Autor: Vortex Cultural

  • Resenha | Dark Eden: O Medo é a Cura – Patrick Carman

    Resenha | Dark Eden: O Medo é a Cura – Patrick Carman

    Dark Eden O Medo é a Cura – Patrick Carman

    Sete adolescentes, todos com 15 anos, sofrem de diferentes fobias, todas aparentemente incuráveis. Em comum, eles tem a mesma psicóloga, a Dra. Cynthia Stevens, que resolve selecioná-los para um inovador tratamento. Eles são enviados para uma instalação remota no meio da floresta, chamada Forte Eden, onde os aguarda o misterioso Rainsford. Os jovens deverão enfrentar seus piores medos para assim supera-los, mas um deles, Will Besting, pressente que há algo muito errado com aquele lugar. Escolhendo ficar a parte do grupo, ele vai buscar desvendar o que há por trás de tudo aquilo e tentar salvar a si mesmo e aos outros.

    A velha máxima de que não se deve julgar um livro pela capa se mostra equivocada neste lançamento da Editora Gutenberg. Impecável todo o trabalho visual em Dark Eden: O Medo é a Cura, do autor Patrick Carman. A capa metalizada e com tons sombrios e a diagramação das páginas internas, inclusive com algumas ilustrações, já entrega o clima inquietante que domina este thriller psicológico – infanto-juvenil, é verdade, mas não menos interessante por isso.

    Tramas abordando a psicologia humana costumam ser fascinantes justamente pelas infinitas possibilidades que podem apresentar. Aqui isso se faz presente desde o início. Como a narração é toda em primeira pessoa, embarcamos nos sentimentos de Will mas ao mesmo tempo desconfiamos de suas percepções. As respostas para o que está acontecendo são puramente científicas, ou há mesmo algo sobrenatural por lá? Ou mais profundamente: será que o Forte Eden esconde mesmo algo aterrador, ou o garoto é simplesmente louco? Embora algumas resoluções sejam previsíveis, outras são bem inesperadas, e enriquecem a narrativa.

    Outro detalhe interessante é que o autor constrói muito bem a personalidade de um adolescente. Will manifesta um complexo de inferioridade e sensação de inadequação ao grupo, mas também exibe momentos de arrogante confiança, quando se acha mais esperto que todos, inclusive os adultos. Pobre ilusão. E, ainda que altamente idealizada e pouco verossímil, não deixe ser bonitinha a forma como o romance dele com Marisa é trabalhado. Como pontos fracos, o pouco ou nenhum desenvolvimento dos demais personagens, estabelecidos como os clássicos esterótipos teen. Além, é claro, da escrita bem simplificada e direto ao ponto, típica desse segmento, que pode incomodar aqueles acostumados com algo mais elaborado e adulto.

    Carman é um autor envolvido também com cinema, games, e projetos sociais. Sua principal marca na literatura é o uso da tecnologia para atrair os jovens da geração multimídia de volta para o hábito da leitura. Da mesma forma que em outras de suas séries (como The 39 Clues, Skeletons Creek, Trackers e The Land of Elyon), Dark Eden conta com um site oficial com conteúdos de vídeo e aplicativos que ampliam a experiência.

    Lá fora, já estão disponíveis um ebook intitulado Phantom File, uma espécie de expansão do primeiro livro, a continuação Dark Eden 2: Eve of Destruction. Fica a torcida para que esses materiais também ganhem uma versão brasileira. Curto (240 páginas), de uma leitura rápida e envolvente, e com um final impactante e melancólico (que por si só garantiu uma estrela a mais na nota), Dark Eden é uma ótima recomendação para fãs de histórias de mistério e suspense.

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Resenha | O Último Homem Bom – A.J. Kazinski

    Resenha | O Último Homem Bom – A.J. Kazinski

    o último homem bom - capa

    Comparado – na própria contracapa do livro – a Dan Brown e Stieg Larsson, o autor (na verdade  dois, que assinam sob o pseudônimo de A.J. Kasinski) consegue surpreender apesar de tudo. Digo “apesar de tudo” pois os autores, Anders Rønnow e Jacob Weinreich, fazem bom uso das marcas registradas daqueles a que são comparados. O texto junta a estruturação dos livros de Brown e a concisão e coesão de Larsson. O resultado é um livro de leitura agradável que foge do clichê e conquista o leitor com uma narrativa ágil e fluida.

    A “receita” usada à exaustão por Brown – homem ligeiramente deslocado do seu meio encontra mulher com habilidades intelectuais acima da média a fim de solucionar um problema – está lá de forma inconfundível. Contudo, o que torna a narrativa instigante é o bom uso que os autores fazem dela. Os personagens são apresentados aos poucos, fazendo o leitor aproximar-se deles e se interessar pelos seus destinos enquanto os acompanha em suas jornadas. O policial italiano Tommaso di Barbara, o detetive dinamarquês Niels Bentzon e a astrofísica Hannah Lund são “palpáveis”, personagens multifacetados que, justamente por não serem rasos, não serem o estereótipo de suas profissões conquistam o leitor pois há, neles, sempre alguma característica com que o leitor se identifique. E quem escreve – e quem lê também – sabe que a identificação é o que pega o leitor pela mão e não o solta até que a trama termine. Pois ao leitor interessa saber como a situação será resolvida, afinal, pensa ele: “Isso poderia estar acontecendo comigo”.

    Essa apresentação dos personagens deixa o início do livro um pouco mais lento do que se esperaria de um thriller e isso talvez afugente alguns leitores. Há também o fato de que os capítulos iniciais narram estórias aparentemente “avulsas”, com pouca relação à trama principal. O leitor demora um pouco até conseguir enxergar as conexões e perceber que, apesar de parecerem gratuitas ou desnecessárias, essas cenas têm relevância e acrescentam informações interessantes à história. Claro que algumas poderiam ser suprimidas sem prejuízo, mas não chegam a prejudicar o ritmo da leitura, nem o entendimento da estória.

    Outra característica que lembra Dan Brown é a estruturação do romance, mais especificamente, o uso de capítulos curtos. Essa técnica não é exclusividade de Brown, mas remete a ele pois é o autor que a usa de forma mais exagerada, com capítulos que não chegam a preencher duas páginas. Rønnow e Weinreich a utilizam de modo bastante eficiente, controlando o ritmo da narrativa e espichando ou encurtando os capítulos de acordo com o nível de tensão das cenas. Não é um thriller detetivesco de ação ininterrupta, que possivelmente deixaria o leitor exausto ao final. Há cenas mais contemplativas – geralmente as que entregam ao leitor mais informações sobre a personalidade dos personagens – que permitem ao leitor “respirar” e recuperar o fôlego antes que o próximo conflito se apresente. E, mesmo não incluindo cliffhangers a cada final de capítulo, os autores fazem o leitor se sentir compelido a continuar.

    Interessante notar que, ao contrário da maioria dos thrillers, em que a corrida contra o tempo tem a finalidade de encontrar um (ou mais) criminoso(s), neste os protagonistas estão à procura de homens bons, geralmente envolvidos com alguma ação humanitária. Todas as pistas são analisadas com o intuito de localizar os próximos alvos e não o responsável pelas mortes. E essa inversão é citada várias vezes no texto, quando os personagens questionam por que é tão mais fácil empreender uma busca a um homem mau e por que as pessoas relutam tanto a ajudar quando o objetivo é encontrar uma pessoa boa.

    Para os leitores que apreciam um bom thriller que não seja apenas um encadeamento de cenas de ação intercaladas com verbetes da wikipedia este é sob medida. Diversão e entretenimento de qualidade.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Finalmente 18

    Crítica | Finalmente 18

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    Finalmente 18 pode ser considerado uma versão adolescente de Se Beber, Não Case!. Conta a história do garoto Jeff Chang (Justin Chon), que no dia de seu aniversário – e as vésperas de uma importante entrevista para a faculdade de medicina – resolve sair pra tomar uma cerveja com seu dois melhores amigos. Passando por vários bares do campus onde Jeff estuda, os três adolescentes vivem várias situações engraçadas, e que os deixam cada vez mais encrencados.

    Se tratando de um roteiro criado pelos mesmos gênios de Se Beber, Não Case! (Jon Lucas e Scott Moore), que são conhecidos por pegar um tema clichê e exaustivamente usado no cinema e a partir disso, criar algo novo, não obteve êxito dessa vez, visto que o enredo se mostrou um pouco fraco. O filme mostra situações engraçadas mas por pouco tempo. Coisas previsíveis se mostram na cenas que se passam, sem ter o elemento surpresa para o espectador, do tipo:  levar um búfalo para uma festa de universidade e esperar que nada aconteça com ele. Você basicamente assiste 10 minutos de filme, ri durante uma cena, e já pode voltar a conversar com o colega do lado sobre o que pretende fazer no dia seguinte, por que a próxima parte interessante vai demorar a se apresentar.

    Além das situações engraçadas, o filme também conta com um lado voltado para o emocional. Não só com os amigos de infância, mas com um casal que se forma e se apaixona perdidamente em apenas uma noite de aventuras (e sendo no século 21, qual a chance né gente?), o que na minha opinião, toda essa parte do mimimi amoroso quebrou o pouco que não tinha de batido no filme.

    Justin Chon (A Saga Crepúsculo) interpretou bem o papel principal de um nerd alcançando a maioridade e aproveitando todas as regalias de 21 anos de idade em uma noite só. Skylar Astin (A Escolha Perfeita) fez a interpretação perfeita do amigo bom moço, que faz o tipo “quero me divertir sem deixar o bom senso de lado” e sempre se deixando levar pela paixonite que acontece em 10 minutos de conversa. E é claro que é impossível não comentar do já famoso papel festeiro non-sense de Miles Teller (Projeto X)  sempre levando todos pra farra e tocando um descontrole geral na noite dos três amigos.

    Então, se você está procurando aquele típico filme para assistir em uma quarta-feira (e sim, pagar meia) essa é uma ótima escolha. Dá pra dar umas risadas, mas como disse, sem novidades.

    Texto de autoria de Larissa Tinoco.

  • Crítica | Monstros S.A.

    Crítica | Monstros S.A.

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    Monstros S.A. (Monsters INC, EUA, 2001, Dir: Pete Docter) lançado dois anos após o último longa da Pixar, Toy Story 2 (Idem, EUA, 1999), foi talvez o filme que ajudou a mostrar para Hollywood que a era das grandes animações estava de volta, mas de uma forma diferente, agora computadorizada. Ou seja, era o tradicional se travestindo de novidade.

    Sinopse: Mike e Sully moram em Monstrópolis e são empregados da Monstros S.A., uma empresa que funciona a base de uma linha industrial automatizada que gera energia para a sua cidade através de gritos de crianças, pelas portas de armário das mesmas. Até que a criança Boo passa para o mundo dos monstros causando uma enorme reviravolta.

    O roteiro sem grandes furos ou golpes aparentes talvez seja um dos melhores já apresentados em um filme da Pixar desde que ela começou a sua parceria com a Disney, ao lado de Procurando Nemo (Finding Nemo, EUA, 2003) e o mais recente Toy Story 3 (Idem, EUA, 2010). É um dos filmes da companhia que mais tem referências, só que ao cinema em si e ao seu início.

    A estrutura escolhida não é por acaso: a humana Boo chega no mundo estranho dos monstros, e, com os seus poderes especiais (gerar a energia que alimenta o seu mundo) e a ajuda de Mike e Sully, acabam por destronar o tirano Waternoose e seu lacaio Randall. Monstros S.A. segue o molde que se tornou célebre com “Viagens de Gulliver” de Jonathan Swift, e “Uma Princesa de Marte” de Edgar Burroughs, mas que talvez tenha tido origens na mistura dos mitos gregos dos heróis Perseu, Orfeu, Belerofonte e as andanças de Héracles. Esse também foi um dos moldes que estruturou alguns filmes de aventura de Errol Flynn dos anos 30 como os faroestes de John Wayne.

