Um mês depois de publicar minha lista de melhores discos nacionais de 2013, resolvi tomar vergonha na cara para terminar esta. Depois de refazer muita coisa, mudar de ideia, trocar discos, reescrever e organizar essa imensidão de indecisão que tomou conta de mim, eis a lista final que contém o que mais me chamou a atenção em 2013. Sim, eu tenho plena consciência de que já estamos em março, mas não seria o Vortex se não atrasássemos um bocado, não é? É isso aí, espero que gostem das dicas.
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Tedeschi Trucks Band – Made Up Mind
A Tedeschi Trucks Band fez o que parecia difícil de acontecer: superar seu álbum de estréia, Revelator, de 2011. Made Up Mind mantém o nível do seu antecessor com onze canções que passeiam pelo blues, jazz, country e soul music, tudo isso aliado a um pop na medida certa. Melhor disco do ano, disparado. Vida longa à Tedeschi Trucks Band. Ouça:
Nick Cave – Push the Sky Away
Push The Sky Away é o 15º álbum da carreira de Nick Cave, e como de costume, o cantor se renova em seu mais recente trabalho, entregando uma obra densa, com múltiplas camadas, seja pelas letras quase oníricas e com fortes temáticas, seja pela instrumentação carregada de arranjos orquestrados com cordas, belas linhas de guitarra, e percussão e baixo trabalhados de forma coesa. Sem esquecer, claro, de toda a teatralidade e a voz grave e rasgada de Cave parecendo ecoar de outro mundo. Ouça:
Black Sabbath – 13
Após o anúncio do retorno do Black Sabbath, dessa vez com Ozzy nos vocais, os fãs já não aguentavam de ansiedade, e se isso não fosse o bastante, a banda garantiu a entrega de um álbum de inéditas. Inevitavelmente, surgiu um oceano de expectativa em torno do que o Sabbath entregaria após o ótimo The Devil You Know, gravado em 2009, ainda com Dio nos vocais. Bem, felizmente, 13 é um disco ainda superior ao lançado pelo Heaven & Hell: pesado, sólido, repleto de ótimas canções e com um entrosamento que faz falta na maioria das bandas da atualidade. Que venha mais. Ouça:
David Bowie – The Next
Falar sobre a genialidade de David Bowie não é exagero ou coisa de fã maluco. O cara mantém-se acima de nós, meros mortais, e continua nos surpreendendo até hoje. The Next Day é um puta álbum, repleto de refrões marcantes, belas harmonias, letras profundas, ótimos solos de guitarra, grandes arranjos de cordas e um pouco mais. Há quase 10 anos sem lançar um disco, Bowie esclarece o motivo de não ser esquecido. Certamente não esqueceremos. Ouça:
Queens of the Stone Age – … Like Clockwork
Queens of the Stone Age tem se firmado como uma das bandas mais interessantes da atualidade. Quase 20 anos de estrada, seis discos lançados e algumas experiências bastante traumáticas nos últimos tempos parecem ter levado os integrantes a um caminho de crescimento. … Like Clockwork marca uma evolução no som da banda. A robustez e o peso sonoro, ao lado das composições de Josh Homme, têm ajudado a manter o clima soturno de sempre, mas a temática de suas letras ao abordar questões sobre vida e morte, fé e outros temas garantem uma profundidade ainda maior. Certamente o melhor disco do Queens. Ouça:
The Rolling Stones – Sweet Summer Sun: Hyde Park Live
Em 1969, no Hyde Park, os Stones fizeram o que pode ser considerado um dos shows mais emblemáticos de uma banda. O cenário da época era bastante trágico. Dois dias anteriores à apresentação, Brian Jones, ex-guitarrista, havia sido encontrado afogado na piscina de sua casa e, mesmo assim, os demais integrantes decidiram seguir com o evento. O resto é história. 44 anos depois, a banda retorna ao famoso parque londrino para um show comemorativo dos 50 anos de carreira e entrega o melhor disco ao vivo de 2013, não restando qualquer dúvida de que eles ainda têm muita lenha pra queimar. Faixa após faixa, riffs e solos de guitarra são entregues por Richards e Wood, seguidos do vocal único de Jagger, tudo com precisão rítmica, entrosamento e química invejáveis. Se não bastasse, Mick Taylor, ex-guitarrista da banda, participa das faixas Midnight Rambler e Satisfaction. Um álbum ao vivo digno de seu legado. Ouça:
Charles Bradley – Victim of Love
Após o belíssimo No Time For Dreaming, de 2011, Charles Bradley retorna com seu vozeirão em Victim of Love, mais um grande álbum de soul dos últimos anos. Bradley consegue superar seu disco de estréia. A voz do cantor parece mais potente e aveludada em canções absorvidas pela sua história, que é repleta de dor, raiva, angústia, mas com muito mais amor e gratidão. O cantor, já sexagenário, possui uma linda trajetória de vida na qual passou décadas tentando realizar o sonho de se tornar um cantor profissional, e apenas com dois discos lançados, deixou seu nome na lista dos grandes mestres da black music, como James Brown, Ottis Redding, Marvin Gaye e tantos outros. Ouça:
Elton John – The Diving Board
Apesar de uma bela carreira até o final dos anos 70, Elton John deu suas escorregadas ao longos das duas décadas seguintes. Contudo, desde os anos 2000 parece ter se reencontrado, fazendo belos álbuns. Uma pena que muitas pessoas ainda olhem desconfiadas para o trabalho do inglês. The Diving Board é um grande álbum, longe de excessos e com pungentes composições, com belas harmonias e melodias, algo que John tira de letra. Se você ainda tem um pé atrás com a carreira atual dele, The Diving Board é o disco certo pra você. Ouça:
Mavis Staples – One True Vine
Um fator recorrente nessa lista de melhores é que boa parte dela está tomada por artistas veteranos. Mavis Staples é mais um desses exemplos. Seu novo disco, One True Vine, possui canções inéditas e covers, todas marcadas pela potente, mas cheia de sutilezas, voz de Staples. O disco tem uma alma soul muito forte, seja pelas canções gospel ou pelo clima espiritual meio implícito. Aos 74 anos de idade, a cantora é dona de uma das vozes mais marcantes não somente de um gênero específico, mas da música como um todo. Além disso, ela foi uma das principais cantoras, ao lado do pai e das irmãs, a lutar pelos direitos civis dos negros nos anos 60. Grande álbum de uma grande artista. Ouça:
Buddy Guy – Rhythm & Blues
Buddy Guy é um dos pilares e expoentes do blues na atualidade. Na ativa desde os anos 60, é considerado um dos principais guitarristas do gênero, se tornando referência para nomes como Jeff Beck, Jimi Hendrix, Eric Clapton, Keith Richards e tantos outros. Rhythm & Blues, álbum duplo de estúdio e o 27º da carreira, é repleto de grandes canções e participações. Buddy se mostra generoso, dando destaque para todos os instrumentos, além de estar cada vez melhor. Se você gosta de rock e blues, não deixe de conferir o álbum que nosso amigo preparou. Material bruto de primeira. Ouça: