Estou em um momento bem atarefado, o que me impede e me desanima de engatar em uma série longa, em que a sequência da história seja importante e por isso eu tenha que assistir 20 episódios por temporada. Mas um dia vi esse cartaz meio minimalista e meio capa de quadrinhos da série Banshee e fiquei curioso.
Tenho assistido a série desde então. A premissa da série, que estreou nos EUA pelo canal Cinemax (do grupo HBO) em janeiro, é bem clichê: um ladrão recém liberto que se instala em Banshee, uma pequena cidade do interior da Pensilvânia.
Não se sabe se ele opta em ir para Banshee atrás de seu amor do passado (que também era ladra e agora se passa por mãe de família), em busca de um recomeço de sua vida fora da lei ou se para fugir de seu antigo e perigoso patrão mafioso.
Após diversos percalços, o ladrão, que antes se chamava Paul Daniels, assume a identidade de um xerife que iria trabalhar na cidade de Banshee e passa a se chamar Lucas Hood.
A série é daquelas que tem um eixo central mas em que os episódios podem ser vistos fora de ordem sem que se perca muita coisa. Segue mais o estilo “episódio da semana”. É uma mistura de seriado de roubo (como White Collar) com a violência e as cenas de sexo quase explícito de Spartacus.
Existem alguns elementos interessantes na série, como uma comunidade Amish (aqueles religiosos que andam de carroça e se vestem com roupas do século 19), cassinos de reservas indígenas e uma infinidade de bandidos, quase sempre ligados ao mafioso local, Kai Proctor.
É interessante ver como Lucas Hood fica na dualidade de uma noite estar roubando um museu em Nova York e pela manhã incorporar o papel de xerife que não é nada ortodoxo no trato com os bandidos locais.
O ator que interpreta Lucas Hood (Anthony Starr) é bem canastrão, daquele tipo que rindo, chorando, correndo, apanhando, dando tiro e demais situações fica com a mesma cara, mas nada que atrapalhe a série, que logo se vê, é despretensiosa e bem interessante.
E ao final dos créditos de cada episódio sempre há uma cena a mais.
A série foi criada por Jonathan Tropper e tem a produção de Alan Ball (de True Blood) e também tem uma HQ disponível na internet que conta o preludio da história.
Então é isso: quer ver uma série despretensiosa com violência, sexo e uma história interessante? Pode ser que Banshee te agrade.
No é provavelmente o primeiro filme chileno a chamar atenção internacional desde o ótimo Machuca, de 2004. Vindo de um país sem uma cinematografia forte e realizado por um diretor com apenas uma pequena carreira em mostras e festivais, o filme contava em seu favor apenas a presença de Gael García Bernal, mas acabou se tornando uma das grandes surpresas e revelações de 2012.
O filme de Pablo Larraín abriu a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde foi escolhido melhor filme pelo público (que aplaudiu de pé em diversas sessões), ganhou prêmios especiais nos festivais de Cannes, Hamburgo e Oslo, foi eleito melhor filme em Londres e Tóquio e afinal chegou como o único indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro que poderia tirar o prêmio de Amor.
No começa anunciando que em 1988, por conta da pressão internacional, o então presidente e ditador Pinochet convocou um plebiscito para decidir sobre a continuidade de seu governo. Haveria um período de propaganda: quinze minutos na televisão para cada um dos lados, a primeira vez que a oposição teria voz em um veículo de comunicação desde o início da ditadura. O filme se centra na preparação da campanha da oposição, que dizia “não” ao governo de Pinochet e em René Saavedra, publicitário responsável por convencer a população chilena a também dizer não.
A primeira coisa que chama atenção em No é a forma como o filme se relaciona com seu tema: a ditadura de Pinochet é um dos pontos mais escuros da história da América Latina, mas em momento nenhum se assume um tom de lamento, rancor ou amargura. No é uma comédia e a escolha de tom se reflete na campanha sendo montada: é preciso sim assumir e reverenciar a história, mas histórias melhores são contadas quando se abandona a necessidade de lamentar as atrocidades já cometidas.
Além do tom inusitado, o filme é bem construído: bons diálogos, personagens carismáticos e uma atuação íntima e agradável de Gael García Bernal tornam a obra leve, engraçada, mas sempre muito inteligente. A fotografia lavada, com ares de polaroid ajuda a construir o tom de lembrança, de resgate de uma história que faz parte da infância de boa parte dos espectadores. Existem momentos tensos, principalmente quando o filme acompanha os efeitos que o envolvimento de Saavedra no movimento de oposição têm na vida do publicitário e, para quem desconhece a história do Chile, a tensão é angustiante, ainda assim a impressão final é de ironia e irreverência.
