Começando a partir da trilha da banda Newsboys, que na letra de Guilty discute a “proibição” da citação das histórias de Jesus Cristo nas salas de aula escolares, Deus Não Está Morto 2 é uma continuação ainda mais problemática do que o filme original, igualmente dirigida pelo especialista em produtos do gênero Harold Cronk. Dessa vez, a história é focada na professora Grace Wesley, vivida por Melissa Joan Hart a eterna Sabrina, Aprendiz de Feiticeira. O modo de contar a história tenciona soar naturalmente, mostrando uma mulher que está em conflito e que não tenta impor suas ideologias a todo custo. No entanto, isso não ocorre já que as aulas da moça não soam naturais em momento algum, ao contrário, o filme consegue explanar sua intenção de conversão aos espectadores com um curto tempo de tela, como se fosse esse um instrumento para conversão ao cristianismo, ao invés de um produto feito por e para evangélicos.
Falta sutileza ao roteiro de Cary Solomon e Chuck Konzelman. Nos primeiros dez minutos são apresentadas pessoas que conseguiram largar o vício em álcool entrando em contato com seus amigos cristãos, que parabenizam as mesmas por terem se livrado de seus vícios, assim como mostra uma tentativa de cooptação de pessoas para a religião através do desespero existencial que estas passam.
Ao espectador não habituado ao status quo do comportamento dos evangélicos,sobretudo os neo-pentecostais, transportando para a realidade brasileira, o modo como é contada a trama do filme talvez soe patética, oportunista e desonesta, mas tal premissa é bastante refutada em meio há alguns adeptos que defendem não só o tema mas o método escolhido para contar a história, uma vez que grande parte do religiosos se enxerga como vítima, mesmo ocupando lugar de poder na política tanto dos Estados Unidos quanto no Brasil. O modo como Grace é tratada no conselho de classe é exatamente como muitos se sentem, sendo oprimidos por burocratas engravatados que só pensam em uma coisa: matar a fé cristã. Neste caso, a vida imita a arte, pois a cena em questão é mal conduzida e inverossímil, assim como é bastante irreal a necessidade dessa mania de perseguição entre os ditos cristãos, em especial na realidade que tangencia os países do continente americano, ao menos o país de origem e este.
Hart nunca foi uma grande interprete e teve uma enorme dificuldade em sair do estigma de ser uma atriz de um única papel. Em Melissa e Joey ela conseguiu um outro papel, diferente da figura da jovem bruxa e duradouro o suficiente para gerar no público uma outra expectativa. O fato é que sua performance aqui é frágil, construído sobre uma premissa tão desonesta que se torna impossível determinar qual é a parcela de culpa da interprete e qual é a do roteiro.
Como se fosse uma inimiga publica, Grace é posta em julgamento, abordada pela imprensa em um espetáculo praticamente impossível de ocorrer. O fato revela uma enorme paranoia por parte dos produtores, que enxergam perseguição onde não há, especialmente levando em conta a onda conservadora que toma o mundo e que ganha força entre o eleitorado estadunidense. O tempo inteiro trata-se de mostrar os cristãos como pessoas a serem humilhadas pelos terríveis homens sem fé, e tudo isso é bastante risível.
Há uma intensa disputa para se eleger o período mais gratuito e cretino do longa e a mais aviltante no início é a construção do júri a julgar Wesley. Enquanto o belo defensor Tom Endler (Jesse Metcalfe) procura pessoas “do bem” e que não assistam séries juvenis populares – que aos seus olhos são sinônimos de libertinagem – já o advogado de acusação visa pessoas céticas, sem fé, que busquem um equilíbrio em prol da república e que não se deixem levar por qualquer espiritualidade.
A posição distinta entre os dois é tão caricata que se tornar até ofensiva para o entender de um religioso moderado, uma vez que tudo no texto transborda não só intolerância mas também uma total falta de intelectualidade, manifestada na ideia de que os cristãos são perseguidos e de que são pobres coitados, quando na realidade grande parte dos preconceitos estabelecidos na vida comum do americano são amputados por fanáticos religiosos. A inversão dos quadros de oprimidos e opressores é ofensiva para intelectualidade e uma afronta a realidade social vigente.
A continuação consegue piorar demais o nível da discussão em comparação ao visto em Deus Não Está Morto, já que no primeiro episódio era uma questão filosófica que era discutida em uma sala de aula. Neste, a elevação para um julgamento em um tribunal, pondo como vilã a questão da laicidade. É curioso e providencial que este filme tenha chegado as telas do Brasil em meio a discussão sobre a Escola sem Partido, uma vez que grande parte dos temas atuais são mostrados no longa com uma ótica distorcida evidentemente. A inversão de perseguição ganha novos contornos a cada ciclo de cinco minutos de filme, funcionando como uma fileira de peças de dominó, lentamente desconstruindo todo o trabalho dos crédulos no evangelho de não parecer motivo de piada.
Deus Não Esta Morto 2 é uma ode a incapacidade de ouvir argumentos contrários, mesmo que tais embates ideológicos sejam pautados no respeito mútuo. A utopia apresentada é alienatória e louva a resistência via ignorância, estabelecendo um protótipo de debate tão fraco que se torna difícil até estabelecer um pecha de discussão para o tema proposto.
Eu ia te criticar Filipe (faz parte do meu contrato), mas então eu assisti o trailer… Obrigado por isso, foi uma das coisas mais hilárias que eu já vi!
Eles precisam fazer mais desses filmes. Que venha “God is not Dead 3: With a Vengeance!” e “God is (not) dead: 6.66” dirigido por Hideaki Anno!
Eu posso até imaginar os vilões do filme: Richard Dawkins serial-killer ou as experiências genéticas do Dr. Charles Darwin! As possibilidades são infinitas.
Se fosse dirigido pelo o Anno, com certeza ele incluiria uma vagina demoniaca