No final de 2010, Joel e Ethan Coen apresentaram ao público Bravura Indômita, remake do clássico homônimo de Henry Hathaway de 1969 adaptado da obra de Charles Portis. Os Coen surpreenderam principalmente pela forma da narrativa, deixando um pouco de lado o sarcasmo e o cinismo que o tornaram conhecidos, sendo contestada por muitos a abordagem dada por eles.
Se assumindo como um Western em pleno 2010, Bravura Indômita traz novo gás ao gênero, e como já feito por Sergio Leone e outros diretores, as personagens aqui apresentados não são maniqueístas como costumava acontecer em muitos faroestes, nesta adaptação, mesmo os “mocinhos” da história não se definem tão facilmente entre o “bem” e o “mal”. Foi se o tempo onde os westerns apresentavam a imagem de heróis irretocáveis e incontestáveis.
Na trama, temos Mattie (Hailee Steinfeld), uma jovem de 14 anos que parte em busca de vingar a morte de seu pai, buscando seu assassino, Tom Chaney (Josh Brolin). Para isso, contrata o federal Rooster Cogburn (Jeff Bridges), nesse meio tempo, os interesses do Texas Ranger LaBoeuf (Matt Damon) vai de encontro com o da garota e os três se juntam com o mesmo objetivo e partem em sua jornada. O roteiro tem mudanças acertadas em relação a primeira adaptação, assim como preferiu adotar um pouco mais do humor usado no livro de Portis, o que ao meu ver foi uma escolha mais do que acertada.
Não que o filme de 1969 seja ruim, muito pelo contrário, Hathaway dirigiu diversos clássicos desde os anos 30, e na adaptação em questão contou com John Wayne como Rooster Cogburn, que lhe rendeu um Oscar, e ainda Dennis Hopper interpretando LaBoeuf e a ótima atuação de Kim Darby como Mattie Ross, porém, se comparado com seu remake, verdade seja dita, ele é inferior, assim como é inferior ao livro de Portis. A abordagem de Hathaway era de um western clássico, quando o livro pedia uma visão revisionista. E foi o que os Coen fizeram.
É interessante notar, como a versão do Hathaway preferiu retirar trechos do livro que são fundamentais para uma abordagem mais cínica e revisionista, tornando o filme um western clássico, diferente da proposta do livro. As interpretações do elenco desta nova adaptação ajuda a entender o objetivo de Portis e a assinatura dos Coen. Bridges retrata toda a ambiguidade de seu personagem interpretando um bêbado com sotaque forte e embolado. Impressionante como em certas cenas ele mostra toda sua crueza e violência para logo em seguida ir até o seu limite em demonstrações de honra e carinho. Sempre subestimado, seja pela sua idade ou condição, Cogburn surpreende os que estão ao seu redor. No final das contas, Rooster representa tudo o que os westerns revisionistas são, tendo o protagonista repleto de falhas, mas que ainda assim é o herói da história.
Na realidade, a verdadeira protagonista da história é Mattie, uma garota endurecida pela morte do pai. Hailee expõe toda a personalidade da garota em uma interpretação intensa. Sua dinâmica com Damon e Bridges é perfeita, cada um deles representando lados da garota. Matt Damon faz uma interpretação concisa e assim como Bridges e Hailee, a química entre eles é ótima de se ver. Brolin por sua vez foge do estereótipo dos vilões de faroeste, já que interpreta um sujeito inseguro e deprimido, algo que não me lembro de ter visto em nenhum filme do gênero.
O trabalho de direção dos Coen é soberbo como de costume, seus enquadramentos e planos são belíssimos e poéticos, como durante o duelo já no final do filme, a travessia ao rio de Mattie ou a aparição de Rooster no tribunal, mostrando sempre sua figura a meia luz. É claro que a fotografia ambientada ao estilo clássico dos westerns colabora para isso, as cenas ao luar, com neve e cavalgadas são lindas, impossível não se sensibilizar com os quadros de Roger Deakins. A trilha sonora de Carter Burnwell ajuda a te colocar dentro da narrativa, quase sempre usando variações em cima de um mesmo tema de forma magistral. Me admira ter sido completamente ignorada no Oscar, se bem que seria apenas mais uma indicação sem Oscar para receber, assim como aconteceu com as demais, infelizmente.
No fim das contas, toda a assinatura dos Coen está estampado em Bravura Indômita, de forma sutil, mas está ali. Seja com o sarcasmo característico dos diretores, como na primeira cena onde conhecemos o personagem de Bridges ou durante a execução do índio, trechos que não existem no livro ou foram adaptados para servir melhor ao estilo deles, isso apenas para citar duas delas. A explosão de violência está presente no filme, assim como o estilo de direção, fotografia e até mesmo atores que são conhecidos pela parceria com os diretores. O mais surpreendente é ver que muitas pessoas não conseguem enxergar nada disso.
Bravura Indômita vai além de um simples western, assim como fez Clint Eastwood com Os Imperdoáveis, não só para os amantes do gênero como para os amantes de cinema, seja por seu roteiro, direção ou elenco. Nesta nova adaptação, os Coen surgem para provar que o Velho Oeste está mais vivo do que nunca e longe de ser decadente.
Triste é ver pessoas falando que o filme tem uma fotografia comum.
A trilha sonora de Bravura tbm é do caralho e na minha opinião é melhor que o de 1969.
Ótimo filme, com um ritmo excelente, concordo com o Felipe quanto a trilha sonora. O mas impressionante e a atuação Hailee Steinfeld. Um dos melhores filmes do ano o melhor filme com certeza.
Assim como todo o resto do pessoal, indiscutivelmente, a trilha é realmente muito boa. Além da interpretação da atriz, também gostei muito do personagem de Jeff Bridges, que me surpreendeu. Tinha visto o ator em Tron Legacy e quando vi Bravura Indomita, vi uma coisa totalmente diferente, e mesmo assim com o jeitão “badass”.
Muito bom!
É como um filme normal, bem feito, bem produzido, com um roteiro um pouco arrastado e cansativa ao meu ver, mas que se não fosse Jeff Bridges e/ou Matt Damon ele nem iria para o Oscar. Claro que o fato de ser uma obra dos irmão Coen já é algo relevante pra ser indicado a uma premiação dessas, mas eu realmente não encontrei tantas coisas boas em Bravura Indômita. O trailer teve um ótimo trabalho de montagem, já que pega as melhores partes do filme e transforma outras que não foram executadas dessa forma e transformam as cenas. Eu diria que True Girt tem alguns diálogos interessantes, uma trilha sonora legal, um Jeff Bridges caolho e bêbado não assumindo que envelheceu, e algumas tomadas de cenas muito boas, mas isso está no meio de uma obra grande que não é toda cativante.