No é um filme tão fluído, tão bem amarrado que se torna difícil apontar o que realmente faz dele um grande filme. Provavelmente a irreverência com que trata a seu tema e a si mesmo, e a despretensão com que foi feito. É um filme pequeno sobre um tema enorme e que acerta precisamente por isso. Atento às suas limitações, trabalha com e faz graça delas e isso se reflete na própria narrativa que é sobre uma campanha política para derrubar uma ditadura, mas poderia muito bem ser sobre fazer cinema em um país latino americano: sem recursos, comprando uma briga já dada como perdida.
Larraín construiu um filme memorável, ainda que singelo, e deixou uma lição que o cinema brasileiro poderia aproveitar: é possível “desrespeitar” a história do país, mesmo os pontos mais obscuros dela e assim ser universal sendo nacional. E é possível chegar longe com um filme barato, mas bem feito.
Não é de hoje que a política do planeta, em particular a das grandes democracias, precisa de críticas de humor afiadas e precisas para demonstrar seus vícios, fraturas e incongruências. Aí que está o erro de Os Candidatos, pois não é um filme de humor, não é afiado (às vezes beira a grosseria) e passa longe de qualquer tipo de conscientização. Fui ver esse filme já sabendo mais ou menos o que esperar, e infelizmente minhas expectativas foram atendidas.
Will Ferrell interpreta o congressista Cam Brady, que está concorrendo sozinho a mais uma reeleição em seu condado e é apoiado e financiado por lobistas inescrupulosos com planos cada vez mais ardilosos para aumentarem seus lucros às custas da democracia. Zach Galifianakis interpreta Marty Huggins, o filho gordinho, desajeitado, com trejeitos femininos e que usa roupas justas (lembram-se de Se Beber não Case 1 e 2 e Um Parto de Viagem? Então…) de um milionário local que decide bancar sua campanha contra Brady, já que Marty é de fácil manipulação.
O filme ainda tenta dar um ar de seriedade, colocando como trama a influência de lobistas em cima do processo eleitoral e como eles escolhem os políticos para depois terem projetos que os beneficiem aprovados, coisa que acontece no mundo todo e que, nos EUA, é algo regulamentado. O plot exagerado (os lobistas querem trazer o regime de trabalho desregulamentado da China para o condado, que seria independente das leis americanas) não ajuda, transformando os vilões em algo cartunesco, sem profundidade, que lembra mais Pica-Pau do que uma crítica mais séria. Dá muito bem para se fazer comédia com profundidade e crítica política. Qualquer pessoa que já tenha visto os dois filmes da excelente dupla The Yes Men sabe disso.
A partir de estabelecidas as personagens e suas motivações, o filme se repete em um tipo de humor muito comum nos EUA atualmente: o de situações que causam riso no espectador pela vergonha experimentada pelo personagem. Não há absolutamente nada de novo na proposta de humor do filme, que repete o formato das piadas durante todo o longa, em que apenas algumas cenas (e boa parte delas estão no trailer, como a cena em que Brady, bêbado, tenta escapar de um policial durante uma abordagem) conseguem tirar mais do que um sorriso envergonhado do espectador. A escalada da violência física, a perda da ingenuidade de Marty, as constantes mudanças de pensamento e comportamento dos personagens no final, tudo funciona para tornar a narrativa bastante confusa. Apesar de o ritmo se manter constante, a atenção do espectador a cada ato é sacrificada.
Não sei o que se passa com Ferrell, mas tem escolhido produções cada vez piores para fazer e daqui a pouco estará perto de Nick Cage e Liam Neeson no quesito “perda de credibilidade”.
Resumindo: Os Candidatos é uma tentativa fracassada de dar conteúdo a um filme de comédia, mas esqueceram de que um filme de comédia, em primeiro lugar, precisa ter graça, e falha miseravelmente nisso.
A trama se passa em 1950. Um veterano da Marinha, Freddie Quell (Joaquin Phoenix), volta da guerra instável e sem certeza de seu futuro. Como tantos outros, tem dificuldade de se situar na sociedade após o retorno, não só pelas sequelas psicológicas da guerra, mas também por ser um alcoólatra. Depois de abandonar vários empregos, principalmente por causa de seu temperamento explosivo, vagando pela cidade, entra no barco de Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), que o acolhe. Dodd é o criador de uma espécie de seita ou religião – “A Causa” – que prega a existência de vidas passadas, usa a hipnose como forma de cura e métodos psicológicos pouco usuais como tratamento de problemas diversos. Quell vê-se arrebatado pela Causa e por seu carismático líder. Ele enxerga em Dodd a figura paterna que não teve. E Dodd enxerga em Quell não apenas o seguidor perfeito, como também a cobaia perfeita para testar uma nova metodologia de “tratamento”.
