A Balão Editorial faz um trabalho pontual em seus lançamentos de quadrinhos ao publicar grandes autores nacionais não tão reconhecidos pelo público como deveriam. Pobre Marinheiro não é um desses casos. Não que o material seja ruim, longe disso, a HQ é provavelmente um dos melhores lançamentos de 2013. Mas nesse caso trata-se de material internacional que a editora resolver trazer para o Brasil, uma adaptação do conto de Guy de Maupassant desenhado pelo cartunista norte-americano Sammy Harkham.
A HQ é mais um quadrinho da Coleção Zug, que trata sobre temas caros e difíceis de lidar por todos nós, como a tristeza da derrota, da perda, e as maneiras individuais que cada um encara e supera esses momentos. A sutileza no tratamento deste tema está presente em toda a coleção: Todo Mundo é Feliz, Mary, Como na Quinta Série, e, como não poderia deixar de ser, em Pobre Marinheiro.
Na trama conhecemos o marinheiro Thomas, que vive isolado com sua recém-esposa em uma casa que os dois constroem pouco a pouco. Contudo, o cotidiano do casal vira ao avesso com a chegada do irmão de Thomas, Jacob, que relembra com nostalgia os tempos em que os dois viviam nos mares, e o convida para partir em uma viagem pelo oceano. Após o convite, o personagem precisa lidar com o nítido sofrimento de ter de escolher ficar com sua esposa e companheira ou partir em uma nova aventura a bordo de um navio com seu irmão.
As escolhas de vida de todos nós, assim como as de Thomas, são o que nos movem em busca de surpresas, muitas vezes nem sempre agradáveis, mas frutos dos caminhos que trilhamos. São essas escolhas o cerne da discussão contida em Pobre Marinheiro, tratada pelo autor de forma sutil e singela em quadros praticamente sem textos, onde gestos e expressões têm muito mais a dizer do que balões. Uma história delicada de um cartunista que sabe utilizar o material original que tem em mãos e que consegue adaptá-lo de forma criativa e cheia de significado.
A narrativa gráfica do autor é um dos diferenciais da HQ, já que o livreto segue o modelo de publicação de um quadro por página, explorando muito bem o formato de impressão, como também o espaço que se tem para trabalhar. O resultado são belos painéis desenvolvidos de forma bastante simples e concisa, aproveitando-se do pouco texto para se fazer valer de traços limpos e objetivos. As cores dão o clima e colaboram com a atmosfera melancólica da história, assim como o tom muda conforme a narrativa pede por isso.
Harkham dá uma grande aula sobre arte sequencial, deixando claro que as imagens falam por si só.