Idealizada pelo brasileiro DW Ribatski (de La Naturaleza e Vigor Mortis, e co-autor junto a Emilio Fraia do recente Campo em Branco), Como na Quinta Série é um devaneio de um rapaz, que transita entra a viagem ao seu subconsciente e a realidade marginal, mais dura e violenta do que deveria ser dois “períodos” de tempos distintos da vida de Dimas, semelhantes pela selvageria nos dois “ambientes” mostrados.
A compressão das páginas – mede 13 cm de cada lado – ajuda a criar uma ambientação incômoda e claustrofóbica, e insere de forma instantânea o leitor nas sensações de Dimas. A temática oscila a infantilidade – com referências a práticas e hábitos tipicamente adolescentes – mas tem em sua linguagem um caráter bastante adulto, maduro e até primitivo, como quase todas as pulsões são. É muito agressivo para o público mais jovem, não que isto destoe dos produtos consumidos pelos adolescentes atuais, mas sua violência gráfica e sua abordagem passam longe da puerilidade, ingenuidade e futilidade dos quadrinhos tipicamente infanto-juvenis.
A arte de Ribatski é anárquica, visceral e rústica, e encaixa magistralmente com os temas delicados propostos. Seu traço ajuda a compor a aura de surrealismo e viagem ao interior da mente do protagonista, além de capturar muito bem as ambiguidades entre sonho e realidade – em alguns momentos, o trânsito entre os dois estados é quase invisível e indistinguível.
O autor propõe um paralelo evolutivo das situações comuns no ginásio – como os maus tratos por parte dos colegas, brigas entre menores e o bullying – com o tratamento que alguns órgãos de proteção estatais dão aos que “optam” pela delinquência, mostrando que ambas as atitudes diferem pouco entre si, a não ser pelo nível de brutalidade e violência exercido, gradativamente maior no segundo caso retratado. Ribatski deixa para o leitor algumas questões em aberto, e de uma forma reflexiva o público deve se perguntar: quem é o culpado na situação demonstrada?
“A escola era como uma guerra. Pronta a destruir os fracos pra toda vida”.
Como na Quinta Série trata de covardia, pressão psicológica, imposição da ordem e lei do mais forte. O ato final é um massacre, esfacela física e moralmente as esperanças de quem lê. Termina de forma súbita, produzindo um desfecho abrupto e aberto. Para capturar as nuances e o subtexto presentes na obra de Ribatski é preciso consumir a arte com atenção dobrada, de preferência aos poucos e de forma pausada, a fim de obter fôlego entre um golpe e outro, desferidos pelo argumento.