Americanos gostam de fazer – e assistir a – filmes que tratam das guerras em que seus soldados lutaram, seus feitos, sua volta ao lar, sempre embebidos de um tom ufanista que costuma irritar aos que não compram essa visão idealizada do “sonho americano”. Para contrabalançar, há os que optam por mostrar o avesso desse sonho. E é o que Paul Thomas Anderson faz n’O Mestre, assim como em seus filmes anteriores. Neste, o foco está no dia a dia dos soldados, nas sequelas da guerra, na nem tão triunfante volta ao lar, na dificuldade de reinserção no cotidiano. Em suma, se o espectador for ao cinema em busca apenas de diversão, esta definitivamente não é a melhor opção. Mas se a busca for por um bom roteiro, regado a ótimas músicas, com performances dignas de nota, este filme merece ser visto.
Mesmo com certa polêmica criada ao redor do fato de que Dodd é inspirado em L. Ron Hubbard, o criador da Cientologia, esse detalhe é, na verdade, menos relevante do que pode parecer. Não há dúvidas de que o diretor se vale da história também para mostrar como é criada uma seita, como se desenvolve, como angaria seguidores – e os manipula -, enfim, como ganha dinheiro explorando a crença alheia. Mas não é este o ponto central. O cerne da narrativa é o relacionamento entre Quell e Dodd. Importa mais a dinâmica mestre-discípulo (ou cientista-cobaia), a relação quase simbiótica que se estabelece desde o momento em que se conhecem, do que o questionamento sobre o quão charlatão Dodd é, o quanto ele acredita no que diz e no que faz seus seguidores acreditarem. É interessante reparar que, em várias situações, enfatizando o paralelismo – ou o contraste – entre eles, são mostrados lado a lado, como na excepcional cena da cadeia. Freddie dá vazão a toda sua raiva numa cela, enquanto Dodd pondera calmamente na cela ao lado, até que Freddie duvida da veracidade das ideias da Causa, momento em que Dodd se exalta e dá vazão, de seu lado, a toda a irritação por ter suas ideias postas em dúvida.
A trama é sinuosa, por vezes errática, dando a impressão (errônea) de que a narrativa segue desgovernada em alguns momentos. Ledo engano. A aparente falta de rumo é a representação fiel tanto dos caminhos tortuosos que Freddie seguiu depois da guerra quanto do modo como sua mente funciona. É significativo que, durante o filme, Dodd pergunte várias vezes a Freddie: “Is your behavior erratic?” (“Seu comportamento é errático?”).
Apesar de toda a força dos dois personagens centrais, há outro que a princípio parece não ter tanta importância mas que se revela essencial à ascensão de Dodd como líder da seita: sua esposa, Peggy. É a figura mais dominadora – e quiçá fanática – do filme. Sua presença, por vezes aterrorizante, é quase mais forte que Freddie e Dodd juntos. A cena do toalete, em que ela o masturba enquanto lhe diz como agir, beira o aterrorizante, demonstrando o controle que mantém sobre Dodd e sobre a condução de sua carreira e vida pessoal. E a atuação de Amy Adams é excepcional, corroborando de forma essencial a construção da personagem. Seus olhares recriminadores conseguem deixar até o espectador com sensação de culpa.
Não apenas a performance de Adams é digna de nota. A força dos personagens centrais em cena deve-se em grande parte à atuação de Phoenix e Hoffman. Enquanto este último confirma ser um dos melhores atores da atualidade, alternando entre a autoconfiança do líder e a instabilidade emocional ao ser questionado, Phoenix nos entrega o que talvez seja a melhor atuação de sua carreira. Antes de mais nada, pelo aspecto físico. Extremamente magro, assume uma postura ligeiramente encurvada, retraída (exceto ao visitar a casa da “mulher de seus sonhos”), a todo momento em busca de apoio – basta reparar nas mãos constantemente apoiadas no quadril. Falando pouco, com a boca meio fechada e os dentes cerrados, dá a impressão – que se confirma ao longo do filme – de estar sempre prestes a explodir e tenta evitar isso sendo o mais contido possível. E a riqueza de detalhes na interpretação, as minúcias nas variações de humor, as nuances na entonação da voz beiram a perfeição.
Adicione-se a tudo isso a fotografia competente e a trilha sonora bastante provocativa e tem-se um filme que vale a pena ser visto. Apesar de, a princípio, parecer que será lembrado apenas como “aquele em que o Joaquin Phoenix está irreconhecível de tão magro”, ou então, “aquele que faz alusão à religião de Tom Cruise, sem nomeá-la”, O Mestre vai muito além dessa primeira impressão.
