Após a primeira temporada de Cobra kai ter um bom início, a nova temporada começa com um grande embate entre mestre e pupilo, envolvendo Jonny Lawrence (William Zabka) e John Kreese (Martin Kovacs). Já nesse início se discute alguns desdobramentos de Karatê Kid 2 – A Hora da Verdade Continua, onde o antigo professor agrediu seu aluno após a derrota.
Para surpresa geral dos espectadores, Johnny é benevolente, e aceita tratar bem Kreese, permitindo até a sua presença no dojo. Esse pedaço faz uma conexão com o filme mencionado acima, ressignificando a rejeição do mestre e mostrando a evolução pela qual passa Lawrence, mas nenhum bom mocismo dele supera a convivência com pessoas tóxicas. A outra face da série é Daniel Larusso (Ralph Macchio) envolve a tentativa de reerguer o Miyagi Do, em homenagem ao seu sensei, continuando a treinar o jovem Robby Keene (Tanner Buchanan) que aos poucos, ganha também a presença de Samantha (Mary Mouser), ou seja, os filhos dos dois personagens centrais estão sob a tutela de Daniel-San.
Uma das idéias da primeira temporada que mais gerou discussões foi revisitada e melhor desenvolvida. A nova versão do Cobra Kai apesar de ter um discurso mestre de bullying, não vitimismo, é formado em sua maioria por excluídos, e aos poucos isso vai mudando com o crescimento de Kreese como professor de arte marcial. O outro dojo cresce aos poucos, e vai capturando crianças igualmente excluídas, entre elas, o jovem Demetri (Gianni Decenzo), um garoto indolente e preguiçoso.
Johnny é rico demais, um deprimido, cheio de camadas mesmo que em sua superfície prevaleça a face de um bully e vazio. Toda sua reconstrução sentimental com o antigo mestre e a proximidade com seus antigos companheiros de caratê é bem construída, mesmo com o pouco tempo de tela. Aliás, esse reencontro, além de ser um fôlego direcionado a esquecer um poucos os problemas cotidianos, também serve para os amigos “esfregarem” no rosto de Johnny a obviedade do quanto Kreese é um sujeito tóxico.
Os dois mestres do Cobra Kai tem uma relação estranha, em alguns pontos de vacilação e em outras de paternidade e pena, e mesmo que Johnny seja adulto, pai e responsável por seus atos, se percebe o quanto seu passado o marcou. O modo como Kreese o ensinou criou um fracassado depressivo incapaz de lidar com seus sentimentos, um perdedor que demora a se readaptar, enquanto Miyagi trouxe ensinamentos que marcaram positivamente a vida de Daniel-San. Há ainda momentos engraçados, como quando Johnny usa um computador pela primeira vez, e procura mulheres seminuas, acredita em teorias da conspiração envolvendo pirâmides e dinossauros, além de pesquisar sobre filmes como O Grande Dragão Branco, Águia de Aço e tudo que envolve a filmografia de Chuck Norris.
A estrutura dos episódios segue parecida, normalmente começando pelo passado de algum dos personagens. Nesse ínterim, introduze Tory (Peyton List), que rapidamente vira um dos interesses de Miguel Diaz (Xolo Maridueña), e obviamente que a série dá espaço para algo mais folhetinesco ocorrer. O seriado de Hayden Schlossberg e Jon Hurwitz mostra uma aproximação inesperada entre Johnny e Daniel, uma trégua que não dura muito tempo e que ao ser quebrada, tem consequências terríveis. Os maus atos das crianças passam a crescer de gravidade, proporcionalmente à violência que cresce entre os dois rivais, mas o roteiro é cuidadoso em ratificar que a culpa é dos homens de meia idade e não das crianças.
A sensação ao final da segunda temporada é que Johnny evolui mais que Larusso, pois ele não quer conflito, ainda que a mensagem do seriado seja clara no sentido de que uma vida sem conflitos também não é sinônimo de plenitude. Há um abandono de pupilos de ambas as partes e uma reaproximação de pai e filho entre o penúltimo e último episódio, além de um combate franco próximo desse desfecho. As sequelas emocionais e físicas que ficam, especialmente em Miguel são graves e pesadas, pois não há muito quem culpar neste ponto, e isso é terrível.
Cobra Kai termina com promessas de novos desdobramentos emocionais na temporada seguinte, além de ser carismática e violenta quando necessária, e ainda resgata bons antagonistas e faz acenos a personagens dos filmes clássicos. Curiosamente, todos esses acréscimos não fazem com que o drama se perca, nem pareça forçado, pelo contrário, tudo é bastante fluido, e no geral, produzem mais significado na vida dos personagens revisitados.