Quadrinho independente produzido por André Turtelli e Renato Quirino, Aokigahara mistura influências diversas, flertando com a cultura oriental, confirmada no título – traduzido como floresta, ou mar de árvores –, assim como no modo de retratar a natureza como algo magnânimo. O argumento debruça-se sobre o medo e mistério do personagem principal, de nome incógnito até o desfecho, um jovem que anda sozinho alentando encontrar algo macabro, preso no campo das ideias, em busca da resposta do motivo que o faz querer não existir mais.
A invisibilidade faz o personagem sentir autocomiseração, na pura miséria existencial. O peso da rotina de simples trabalhador e apertador de parafusos o invade, fazendo-o não enxergar nada de especial em si.
Em paralelo, há a história de uma bela moça, que, mesmo se destacando esteticamente por se encaixar em padrões de beleza, não vê muita substância e conteúdo em seus dias. Ela compartilha do mesmo desejo do homem, findar a própria vida, usando seus belos cabelos para enfim dar cabo de seu melancólico destino.
É curioso como o incômodo igual das duas partes apresentadas mostra-se como de um indivíduo comum e ordinário, comprovando que o espectro da vida deveria ser maior do que a simples banalização do livre viver. Uma discussão sensível e bem sincera sobre a obrigatoriedade atual de ser feliz o tempo inteiro, que revela o quão hipócrita é o meio social moderno e o quão isso é prejudicial a todos.
A impessoalidade impede que pessoas com os mesmo dramas possam se contactar, mesmo que a distância entre uma e outra seja ínfima e a separação dos corpos e almas seja de apenas algumas mesas e cadeiras. A prisão domiciliar imposta ao sujeito, que concentra suas energias e esforços na busca por capital somente, inviabiliza a intensa relação entre uns e outros, bem como o compartilhamento de sentimentos. É sobre esse drama que trata a revista de Turtelli e Quirino, abrangendo temas espinhosos, mas sem um escopo sensacionalista, ou algo que o valha. Pelo contrário: a obra é pontual em cada uma das poucas páginas que configuram o conto, incluindo um traço fluido e bastante pessoal, lembrando uma versão menos hachurada de DW Ribatski, mas sem necessariamente imitá-lo. A arte apoia o texto; ainda que a proposta não seja grandiosa, e sim modesta, é carregada de verve, sensações e vibração.
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