Paraísos Artificiais é uma reflexão acerca de escolhas, e por consequente, consequências. Marcos Prado, diretor e roteirista, além de produtor dos filmes de José Padilha (Tropa de Elite), trabalha com a ideia de uma juventude desvirtuada e/ou incomum. Sexo. Drogas.
O fato do longa ser conduzido de forma leve, não afeta a intensidade da trama. Esta que, basicamente, entrelaça as histórias de Erika (Nathalia Dill), Lara (Lívia de Bueno), e Nando (Luca Bianchi).
Erika, DJ que luta por um espaço no cenário da música eletrônica, vive uma relação de amor e amizade intensa com Lara. Adeptas das drogas e das polêmicas raves, cruzam com Nando e Patrick (Bernardo Melo Barreto) em uma festa paradisíaca que dura dias a fio, onde em suma preferem viver estados alucinógenos inconsequentes, ou melhor dizendo – Paraísos Artificiais.
Prado, não faz da produção uma crítica social às drogas, e faz uso delas como intensificadoras de emoções, sejam elas boas ou ruins. Há sequências em que é impossível não ceder a viagem psicotrópica acompanhada da marcante trilha sonora de Rodrigo Coelho. Isso tudo, aliadado à direção de fotografia de Lula Carvalho (Tropa de Elite 2), que é inegavelmente magistral em seus planos com ótima iluminação.
Anos após a festa, Nando reencontra Erika em Amsterdã. Já estabelecida como DJ e com um filho, só ela lembra em que circunstâncias os dois realmente se conheceram, e o que resultou daquilo tudo. A despeito disso, acabam se envolvendo novamente.
As atuações são excelentes. É incrível como os atores realmente se entregaram aos personagens – inclusive em cenas eróticas, extremamente presentes no filme, mas que são tratadas sob um ponto de vista sedutor, prazeroso, e envolvente. É essencial citar também a montagem do longa, que mesmo trabalhando com duas linhas do tempo juntas, flui de maneira a não deixar quem assiste perdido. Esse formato de construção é quase como um jogo de perguntas e respostas, onde a dúvida que surge em uma linha é respondida em seguida pela outra.
O debut (ficção) magnífico mostra o que hoje é realidade para muitos jovens. Mostra o quão cíclico esse tipo de pensamento que não tem medo do futuro pode ser. Mostra sim, que Paraísos Artificiais, apesar de intensos, são literalmente – artificiais. Um bom drama definitivamente; que foge de ser um outro entre tantos filmes com a temática droga – é mais sobre, culpa, ódio, amizade, e arrependimentos.
A diretora Kathryn Bigelow parece ter apreciado a temática EUA vs Oriente Médio. Dois anos após faturar 6 estatuetas do Oscar, incluindo Melhor Filme, com Guerra ao Terror, Bigelow retorna com A Hora Mais Escura.
A película que ilustra a caçada ao mentor dos atentados do 11 de Setembro, Osama Bin Laden (ou UBL, como é referenciado em alguns momento do filme), roteirizada por Mark Boal, já estava sendo escrita quando o anúncio da morte de Bin Laden foi feito, em Maio de 2011. Imediatamente Kathryn e Boal começaram a retrabalhar o roteiro para que o longa fosse condizente com os novos fatos.
O resultado deste nos apresenta Maya, interpretada por Jessica Chastain, uma jovem analista da CIA que tem seu primeiro contato em campo interrogando prisioneiros da Al Qaeda no oriente médio – in loco.
Inicialmente intimidada pelas técnicas de interrogatório, Maya possui uma evolução espetacular e brilhantemente interpretada. Anos se passam enquanto a mesma persegue pistas as quais, em boa parte do tempo, só ela acredita que estas devam levar a algum lugar. Jessica Chastain se supera de forma magistral e demonstra a crueza que, catalizada pela obsessão, transforma-se em convicção.
O roteiro de Boal que trabalha com elipses temporais constantemente faz uso de capítulos para prosseguir com a narrativa. Os capítulos bem explicitados não levam o espectador a perda da noção de continuidade. Ademais, o roteiro evolui muito bem quase sempre com, pelo menos, uma tensão martelando sua mente. A segurança dos envolvidos nunca é certa, e o transpasse dessa sensação é fortalecido por ótimas atuações do elenco. Destaque para Jason Clarke, Kyle Chandler e Jennifer Ehle.
