza das pradarias e do céu do meio-oeste dos Estados Unidos captados pela câmera de Roger Deakins, mais uma vez na sua melhor parceria com a dupla criadora. Metáfora sobre a coragem do “fazer humano” reflexiva e caricatural em suas causas, e seus efeitos. O rosto deformado de Jeff Bridges, a bravura cega da jovem figura de Hailee Steinfeld e, principalmente, a ineficiência do personagem de Matt Damon apontam para o fim de um jeito seco, sem conclusões, aqui substituídas pela, artisticamente falando, analogia moral de se realizar a arte que reúne as outras, o cinema, da concepção notória do movimento com ou sem final feliz, tanto faz, na ubiquidade do invólucro narrativo aqui presente até a última cena. Toda a beleza fotografada indica qual beleza? Uma beleza que não se pode ver, apenas ouvida, quiçá pela força dos diálogos, os olhares que dizem tanto? Daí a principal indagação, de dentro pra fora, no frescor da nobre odisseia para prender um bandido. De uma mera vaidade surge a obra mais sábia e onisciente de seu poder de persuadir o espectador desde Onde os Fracos Não Têm Vez, a partir do momento que retira a bravura do título da humildade com que tudo nos é configurado, sem pressa na familiar esquematização cênica dos irmãos que quase nos permite ver seus filmes com nossas avós ao lado, numa dramatização econômica e cirurgicamente precisa, não mais que satisfatória; uma máquina que chega com o manual necessário, porém, obviamente, escrito em uma língua que só as emoções sabem falar. No dia mais escuro, quando os Coen se tornarem objetivos em suas razões então deturpadas, nada mais poderá fazer sentido.

    Inside Llewyn Davis: A Balada de um Homem Comum (2013)

    O folk de Joan BaezDave Van Rock e Bob Dylan é o ritmo que melhor casa com o ritmo dos Coen, se tornando irresistível de representar; o frenesi de discos como The Folkways Years e Highway 61 Revisited exemplificam perfeitamente a semelhança ideológica nas intenções conjuradas em mensagens sociais (e atemporais, como as do folk), oriundas da desconexão com o que e quem essas mensagens pretendem tocar. O músico Llewyn Davis de decadente e ascendente social não tem nada, é apenas um nômade feito com pernas incansáveis, junto a seus sapatos surrados, violão e cabelos despenteados, a materialização do espírito musical em pauta, de uma geração e de um artista. No primeiro musical convencional dirigido em dobro pelos Coen, a predominância do tempo presente é mais uma vez redigida com gosto, uma espécie de limpeza de alma, do poder que a música empresta ao cinema quando esse se habilita em aperfeiçoar melodia com o audiovisual sem perder fatores de fidelidade. Retratar o som em nome da expressão não verbal que A Balada de um Homem Comum termina por ser é tarefa árdua, que aqui parece ser das mais simples, tímida, mas masoquista até a medula. O foco dos diretores continua sendo a potencialidade do que é retratado, num processo de destilação vertiginosa no conteúdo da história, um descobrimento leve do que pode vir a ser – sempre no tempo presente já mencionado – e um polimento do interesse bruto do público. Os Coen aqui assumem que suas zonas de conforto são amplas e seus domínios, largos, e há ainda muito a que se agarrar e discursar em prol daquela visão 360° que eles têm sobre seu terreno, e nos querem fazer ter também.

  • Crítica | Os Pinguins de Madagascar

    Crítica | Os Pinguins de Madagascar

    Os Pinguins de Madagascar

    Em 2005, a Dreamworks Animation comemorava o lançamento de sua décima animação. Diferentemente do grande sucesso do estúdio, a franquia Shrek (até então com duas produções), o filme Madagascar dava prosseguimento ao apelo anunciado por O Espanta Tubarão como uma estreia em potencial voltada ao público infantil. Dez anos depois, em sua 30ª animação, o universo dessas personagens retorna, ampliando o sucesso de uma trilogia que arrecadou quase dois bilhões de bilheteria.

