O documentário de Bob Metelus começa em 2019, num vídeo caseiro de Dwayne Wade, diretamente de sua cama, não conseguindo conter as lágrimas, tentando falar a respeito de uma noticia importante para sua carreira como Ala-Armador da NBA. D. Wade – Life Unexpected não demora a mostrar os detalhes familiares do ícone, com ele cuidando de um bebê com poucos meses de vida, enquanto toca uma musica sentimental e com um áudio em off, falando de sua carreira universitária no Golden Eagles de Milwaukee.
O intuito do filme, produzido pela ESPN é traçar uma linha temporal da carreira e vida do atleta com 37 anos na época, e para isso, volta aos anos 80, na sua terra natal, em Chicago, obviamente referenciando Michael Jordan como o fenômeno, mas sem esquecer de falar sobre sua infância pobre e conturbada, com seu pai fora, servindo o exercito no Panamá, e um divorcio, com sua mãe se viciando em drogas e perdendo praticamente todos seus jogos na época do colégio.
Há um detalhamento bem profundo das questões dos parentes dele na adolescência, desde a relação conturbada com seu pai e madrasta, até o momento onde conheceu sua futura esposa na escola, bem como fala da gravidez precoce, enquanto ele estava tentando ser um jogador universitário. É legal ver não só os planos dele em continuar jogando mesmo com Zaire Wade prestes a nascer, como também é legal observar o rapaz já crescido, jogando em categorias juvenis e mirins. Ao mesmo tempo, há o retorno de sua mãe, que parou com a rotina de estar sempre entrando e saindo da cadeia.
Dwayne narra sua própria historia muito bem. Por mais que a trilha sonora manipule um pouco as emoções, dá para notar o quão importante cada pessoa do seu grupo de familiares e amigos foi importante para a formação do atleta ainda na faculdade, e não há pressa para desenvolver sua historia. A edição ajuda muito a gerar dinamismo, o que é importante para um filme curto, de apenas 97 minutos.
É curioso que a parte que fala de sua entrada no Miami Heat é meio abrupta, em pouco tempo, já se fala a respeito da chegada de Shaquille O’Neal ao time, que prontamente virou uma espécie de irmão mais velho. As questões familiares ganham mais espaço até que o desempenho em quadra, exceto é claro quando se descreve a formação do Big Three, onde ele, LeBron James e Chris Bosh se tornaram Agente Livre (quando o jogador tem a possibilidade de negociar com qualquer time que quiser) e acabaram formando o time do Heat. A partir dali, uma parceria dentro e fora de quadra se estabeleceu, mas ela disputa ainda muito lugar, com momentos de sua biografia pessoal.
Em alguns pontos o lado emocional pesa muito, mas o documentário ainda consegue retornar bem ao calor das torcidas sobre o Ala, em como ele é venerado em Miami, na sua tentativa de dar certo em Chicago. Recentemente um filme sobre Dennis Rodman ganhou as fileiras da ESPN, Rodman : For Better or Worse mostrava um sujeito pitoresco, carente e de personalidade forte, mais astro do lado de fora do que dentro, e D. Wade aparentemente tem um espírito semelhante, embora seu objeto de analise seja muito mais comedido, e preocupado com o bem estar social. O foco no extra quadra parece uma nova tônica dos filmes da ESPN.
Wade após sair de Miami jamais foi o mesmo, até teve alguns brilhos com Jimmy Butler, que mais tarde seria o Franchise Player (termo que designa o principal jogador de uma franquia, o carro chefe de time, torcida etc) do Heat. A confissão de Dwayne, de que o nascimento de seu primeiro filho com sua segunda esposa o fez decidir por aposentar ajuda a dar a dimensão do motivo da cena inicial, e de toda a duração do longa de Metelus ser cunhado nas questões familiares do ídolo de South Beach e Chicago, dessa forma, findando de maneira emotiva e equilibrada sobre mais uma jornada de superação do esporte estadunidense.