A direção de fotografia de Greig Fraser (Deixe-me Entrar) é eficiente e dinâmica, trabalhando com cenários diversos. Há, de fato, uma identidade visual bem trabalhada. Desplat (Árvore da Vida) toma as rédeas da trilha sonora que, ainda que extremamente mais notável quando escutada à parte, cumpre sua função narrativa.
A Hora Mais Escura culmina em uma captura curiosa e bem conduzida. A cineasta coordena toda esta apreensão de forma precisa e sensata, sem jamais perder a linha. A Hora Mais Escura explora, ainda que uma versão duvidosa, o trabalho descomunal e personificado de uma nação para capturar o maior de seus inimigos. Bigelow, por mim você volta a esta temática o quanto quiser.
Animação baseada num conto de fadas escrito por Hans Christian Andersen, dinamarquês autor de estórias clássicas: O patinho feio, A menina dos fósforos, O soldadinho de chumbo e A roupa nova do Imperador. Apesar de não tão conhecido quanto os demais, ao menos aqui no Brasil, “A rainha da neve” já ganhou várias adaptações cinematográficas. A propósito, a Disney pretende lançar sua versão, chamada Frozen, em novembro de 2013.
Como em tantas outras adaptações, apenas o “esqueleto” da estória foi mantido, assim como os personagens centrais – com exceção de Omp, o troll, que no conto original é o próprio demônio. Mas não seguir o conto à risca não é um problema, desde que o filme se sustente sozinho. No caso deste, os roteiristas deram um banho de modernidade em toda a estória, transformando um conto de sete atos, repletos de discussões éticas e morais, num quase thriller de fantasia. Para desfrutar, basta esquecer a estória original, encarar o roteiro como uma nova ideia e embarcar na aventura.
O roteiro tem algumas falhas mas nada que comprometa a compreensão da estória. Sobre os personagens há pouco a dizer, pois são os esterótipos básicos de contos de fadas: o casal de órfãos – a menina valente e o menino sonhador; a rainha má – com direito a um espelho conselheiro; o ajudante da vilã – sempre um pouco atrapalhado e que acaba se revelando como sendo “do bem”; as pessoas diversas que Gerda conhece durante sua jornada – a dona da estufa, o rei e seus filhos, o grupo de piratas, a feiticeira boa; e, certamente, não poderia faltar um animalzinho – Luta, um furão – para garantir o nível de fofura necessário.
É nitidamente um filme para crianças. Os adultos acostumados ao estilo Pixar de roteiros de animação certamente sentirão falta daquelas sacadas “for adults only”. O tom é menos de comédia e mais de fábula. Mas isso não deixa o filme menos interessante de se assistir. A qualidade da animação é muito boa, levando em consideração que não se trata de um grande estúdio. A sequência de abertura captura a atenção do espectador de forma bastante eficiente. As cenas de ação, exceto pelo exagero no uso de slow motion, são convincentes e bem empolgantes. Pode perfeitamente ser assistido em 2D, pois o 3D pouco ou quase nada acrescenta à experiência de assistir ao filme.
É um filme mediano, a maioria de seus aspectos está na média, alguns um pouco abaixo. Não há nada que se destaque do todo, nada que faça o espectador dizer “Ah, a estória é comum, mas tal coisa é sensacional!”. Enfim, “não é assim uma Brastemp” mas cumpre bem sua função de passatempo, certamente agradando crianças e pré-adolescentes.
Franquia de sucesso mais do que consolidado nos games, Assassin’s Creed já marca presença em outras mídias. Além de animações, quadrinhos e um filme em pré-produção, a série ganhou também adaptações literárias bastante fiéis de seus cinco jogos principais. A Cruzada Secreta segue em sua maior parte a trama do primeiro jogo e conta a história de Altaïr Ibn-La’Ahad, o lendário Mestre Assassino que viveu na época da Terceira Cruzada.
No início vemos Altaïr fracassar em uma missão, graças à sua enorme e arrogante autoconfiança. Desonrado perante sua Ordem, ele parte em uma jornada de expiação e redenção. Seguindo as ordens de seu mestre Al Mualim, ele deverá eliminar nove alvos, pessoas em posição de poder naquele cenário conturbado, que estão trazendo mais dor e sofrimento para o povo – na visão do Credo dos Assassinos.
Antes de qualquer coisa, preciso dizer que nunca joguei nenhum game da série: meu primeiro contato pra valer com Assassin’s Creed foi com este livro. Encarado simplesmente como um romance de ficção histórica, A Cruzada Secreta apresenta um enredo muito interessante. Ao colocar o Credo agindo por interesses próprios em meio à disputa entre cruzados e sarracenos, segue-se a sempre instigante fórmula de combinar personagens fictícios com reais. Por exemplo, Salah Al’din (ou Saladino) e Ricardo Coração de Leão, que inclusive têm um diálogo com o protagonista. O título se justifica tanto pela jornada pessoal de Altaïr quanto pelo conflito entre Assassinos e Templários, que se desenrola “por baixo dos panos” da História oficial.
