Valorizando a temática de origens religiosas múltiplas ocorridas no país, com cantos e cenas de rituais místicos misturando com a feitura do tal chá, Santo Daime – O Império da Floresta é mais um filme que leva em conta a escola pernambucana de cinema, dirigido por André Sampaio. O trabalho de estudo mira o uso da ayahuasca nos rituais populares brasileiros, tocando bastante no emocional, mas sem deixar de lado a informação a respeito da origem do credo.
Os depoimentos angariados louvam bastante a memória de Raimundo Irineu Serra, registrado em fotos e lembranças, e também o Padrinho Sebastião Mota de Melo, já em vídeotape. Os dois são personagens importantes na construção do culto, inaugurando uma tradição que visava o bem e que tomava para si uma identidade sincrética e não bélica, e que segundo os vídeos de arquivo, representam somente as partes benevolentes de outras religiões.
Apesar de nem ser esse o principal intuito, Santo Daime O Império da Floresta merece elogios no sentido de conseguir demonstrar um bom retrato da realidade de Rio Branco no Acre, detalhando a rotina de forma esmerada e desvirtuando qualquer preconceito por parte de outras regiões do país, mostrando um povo que vive que harmoniza bem a fé no Divino e a civilização moderna.
Os sacerdotes atuais distinguem bem o uso do chá para eles em comparação ao uso de alucinógenos por outros, denunciando uma visão preconceituosa sobre os fiéis, ao não se entender a capacidade de super consciência que os adeptos dizem alcançar através da bebida. É nesse quesito de demistificação de um mito falacioso é que mora um dos maiores méritos de Sampaio enquanto cineasta investigativo, uma vez que se desconstrói uma lenda péssima, substituindo-a por outro mito, mais palpável, que é o louvor a memória dos homens e mulheres que dedicaram suas vidas a um novo modo de existência, que não se preocupa em excluir absolutamente ninguém.