    As referências ao início do cinema não param por aí. Os monstros podem ser associados obviamente aos filmes de terror clássicos da Universal. A função principal da Monstros S.A. é assustar os humanos, mesmo que sejam crianças, para conseguir o que desejam. Da mesma forma que a catarse dos espectadores em forma de grito alimenta o cinema de terror através de ingressos comprados, aqui o mesmo grito é um dos principais bens que sustentam aquela sociedade.

    Outra curiosidade apresentada no roteiro é o vídeo institucional que Mike e Sully assistem assim que são apresentados pela primeira vez ao espectador. Logo depois, os protagonistas saem de casa e vão até a fábrica, e assim podemos ver como os habitantes de Monstrópolis se comportam. Aqui pode ser visto como uma referência aos filmes de ficção científica dos anos 50: uma sociedade harmônica que vive o sonho americano, e de uma hora para outra é invadida por um ser horrível, no caso uma criança, que promove o terror e o pânico nos seus habitantes.

    Na parte final do longa ocorre uma sequência onde Mike, Sully e Boo fogem de Randall e Waternoose no meio dos mecanismos que levam e trazem as portas. Cenas de perseguição vieram dos filmes de perseguição, uma das fórmulas mais antigas que fizeram com que D.W. Griffith ajudasse a consolidar o cinema narrativo a partir do ano de 1908. Cria-se uma tensão dramática ao intercalar três cenas: a donzela em perigo amarrada na linha do trem, o trem andando cada vez mais rápido e o herói chegando para resgatá-la.

    Outro dado curioso é quando Roz exige de Mike os relatórios para que continue a trabalhar. A simples menção da burocrata dentro da empresa não é por acaso. Relatórios são registros de alguma atividade, e o registro foi uma das funções primordiais que manteve o cinema em atividade e o impediu de ser extinto enquanto não havia se estabelecido como narrativa ficcional. Desde visitas a chefe de estado, até viagens para países africanos, o cinema teve que percorrer estes caminhos para não ser dominado pelas outras formas de entretenimento da época. Entenda mais aqui.

    A linha de montagem que mostra como os gritos das crianças humanas são produzidos e armazenados, pode ser interpretada como menção a própria industrialização que o cinema sofreu no final dos anos 10 e início dos 20 quando a era dos grandes estúdios começou. Neste caso, a inserção de uma criança neste universo pode ser uma referência ao início da indústria do cinema em si, por mais que o revisionismo histórico através do Simpósio de Brighton critique os primeiros historiadores que associavam a arte cinematográfica a “uma criança que não sabia o que estava fazendo”.

    A primeira cena de Monstros S.A. é uma simulação gravada de como se deve assustar uma criança, para que os monstros possam treinar melhor. É assim que o cinema ficcional age: ele simula uma série de inverdades encadeadas cheias de significados para que no fim a sociedade reflita e debata sobre os conceitos que ali estão. Em uma das últimas cenas, a mesma simulação revela o caráter do vilão Waternoose. E este é um dos pilares do cinema documental: expôr as outras facetas de um mesmo tema para gerar o mesmo debate. Em Janela Indiscreta (Rear Window, EUA, 1954), Hitchcock fizera um ensaio ao demonstrar a curiosidade do espectador e o quanto ele deseja quebrar a sua condição passiva e se inserir naquele universo, ao ponto do personagem de James Stewart se intrometer para impedir um assassinato. No longa não é diferente, os monstros, que são os próprios espectadores da simulação, a manipulam da forma que assim necessitam no momento.

    Outro fato curioso é a inversão de valores ao mostrar que monstros tem muito mais medo das crianças, o que os levam a sofrerem a descontaminação e limpeza por uma equipe especial caso sejam tocados. O medo dos monstros permite que eles sejam manipulados através de uma mentira, como vemos nas cenas finais: crianças não os contaminam. O medo das crianças a eles é a mesma forma de alienação, por mais que o fim maquiavélico tente justificar a imposição de limites auxiliando a sua educação, com a típica frase: “Se você não comer este prato, o monstro vai vir te pegar”. Essa premissa pode ser entendida também como uma crítica à imposição de uma verdade absoluta em uma sociedade através da manipulação promovida pela mídia, religião, política ou morais sociais rigorosas.

    No final do filme, os monstros percebem que a tão valorizada energia que vinha antes pelo grito de medo se torna dez vezes mais poderosa quando gerada por uma risada infantil. A mensagem é clara: o humor é uma das melhores formas de se lidar com o medo das crianças. Se for expandido para todas as idades: enfrente com bom humor o seu medo para que ele não vire um monstro incontrolável.

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    Para a psicologia, a maioria dos temores infantis são estados emocionais que representam uma etapa do seu próprio amadurecimento, e conforme vão crescendo eles se alteram tanto no tema quanto de intensidade. Da mesma forma que o medo vem da imaginação, é também dela que surgem as melhores formas de combatê-los. Ao expressá-los para seus pais seja de que forma for, as crianças conseguem conviver melhor com eles até entendê-los e superá-los. Não a toa Boo, com a ajuda de Sully, no final do filme consegue derrotar o seu próprio monstro, Randall.

    O problema surge também quando muitos pais falham em não conseguir se comunicar com os filhos pequenos, ainda mais na sociedade moderna onde permanecemos horas no trabalho, perde-se muito tempo no trânsito das grandes cidades e acaba se passando menos tempo do que gostariam ao lado dos filhos. Não a toa as crianças acabam se afeiçoando as vezes mais as suas babás do que aos próprios pais. O filme trata disso quando Boo se afeiçoa a Sully chamando-o de “gatinho”. A simples menção a um animal de estimação projeta nele a figura de um protetor e o apelido carinhoso mostra que ela consegue superar a sua condição de monstro se comunicando e interagindo com ele, já que ele não é seu monstro. São as funções básicas que as crianças veem em seus pais: carinho e proteção.

    A única hora em que existe quebra de confiança é através da representação máxima do cinema no filme: a simulação. Boo fica com medo quando Sully assusta uma criança robótica a mando de Waternoose. No cinema, a impressão de realidade tem o poder catártico de revelação ao espectador, transformando os personagens em tridimensionais através da psicologia dos seus atos. Sully é carinhoso, mas ainda assim é um monstro, Boo é uma criança destemida, mas também tem medo, e Waternoose é um bom chefe até aquele momento, depois vemos que é maquiavélico. Personagens humanizados através da psicologia são a base de boas narrativas.

    A maioria das obras de arte mais impressionantes que a humanidade já produziu trazem traumas dos artistas, feridas tão profundas que muito provavelmente tiveram início em sua infância. As obras surrealistas de Salvador Dali e Magritte são um exemplo, apenas dois exemplos rápidos ficando somente na pintura. No cinema não é diferente: os diretores do expressionismo alemão importados para Hollywood nos anos 20 e 30 fizeram com que a narrativa da sétima arte atingisse um nível superior, superando qualquer gênero.

    As vozes dos atores foi outro acerto. Não a toa Billy Cristal e John Goodman foram escalados para serem os protagonistas, já que fizeram muita comédia. James Coburn como vilão no seu penúltimo filme pode ser encarado como outra homenagem ao passado do cinema, mais especialmente aos anos 60.

    Por fim, a animação do filme impressiona. A qualidade e atenção à todos os detalhes não deixam os mais puristas reclamar do que tenha faltado. A textura dos pêlos de Sully, a movimentação dos personagens e a iluminação das cenas são o ponto forte. As cores escolhidas para a pele dos monstros e a vestimenta de Boo foram também bem feitas, junto dos cenários. Detalhe para a impressionante cena de perseguição no mecanismo que levam e trazem as portas.

    Monstros S.A. não é uma simples animação para crianças. Ele tem tantas referências a diversos temas que o tornam um dos melhores filmes já feitos, sem dúvida está no topo da Pixar, além de ser uma declaração de amor ao cinema.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Resenha | Fico Besta Quando Me Entendem – Entrevistas com Hilda Hilst

    Resenha | Fico Besta Quando Me Entendem – Entrevistas com Hilda Hilst

    Hilda Hilst é um nome relevante, embora pouco lido da literatura brasileira. Autora de peças, romances e poemas a escritora é muito estudada na academia, especialmente em cursos de pós-graduação, mas, ausente dos currículos escolares, acaba também fora do repertório de maior parte da população. Formada em direito, Hilst publicou seu primeiro livro de poemas aos 20 anos, filha da família Almeida Prado, largou a vida na alta-sociedade para se isolar em uma fazenda nos arredores de Campinas, onde viveu rodeada de cachorros até sua morte.

    Contraditória na personalidade e na literatura Hilda escreveu pornografia intelectual e poemas místicos, foi sempre louvada pelos críticos e nunca muito lida e é essa figura controversa que a coletânea de entrevistas busca explorar. Cristiano Diniz organizou em ordem cronológica entrevistas feitas entre 1952 e 2002, cobrindo a carreira e a vida da escritora.

    A ordem cronológica é uma escolha que funciona: vemos Hilst crescer através das conversas e sua obra se multiplicar, mas, ironicamente, a jovem Hilda é mais interessante que a mulher madura. No início do livro, a autora ainda está envolvida com a poesia, a primeira entrevista é da época da publicação de seu segundo livro, e um tanto fascinada com o mundo literário. Inteligente e bem humorada, Hilst solta pérolas como “Eu falo tão claro. Eu falo até sobre a bunda” ao que um colega escritor respondeu à jovem autora “mas tua bunda é terrivelmente intelectual, Hilda!”

    O inconformismo de Hilst com sua falta de público é provavelmente o tema mais repetido nas entrevistas: sem qualquer modéstia, a escritora se espanta que seus escritos, segundo ela, tão lindos não sejam lidos por ninguém. Hilda fala sobre seu hermetismo e fama de “escritora para doutores” e a dor que isso lhe causa, não é questão de dinheiro, afirma, mas de comunicar. Ela confessa ainda que a trilogia erótica veio justamente daí, um esforço de ser popular, mas que acabou frustrado já que até sua pornografia é densa e controversa.

    A poeta fala ainda de sua relação com o misticismo e a espiritualidade: na década de 60, Hilda fez experimentos com um rádio que supostamente captaria espíritos, aos moldes das investigações de um filósofo suíço. Mais tarde, ela se volta novamente para o Deus cristão, aproximando-se até das místicas medievais ao falar de uma religiosidade do corpo, da carne e dos sentidos, “meu negócio é com Deus”, afirma a autora mais de uma vez.

    No entanto, conforme o livro caminha, as entrevistas vão se tornando repetitivas, quanto a Hilst, fica mais velha  ranzinza e desagradável. Ela repete com cada vez mais frequência que não é lida, enquanto exalta cada vez mais a excelência da própria escrita. É interessante ver a mudança da personagem, mas há uma repetição excessiva, as últimas entrevistas parecendo versões levemente alteradas da mesma coisa.

    Ainda assim, Fico Besta Quando Me Entendem é uma ótima introdução ao universo da escritora: provoca interesse em suas obras e descortina uma personalidade que, pela maior parte da vida, foi fascinante. Eu quase tive vontade de ser amiga da jovem Hilda, aberta, escrachada, tremendamente honesta e disposta a ir atrás de Marlon Brando em um quarto de hotel em Mônaco e, tendo lido apenas alguns poemas da escritora, adicionei à lista de leituras Presságio e A Obscena Senhora D.