A escrita de Oliver Bowden (pseudônimo de Anton Gill) pode ser definida como descritiva, porém não detalhista. Os ambientes, que incluem cidades como Jerusalém, Damasco e Acre, são situados da maneira mais básica possível. O foco é mesmo nos movimentos de invasão e combate de Altaïr, descritos com perfeição e facilmente visualizáveis. Ainda que fique bem óbvio que estamos lendo “fases” de um jogo, o que gera um certo cansaço pelo fator repetição, a leitura é bem leve e ágil. Os personagens e suas motivações são trabalhados de forma muito direta, sem qualquer sutileza, mas isso não chega a ser um problema.
Por outro lado, a imersão na cativante aventura de Altaïr é prejudicada pela estrutura narrativa, entrecortada entre três momentos. Aqui cabe um parêntese pra explicar que A Cruzada Secreta trata do primeiro jogo (e complementa-se bebendo também de Bloodlines e Revelations) mas, na série de livros, foi o terceiro a ser lançado, na sequência de Renascença e Irmandade. Ambos foram protagonizados pelo assassino Ezio Auditore da Firenze, que aqui aparece no prólogo e epilogo lendo um diário. Que, por sua vez, foi escrito por Niccolò Polo (pai de Marco Polo), cujo presente também é mostrado no livro. Ele conheceu um muito idoso Altaïr, ouviu suas histórias e está passando-as para frente.
Esse confuso Inception narrativo pode agradar aos familiarizados com o universo de Assassin’s Creed, por mostrar que tudo está interligado e atravessa os séculos. Mas, para os marinheiros de primeira viagem, serviu apenas pra quebrar o ritmo e tirar parte do impacto da história de Altaïr. Mesmo com os pontos perdidos, fica a recomendação de uma leitura rápida e divertida. E a curiosidade em conferir os demais livros da série.
O filme Pusher, de 1996, é o primeiro da cultuada e violenta trilogia que alavancou a carreira do então jovem diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn. Obviamente a trilogia só tomou uma maior notoriedade devido à boa receptividade que seus últimos filmes tiveram – vide Bronson (2008) e Drive (2011) –, mas, segundo as palavras do próprio Refn, Pusher foi o fator determinante para a sua carreira.
Já na sua estreia, Refn deixa impressa sua forma particular de contar histórias. Ele nos convida a passar uma semana na vida de Frank, um traficante que, junto de seu parceiro Tonny, limita-se a pequenas transações e a gastar o lucro obtido com as mesmas da forma mais inútil possível. Até que, na oportunidade de uma grande negociação que, em um primeiro momento, parecia fácil, nada sai como o esperado e a partir daí vemos o desespero de Frank em consertar erro em cima de erros.
Logo após o seu lançamento, o filme virou cult na Europa pela forma com que o diretor expôs o panorama do submundo do tráfico em Copenhagen e pela violência presente em toda a trilogia. Eu disse no início que “ele nos convida”: na verdade ele nos pega pela mão e nos arrasta junto ao protagonista, pois por diversas vezes a câmera apenas segue literalmente atrás de Frank, e a utilização apenas da iluminação ambiente – ou, por vezes, a falta dela – nos faz sentir imersos naquela atmosfera pesada e muitas vezes claustrofóbica. Em algumas cenas ocorre a ausência total de iluminação. Refn deixa aqui também muito claro o seu (bom) gosto pela trilha sonora.
Toda a violência crua, a direção marcante, a exposição do submundo da época ou a procura por referências (como um pôster gigante do filme Mad Max logo no início) pode fazer passar despercebido o fato de que Pusher trata de pessoas, que não só não têm a que se agarrar como também não fazem muita questão de ter algo para se agarrar. Os quatro personagens que julgo principais (Frank, Tonny, Vic e Milo) são o que não queriam ser, vivem uma vida querendo estar em outra, mas não conseguem mudar ou, como nas palavras da própria Vic: “Eu poderia ser o que eu quisesse, só não tenho vontade”.
De fato, quem for ver Pusher tendo como refrência o recente Drive pode achar o filme um pouco difícil pela sua densidade e pela já citada falta de luz. Entretanto, assim que você se deixar ser arrastado atrás da decadente semana de Frank certamente não terá do que se arrepender, pois uma das características de Nicolas Winding Refn é saber deixar uma história interessante, por mais simples que ela seja.
