Mistura de documentário com ficção, Ex-Pajé é um filme de Luiz Bolognesi, famoso roteirista de Bingo: O Rei das Manhãs e Como Nossos Pais, dois sucessos recentes do cinema nacional que foram cercados por expectativas, e de certa maneira, resultaram em filmes artificiais. Havia também uma boa espera pelo seu próximo longa, que mostraria a intimidade de Perpera Suruí, um pajé aposentado, que sofreu uma catequização em sua tribo e que atualmente trabalha para uma das igrejas que se apossaram do lugar em ele vive.
O filme tem uma estética que faz lembrar um pouco o naturalismo típico de alguns produtos do cinema brasileiro recente, apesar de claramente haver o uso de múltiplas câmeras, posicionadas em muitos pontos dos cenários a fim de se conseguir belas imagens sob diversos ângulos. Não há qualquer receio de Bolognesi em abordar o filme dessa forma, mas certamente seu desejo não era que seu trabalho soasse artificial.
Claramente Bolognesi usa o estilo documental para contar uma história pseudo ficcional, mas nessa tentativa ele esbarra em uma montagem que faz com que quase todas as sequências tenham ao menos um elemento que tira o espectador da sensação de que aquela pode ser uma história real. Mistura de documentário com filme dramático não é uma novidade, Ela Volta na Quinta fez isso quatro anos atrás e apesar de não ser exatamente perfeito, consegue ser mais sucinto, inteligente e crível.
O excesso de transições e mudanças de planos de filmagens não tornam o filme somente um objeto equivocado pela falta de veracidade, mas também peca no preciosismo. Se a ideia do diretor era mostrar um sujeito simples, não haveria muito motivo para ele tentar sofisticar a linguagem, ao menos não em demasia como aqui.
Ao final, se percebe um exercício de estudo muito repetitivo, que prega que os antigos adeptos Perpera não deveriam consumir nada dos brancos a não ser que fosse para sobreviver, como ele o faz. A questão é que não há menção alguma a uma resistência mais veemente, e pelo modo que o diretor escolheu montar Ex-Pajé, nem o protesto contra o sujeito caucasiano consegue soar como um discurso realmente preocupado em existir, especialmente quando tenta ser poético. O exercício cinematográfico tem pouco de inovador, apesar de suas pretensões, e no fim das contas, soa menos potente que sua proposta inicial.
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