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    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | O Homem de Aço

    Crítica | O Homem de Aço

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    É fato que todos conhecem a estória do Superman, nem que seja apenas em linhas gerais. Bebê chega à Terra sozinho numa espaçonave oriunda de Krypton. Criado pelo casal Kent, Clark cresce tendo que aprender a lidar com suas habilidades sobre-humanas.

    Apesar de ser mais um filme da franquia Superman, este não é uma continuação dos demais, mas sim, um filme de origem. E, sendo assim, é em torno do início da estória de Clark que gira a trama do filme. Claramente superior a Superman: O Retorno de Bryan Singer ( morno demais, demasiado entediante ) , este investe suas fichas num personagem mais realista, mais sombrio e, contrariando o senso comum, mais alienígena que todos os anteriores. E por conta disso, pode-se arriscar dizer que este não é um filme do Superman – de um homem com superpoderes –  mas sim de um herói ou um deus  em processo de construção.

    O prólogo, interessante mas excessivamente longo no meu entender, nos mostra o conflito que causou a destruição de Krypton e que levou Jor-El (Russell Crowe), um cientista do alto-escalão, a enviar seu filho recém-nascido, Kal-El – que virá a ser Clark Kent (Henry Cavill) – numa espaçonave à Terra. Não conheço os quadrinhos – aliás, o personagem em si não me agrada muito – e, portanto não faço a menor ideia de como “deveria” ser retratado o planeta. Mas a direção de arte acertou ao optar por um aspecto biomecânico, lembrando um pouco os desenhos de H.R.Giger utilizados em Alien.

    E, desde o início, já começam a aparecer os típicos buracos de roteiro, quase inevitáveis nesses filmes de super-heróis. Se, conforme é esclarecido tanto por Jor-El como pelo General Zod (Michael Shannon), todos os kriptonianos já nascem com papéis pré-definidos, o espectador um pouco mais observador certamente se pergunta como Jor-El, predestinado a ser um cientista, luta tão bem quanto (ou quase melhor que) Zod, um soldado nato. Isso e mais a cena “ironman style” em que Jor-El veste sua armadura, diminuem o impacto da sequência do confronto entre eles, enfraquecendo a imersão na trama. Mas ainda assim, esse primeiro terço do filme consegue prender o público o suficiente para querer assistir ao desenrolar da estória.

    A opção de retratar a infância e adolescência de Clark através de flashbacks, ao invés de seguir uma narrativa linear, deu certa leveza e dinamismo à estória. Desse modo, o espectador vai, aos poucos, sendo apresentado ao personagem, conhecendo seu passado, seu convívio com os pais adotivos – Martha (Diane Lane) e Jonathan Kent (Kevin Costner), e o modo como descobriu e aprendeu a controlar seus poderes. Algumas sequências poderiam ser mais curtas, mas não chegam a comprometer o ritmo do filme.

    Aproveitando a deixa, vale ressaltar que a tentativa de reafirmar o personagem como sendo o “homem que veio do céu para salvar a humanidade” é forçada e fora de contexto. O tom messiânico incomoda bastante em vários momentos. O discurso de Jor-El sobre o destino do filho, afirmando que seu papel é ser um “guia” para os humanos atingirem a paz e a felicidade eternas – algo como um nirvana – soa piegas e até meio ingênuo. Como se já não bastasse Clark falar, sem mais nem menos, que tem 33 anos, a cena em que ele aparece numa igreja conversando com um padre, que surgiu do nada na estória, é patética, além de totalmente desconectada da estória.

    O filme não é feito só de cenas intimistas e familiares, logicamente. O que todo fã espera são as sequências de ação, que são inegavelmente muito boas. O problema é que, devido à escala megalomaníaca (justificável), as cenas lembram demais Os Vingadores – principalmente o momento de embate entre Superman e Zod em Metrópolis. E, assim como o prólogo, esta sequência acaba sendo cansativa pela duração extensa e pela falta de estratégia do vilão que afinal, é um militar. E não apenas isso, tem-se a impressão de que toda a ação, a luta, a destruição está concentrada demais nesse momento da estória, quase saturando o espectador.

    Interessante reparar que, apesar de não haver semelhança física, em alguns momentos Cavill lembra um pouco “O Superman”, Christopher Reeve – convenhamos que não é muito difícil ser mais expressivo que Brandon Routh – e o ator consegue dar ao personagem tanto a insegurança de quem ainda não tem certeza de que rumo irá tomar, quanto o carisma do herói que vai “salvar o dia”. Não é atuação digna de prêmio, até pela quase bidimensionalidade do personagem, mas é convincente na medida certa. Kevin Costner e Diane Lane estão ok como os pais adotivos de Clark. Amy Adams consegue tirar de Lois Lane aquele ar de mocinha indefesa em perigo. Mas quem se destaca é Michael Shannon, construindo um vilão a seu modo incorruptível e ao mesmo tempo bastante ameaçador.

    É natural que um reboot  gere estranheza e divida opiniões, e também é natural que não agrade a gregos e troianos – isto é algo inerente aos filmes do gênero. É difícil encontrar o ponto de equilíbrio entre tornar a estória palatável aos “leigos” e agradar aos fãs de carteirinha. E, apesar de alguns defeitos, Man of Steel é um filme que cumpre sua função de entreter.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

    Ouça nosso podcast sobre Zack Snyder.

  • FLIP 2013 | Eduardo Coutinho e seu jogo de cena

    FLIP 2013 | Eduardo Coutinho e seu jogo de cena

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    Eduardo Coutinho é o grande documentarista brasileiro. Responsável por filmes como Peões, Edifício Master, Santo Forte e Jogo de Cena, Coutinho se tornou um nome central no cinema mundial ao investigar em seus filmes o olhar do diretor no documentário. Seu cinema é complexo, os últimos filmes repletos de teorização que alguém menos talentoso teria colocado em livro, mas Coutinho reflete sobre seu próprio cinema enquanto o realiza, criando uma obra única.

    O diretor é conhecidamente rabugento e arredio a entrevistas, mas a Flip acertou ao coloca-lo para conversar com Eduardo Escorel, amigo de longa data e montador de Cabra Marcado Para Morrer (além de Terra em Transe, São Bernardo e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro). Cabra é um dos filmes lendários do cinema brasileiro (nossa história tem alguns, filmes perdidos ou não terminados e que ainda assim influenciam profundamente a produção nacional): deveria ser uma ficção sobre movimentos de resistência camponesa na década de 60, mas teve suas filmagens interrompidas pelo governo militar; em 1984, Coutinho retornou aos lugarejos da Paraíba onde havia começado a filmar e fez um documentário sobre o filme que não foi.

    Mas Coutinho não é um mal-humorado, é, isso sim, um rabugento divertido. Durante 1:15 o cineasta foi escrachado e engraçado, contou sobre seu processo criativo, soltou pérolas de sabedoria ranzinza e pareceu se tornar um de seus personagens: um misto ambíguo de honestidade e atuação. Coutinho falou sobre isso, a diferença entre ter uma boa história e contar uma boa história e a todo momento chamou seus entrevistados de personagens e reforçou “é isso que eles são”. Eduardo Coutinho conta narrativas cuja matéria prima é a ficção.

    Foram exibidos dois trechos de filmes seus: a entrevista final de Peões, filme sobre os metalúrgicos da região do ABC Paulista, e um momento de Cabra Marcado Para Morrer. Depois de ambos, Coutinho contou sobre a filmagem dos longas e refletiu sobre suas próprias escolhas com clareza impressionante, talvez ele seja a pessoa mais consciente do processo cinematográfico que eu já ouvi falar (e já vi palestras de ícones como Abbas Kiarostami e Wim Wenders).

    Aos 80 anos, o diretor esbanjou energia, consciência, citações a Walter Benjamin e Marcel Mauss, Coutinho é um erudito e um teórico, mas tem a maravilhosa capacidade de condensar sua teoria em concretude. Na mesa do autógrafo, elogiei efusivamente Jogo de Cena e ele me respondeu com um entusiasmo genuíno e um sorriso afetuoso, assinou meu livro e escreveu “sem jogo de cena”, mas avisou “você sabe que isso não existe”.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Resenha | A Corrente: Passe Adiante – Estevão Ribeiro (2)

    Resenha | A Corrente: Passe Adiante – Estevão Ribeiro (2)

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    Quem nunca recebeu uma corrente via e-mail – de qualquer tipo – que atire a primeira pedra. Certamente hoje, com as opções de filtro de spam, a maioria de nós nem chegue a vê-las na caixa de entrada. Mas elas continuam circulando. Sempre há quem acredite, principalmente naquelas que envolvem dinheiro. E é a partir desse misto de lenda urbana e meme que a trama do livro é construída. Toda estória nasce de um “E se…”. Neste caso, “e se a ameaça for real e não apenas uma brincadeira de mau gosto?”. O autor faz bom uso dessa premissa para prender a atenção do leitor. Afinal, o pior terror – ou o melhor, dependendo do ponto de vista – é aquele que envolve situações cotidianas. O leitor identifica-se muito mais facilmente com uma situação já vivenciada do que com algo incomum, mesmo que esse algo seja mais interessante que o nosso dia a dia rotineiro.

    Eu sei que você deletou meus e-mails anteriores, Laura. É uma pena que tenha feito isso. Se talvez você tivesse lido as minhas mensagens…

    Laura sente a saliva tapar a sua garganta, enquanto os olhos secos por não piscar acompanham cada letra:

    … eu não teria que te matar!
    (pag.11)

    O prólogo é daqueles que agarram o leitor e o jogam para dentro da estória, sem preâmbulos. Passado o primeiro susto e recuperado o fôlego, a vontade é não parar de ler. A incerteza sobre se o que se passa é realidade ou delírio intensificam a inquietação do leitor e a preocupação com o destino dos personagens. A narrativa ágil, as cenas encadeadas de modo a aumentar a tensão tornam o livro bastante envolvente apesar de algumas falhas que não chegam a comprometer a leitura.

    As sequências de sonho são “certinhas”, coerentes demais para serem de sonho. Não convencem muito. E há alguns detalhes práticos incorretos que, talvez com uma pesquisa mais detalhada, poderiam ter sido evitados. Em alguns momentos, o leitor para e se pergunta “Mas, espera aí… Não é bem assim que tal coisa acontece na vida real.” E essas pequenas divergências causam um certo incômodo ao interromper a imersão na leitura. Além disso, há alguns trechos “difíceis de atravessar”, tanto pela perda da fluidez da narrativa quanto pela existência de cenas aparentemente truncadas. Por exemplo, sem dar spoilers, no clímax da cena em que um dos personagens está num Escort, atravessando uma ponte, algo parecia não se encaixar. Ao reler, percebi que não estava conseguindo situar espacialmente um veículo em relação ao outro. Tive de parar e ler tudo mais uma vez até que fizesse sentido e isso dificultou a apreciação da cena. São pequenas falhas que, contudo, não desabonam o todo.

    É inevitável a comparação com o filme O chamado. Porém, apesar de a ideia inicial ser semelhante, o desenvolvimento da trama segue outros rumos. É um thriller de terror que tem tudo para agradar aos fãs do gênero. Há suspense, tensão, desespero, muito sangue, descrições detalhadas das mortes – tão detalhadas que o leitor chega a espiar por sobre os ombros durante a leitura. Enfim, um prato cheio para quem curte este estilo de estória.

    Tuitei há alguns dias que, mesmo se não conhecesse o autor, provavelmente compraria o livro pela capa. Sim, eu sou dessas. Livros com capas que me chamem a atenção são sérios candidatos à compra. E a edição é bem caprichada. Quanto à diagramação, apenas uma ressalva: talvez se a mancha de texto fosse maior, seria possível aumentar um pouco o espaçamento entre as linhas, tornando a leitura mais confortável. Há alguns erros de revisão, mas nada comprometedor, praticamente passam batido quando o leitor está embalado na leitura.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | As Vantagens de Ser Invisível

    Crítica | As Vantagens de Ser Invisível

    As Vantagens

    As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, EUA, 2012, Dir: Stephen Chbosky) é adaptação do homônimo livro lançado em 1999 escrito pelo roteirista e também diretor do filme, que por sua vez foi criador da série Jericho, cancelada após a segunda temporada.