Pi, filme de estréia de Darren Aronofsky, ganhou Sundance em 1998, confirmando o diretor como um sucesso de crítica logo no início de sua carreira. Filmado com orçamento apertado e uma fotografia preto e branca extremamente granulada, Pi já possuía as principais características do cinema de Aronofsky e anunciava o cineasta que ele iria se tornar.
Pi se foca em Max Cohen, um matemático obcecado em pesquisar padrões nas casas decimais do pi. Aronofsky parece ser ele mesmo obcecado com as obsessões, no entanto ele sempre olha além do vício inicial de seus personagens e no caso de Cohen a obsessão não está no pi, mas no pi como chave para se entender o universo.
Cohen acredita que a matemática é a linguagem da natureza e ele busca desesperadamente fazer sentido dessa linguagem. O grande mérito de Aronofsky na construção de seu personagem e, principalmente, de sua obsessão é dar profundidade a ela ao mesmo tempo que prende o espectador na mesma teia de paranoia de Max.
Max Cohen não quer apenas achar um padrão no pi, ele quer provar para si mesmo que a natureza se constitui em padrões matemáticos, ele quer entender o universo. Enquanto seu antigo professor afirma que ele voa perto demais do sol e busca por algo que não pode ser encontrado, um judeu ortodoxo alimenta sua convicção ao afirmar que a matemática pode também ser a linguagem de Deus. No judaísmo, Deus não deve ser nomeado, embora diversas palavras sejam usadas para se referir a ele, seu verdadeiro nome é oculto, uma vez que Deus não deve estar submetido a conceitos humanos. Ou seja, a chave da criação do universo, o conhecedor de suas regras e padrões não pode ser conhecido pela mente humana, está fora do que cabe a nós.
Mas Max se convence de que sim, entender o universo cabe a ele. Seu sobrenome é o dos descendentes do alto sacerdote judaico que era o único a conhecer o nome verdadeiro de Deus, ele acerta os números da bolsa, ele foi capaz de olhar para o sol. Aronofsky constrói um personagem extraordinário com uma obsessão que vai além do óbvio (o entendimento, não o Pi, assim como a Nina de Cisne Negro não é obcecada com seu papel, mas com a perfeição) e que se consome por isso e constrói um filme que afirma isso a cada momento.
A fotografia é preto e branca e granulada de forma que toda a imagem as vezes parece uma massa cinza. Os planos fechados se tornam amontoados de forma, cheios, claustrofóbicos, como a mente do próprio Max. Além da imagem poluída, a trilha de Clint Mansell é incômoda, ensurdecedora e cheia de barulhos industriais, novamente emulando as dores de cabeça e a vivência do personagem. A montagem de Pi anuncia a de Réquiem para um Sonho: rápida e fragmentada ela torna mecânica certos atos do personagem e explicita à sua escravidão de certos atos enquanto impede o espectador de vê-lo como um ser inteiro.
Dessa forma Pi é um filme que experimenta e desconstrói, como se espera de um filme de estréia, e ao mesmo tempo apresenta os elementos que o diretor aprenderia a dominar com o tempo. É um filme imaturo, mas de uma força criativa imensa e que já anunciava um dos cineastas mais interessantes em atividade.
Michael Haneke é um cineasta com um projeto muito claro: colocar na tela aquilo que o espectador preferia não ver. Violência gratuita, perversão sexual e as origens do nazismo já foram seus temas e em Amor, ganhador da Palma de Ouro em Cannes no ano passado, ele realiza o que parece ser seu filme mais íntimo, ao mesmo tempo em que trata de um dos assuntos mais onipresentes do universo: a morte.
Anne e Georges são um casal idoso que vive em Paris. A sequência inicial do filme nos mostra um casal extremamente próximo, íntimo e independente que vai a concertos ver antigos alunos. Haneke constrói, nos primeiros 15 minutos de seu filme, um breve retrato de um casal em que o marido, aos prováveis 50 anos de casamento, ainda diz como sua mulher é bonita. É breve, mas essencial para que se entenda o que vai ser perdido mais tarde.
Anne sofre um derrame e a cirurgia que se segue a deixa com a perna e o braço esquerdos paralisados. A perda de movimentos parece pequena; no entanto, Anne deixa de ser um ser humano independente, deixa de ser dona de suas vontades e, mais do que isso, traz para o casal a consciência da morte. Algo ali se quebra assim que Anne volta, e Haneke faz questão de demonstrar isso visualmente: o escritório onde o casal passa seus dias é todo decorado em cores quentes, tons de amarelo e laranja; a iluminação usada acentua esses tons e as vestimentas de todos os personagens que passam por ali são sempre em tons de marrom, exceto as de Anne, sempre em cores frias, como se já não pertencesse ao lugar onde a vida se dá.
