“Papa, eu vou te matar!”
Deveria ser um crime universal um filme desses não ser tão popular, igual Rambo, ou Perseguidor Implacável, com Clint Eastwood. Presente como referência imediata a qualquer filme de ação dos últimos quarenta anos, Caçador Implacável é um diamante esquecido pelo público, e que agora é garimpado. Faz-se também a necessidade de vários rótulos que só elevam a experiência: filme de ação policial com suspense e romance, tudo embalado por uma estética ultra realista e sequências delirantes que nenhum filme de herói superou até hoje – quem duvida, faça o favor de assistir. Porque no caminho de pouca glória e muita confusão do Ralph “Papa” Thorson, caçador de recompensa cuja vida é capturar fugitivos da polícia nos EUA, e que está prestes a ser pai, tudo é possível em nome da justiça, e do seu código de ética profissional. O veterano é um Batman que atua de dia, e sem colete à prova de balas.
Papa nunca falha, e o filme já abre provando isso: o cara, policial branco e de meia-idade, tem a coragem de entrar numa periferia barra pesada, pegar pelo braço um fugitivo, e sair dali com ele sem precisar disparar um tiro. A moral do personagem já está entregue, além da noção visual dele ser, realmente, implacável. E quem é melhor para essa missão do que Steve McQueen, um dos maiores astros do cinema de ação dos anos 70? Aqui, o cara brilha em seu último grande filme em Hollywood, entregando tudo de si fisicamente, em cenas de puro frenesi e ação inacreditável – toda a enorme cena da perseguição interna e externa no trem, e depois no estacionamento e na escola, é algo que não se vê mais no cinema do século XXI. Mesmo na tela, é difícil acreditar no poder da execução e de sua decupagem, tornando o longa uma obra que beira o memorável.
E não apenas por isso: o roteiro acerta ao construir e revelar, sorrateiramente, uma ameaça à altura de Papa, e que talvez, ele possa vir a falhar no combate a ela, já que agora o Caçador tem muito a perder, além da sua reputação. Porque não tem nada mais absurdo, cômico e sem noção, do que tentar fazer justiça num mundo caótico! O diretor Buzz Kulik decide misturar, com perfeição, aventura e humor de um jeito que a Disney, desde 2003, não conseguiu mais atingir sem infantilizar os seus filmes. Bebendo também dos maneirismos da época, com uma trilha de discoteca e uma fotografia 100% naturalista, a sensação é a de um filme delicioso e típico dos anos 80, quando não havia ainda as pretensões artísticas gananciosas de cineastas de ego gigante. Aqui, temos uma ótima história no Cinema para se rever e admirar, contada da melhor maneira possível (percebemos isso). E faz falta isso, hoje em dia. Caçador Implacável corre o risco de ser o filme favorito do seu pai, ou tio, e dá pra entender muito bem o porquê.