    Sinopse: um menino introvertido entra no segundo grau e é acolhido por dois meio-irmãos veteranos, que o ajudam a se adaptar às dificuldades da adolescência na rotina escolar e na vida.

    Para entrar no universo de adolescentes/jovens perdidos, a direção de Stephen Chbosky tenta emular os filmes da Sofia Coppola, especialmente “Virgens Suicidas” (1999), e Bertolucci com o seu “Os Sonhadores” (2003). O problema é a falta de identidade a partir disso. Não há um plano marcante do ponto de vista cinematográfico que seja mérito exclusivo da direção, nenhum movimento de câmera, marcação de atores em cena, nada. A mise-en-scène blasé só consegue se sustentar por meio do roteiro, a única hora em que se pode ver o talento do diretor é na direção de atores: Chbosky consegue extrair boas atuações dos três atores principais, principalmente de Logan Lerman.

    Diria que mais da metade da força que o filme teve perante seus fãs e admiradores veio da sua atuação de Lerman. Conhecido por ter interpretado Percy Jackson, o outro Harry Potter, Lerman mostra aqui que só precisava de uma chance fora do mundo blockbuster para mostrar o seu talento. Com uma interpretação contida durante a maioria do filme, ele consegue passar todas as características do seu personagem de forma sublime: angústia, medo, insegurança, amor, e, principalmente, os demônios internos que o atormentam. Se o ator der sorte de continuar a pegar personagens mais profundos e manter esse nível, talvez daqui a alguns anos poderemos ver surgir um novo Ryan Gosling.

    Os outros atores interpretam bem o seu papel. Emma Watson, porém, não consegue ir muito além, ela é engolida pelo bom Ezra Miller, o Kevin, de “Precisamos Falar sobre o Kevin” (2011), e principalmente por Logan, que engole todo mundo que está em cena do meio para o final do filme. O resto do elenco cumpre bem a sua finalidade, com especial menção a Tom Savini, Paul Rudd e Joan Allen, que saem um pouco das suas interpretações usuais.

    O roteiro sem grandes furos tenta conduzir a narrativa por um meio não convencional. De uma forma forçada tenta impôr o protagonista em um universo hipster e assume assim uma outra estrutura dramática, que só serve para acentuar o fato de que o adolescente deslocado encontrou pessoas esquisitas e com problemas semelhantes ao dele. Não à toa, ele os chama de “amigos” várias vezes ao longo do filme, logo o protagonista, que era conhecido por não ter ou saber fazer amigos.

    E então vem o maior problema do roteiro, por consequência, do filme: a conveniência de voltar à dramaturgia convencional e sua estrutura quando ficou sem saída aonde havia ido antes. A briga no refeitório na metade para o fim e a “grande revelação” do final do filme exemplificam isso. É um roteiro covarde, frouxo, bundão, que fingiu uma audácia que não tinha, pois, no fim das contas, não se sustentou. Ou seja, pretensioso. Nesse sentido, “Meninas Malvadas” (2004) com a Lindsey Lohan, mesmo sendo uma comédia blockbuster cumpre melhor este papel, é um filme mais eficiente abordando a mesma temática no mesmo universo.

    A fotografia quase o tempo todo usa filtros não realistas, como naquelas cenas que representam sonhos, o que impede um melhor trabalho de Andrew Dunn, que já havia fotografado os ótimos “Preciosa” (2009) e “Amor a Toda Prova” (2011). As únicas partes que ela se sobressai é quando os demônios internos do protagonista são retratados.

    A editora Mary Jo Markey, também não consegue mostrar o seu talento, como já havia evidenciado nos filmes irregulares Star Trek 2 – Além da Escuridão, a série Lost e Super 8. A edição linear ajudou na narrativa, mas a única hora que se sobressai é semelhante à fotografia: ajuda a mostrar os demônios internos do protagonista.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Resenha | A Tormenta de Espadas – George R.R. Martin

    Resenha | A Tormenta de Espadas – George R.R. Martin

    A Tormenta de Espadas

    Continuando na onda “mainstream”, agora é a vez do terceiro livro de Guerra dos Tronos. Não li outras resenhas sobre esse livro em particular, mas li de seus predecessores e pretendo fazer algo um pouco diferente ao resenhá-lo. Como introdução, direi aqui que tenho grande consideração por esse livro (e por essa série) e acho que é uma das melhores obras de fantasia que existe ou que haverá de existir. Portanto, minhas críticas aqui não são necessariamente algo que eu odeio do fundo de minha alma. São apenas alguns aspectos que eu achei interessante compartilhar.

    Devo, antes de qualquer coisa, dizer que não pretendo fazer uma análise passional sobre o quão incrível a história que George R.R. Martin criou é, e tampouco tentar dizer o quão boa essa obra é tentando me desviar dos (milhares) spoilers que há nas 840 páginas desse livro. Não irei fazer uma comparação com Tolkien (pelo menos não nos aspectos que já tenha visto alguém fazer) e nem me aprofundar nos aspectos mais profundos daquilo que foi lido. Irei apenas colocar os pontos positivos e negativos, sendo que não acho que isso vai ser uma tarefa fácil, uma vez que Martin é muito bom em gerar sentimentos contraditórios, mas igualmente formes.

    Quero começar falando sobre as quatro estrelas que o livro recebeu, pois tenho certeza que, dentre os que já li de As Crônicas de Gelo e Fogo, esse definitivamente seria um grande merecedor de cinco estrelas, se não fosse por uma coisa simples: a maneira que a história é contada. Muitas foram as resenhas que eu vi que ou reclamam dos pontos de vistas ou então os admiram fervorosamente. Eu talvez esteja em um meio termo, mas isso é algo para ser dito mais pra frente. Afinal, não era disso que eu estava falando quando disse “a maneira que a história está sendo contada”.

    Para falar a verdade, a série toda só não está entre os meus favoritos (up and beyond) porque o Martin escreve uma história impecável e perfeitamente. Talvez isso seja contraditório, sim, mas vou explicar um pouco mais o que quis dizer. Quando você começa (eu, pelo menos, quando comecei), é capaz de sentir o potencial na veia, e isso te empolga e te leva a seguir adiante, pois a narrativa utilizada foi feita para te fazer continuar lendo e devorar suas páginas. Ele não enrola, não se perde em coisas “desnecessárias” e também não fica nos fazendo engolir a mesma coisa várias e várias vezes. Se tivesse que fazer uma comparação infame, enquanto Martin está para Stannis assim como Tolkien está para Renly, e não estou falando na viadagem.

    Enquanto Tolkien procurava nos afundar em sua fantasia e seu universo fantástico de supetão, várias vezes com descrições gigantes (mas nem por isso inadequadas) e histórias já passadas, Martin nos guia lentamente pelo universo que criou a partir daquilo que acontece com os personagens que nele vivem. Seria como se não fosse a história de como a Comitiva do Anel seguiu para seu destino incerto ou então como Frodo destruiu o anel, mas sim tudo que aconteceu com a Terra-Média para chegar naquele ponto em que o jovem Hobbit saía do Condado.

    Não estou dizendo que isso faz com que a maneira que Martin conta a história seja ruim – pelo contrário, é muito boa -, mas essa maneira direta faz com que, pelo menos para mim, isso pareça impessoal demais, com uma frieza incontestável nas palavras que narram tudo aquilo que acontece (veja bem, não quando se trata dos personagens e daquilo que eles sentem, mas sim do próprio autor). Seja com Philip Pullman com sua bússola de ouro e a visão da natureza humana com toques infanto juvenis ou então de Lemony Snicket, com sua narrativa agridoce repleta de verdades amargas ou até mesmo de J.K. Rowling, que nos faz acompanhar praticamente uma vida inteira de alguém que é um sobrevivente a partir do primeiro momento.

    Mas, sim, a história é narrada a partir dos pontos de vistas dos personagens, então onde haveria de ter espaço para a presença onisciente e onipresente de Martin nisso tudo? Não sei e não tenho competência para começar a afirmar onde que ele poderia colocar um pedacinho de sua própria natureza ou então de outro aspecto de sua personalidade com fragmentos expressivamente seus, independente dos personagens, durante a escrita. Talvez soe meio estranho, mas para um livro ser meu favorito, ele não precisa contar a história “perfeita e diretamente”, mas sim me inspirar muito além daquilo que acontece, me levando através das entrelinhas daquilo que foi contado.

    Agora, sempre tive um problema muito grande em pensar demais nas coisas, e imagino que talvez o que eu tenha escrito aqui não faça sentido para você e, nesse caso, você provavelmente deve ter visto muito mais na narrativa do que eu. Pensando nisso, fiquei matutando e pensando que, talvez, muito além daquilo que lemos, o que nos influencia a gostar de um livro é o momento em que estamos na nossa vida. J.K. Rowling, por exemplo, pode ser uma das minhas autoras favoritas porque eu cresci lendo Harry Potter (e junto com ele, também). Ou então Philip Pullman, que foi aquilo que eu li entre os lançamentos de HP e estava sendo apenas introduzido aos mundos fantásticos e, naquele momento, tudo era mágico demais e perfeito demais e agora, com o tempo e vários livros entre o Harry Potter e A Tormenta de Espadas, minhas percepções estejam completamente diferentes.

    Bem, agora que já me perdi com justificativas e apontando a minha visão “geral” do livro, vamos aos pontos menos pessoais. Não sei se sou o único, mas detesto os prólogos de Martin, por algum motivo que não tenho certeza de qual é. Isso, é claro, de longe não é algo tão relevante quanto achar que a história é uma porcaria. Está mais para um detalhe incômodo do que qualquer outra coisa. Porém, seus epílogos – em comparação – são excelentes e mal vejo a hora de começar o quarto livro (por mais que tenha alguns livros no meio).

    Outro hábito que muitas vezes me incomoda é sua maneira de tentar colocar um “gancho” toda vez que termina um ponto de vista. Muitas vezes ele faz o trabalho perfeitamente, como quando aquilo aconteceu com aquele leãozinho ou então The Rains of Castamere em sua melodia que para mim se tornou rubra. No entanto, em alguns outros esses ganchos parecem forçados, principalmente quando se trata de Cat, que muitas vezes a fazem parecer completamente louca ou desesperada (o que talvez ela esteja, mas me pareceu meio artificial), ou então em alguns determinados momentos com Arya, Sansa ou Tyrion, que pareceram um pouco desnecessários. Novamente, nada muito gritante na minha opinião e não desmerece a obra.

    Porém, preciso admitir que nesse livro eu demorei para pegar o ritmo. Sempre tive alguns problemas com grandes expectativas e a formação de uma tempestade ao longe, e pelas primeiras 400 páginas eu tive a sensação de que as nuvens estavam se formando, mas por mais que coisas empolgantes acontecessem, não eram algo que me fizesse ler com aquela voracidade desesperadora. Isso, no entanto, acaba após aquilo e somos obrigados a ler sem querer parar. Não muda o fato de que quase metade do livro não foi tão empolgante quanto o resto, mas ainda assim não posso dizer que a primeira parte foi ruim. Cansativa, sim, mas não ruim.

    Eu podia dizer agora sobre os pontos positivos, a maneira épica que Martin orquestrou todos os acontecimentos com antecedência para gerar sentimentos conflitantes, gritantes e desesperadores, ou então a própria história em si, sua magia sutil que cresce gradativamente ou talvez do quão empolgante toda aquela maquete de tramas e, claro, Dany e seus dragões. Porém, acho que todo mundo que já leu já sabe disso tudo e existem muitas outras resenhas que irão dissecar o livro e seus melhores aspectos muito melhor do que eu.