    Inicialmente, o inédito Cada Um Na Sua Casa seria o lançamento do estúdio para o verão americano. Porém, devido à concorrência, escolheram um caminho seguro: Os Pinguins de Madagascar, um spin-off da trilogia dos fugitivos do zoológico. A composição do quarteto central, Capitão, Kolwaski, Rico e Recruta, segue à risca a linha de coadjuvantes que, devido a uma personalidade própria e um humor peculiar, destacam-se em animações Devido à ausência de um nome próprio para a equipe de pinguins, o título permanece ligado à franquia original. O grupo também é formado por estrelas de uma série animada da Nickelodeon, porém esse longa-metragem permanece fora da cronologia da série, situando em um momento após Madagascar 3: Os Procurados.

    Os minutos iniciais da produção foram apresentados anteriormente ao público como um curta-metragem divulgado pela Fox em seu canal oficial, mostrado em eventos, como a Comic Con Experience, com direito a comentários de produção de Benedict Cumberbatch, um dos dubladores da versão americana. Em um breve período de tempo, conhecemos a origem da amizade do quarteto, e a trama retorna ao presente, apresentando um vilão polvo, a cara e a voz de John Malkovich, que deseja se vingar dos pinguins. Como apoio, entra em cena a equipe Vento do Norte, um grupo de elite que policia qualquer agressão contra animais indefesos.

    O roteiro de Michael Colton, John Aboud e Brandon Sawyer segue a fórmula da animação tradicional voltada para a família, com o diferencial da Dreamworks não produzir histórias que concorram diretamente com a Disney, a qual sempre trabalha em filmes visando um amplo público, entre adultos e crianças. A trama é mais plana, uma simples história de aventura marcada por muitas cenas de aventura ou humor, escondendo a ausência de um enredo mais articulado. As gags são tantas que, vez ou outra, atingem o público mais adulto também, embora seja notável o quanto as crianças se identifiquem mais com o humor apresentado. Parte do sucesso estrondoso de Madagascar deve-se a seu público-alvo, ávido por consumir filmes do estilo sem um critério equilibrado em relação à qualidade das obras (para estabelecermos um parâmetro, Megamente e Como Treinar o Seu Dragão, duas grandes animações do estúdio, possuem em conjunto uma renda irrisória se comparadas à trilogia Madagascar).

    Sendo assim, dentro da proposta do estúdio, de produzir obras que gerem lucro, suas produções continuam dando um bom retorno e produzindo sequências naturais, mesmo que a maioria dessas produções seja de pouca originalidade, reciclando com a mesma espinha dorsal histórias semelhantes que se destacam, no máximo, por algumas boas e carismáticas personagens. Infelizmente, não é suficiente para sustentar um bom filme.

  • Filmografia Comentada: Os Irmãos Coen – Parte 1

    Filmografia Comentada: Os Irmãos Coen – Parte 1

    De Gosto de Sangue a Inside Llewyn Davis, uma análise geral e não-datada sobre as diretrizes da obra de Joel e Ethan Coen. Da parceria primordial com Sam Raimi a dois lugares cativos nas expectativas de crítica e público, feito mais que raro, senão raríssimo. Suas obras são trabalhadas com mãos de pelica juntamente a todas as possibilidades do cinema, em seu estado humilde, para apostar em temas ricos, intentando criar algo inédito, como que com o ímpeto de um fracassado que aposta tudo na única chance de sua vida.

    A moral e a força dessas obras vêm em forma de lenta infiltração atrás da parede da sala, apesar da rápida duração, geralmente, das mesmas. Em um punhado de entrevistas dedicadas a dissecar o que está por trás dos estímulos da filmografia vigente, os cineastas não cedem a surtos didáticos sobre seu caminho no cinema, carregado de marcos em dobro.

