No conto sobre vivências dentro do comportamento de militância, o suíço Lionel Baier une culturas diversas, com elementos europeus variantes entre Portugal, Suíça e França. Longwave: Nas Ondas da Revolução brinca com estereótipos políticos e críticos, de modo minimalista e debochadíssimo.
Toda a paranoia da espionagem é registrada pela câmera, tanto por parte dos perseguidores quanto dos revolucionários, que buscam ficar incógnitos. A jornalista feminista Julie Dujonc-Renens (da bela Valérie Donzelli) vai até Portugal, acompanhada de Joseph-Marie Cauvin (Michel Vuillermoz), e juntos procuram por ligações financeiras entre o governo suíço e os países pobres, que estariam recebendo um forte aporte financeiro, o que iria contra toda a política de neutralidade predominante no país.
O modo como Julie segue suas reportagens detetivescas envolve muitos populares portugueses, mas seus resultados são quase sempre inconclusivos, com pitadas de humor baseadas muito no nonsense, com a ausência de noção remetendo à obscuridade das relações internacionais entre as bandeiras envolvidas. Grande parte das gags de humor se concentram no captador de áudio que está prestes a se aposentar, e que por isso, é pouco afeito ao ofício dos agentes. Desde que aparece, Alain Dit Bon (Patrick Lapp) se mostra indisposto e cansado desses estratagemas “chatos”.
O presente da película é 1974, tempo de paranoias mil, tantas que até mesmo o serviço de dentro das agências costumam sabotar-se mutuamente. Julie é obrigada em muitos momentos a tomar as rédeas ela mesma, se valendo de seus valores pessoais para conseguir seus tentos. Entre suas armas está a exposição de seu próprio corpo. Gradativamente ela explora cada um dos clichês de espionagem.
Mesmo com toda a camada comediante de seu roteiro, o filme ainda guarda muito de sua duração para mostrar os gritos revolucionários, na maioria das vezes como uivos isolados, mas em alguns poucos momentos apresenta a ação popular, com dezenas de vozes em conjunto, protestando contra a ditadura capitaneada pela Junta de Salvação Nacional.
As ações que confrontam a repressão aos protestantes são mostradas com coreografias semelhantes às dos grandes musicais antigos, tratados com uma essência leve e diferenciada até nos figurinos. Os “maus” usam preto, enquanto os “bons jovens” possuem bandanas de cores variadas, remetendo à multiplicidade de ideias que convivem pacificamente entre si, ao contrário da palavra do soberano, avessa, e muito, a qualquer argumento diferenciado.
A revolução guarda muitos desprendimentos morais, ela é livre até para a execução do sexo, seja por quais parceiros forem. As ações mostradas em tela provam isso, sem pudor ou medo de ser taxada como uma fita tarada. Não há medo de ser flagrada em nada, o que faz com que a película seja guardada do panfletarismo barato e do discurso político idiotizado. A tônica do roteiro de Baier é essencialmente leve, ainda que trate de questões de difícil digestão.
A trabalho do trio é finalmente agraciado com os louros que tanto mereciam e com o reconhecimento de seus superiores. No entanto, o modus operandi deles em terra estrangeira é discutido pelo conservadorismo de alguns deles, mostrando novamente a multiplicidade de pensamentos entre aqueles que colaboram com o viés contestatório da revolução. Os resultados de toda a luta são conferidos ao final, com uma surpreendente revolução por parte do narrador, Pelé (vivido na juventude por Francisco Belard), onde expõe todo o final de carreira de cada um dos membros daquela expedição jornalística, contada através de uma competentíssima direção de Lionel Baier, que sabe equilibrar informação e humor, mostrando que ambas abordagens não são tão diferentes quanto é pensado pelo raciocínio normativo e limitado do expectador conservador.