    Para finalizar, deixo aqui a sugestão para que leiam os livros e acompanhem o seriado. Independente de suas opiniões a princípio, dos julgamentos que você provavelmente tem ou talvez de sua alma hipster que não vai querer seguir algo tão mainstream quanto As Crônicas de Gelo e Fogo. Leia, porque nessa série há tudo para todos os gostos e personagens tão épicos quanto podem ser, sendo uma referência para todos aqueles que querem ver o quanto um universo fantástico pode evoluir.

    Texto de autoria de Thiago Suniga.

  • Resenha | O Torreão – Jennifer Egan

    Resenha | O Torreão – Jennifer Egan

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    Jennifer Egan pode ser considerada o modelo da escritora pós-moderna: seu conto A Caixa Preta foi publicado no twitter e seus romances escapam as características tradicionais do gênero, se utilizando de diversas vozes, formatos e recortes para contar histórias que se sobrepõem e se espelham. Egan é experimental, teórica e bastante premiada (seu livro A Visita Cruel do Tempo ganhou o Pulitzer de 2011), mas ainda assim sua narrativa é fluída, divertida, quase pop e nada hermética.

    O Torreão tem duas linhas narrativas distintas: a primeira se centra em Danny, um homem um tanto perdido, mas bastante “descolado”que sai de Nova York para trabalhar no castelo de seu primo em algum país não identificado do leste europeu. Anos antes, quando eram adolescentes, Danny jogou o primo dentro de um lago em uma caverna e o deixou para morrer e começa a descobrir que a experiência pode te-lo deixado tão traumatizado quanto a vítima. A segunda história é a de Ray, um presidiário que, descobrimos, está escrevendo a história de Danny em uma oficina de escrita criativa na prisão e acaba se apaixonando pela professora.

    As duas histórias se espelham e se confundem e Egan costura tudo tão habilmente que é difícil saber o que é realidade, ficção, delírio ou sonho. É ainda mais difícil saber qual a semente de realidade na ficção e o que na realidade é mentira, teatro, ficção. A escritora conta duas histórias envolventes e misteriosas, ao mesmo tempo que reflete sobre seu próprio ofício de contadora de histórias e criadora de mundos.

    Essa habilidade de unir erudição e entretenimento é o que torna a prosa de Egan tão rica e, de novo, tão pós moderna. Ela escreve com linguagem corrente, acessível, seus personagens falam como pessoas de fato falam no cotidiano, ao mesmo tempo, essa escrita leve é permeada de questionamentos filosóficos profundos, a respeito da natureza do romance, das escolhas dos seres humanos, da culpa e da loucura. Existe um fundo teórico claro na escritora, mas ela nunca cita Adorno ou Freud, ela apenas insere esses conhecimentos em personagens complexos, redondos e bem construídos.

    Todos os personagens em O Torreão são, assim como o próprio livro, ambíguos. O leitor nunca sabe exatamente quem são essas pessoas, se elas estão dizendo a verdade ou não, se são reais ou inventadas. São seres com uma moral duvidosa, que fizeram escolhas erradas e que podem ser pura e simplesmente crueis, bastante parecidos com seres humanos de verdade. A realidade de seus personagens acaba criando mais um paradoxo em uma escritora já tão cheia deles: Egan foge ao realismo, seu romance é pouquíssimo naturalista e, no entanto, seus personagens estão firmemente ancorados na realidade, fornecendo um contrapeso ao experimentalismo formal. Além da realidade dos personagens ela insere detalhes cotidianos, como celulares e antenas parabólicas que dão dimensão às histórias, evitando que tudo pareça um grande delírio.

    Ao contar a história de um homem que conta uma história e contar também essa história, Jennifer Egan fala de uma série de coisas. Seu livro é sobre o ato de escrever, sobre se apaixonar, sobre estar à beira da loucura e da perda de identidade, mas no fundo ela fala de uma coisa só: o ser humano como narrativa de si mesmo. Todos os personagens de O Torreão estão em busca de uma narrativa que os defina, de uma história que possam contar para o mundo e assim se sentirem menos perdidos e inadequados, cada um deseja fazer sentido de suas próprias escolhas transformando-as em narrativa coerente, dando à própria história começo, meio e fim para que possam conviver com ela. Mas a fluídez do mundo moderno, refletida na escrita da autora, nega isso a todos eles e o que temos são pessoas flutuantes, perdidas em um mundo meio real, meio de sonho, incapazes de definirem quem são. Isso tudo se resume no próprio torreão: um lugar fora do tempo e do espaço, em um país impossível perdido no meio do leste europeu, do tipo que provavelmente muda suas fronteiras a cada 5 anos.

    A identidade pós-moderna é um dos temas mais áridos de que é possível tratar, mas aqui isso se reflete em narrativas fluídas, interessantes, com reviravoltas eficientes e um bom ritmo. O talento excepcional de Egan é justamente condensar temas dificílimos em livros palatáveis, quase pop, de uma forma que talvez só encontre paralelo em Jonathan Safran Foer. Ao experimentar com a linguagem, trazer referências e se permitir ser comercial, Jennifer Egan entrega um livro maravilhoso e apresenta as possibilidades mais interessantes da literatura contemporânea.

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Resenha | Escola de Animais

    Resenha | Escola de Animais

    escola de animais - capa

    A série de tiras produzidas por Leandro Robles foram publicadas na Folhinha (suplemento infantil da Folha de São Paulo) de 2003 a 2009. O livro reúne todas essas e mais algumas inéditas – umas produzidas mas não publicadas, outras produzidas especialmente para o álbum.

    As tiras são sobre uma turma de bichinhos que vai escola como se fossem crianças humanas. As ovelhinhas, Sapo (o dogueiro da cantina), Coal (o coala CDF), Rafa (a girafa), Pingo (o pinguim), Cabrolina (a cabra), professora Oxítona e Chump (o chupa-cabra) alternam-se protagonizando as estórias.

    Foram escritas visando o público infantil, mas o humor inteligente agrada aos adultos igualmente. Além disso, difícil algum adulto não ter nostalgia dos tempos de escola e se identificar com algumas das situações vividas pelos personagens. A temática é atual – fala-se de videogames, internet, etc. – misturada a temas atemporais do universo infanto-juvenil – o desejo pelo lanche alheio, a chatice de estudar para provas, os namorinhos, os trotes (não “bullying”).

    Certamente, entre tantas tiras, há algumas com ótimas sacadas e outras nem tanto, dando aquela impressão de piada “requentada”. Mas no geral, a leitura é bastante divertida. O fato de não terem um único protagonista deu bastante flexibilidade ao autor, podendo explorar diversos “combos” de personagens. Leitura leve, descontraída, para a molecada se divertir com essa turminha vivendo altas aventuras.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

    escola de animais - tirinha

  • Crítica | Guerra Mundial Z

    Crítica | Guerra Mundial Z

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    O gênero zumbi é conhecidíssimo do grande público nos tempos atuais, principalmente por causa do sucesso da série de TV The Walking Dead. Grande parte deste sucesso é devido ao fato de que o criador do gênero moderno de zumbis, George Romero, usou essa temática para fazer analogias, sempre críticas, da sociedade naquele momento.

    Nos anos 2000, o gênero “zumbi” voltou com tudo após ficar em dormência durante os anos 80 e 90. Os expoentes desta retomada foram Extermínio e Madrugada dos Mortos. Porém, a estética dos zumbis se alterou. Ao invés de criaturas decrépitas e lentas, agora temos zumbis super-rápidos e que se movem sempre em grupos enormes com um comportamento irracional, e é aqui que se encaixa a analogia aos tempos modernos, a crítica ao consumismo, as grandes massas que se movimentam sem pensar, somente seguindo impulsos primários, aglomerando-se e brigando por aquilo que consideram vital. Quem já passou por uma liquidação, ou mesmo vivenciou uma Black Friday, deve ter experimentado algo parecido.

    Guerra Mundial Z segue nessa linha, porém, à sua própria forma. Terminou de ser filmado em 2011, mas problemas de produção, brigas entre o ator/produtor Brad Pitt e o diretor Marc Foster atrasaram o lançamento do longa, que até teve o final refilmado. Geralmente filmes com problemas assim acabam dando um resultado ruim, mas não foi este o caso. Guerra Mundial Z convence como filme-catástrofe e como ação. Consegue prender a atenção do espectador e criar momentos genuínos de tensão sem apelar a (muitos) clichês do gênero.

    Na história, Gerry Lane (Pitt) é um ex-funcionário da ONU especialista em trabalhar em regiões de conflito pelo mundo, por isso sua intensa experiência em fugas de situações de risco. Porém, agora ele está aposentado. E o filme se inicia justamente em seu cotidiano familiar na Filadélfia, ao mesmo tempo em que somos apresentados gradualmente a notícias de uma estranha infecção estar se espalhando pelo mundo (também excepcionalmente apresentada na abertura, com a também boa música-tema executada pela banda britânica Muse).

    Durante também uma excelente sequência no trânsito congestionado, somos apresentados a infecção de uma hora para outra, o que não pareceu fazer muito sentido, porque por mais que Lane conte o tempo de infecção através de mordida em 12 segundos, uma onda como a que atravessa a cidade seria sentida bem antes, de forma mais gradual. Neste aspecto, o avanço da infecção mostrado em Todo Mundo Quase Morto parece muito melhor construído, mesmo se tratando de uma paródia do gênero.

    A partir daí, o 1º ato é todo de Lane e sua família tentando fugir da infecção, conseguir mantimentos e procurar abrigo, o que também tem dois pontos negativos: a cena do supermercado, onde sua mulher é atacada sem mais nem menos em meio a uma multidão, para criar uma tensão que soou um pouco artificial, e a vitimização e o excesso de bondade e hospitalidade de imigrantes latinos que recebem Lane em sua família. Há a clara tentativa de sensibilizar o espectador, que também soa um pouco artificial. Pequenos problemas e situações ao mesmo tempo forçadas e sem sentido naquele contexto se repetem algumas vezes durante a exibição, o que talvez possa ser creditado a tantos problemas de filmagem e produção.

    No entanto, após o 2º ato seguimos Lane por sua investigação no mundo a respeito de como a doença surgiu e como poderia pará-la. E o comportamento de Lane frente à ameaça é um dos pontos mais interessantes do filme, já que geralmente protagonistas de filmes desse gênero não conseguem aprender com a prática, observando e tirando conclusões, o que Lane faz de maneira bem clara e inteligente, e sempre com o propósito de avançar a história. As sequências na Coreia do Sul e principalmente em Israel são boas, apesar dos zumbis escalando o muro e correndo em hordas parecerem artificiais demais em alguns momentos.

    Na parte final, no laboratório da OMS, momentos de tensão são muito bem construídos, com o som ambiente silencioso, construindo uma crescente e lenta angústia no espectador, consciente que o menor ato pode desencadear uma tragédia. No final, a história tem um desfecho aceitável, e que provavelmente será retomada em continuações.

