Falado em língua estrangeira desde os seus primeiros momentos, Carnívora de Arthur Tuoto é um filme curioso, que tem seu plot construído a partir de imagens de domínio público, exatamente para estabelecer em si a normalidade, para logo depois adentrar na questão central do filme, que é a sobrevivência após um estranho evento que dizimou a humanidade. O idioma diferente e a legendagem ajudam a passar a sensação de estranhamento e não conhecimento sobre como os eventos resultaram naquilo.
O formato de reunir imagens alheias ao registro dos cineastas é bastante comum, ocorrendo em vários documentais interessantes recentes, como Doméstica e Pacific. A utilização de imagens de arquivo fornecida por outros também é comum, desde em curtas-metragens, como em Confidente de Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes, quanto no longa recente Então Morri. A diferença básica é a pretensão e execução dos préstimos cinematográficos.
A ideia de elucubrar sobre o vazio da Terra é bastante interessante, mas soa fria, ainda mais diante da obra original de Katherine MacLean, autora do conto The Carnivore. O formato impessoal não invalida quaisquer emoções mundanas, mas distancia qualquer empatia que poderia ser causada no público que assiste Carnívora. Em um filme onde a proposta é mostrar um mundo em frangalhos, seria natural apelar para uma situação limite de vivência sem emoções, mas essa escolha torna o produto final um pouco moroso, apesar da métrica inventiva.
Carnívora (2016) | trecho from Arthur Tuoto on Vimeo.