    Gosto de Sangue (1985)

    É o gatilho elencado por toda a cinefilia acumulada antes do primeiro projeto de quem é aspirante a artista e não sabe o que é ser um, mas sabe que é. Gosto de Sangue é uma barca de sushi de boa parte do que já foi produzido no gênero policial, seja das influências das fantásticas décadas de 60 e 70, ainda que oriundas do gênero noir, aqui tudo revisitado, à tona mais uma vez, sem preconceitos ou pudores através de uma visão particular de cinema, em notório, ainda sentindo a necessidade de evolução gradual. No primeiro lance é costumeiro somar a inexperiência do(s) realizador(s) diante daquele gostinho de quero mais, afinal nem todos se chamam Orson Welles ou John Houston (ambos, curiosamente, iniciaram seus passos ao rol das lendas no mesmo ano, 1941). Contudo, em Gosto de Sangue, os irmãos compram a briga dos mais exigentes e tentam assumir calmamente uma maturidade a ser comprovada, jogando com elementos que viriam determinar o “ao longo” da carreira; humor dramático, um constante drama irônico com o humor trágico dos laços humanos (o trágico aqui é literal), e uma violência doméstica indomesticável, satírica e inesperada, cada vez mais requintada daqui em diante. A quem tem olhos de lince, a história apoiada nos conflitos expostos da persona de Frances McDormand já apontava polos distintos enquanto únicos no cenário audiovisual do meio dos anos 80, povoados de inúmeros nortes, é verdade… Todo filme é uma odisseia indiscutível a quem o faz, que seja Ulysses então a melhor analogia a qualquer filme prematuro e experimental.

    Arizona Nunca Mais (1987)

    Sergio Leone imortalizou o homem desconectado da sociedade que vive, sem passado e futuro definidos, lutando para sobreviver no presente. Nicolas Cage se consagrou como a personificação pública do ator desastroso no potencial duvidoso dos filmes que resolve atuar. Antes de protagonizar o cult Coração Selvagem, de David Lynch, Cage, o “melhor pior ator” do mundo, embarcou no mundo das loucuras racionais de Arizona Nunca Mais, a última obra não esquematizada dos Coen, pois corre irresponsável sem críticas sociais, políticas ou artísticas, adiantando o tempo e dando indícios dos quebra cabeças geniais que viriam a seguir, agora com a parceria (nunca reconhecida) de John Goodman. Cheio de momentos impagáveis, Cage faz quiçá outra personificação típica dos irmãos: O desajustado que talha as próprias rugas através dos problemas que não consegue evitar rumo a lugar nenhum, ou melhor: A glória ou a tragédia, sem meios termos. Ponto decisivo na jornada dos cineastas, provando a quem se deixar convencer que sabem ser pop sem vender suas almas no mercado proibido a doutrinas autorais, o que acabou sendo uma verdade, mesmo que, na época, a constatação pareceu ter vindo cedo demais. Aqui, os Coen descobriram que podem ser masoquistas na nutrição de suas crias, e adoraram a satisfação disso!

    Ajuste Final (1990)

    Caso os Coen já tivessem a experiência obtida aqui desde os tempos de Gosto de Sangue, Ajuste Final seria o estopim dos irmãos. Possivelmente, a obra mais pretensiosa dos irmãos, vinda de uma nítida confiança tanto da indústria por eles, quanto deles para eles mesmos. Homenagem explícita a grandes clássicos do gênero que pertence e extravasa com elegância, alternando estilos e funções diferentes de filmagem para uma única proposta com base no cinema de identidade, reflexivo enquanto reflexo do que já foi feito no mural da história da arte. É em Ajuste Final, legítimo “filme de gângster”, em todos os sentidos, que os Coen se mostram de súbito exímios diretores de atores, característica que seria amplamente divulgada pela publicidade oriunda da qualidade de seus trabalhos, não puro marketing. Pop, mas pessoal demais para passar na Tela Quente. Vale uma ressalva: A pretensão aqui se torna positiva através da ambição na escala do projeto, ainda inacessível nos tempos de Gosto. Numa história tipicamente noir, em plena década de 90, o cenário diegético continua avesso a tendências e didatismos falando muito sem dizer especificidades, cebolas em formas de filmes esperando pacientemente o descascar. Além de contar com participações dos amigos Sam Raimi e Steve Buscemi, para quem pergunta o porquê dos Coen terem virado cult, este e o próximo exemplar são as melhores respostas. Eles mereceram.