    Apesar de alguns problemas, Guerra Mundial Z convence ao criar momentos honestos de tensão e medo, e um senso de urgência real frente ao perigo apresentado, onde conseguimos nos identificar com o protagonista, suas intenções e reações. Em um gênero tão desgastado por filmes e séries de TV, é sempre bom ver algo que tente apresentar algo de novo.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Resenha | Hellboy Edição Histórica: Vol. 2 – O Despertar do Demônio

    Resenha | Hellboy Edição Histórica: Vol. 2 – O Despertar do Demônio

    “Um homicídio em um museu de cera de Nova York e o desaparecimento de um cadáver levam Hellboy e o Bureau de Pesquisas e Defesa Paranormal à Romênia, em busca de uma lendária figura: Vladimir Giurescu, um antigo integrante da nobreza – e um vampiro. Como se Giurescu não fosse ameaça suficiente, a deusa das trevas Hecate surge para confrontar Hellboy com aterradoras revelações a respeito de seu propósito na Terra. Enquanto isso, cientistas nazistas descongelados após décadas de hibernação preparam-se para o retorno de Rasputin, o monge insano e precursor do fim do mundo.”

    O Despertar do Demônio, apresentado na segunda edição histórica do Hellboy, é uma continuação direta dos acontecimentos de Sementes da Destruição e nos leva de volta a uma imersão ao oculto, obscuro e fantástico do universo de Mike Mignola, com a qualidade de sempre já conhecida do autor.

    A história vai explorar de maneira sutil a busca pelo propósito e a razão de existir do herói vermelhão; dessa vez, porém, colocando Hellboy para enfrentar um famoso vampiro e uma deusa da mitologia grega (Hecate). A história é tão bem desenvolvida e cheia de nuances que é seguro dizer que Mignola explora quase que um novo olhar sobre essas lendas.

    A excelente história novamente se encaixa perfeitamente na arte de Mignola, definida por Alan Moore como sendo a amálgama do expressionismo alemão com Jack Kirby. Sua profundidade e a coesão entre preto e branco inundam as páginas da HQ, criando a atmosfera perfeita para se contar uma boa história sobre fantasia e horror.

    Mais uma vez o álbum da edição histórica não deixa a desejar em seu acabamento impecável e que enche os olhos de qualquer colecionador. É uma relíquia indispensável para a coleção de qualquer amante dos quadrinhos.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

  • Crítica | O Homem de Aço

    Crítica | O Homem de Aço

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    O Super-Homem é um dos personagens mais emblemáticos da DC, e do mundo dos quadrinhos em geral, e provavelmente uma das figuras mais lucrativas da indústria de entretenimento mundial. Ainda assim, recentemente a editora vinha encontrando dificuldade em emplacar o personagem no cinema, a falta de qualidade dos filmes era um problema, mas mais que isso, o Homem de Aço parecia não se comunicar com as novas gerações, seu personagem aparentemente obsoleto em uma época de heróis menos maniqueístas, mais ambíguos.

    No entanto, após o sucesso estrondoso da releitura que Christopher Nolan fez do Batman e da Marvel ter vendido com relativo sucesso o Capitão América (ainda mais anacrônico que o Super-Homem) uma nova tentativa se tornou inevitável. Confesso que fiquei surpresa quando um projeto desse tamanho foi parar nas mãos de um diretor que acabava de sair de um fracasso tão absoluto (não por acaso, todo material de divulgação diz apenas “do diretor de 300 e Watchmen“) e cuja fama nunca foi das melhores, mas Zack Snyder, com supervisão de Nolan é preciso dizer, assumiu o trabalho de finalmente tornar o Super-Homem um blockbuster.

    E Homem de Aço faz exatamente isso: ele torna o personagem palatável, viável para o público de hoje, menos patético e bom moço e entrega um filme com boas sequências de ação e altamente vendável. Não é que a direção exagerada e um tanto sem rumo de Snyder não esteja presente, ela está, mas a impressão é que o diretor foi posto na coleira e essa coleira foi entregue na mão de Nolan.

    Em primeiro lugar há um prólogo em Krypton: o filme situa o planeta, apresenta os pais de Kal-El e mostra o como seu mundo desmoronou.  É um mau começo. Embora visualmente impressionante, as cenas deveriam ter uma carga dramática que Snyder é completamente incapaz de segurar, os diálogos soam artificiais e tudo alterna entre vergonha alheia e novela mexicana intergalática, mas felizmente isso passa.

    Mesmo quando chega na Terra, Homem de Aço é um filme de origem, contando como Clark Kent se tornou o Super-Homem. A estrutura é pouco linear e a narrativa alterna entre cenas do presente, da adolescência e da infância de Clark, poderia funcionar na mão de um diretor mais competente, embora eu ache que a narrativa linear e clássica funcionasse melhor em um filme que conta tão obviamente a jornada de um heroi, mas com Snyder tudo parece apenas confuso, ainda que o fluxo não seja seriamente comprometido. Snyder insere, como já é hábito dos filmes de super-heroi, pequenos bônus para os fãs do personagem: a presença de Pete Ross e Lana Lang, um cartaz escrito Smallville (embora o nome da cidade nunca seja mencionado), outro da Lexcorp e outras referências que são divertidas e ajudam a dar substância ao universo que ele está construindo.

    O filme melhora consideravelmente nos momentos que se passam no presente. Lois Lane é a melhor personagem feminina que ja apareceu em um filme do gênero: inteligente, sexy e longe do estereótipo da donzela em perigo. As cenas de ação são bastante boas também, surpreendentemente o filme tem ritmo, tensão e ótimas explosões. A sequência final acaba sendo arrastada (na verdade, o filme todo é uns 20 minutos mais logo do que o necessário), mas não chega a ser ruim.

    Se como filme de ação, Homem de Aço funciona, seus problemas estão justamente na tentativa de fazer drama. O novo Super-Homem é um ser dividido dentre duas identidades, um estrangeiro na terra, algo que potencialmente será rejeitado pelos humanos, mas as cenas de carga emocional não se sustentam, assim como o prólogo em Krypton tem diálogos terríveis e atuações forçadas, Russel Crowe conseguindo ser menos expressivo que uma Kirsten Stewart com preguiça.

    Mas, ainda que muito mal conduzidas, essas cenas servem ao propósito de atualizar o Super-Homem e é preciso reconhecer o enorme mérito da DC em manter o espírito do personagem, ao invés de simplesmente repetir a fórmula que funcionou com o Batman. O Super-Homem é um herói leve, otimista, o símbolo do progresso e da esperança americanos, não é um órfão amargurado que vive nas trevas e Snyder não se esquece disso. O Super-Homem pode chorar após matar um homem mau para salvar uma família, mas ele não hesita em fazê-lo, ele pode se sentir dividido entre a Terra e Krypton, mas não pensa duas vezes quando a escolha é matar humanos para reconstruir seu planeta, ele é essencialmente “bom”, correto e esperançoso. Há um pessimismo de base, uma desconfiança em relação a natureza humana que soa como os temas de Nolan (ele é produtor do filme afinal), mas a conclusão aqui é que é preciso dar o salto de fé, que a humanidade vale a pena.

    Assim, Homem de Aço consegue dar alguma substância a um herói que parecia acabado e esteticamente quase torna a capa vermelha aceitável. Não é um filme de drama e seu foco não é o conflito existencial do personagem, que aliás aparece em cenas muito mal feitas, mas usa essas ferramentas como âncora, jeitos de humanizar o Super-Homem, torna-lo mais plausível e contextualizado para que o público possa aceitar o personagem. Tudo isso, aliado a uma estética fria e um pouco suja que ameniza as pirotecnias cinematográficas de Snyder entregam um filme de ação eficiente que está muito longe de uma obra prima, mas deve conseguir uma bilheteria gigantesca, garantir continuações e assim finalmente emplacar o personagem.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

    Ouça nosso podcast sobre Zack Snyder.

  • Resenha | Ouro, Fogo e Megabytes – Felipe Castilho

    Resenha | Ouro, Fogo e Megabytes – Felipe Castilho

    Escrito pelo paulistano Felipe Castilho, Ouro, Fogo e Megabytes (2012, 288 p, Ed. Guttenberg) é um livro infanto-juvenil, o primeiro da série O Legado Folclórico. Caminhando entre o universo nerd/geek atual e o fantástico através das criaturas e lendas folclóricas brasileiras, o livro mescla de forma interessante dois mundos tão distintos, o que dá uma salada de referências que vai do Boitatá e o Boto a um pendrive, email e chat de jogo online.

    Curta Sinopse: A rotina do menino de 12 anos Anderson Coelho, mineiro natural de Rastelinho, resume a jogar o MMORPG Battle of Asgorath (onde é o segundo colocado e todos tem alta estima por ele), e desviar dos bullys na escola. Até que um dia é contactado dentro do jogo por alguém interessado em suas habilidades especiais para lutar contra uma malvada organização e seu empresário na cidade grande de São Paulo.

    Alguma semelhança com o filme Matrix? Não somente o nome dos protagonistas é o mesmo (embora Felipe explique a escolha nos agradecimentos), os pontos em comum não param por aí. Os outros elementos cyberpunks da obra cinematográfica dos irmãos Wachowski estão lá: as explicações para vários dos equipamentos tecnológicos utilizados, a característica especial do protagonista (que todos do seu grupo o consideram um hacker) é essencial na luta contra uma empresa malvada (ainda que não sejam máquinas).

    Já a diferença se dá em outros elementos também: o autor explora um universo não comum entre os autores de literatura especulativa brasileira: o folclore brasileiro. Fora a coletânea da Editora Draco, Brasil Fantástico, e da Llyr Editorial Mitos Modernos, é difícil encontrar a mitologia brasileira inserida em algum nível no meio do mar de obras medievais, de espada e feitiçaria e de ficção científica no mercado nacional. O que é uma pena, já que o universo nerd/geek se prende tanto a mitos e lendas estrangeiras não dando um possível (e devido) valor ao nosso misticismo.

    E é aí que o livro ganha a sua força. Felipe está de parabéns pela coragem em abordar o folclore brasileiro em um cenário fantástico, ainda que em um livro infanto-juvenil. No entanto, ele seria mais audacioso se tivesse transportado à uma história mais adulta, com protagonistas mais velhos e seus dilemas e ações mais complexos.

    Como o clima do livro é infanto-juvenil, a narrativa, o universo, os diálogos e as excessivas lições de moral podem cansar ou até mesmo chatear leitores mais adultos que queiram se aventurar, mas deve agradar aos mais jovens. Já outra característica foi curiosa, a presença do universo geek trouxe algumas das melhores metáforas da obra, que o autor usou de forma interessante, por ex, na página 159: “Anderson empurrou sua cadeira para trás com força. Estava possesso, nunca havia ficado tão alterado em toda a sua vida. Nem quando estava quase no final de Call of Duty 4 e a luz de seu bairro acabara antes que ele conseguisse salvar o seu progresso no jogo.”

    Um maneirismo de Felipe incomodou, o narrador por muitas vezes comenta algumas cenas, ao invés de simplesmente descrevê-las ao leitor e deixá-lo livre para interpretá-las. Algumas vezes ele também antecipa informações de forma desnecessária, ex: pág 222: “Aquela era só a primeira coisa que dava errado para Anderson e seus amigos.

    Houve um deus ex máquina na metade do livro que diminuiu a força da história. As pequenas ilustrações no início de cada capitulo que antecipam alguma cena contribuíram para igualmente enfraquecê-la. Por fim, o livro é maior do que deveria, a edição poderia ter cortado até 20 porcento que traria mais agilidade à obra, ao diminuir os maneirismos do narrador ou até mesmo cortar algumas das cenas.

    Ponto para a Editora Guttenberg pelo bom acabamento da obra tanto na capa quanto nas partes internas, e por apostar em um autor que trouxesse o folclore nacional para debate ao inseri-lo na literatura especulativa brasileira.

