Wander Antunes e Mozart Couto dão as caras com A Boa Sorte de Solano Dominguez, uma hq ambientada na Cuba dos anos 50, pré-revolução, e repleta de sacanagem e malandragem, que se não tivesse nada que direcionasse ao local onde se passa história, poderíamos muito bem trocar Cuba pelo Brasil, que não mudaria em nada o desenvolvimento da história, tamanha similaridade com nossa terra brasilis e seus habitantes.
A Boa Sorte de Solano Dominguez tem o tempero brasileiro que nos habituamos nas novelas escritas por Nelson Rodrigues, talvez por isso, seja tão fácil, ambientar essa história no Rio de Janeiro, por exemplo. A malandragem faz parte do dia-a-dia das personagens apresentadas, todas dão um “jeitinho” para conseguir o que querem. Onde será que já vimos isso?
Nosso protagonista é Solano Dominguez, um cubano que vive às custas de sua mulher, Maria, uma prostituta (?!) de renome por toda a ilha de Cuba. Solano, cafetão de sua própria mulher, se vê sem saída, quando em um domingo, Maria, ao sair da igreja é atropelada e falece, deixando-o sem sua fonte de renda.
Com o passar do tempo, Solano já está endividado por todos os lugares, e passa a ser ameaçado. Quando tudo parecia não ter solução, eis que sua filha com Maria retorna do internato onde passou toda infância, e ele se dá conta que ela já não é mais uma menina, e inclusive, herdou a bunda da mãe. Seria esse o fim dos problemas de Solano?
Com essa história surreal, típica das novelas de Nelson Rodrigues, Wander Antunes despeja uma latinidade repleta de malícias, sarcasmo e diversão. Mozart Couto consegue retratar toda essa distorção da realidade com bom gosto e sensualidade.
A Boa Sorte de Solano Dominguez Lançada pela Editora Desiderata em 2007, com um formato requintado, contando com uma bela capa cartonada envernizada, qualidade do papel e impressão das páginas (preto e branco) de alta qualidade, além de uma pequena resenha na contra-capa de Ruy Castro. Recomendado para quem gosta de histórias adultas, com uma pitada latina.