    Barton Fink: Delírios de Hollywood (1991)

    Há quem diga que em Ajuste Final eles começaram a se levar a sério demais, mas na verdade seu domínio artístico que foi. Viver a vida dependente da promoção artística não é fácil, seja nos subúrbios urbanos ou no cume da montanha de Hollywood. O clímax de Barton Fink sintetiza, por meio de ação, tragédia e conclusão aberta o que é a vida do escritor, do artista que tenta ser um. Os Coen riem da própria desgraça, em um momento que eles podem ser dar a esse luxo sem serem chamados de abusados. O dom de escolher protagonistas indispensáveis segue forte, a soma rica da qualidade dos detalhes simples, a precisão em condensar pequenas ideologias em prática grandiosa sem se apoiar no quilate de superprodução, e o fantástico bom-senso impulsionado pela criatividade pulsante sempre foram exemplares nesta espécie de metalinguagem satírica, no viés da obra do grande Molière. “Eu sou um artista, eu crio mundos na minha cabeça!”, grita a persona introvertida de John Turturro em certo momento, e leva um soco da vida caindo de cara no chão. Quem nunca passou por isso, de qualquer jeito? Todavia, não é só na identificação em âmbito público que Barton Fink se consagra, senão no desnecessário segmento que faz com que Joel e Ethan não precisem se importar em se reinventar, pois têm nas mãos, para todos os estilos, todos os temperos que existem a ser misturados. Eles realmente não precisam se preocupar. Cinema é culinária.

    Na Roda da Fortuna (1994)

    A linha de raciocínio da dupla cineasta continua a mesma: Um personagem que pensa pertencer ao mundo onde permanece por vontade própria, numa metalinguagem sobre o modus operandi da indústria do entretenimento. Em uma entrevista de 2013, os irmãos deixaram claro que não assistem a seus próprios filmes após o cansativo trabalho requerido de pós-produção. Antes disso, o mesmo entrevistador aponta o quão sadio é rever suas produções, dar uma segunda olhada do ponto de vista de quem ainda precisa garimpar os pontos de quem já possui uma visão 360º de tudo. Na Roda da Fortuna inaugura esta prática na filmografia deles, pois é o típico camaleão que se camufla em uma mera diversão ainda que muito bem construída (com estereótipos inofensivos) a quem não está voltado, por exemplo, às vértices que apontam a uma análise capitalista no mercado da publicidade predatória americana – global, hoje em dia. Considerando que seria fácil demais empunhar escudos críticos em um terreno como este, os Coen definitivamente se especializam aqui no que se tornaram mestres nos próximos trabalhos: Polvilhar interrogações onde só poderiam haver pontos finais, ou pior, somente exclamações! Uma aventura descontraída no mundo dos efeitos especiais, o filme segue sendo o de mais fácil acesso dos irmãos, agradável a gregos e troianos em sua proposta de fácil adaptação pública e midiática (é extremamente fácil de imaginar uma montagem teatral à história). Ao mesmo tempo, Na Roda da Fortuna contém a oferta de enxergamos mais do que realmente existe em uma obra – na ótica de Guy Debord, os Coen seriam anarquistas. Graças a Deus.

    Fargo: Uma Comédia de Erros (1996)

    Como sinônimo de atestado de qualidade, no decorrer do balado prêmio Oscar houveram três comédias as quais realmente mereceriam a premiação máxima: Jejum de Amor (1940), de Howard Hawks, Annie Hall (1977), de Woody Allen, e Fargo. Fato é que o gênero ganhou novos fôlegos, relativamente, após a estreia e dissipação das influências dessas três obras vitais para uma revitalização da satiricidade na sétima-arte, até o presente momento, é claro. Ao realizar um produto cínico e lenitivo a todos os males do mundo, os Coen, dupla naturalmente voyeur, que assiste sem se envolver, sabiam que tinham muito a falar, e conscientes do poder da narrativa entre imagens deixaram a história discursar por si mesma, em total exatidão nas segundas, terceiras e quartas intenções implícitas nos matizes de sangue, gelo e implicações sociais, como de praxe. Talvez o melhor verbete para ilustrar Fargo e suas tramas paralelas seja esse, “exatidão”, pois quem o assiste pela primeiríssima vez não se dá conta disso. É como se Jerry Seinfeld parasse de ser um bom menino e tomasse as rédeas do jogo nesta que pode ser considerada peça-chave, ou pelo menos eficiente, no processo de desconstrução criativa que consiste na definição crítica de um filme. Uma dica: A neblina que abre o sexto filme dos Coen esconde exatamente o que é sentido até o final, mas muito mais do que toda a magnitude que já foi mostrada.