    Vale a leitura? Sim, se o leitor estiver disposto a se aventurar em uma divertida e instigante trama que passam por locais, mitos e lendas brasileiras.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Crítica | Velozes e Furiosos 6

    Crítica | Velozes e Furiosos 6

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    Era uma vez uma franquia cinematográfica na qual roteiro e até mesmo cenas de ação eram apenas uma “costura” pra exibir veículos tunados em corridas clandestinas pelas ruas. Após um primeiro filme interessante, vieram dois abaixo da crítica, que agradaram apenas os aficionados por masturbação (visual ou não) com carros super estilizados. A bem-vinda virada veio a partir do quarto filme, quando as tramas passaram a mostrar uma equipe de ladrões gente boa promovendo assaltos em alta velocidade. Os carros continuam lá, lógico, mas a ação deixou de focar tanto nos rachas e abraçou o estilo “massa véio” com explosões e até porradaria.

    Os “puristas” podem até reclamar, mas é inegável que Justin Lin (diretor) e Chris Morgan (roteirista) souberam revitalizar a série Velozes e Furiosos, consolidando-a como o maior sucesso da Universal Pictures nos últimos anos. Não é à toa que um sétimo filme está confirmado – e já para 2014! Porém, os produtores poderiam fazer uma mudança. Ao invés de no final exibir o tradicional aviso alertando para não tentar reproduzir as cenas etc., seria mais válido mostrar no começo uma mensagem do tipo “Atenção: desligue seu cérebro antes de assistir. Bom entretenimento”.

    Nesta sexta aventura, Toretto (Vin Diesel) e sua turminha do barulho estão espalhados pelo mundo, curtindo os milhões que roubaram no Rio de Janeiro. Eis então que ressurge o o agente Hobbs (Dwayne “The Rock” Johnson, cada vez mais determinado a interpretar o Hulk sem precisar de CGI), pedindo ajuda da gangue para capturar um perigoso grupo de criminosos/terroristas internacionais. Além de prometer perdão total para todos os crimes cometidos pelo bando – sabe-se lá como ele teria poder pra isso –, Hobbs revela a Dom que Letty (Michelle Rodriguez) está viva e trabalhando com o vilão da vez, Owen Shaw (Luke Evans).

    Se alguém ainda tinha dúvidas sobre Velozes e Furiosos se passar em um universo paralelo, onde até as leis da Física são diferentes (como esquecer o cofre de várias toneladas sendo arrastado por dois carros como se fosse aquelas latinhas de recém-casados?), este sexto filme acaba com elas. Um tanque de guerra andando numa rodovia a uns 180 km/h; Toretto VOANDO a la Superman pra salvar sua amada – e capôs de carros amortecem quedas, lembrem-se disso; uma pista de aeroporto com no mínimo uns 100 km de extensão… Impossível levar qualquer coisa a sério. Seja pela empolgação visual das cenas ou pelo humor involuntário, é diversão garantida.

    Outro fator a ser louvado é o respeito pela própria mitologia. Nesse mundo de tantos remakes, reboots, prequels e o diabo a quatro, é muito legal ver uma franquia chegar ao sexto capítulo como uma única história em progressão, refereciando o tempo todo os filmes anteriores (sim, é vital ter assistido aos outros para se situar no que está acontecendo). Tudo bem, a história não é nenhum primor e os personagens são caricatos e rasos, mas ei, é o que tem pra hoje. Paul Walker ainda está lá, mas perdoemos a produção por isso. Um filme que nos brinda com Michelle Rodriguez vs. Gina Carano certamente tem crédito.

    E até mesmo o complicado terceiro filme, Tokyo Drift, finalmente é encaixado na cronologia. A cena pós-créditos cuida disso e já apresenta o próximo vilão, ninguém menos que O ATOR MAIS LEGAL DO MUNDO. Mesmo com Justin Lin fora da direção, Velozes e Furiosos 7 já é o melhor da série.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | Amor Profundo

    Crítica | Amor Profundo

    The-Deep-Blue-Sea

    Amor Profundo é um filme de 2011 que chegou ao Brasil com atraso e sem muito alarde, o filme de Terrence Davies é adaptado da peça de Terence Rattigan, um dos grandes nomes do drama inglês moderno.

    A história traz Rachel Weisz como Hester, a respeitável mulher de um juiz inglês que acaba abandonando o marido por uma relação autodestrutiva com Freddie Page, um ex piloto da força aérea inglesa. Passado na década de 50, o filme procura retratar as profundas transformações sociais que se dava na Inglaterra pós-guerra e retratar a herança, e as feridas, que a Segunda Guerra deixou no país, mas se perde e acaba apresentando só uma história de amor um tanto superficial.

    Freddie é, inicialmente, encantador. Um ex-piloto cheio de histórias, um dos que ajudaram a salvar o país do nazismo e Hester, intensa, porém presa com um marido totalmente desprovido de calor, não poderia deixar de se apaixonar por ele. Na primeira parte do filme, quando o casal se conhece e começa um caso, os personagens são bem construídos e a interação entre eles faz sentido, Davies faz um bom trabalho em contrapor o gélido Sr. Collyer ao jovem Freddie Rachel Weizs enche sua Hester de nuances, dando realidade a mulher intensa sob a fachada de respeitável senhora inglesa.

    No entanto, quando Hester abandona o marido para viver com Freddie em uma pequena pensão o filme desanda. A paixão desenfreada dela não é bem explorada, nem a distância dele, Davies parece asumir que o espectador vai se envolver com o casal e se comover com uma relação que no fundo ele nunca explora. Talvez a dramaticidade da história funcione no teatro, onde um grau maior de artificialidade é aceitável, mas no cinema o que aparece é uma relação morna que o cineasta quer quer se trate de uma grande paixão.

    Essa falta de intensidade se reflete na composição do filme: os planos são burocráticos, ainda que muito bonitos, e a montagem sóbria faz pouco por uma história que deveria ser tão cheia de sentimentos arrebatadores. Amor Profundo é esteticamente muito bonito e os tons azulados da fotografia ecoam o título original, The Deep Blue Sea, e enfatizam a depressão e o isolamento de Hester, mas justamente apagam a intensidade dos sentimentos. O que sobra é uma história de amor filmada em tons frios, feitos para afastar.

    Amor Profundo não é um filme ruim, é uma história bonita, com belas interpretações. Mas falta intensidade, principalmente quando a história em questão é sobre uma mulher capaz de se autodestruir por uma paixão. Se por um lado o sexo, a luxúria e as relações entre amor e paixão são um dos temas, por outro não há uma única cena de sexo e Hester e Freddie (mesmo no início do filme) pouco se tocam, Davies parece tomar a verbalidade do teatro e esperar que ela seja suficiente no cinema. Infelizmente, não é.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Antes da Meia-Noite

    Crítica | Antes da Meia-Noite

    before_midnight

    Em 1995, Richard Linklater conquistou uma legião de fãs com um filme delicado, singelo, em que um casal passeava pelas ruas de Viena enquanto se apaixonava. Em 2004 ele revisitou seu casal e entregou um dos mais belos finais do cinema. Agora, novamente 9 anos depois, Linklater vem responder se Jesse perdeu ou não seu avião.

    Eu confesso que quando vi pela primeira vez o Anúncio de Antes da Meia-Noite fui contra a ideia, o final de Antes do Pôr-do-Sol funcionava por seu mistério e eu não via sentido em fazer o casal se encontrar por acaso mais uma vez, nem acreditava na capacidade do diretor de realizar um filme sobre um relacionamento estabelecido. Mas Linklater me provou errada e construiu um filme maravilhoso que já não é sobre se apaixonar, mas sobre manter o amor.

    Antes da Meia-Noite é ao mesmo tempo o mais maduro e o mais falho dos três filmes. Por um lado, Linklater cresceu como diretor e conseguiu finalmente comunicar coisas naquilo que não é dito, os silêncios e a escolha de planos nesse filme são repletos de sutilezas e significados, algo ausente nos dois anteriores. Por outro, o roteiro (escrito por ele em pareceria com Julie Delpy e Ethan Hawke) às vezes desliza e torna seus personagens, especialmente Céline, uma caricatura deles mesmos.

    Jesse, afinal, perdeu mesmo seu avião. Ele e Céline vivem juntos em Paris com duas filhas gêmeas, nesse verão, foram convidados por um renomado escritor a passar algumas semanas em sua casa na Grécia e o filme acompanha a última noite deles ali. A primeira cena mostra Jesse mandando Hank, seu filho do primeiro casamento, de volta para os Estados Unidos e funciona quase como um curta dentro do filme, estabelecendo os temas que serão explorados: incomunicabilidade e a dificuldade do amor.

    Depois dessa cena, Jesse entra no carro e ele e Céline dão início ao diálogo que perpassa o filme todo. Diferente dos anteriores, esse apresenta mais personagens, que enriquecem a discussão a respeito do que é o amor e as diferenças entre homens e mulheres que o diretor estabelece. No entanto, em alguns momentos tanto os personagens extras (especialmente Stefanos, o grego que só pensa em sexo) quanto a discussão sobre gêneros esbarra em clichês e obviedades quase machistas.

    Também tem uma ponta de machismo na personagem feminina: Céline sempre foi a jovem enroscada entre seu feminismo e sua vontade de ser amada, mas agora ela assume o papel da mulher histérica, que quase quer ser uma vítima da sociedade machista opressora. O discurso de Jesse ameniza o que poderia ser muito incômodo e suas queixas não deixam de ter dimensão real, mas o filme vai perto demais de um estereótipo feminino negativo para que isso passe em branco.

    Apesar desses momentos, o que mais chama a atenção em Antes da Meia-Noite é sua realidade: as queixas, a dor e a briga entre Jesse e Céline são profundamente verdadeiras, um olhar agudo sobre o que é um relacionamento e todo o trabalho e sofrimento que acompanham viver com quem parece ser sua alma gêmea. A sequência em que os dois discutem em um quarto de hotel é cruel, sufocante e ao mesmo tempo terna, o mais perto que o cinema chegou do casamento verdadeiro desde que Bergman filmou Cenas de Um Casamento.

    Mas o filme não é real apenas na dor, a conversa no almoço flue tão naturalmente que é quase como se o espectador estivesse sentado ali com aquelas pessoas. Assim como o carinho e a intimidade entre Jesse e Céline (e a única cena de sexo) é tudo tão fluído, tão natural que a primeira uma hora e meia de filme é absolutamente deliciosa.

    Antes da Meia-Noite é o mais melancólico e dolorido dos três filmes, mas é ao mesmo tempo o mais otimista, ao reafirmar a possibilidade concreta do amor apesar das dificuldades. É um exemplo de bons diálogos e atuações precisas, um filme minimalista, mas cheio de nuances quase como o relacionamento que procura retratar.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Resenha | Assassin’s Creed: Revelações – Oliver Bowden

    Resenha | Assassin’s Creed: Revelações – Oliver Bowden

    Assassin's Creed - Revelações

    Confesso que tinha grandes expectativas quanto a esse livro. Afinal, antes de lê-lo eu já havia terminado o seu respectivo jogo e estava a procura de detalhes e contextos escondidos sobre a história que nele é narrada. No entanto, ao invés de encontrar um aprofundamento daquilo que já conhecia, me deparei com um livro repleto de ação e aventura, mas pouca parcela daquilo que realmente procurava. Não encontramos algo que vai além daquilo que foi jogado, mas apenas uma parcela do mesmo.

    Veja bem, não sou contra livros frenéticos que contam com os atos heroicos e as cenas de ação como sua base de funcionamento, mas não era isso que esperava nesse capítulo final da grande saga de Ezio Auditore da Firenze. Na maior parte do tempo, somos agraciados com batalhas e o esforço do personagem de ir contra aquela velha e interminável luta contra os templários, e muito pouco sobre o que essa luta representa.