    O Grande Lebowski (1998)

    Um estudo duplo de personagens que só poderia ser tramado pela mente duplicada dos cineastas, aqui encarnando as figuras icônicas de Jeff Bridges e Goodman num tour de force do cinema independente americano com nítidos ares predominantes de um monopólio libertador, sob o manto da criatividade, resvalando no ato vulgar da libertinagem, por pouco. Tudo cresce ao redor da colcha de retalhos desenvolvida, como se a pretensão germinasse em solo fértil a tanto e fosse tão bem cultivada quanto poderia ser. Os Coen continuam rindo de seus propósitos, e chamam todos para rir junto desta vez. O Grande Lebowski é um manifesto que acontecerá mais vezes na história do cinema, e cada um será oriundo da representação de uma geração que envelhece, finalmente, e quer ver suas representações temporais retratadas na arte do enquadramento. Isso, sem esquecer-se do gosto agridoce da ironia que vem da reprodução de certos elementos atemporais, como o Jesus Quintana de John Turturro, de longe a criação mais nonsense dos realizadores. De descobrimento, crítica e análise o filme não tem nada, além do masoquismo inseparável do DNA dos Coen: É um puro acerto de contas com o espírito de uma época, sem um pingo de ego na mistura, “but well, it’s just like, my opinion, man”.

    E Aí, Meu Irmão, Cadê Você (2000)

    A filosofia sensorial sóbria dos irmãos, cultivada desde os idos da Universidade de Cinema de NY, perturba com êxito o marinheiro de primeira viagem em águas serenas de tubarões invisíveis, mas há o que falar quem essas águas ainda faz afundar e revisitar, logo após sobreviver do último mergulho. Logo, E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? segue como um tiro pela culatra, em forma mais de ensaio que um verdadeiro filme dos Coen, nos moldes tradicionais da filmografia vigente. Ao adaptar o intrincado e vasto poema de Homero, fica a impressão de tentativa válida, contudo jamais páreo para os outros trabalhos da dupla. Os irmãos compreenderam que o que tinham em mãos era uma metáfora com suas criações, e simplificaram em suas decisões o material original na forma de uma belíssima fotografia que salta aos olhos, e nas expressões faciais conflituosas, basicamente, do trio de condutores deste “road-movie” frio, incomunicável nas suas ondas de sintonia que se chocam simultaneamente. Uma obra que tem vergonha de ser tudo o que poderia ser, de emoções abafadas por uma espécie de legitimidade que não chega a lugar nenhum em belos compostos cênicos, como fragmentos de uma contradição. O aperfeiçoamento prático da sabedoria pessoal dos contadores da história, todavia, são tão legíveis quanto o instinto humano de sobrevivência e de autodestruição, aqui retratados pela visão particular dos Coen, nem tanto, pela primeira vez. Na falta de experiências realmente construtivas no pacote encabeçado por Clooney, Turturro e Tim Blake Nelson, fica na memória uma cena memorável da Ku Klux Klan, e a certeza de que os irmãos Coen entram de vez na sua fase adulta deste ponto em diante.

  • Crítica | Queime Depois de Ler

    Crítica | Queime Depois de Ler

    queime depois de ler

    Após o estrondoso sucesso de uma produção de tom sério como Onde os Fracos Não Têm Vez, a expectativa em relação ao novo filme de Joel e Ethan Coen era grande. Porém, Queime Depois de Ler explora outro universo, mas no mesmo espírito do estilo de comédia de erros e humor negro que consagrou a dupla anteriormente.

    A história começa com o analista Osborne Cox (John Malkovich) sendo demitido da CIA por supostamente abusar do consumo de bebidas alcoólicas. Em uma explosão de raiva, decide utilizar seu profundo conhecimento sobre espionagem para escrever um livro de memórias. No entanto, não contava que sua mulher Katie Cox (Tilda Swinton) fizesse uma cópia de seus arquivos para usá-la contra ele em um processo de divórcio. Katie é amante de Harry Pfarrer (George Clooney), um conhecido da família e agente de segurança, mas mulherengo inveterado. A situação se complica quando o CD com os dados de Cox cai nas mãos da dupla de funcionários atrapalhados de uma academia de ginástica local. Chad (Brad Pitt) e Linda (Frances McDormand) decidem chantagear Cox para ganhar dinheiro em troca das informações, pois Linda está desesperada para pagar por cirurgias plásticas que, segundo ela, definirão sua reinvenção como pessoa.

    A partir desta intrincada rede de pessoas totalmente diferentes, os Coen vão construindo aos poucos o universo de suas relações. Com elementos clássicos dos filmes de espionagem, como a câmera imitando um satélite, ou mesmo em terceira pessoa com cenas de perseguição, o filme também desconstrói os mitos ao redor desse mundo, onde os espiões são geralmente retratados como super-heróis. Em Queime Depois de Ler os agentes são pessoas normais, com casas e famílias, cometem erros enormes e sofrem as consequências.

    Tudo isso é retratado em meio a situações separadas que, ao longo da narrativa, vão se convergindo. Usando a comédia de erros, a estrutura clássica da dupla em que cada dificuldade gera uma outra ainda maior, contribui-se para a catarse final, onde pouco faz sentido para cada personagem separadamente. Junto a isso, são inseridos vários toques de humor negro de forma a ridicularizar ainda mais a situação absurda de cada personagem, todos geralmente aparentando seriedade e profissionalismo, mas escondendo problemas reais. Esse fato é demonstrado claramente através do personagem de McDormand: Linda Litzke, tão preocupada com suas cirurgias e como elas irão salvar sua autoestima, chega ao ponto de tentar vender segredos de Estado para a Embaixada Russa.

    O elenco é também outro ponto forte do filme. As atuações exageradas de personagens à beira de um ataque de nervos garantem situações hilárias. Brad Pitt, em uma de suas melhores interpretações como Chad, segura grande parte desse humor ao retratar algo como um personal trainer inconsequente e que se acha genial. Malkovich também interpreta de forma excelente a figura do cada vez mais neurótico Cox, assim como Clooney, que começa se passando pelo sempre profissional e seguro de si Harry Pfarrer, mas que, aos poucos, revela-se exatamente o contrário.

    Apesar de todos os elementos positivos, falta a Queime Depois de Ler uma certa empatia que engaje o espectador a acompanhar a trama de uma forma menos cínica, pois o cinismo e sarcasmo exagerados dos personagens e da história acabam por contaminar de forma negativa o filme, deixando-o muito plano. Isso, apesar de estar totalmente de acordo com a proposta, gera falta de conexão com a história e seus personagens. Se em Fargo a tonalidade monocromática da neve ajuda na composição da película, aqui, a mesma escolha atrapalha.

    Como resultado final, Queime Depois de Ler garante risadas pelas situações absurdas geradas. A forma com que os acontecimentos são resolvidos pelos personagens é milimetricamente calculada e estilizada com o humor característico dos Coen. No entanto, falta o gancho emocional que liga o espectador ao filme, tornando o trabalho quase que dispensável perto de outros da dupla, como Fargo e Onde os Fracos Não Têm Vez. O tom sério da obra impede que a interpretemos como pura comédia nonsense, algo que funciona em O Grande Lebowski, garantindo a sua qualidade. E a comédia está sempre no mesmo tom, raramente saindo da linha a ponto de causar o impacto necessário no espectador, que apesar de se divertir, sairá do filme praticamente da mesma maneira que entrou.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Red: Aposentados e Perigosos

    Crítica | Red: Aposentados e Perigosos

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    A 1ª adaptação para o cinema dos quadrinhos de Warren Ellis, em seus primeiros minutos, se mostra diferentíssima do texto original, a começar pela abordagem, bastante relacionada a comédia romântica – ainda que não tarde a chegar as cenas de ação, com a linda derrubada de uma casa por conta de um tiroteio desvairado.