    Não nego que a obra tem seu valor histórico ao contextualizar acontecimentos “reais” àquilo que o protagonista passa, e confesso que a jornada realizada por ele não poderia ser realizada com menos descrições sobre as batalhas realizadas, mas ainda assim o autor peca ao utilizar-se desse recurso tantas vezes que faz com que a leitura torne-se, em um nível desagradável, tediosa. Afinal, quando se trata de cenas frenéticas de luta, compensa muito mais estar jogando e interagindo do que apenas lendo isso várias e várias vezes, correto?

    Não se trata de ritmo – afinal, isso é uma das coisas que não falta -, mas sim de equilibrar os acontecimentos com aquilo que o protagonista está pensando e sentindo. Ezio dificilmente é meu personagem favorito da série de Assassin’s Creed, mas não nego sua capacidade e seu valor para a história. No entanto, creio que pouco de sua natureza se manteve desde o segundo jogo – ou desde o livro Renascença, que é o equivalente -, e apesar de existir o argumento de que ele se desenvolveu a partir daquilo que viveu, creio que Ezio não apresenta nem metade das cicatrizes psicológicas que deveria carregar seja no Revelações ou então no seu predecessor – Irmandade.

    Há algo que eu sempre procuro manter em mente quando estou acompanhando uma história, e é “A Jornada do Herói”. Muitas vezes essa jornada descrita é a fórmula para o sucesso, e não se trata de fazer uma história com o mesmo elemento de todas as outras, mas sim seguir uma linha lógica para montar sua trama e, muitas vezes, os autores o fazem sem nem perceber, porque é assim que se deve ser criado um herói. Mas, veja bem apesar de ser uma fórmula para o sucesso, há atualmente vários autores que não utilizam desse “artifício” e ainda assim estão ganhando espaço na literatura. Porém, é preciso ter uma maestria muito grande para não utilizá-la ou até mesmo para utilizá-la de maneira correta.

    Dito isso, vamos ao que mais incomodou nesse livro: as inconsistências do protagonista. Sim, eu tenho consciência de que muitos dos que acompanham a série são incríveis fãs de Ezio e a coisa toda, mas antes que possam me ver como um hipster sem querer seguir a onda mainstream que é venerar Ezio como um assassino, devo dizer que a inconsistência não é do personagem como um todo, mas sim apenas nesse último livro de suas aventuras.

    Quando conhecemos Ezio, em Renascença (ou no segundo jogo), adquirimos uma simpatia imediata por sua natureza jovial que, de certa forma, é mantida mesmo após sua vida ser amaldiçoada pela morte de parte de sua família, e nele somos agraciados com a Jornada do Herói da maneira que já foi muitas outras vezes apresentada, mas ainda assim tornou-se única com os aspectos de Ezio e o universo de Assassin’s Creed. Há traços disso em Irmandade, também, mas em Revelações somos entregues à um protagonista amargurado e sentido pelo efeito que o tempo causou em seu corpo e mente. Está certo, tem sempre a possibilidade de que, com a idade, suas ideias amadureceram e ele está cada vez mais cansado, mas sou fiel a ideia de que todo personagem tem sua natureza imutável e que vai prevalecer independente do contexto em que o personagem se aplica. Podendo ser acentuada ou abafada, mas nunca completamente esquecida (ou aniquilada).

    Porém, se o problema fosse apenas a questão do psicológico que a idade trouxe, tudo ficaria um pouco mais aceitável. No entanto, o corpo envelhece junto com a mente, não é mesmo? O autor também compreende isso, e coloca muitas vezes que Ezio não se move como outrora ou então não carrega os mesmos reflexos de antigamente. Mas, ainda assim, isso não o impede de lutar contra um exército de templários e derrubar vários deles antes de ser derrotado e tampouco de ser jogado de uma carroça barranco abaixo em um momento, contendo na própria narrativa que sentia o corpo todo doer intensamente, enquanto em um outro logo em seguida ele está correndo, pulando, se escondendo e acertando a bala no joelho de alguém em movimento.

    Sim, ele treina desde sempre para ser aquilo que é, mas não acho que seja adequado colocar que as coisas não são como antigamente e ainda assim o protagonista fazer coisas que pareçam inumanas até mesmo para o mais fantasioso dos homens. Afinal, ele é apenas um humano como todos os outros e, aceite essa ideia, ele está velho, mas ainda assim tem a disposição que muitos atletas nunca conseguiriam alcançar. Infelizmente, não se pode ter tudo, mas ainda assim Ezio o tem, e é por isso que achei o personagem desse livro inconsistente de várias formas.

    A narrativa utilizada é incrivelmente simples e rápida, sem se perder muito em detalhes desnecessárias, mas ainda assim sem parecer seca e incômoda. Apesar de seu ritmo de ação desde o começo, a trama ganha profundidade e um ávido terreno quando chegamos às etapas finais do livro, que é quando somos levados para os episódios finais de Altaïr, o responsável por fazer os assassinos o que são “atualmente”. E é basicamente quando entendemos o significado do título e sobre quais revelações o autor está querendo mencionar com isso.

    Apesar dos pesares, os momentos finais da leitura dão uma sensação de saudade e perda para quem acompanhou a história de Ezio desde o começo. Nesses momentos finais, o livro traz mais do que é apresentado no jogo, apresentando um fim real àquele protagonista que estávamos acostumados a ver em ação. É, em vários aspectos, uma boa despedida para Ezio, mas não sei se chega a ser a ideal para alguém tão icônico.

    Em resumo, devo dizer que, como livro, Assassin’s Creed: Revelações é um ótimo jogo. Penso que talvez a leitura tivesse sido muito mais agradável caso as medidas quanto aos acontecimentos fossem um pouco melhor dosadas entre ação/sentimento, para que não parecesse ter muito de um e quase nada do outro. Ainda assim, vale a pena conferir pelos pequenos detalhes que não são mostrados ou apresentados no jogo e aprender um pouco mais sobre Ezio e os assassinos de antigamente.

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    Texto de autoria de Thiago Suniga.

  • Resenha | A Fúria dos Reis – George R.R. Martin

    Resenha | A Fúria dos Reis – George R.R. Martin

    Capa - A Fúria dos Reis

    Creio que se trata de uma tarefa muito difícil – e algo que não pretendo fazer – separar um livro inteiramente de uma série para resenhá-lo. Afinal, acho mais consistente julgar todos os capítulos de uma vez do que os pedaços esparsos e, dessa forma, projetar minhas expectativas sobre aquilo que aconteceu e o que vai acontecer. No entanto, diferente da próxima resenha que irei postar aqui (que é de A Tormenta de Espadas), tentarei ao máximo analisar a trama e os personagens e o que faz As Crônicas de Gelo e Fogo uma leitura indispensável para todos aqueles que gostam de uma literatura fantástica consistente.

    Quando comecei a ler o segundo livro, a segunda temporada já havia terminado e eu estava no aguardo da terceira, portanto não fui tão surpreendido quanto poderia por aquilo que acontece, mas preciso afirmar que alguns detalhes fizeram com que eu me apegasse ainda mais aos personagens e à riqueza da história. Mas, antes de começar a falar sobre isso, quero respostas honestas para as seguintes perguntas: quem não acha, nesse livro a Sansa uma menininha sonsa que só sabe ser cortês? Quem não a detesta pela sua burrice ao denunciar os planos de Ned para a rainha? Quem, pelos céus, não curte os pontos de vistas de Tyrion desde o primeiro livro? Quem aí não quer ver mais (muito mais) sobre os sonhos verdes, o corvo de três olhos e os sonhos de lobo de Bran? Ou então, para finalizar, quem aí não acha que Jon Snow é um dos personagens com maior potencial da série?

    E olha que nem vou comentar sobre a torcida para que Arya mate todos aqueles que cita o nome em uma prece antes de dormir, porque prefiro acreditar em um mundo ideal em que todo mundo a imagina no futuro como decepando cabeças e dominando mundos. Se algum de vocês não sentiu nenhuma dessas coisas, então acho que As Crônicas de Gelo e Fogo realmente não são para você. No entanto, se você concorda com pelo menos uma dessas perguntas, então acredito que também irá concordar com os pontos que colocarei a seguir.

    É inegável, independente do que qualquer pessoa diga, que As Crônicas de Gelo e Fogo estão prontas para serem adaptadas para a 7ª arte, o que faz com que a leitura seja rápida, fluida e etc, etc, etc. No entanto, não se trata apenas disso. Todos os personagens tem seu background e seus feitos de outrora e, por mais que isso seja dito apenas por cima na maioria das vezes, pelo menos George se dá o trabalho de pelo menos mencionar algo que pode ter influenciado a situação atual dos personagens e o valor que ele tem para a trama.

    Sim, concordo, são mais personagens principais do que eu gostaria de conseguir acompanhar, mas eles não estão deliberadamente colocados para dar andamento a história. Pode parecer isso, mas acredito que existem vários propósitos por trás deles e de seus contextos, por mais que pareça que o universo fantástico criado seja realmente o foco. Afinal, todos eles são únicos, consistentes e com traços fortes que os definem e, assim, permitem que o leitor se identifique com eles. Sem contar que o autor lida muito bem com os conflitos morais e as influências não apenas internas dos personagens como também daquilo que outros podem obrigá-los a fazer, independente de seus valores (afinal, quem aí não achava que Ned ia jogar na cara de todo mundo que Joffrey era bastardo antes de ser decapitado?). É preciso de maestria para conseguir fazer personagens tão divergentes e, em alguns casos, coesivamente similares, por mais que nunca tenham convivido. Esse fator “humano” colocado pode parecer desanimador em um universo fantástico, mas eu realmente gosto muito desse aspecto colocado.

    Agora, quanto a trama que rege esse segundo livro, vou ser sincero e dizer que não sei por onde começar. Dany e seus dragões com sua “aventura” em Qarth? Ou então Tyrion como mão do rei e tentando salvar Porto Real? Ou quem sabe Jon Snow e sua empreitada com Qhorin Meia-mão? Arya? Mencioná-las individualmente ocuparia muito tempo e, honestamente, não ficaria tão bom quanto eu gostaria para expressar aquilo que eu acho. Portanto, serei sucinto e imagino que terá o mesmo efeito do que florear tudo individualmente (infinitamente).

    Creio que nesse livro, acima de tudo, nos mostra o quanto o universo criado está crescendo e tem potencial para crescer. Por mais que no primeiro livro eu tenha sido frustrado ao desejar uma magia e misticismo que não houve, agora eu vejo que minhas expectativas não deverão permanecer frustradas por muito tempo. A feiticeira vermelha, os Outros, os Imortais e até mesmo os dragões da não-queimada crescendo e se desenvolvendo são, se não sinais evidentes de quanta magia ainda está por vir, o inicio da reviravolta do que está por vir. Haverá magia, sim, e haverá morte e destruição, isso fica claro. Porém, ao invés de temer, esse livro nos prepara para o fantástico que está por vir, muito mais do que apenas contar uma história.

    (Se bem que, pensando bem, não existe um livro que nos prepararia para todos aqueles casamentos do livro 3).

    Dito isso, vejo o segundo livro como uma preparação, uma ponte que vai conectar o primeiro livro com os seguintes, nos preparando o melhor possível para os plot twists que irão surgir. O primeiro livro, a Guerra dos Tronos, me pareceu mais como uma introdução, enquanto o “A Fúria dos Reis”, é o verdadeiro início que nos levará a diante. Agora, como eu disse lá em cima, se você não foi inspirado de forma alguma pelos personagens ou então pela complexidade e andamento da trama, então o melhor que você tem a fazer é largar esse livro e apenas assistir o seriado (porque, mesmo sem gostar dos livros, é muito provável que o seriado te empolgue). Porém, como já disse antes: se você acredita nos personagens e na história, continue lendo. Afinal, essa série é uma literatura fantástica diferente das outras que já foram apresentadas. Não melhor e não pior, apenas diferente.

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    Texto de autoria de Thiago Suniga.