    Após começar a caça em si, Frank Moses/Bruce Willis no automático, tem de resgatar sua princesa encantada, Sarah (a ainda deliciosa Mary Louise Parker), o que contradiz o perfil do seu personagem, o solitário e auto-suficiente ex-agente da CIA com grandes contatos. Robert Schwentke tenta angariar dois nichos distintos para sua obra, os fanboys e o público feminino, e ao menos nesse quesito, a fórmula é bem executada e equilibrada.

    As cenas de perseguição no píer são tão galhofadas que parecem retiradas de um cartoon do Pernalonga – nenhum filme do Looney Tunes Live Action levou tão a sério o conceito quanto neste Red. A comédia e o humor rasgado predominam em quase toda a trama, o que não empobrece as outras sequências de luta, muito bem filmadas e coreografadas, aliadas a uma fotografia competente. As cores vivas escolhidas pelo realizador remetem ao tom escapista das HQs de super-humanos da DC.

    O roteiro dos irmãos Join e Erich Hoeber (Terror na Antártida) trata da inadequação do bando de agentes aposentados a vida civil (tema retirado da graphic novel, mas ampliado a mais personagens), e da vontade de Frank em finalmente ter uma vida normal, com paixões, uma família, anseios comuns, inerentes a qualquer ser humano comum. A vida amorosa dos super-espiões é mostrado como algo confuso e cheio de contradições, mas é claro, sem jamais se levar a sério.

    A direção de atores exercida por Robert Schwentke é muito boa, pois não atrapalha. Os artistas estão livres para trabalhar: Morgan Freeman, John Malkovich, Bryan Cox, Helen Mirren estão soltos, enquanto Karl Urban faz o antagonista honrado de uma maneira muito lúcida, seu personagem William Cooper é a síntese do quanto o serviço secreto mudou, no que tange aprimoramento físico, se modernizando para suplantar a geração anterior, mas seu código moral é muito semelhante ao de seus antecessores, e ele não se permite mudar de lado, mesmo que seus superiores o tentem impingir a isso.

    Red mantém o tom jocoso o tempo inteiro, e apesar da pouca semelhança com a história em quadrinhos, é um bom exercício de humor. Tem em seu caráter algo parecido com o que foi visto no primeiro Mercenários de Sylvester Stallone, reunindo um elenco veterano para brincar com os clichês dos filmes de ação.

  • Agenda Cultural 22 | A Elite dos Nerds Aposentados

    Agenda Cultural 22 | A Elite dos Nerds Aposentados

    Sincronizem suas agendas. Edição com Flávio Vieira, Felipe Morcelli, Mario AbbadeLevi Pedroso (Johnny Depp). Confira o bate papo sobre a morte de um grande homem, a luta de um garoto contra o mundo, a volta (?!) da fantasia no metal e mantendo a variedade de assuntos do Vortex, uma breve discussão sobre os livros que inspiraram um dos filmes mais polêmicos do ano. What you’re waiting for? Download it!

    Duração: 100 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    Quadrinhos

    A Morte do Superman – vol 2
    Superman Earth One

    Literatura

    Elite da Tropa – Luiz Eduardo Soares, André Ramiro e Rodrigo Pimentel
    Elite da Tropa 2 – Luiz Eduardo Soares, André Ramiro, Rodrigo Pimentel e Cláudio Ferraz

    Música

    Avantasia – Wicked Symphony e Angel of Babylon
    Rush – Caravan (single)
    Kanye West – My Beautiful Dark Twisted Fantasy

    Teatro

    Hedwig e o Centímetro Enfurecido

    Games

    Battlefield Bad Company 2

    Cinema

    As Cartas Psicografadas de Chico Xavier
    A Suprema Felicidade
    Atração Perigosa
    Reflexões de um Liquidificador
    Minhas Mães e Meu Pai
    Federal
    Crítica: Federal por Mario Abbade
    Jogos Mortais – O Final
    Ondine
    Um Parto de Viagem
    Scott Pilgrim Contra o Mundo
    Jackass 3-D
    Muita Calma Nessa Hora
    Red – Aposentados e Perigosos

    Produto da Semana

    Apontador Bizarro