O derrame de Anne anuncia a morte, e o filme anuncia seu segundo capítulo com a visita de um ex-aluno. Ele chega de preto, de surpresa, e sua visita lembra a personagem de sua idade, de tudo de que ela já não lembra e do início de sua decomposição. Pouco depois ela tem um segundo ataque e começa uma espécie de segundo ato.
Nessa segunda parte o que vemos é um ser humano que definha, morre devagar e dolorosamente em uma tela de cinema. Progressivamente Anne perde a dignidade, a personalidade e passa a ser tratada como uma coisa, um corpo doente e nada mais. Ao mesmo tempo, Haneke discute o próprio filme, ao opor a recusa feroz da filha de Anne e seu marido a aceitar a morte da mãe à conformidade de Georges. Eva, a filha, está no lugar do espectador que preferia não entender aquilo que o personagem, e o cineasta, insistem em dizer que é inevitável.
Amor é um filme claustrofóbico: ele se passa inteiro em um apartamento, os planos são fechados e são feitos muitos closes dos rostos dos personagens. Ao mesmo tempo, esse apartamento é decorado de forma agradável, íntima, e a luz quente e difusa aumenta a sensação de conforto. É um pouco como o longa: duro, contido, cruel, mas cheio de momentos de ternura e graça.
Perto de A Fita Branca, seu trabalho anterior, Amor a princípio parece um filme menor e menos ousado. Mas, conforme ele se desenrola, a honestidade de Haneke mostra que o minimalismo ali fala muito. Amor é essencialmente sobre o que nos faz humanos: a morte, a resistência a ela, o amor como forma de aceitação e, finalmente, os limites desse amor. É profundo e visceral e confirma Haneke como um dos maiores cineastas em atividade.
He’s back.Arnold Schwarzenegger retorna aos cinemas como protagonista, dez anos depois de O Exterminador do Futuro 3. Nesse meio tempo, teve seu mandato como “Governator” da Califórnia e, claro, as participações em Os Mercenários. E ele parece ter assimilado com o colega Sly a ideia de que ainda pode ser fodão, mas a idade avançada vale uma boa tirada de sarro. O Último Desafio não chega a ser uma comédia assumida (como Os Mercenários 2), mas as piadas estão tão presentes quanto a ação – não muito distante dos clássicos de Arnold dos anos 80 e 90, talvez com a diferença de que antes o humor era de certa forma involuntário, e agora é consciente.
A história mostra Ray Owens, veterano xerife de uma pacata cidadezinha de fronteira. Ele já teve sua cota de ação num passado traumático e agora só quer saber de sossego. Pro seu azar, um chefão do narcotráfico em um carro superveloz, após dar um baile no FBI, está em fuga para o México e vem direto na direção de Ray. Adivinha quem é o único que pode deter o bandido? O xerife e sua diminuta equipe.
O Último Desafio tem como maior mérito sua indiscutível honestidade. Quem viu o trailer sabia exatamente o que esperar: um filme do Schwarzenegger. A trama é simplíssima e repleta de situações exageradas (por exemplo, toda a tecnologia e planejamento magistral por parte dos criminosos), os coadjuvantes são rasos, os vilões são caricatos e os tiroteios têm balas infinitas. O filme até poderia ser considerado mediano não fosse o carisma do herói. Impagável a oportunidade de rever a atuação robótica e o sotaque inconfundível de Arnold, suas frases de efeito e sua predileção por armas grandes. O peso da idade, porém, se faz presente a todo momento. Ele não corre ou apresenta grandes feitos físicos, pelo contrário. Cada movimento é lento, e cada pancada, dolorida. Mas tudo executado de forma bem-humorada, como na ótima cena em que o xerife pula pela vidraça da lanchonete, levanta-se com dificuldade e, perguntado “como está”, responde “velho”.
Tudo isso mostra que o filme se apoia completamente em Schwarzenegger. Ele rouba até as cenas cômicas, pois suas piadas soam muito mais naturais, e por isso mais interessantes, do que aquelas de Luis Guzmán e Johnny Knoxville, os alívios cômicos oficiais. Muito pouco a se dizer sobre os outros atores: Forrest Whitaker faz o básico do básico, assim como a lindinha Jamie Alexander. Eduardo Noriega e Peter Stormare são competentes dentro da proposta de canastrice de seus vilões, e Rodrigo Santoro se vira bem no pouco espaço que tem.
O diretor é o sul-coreano Jee-woon Kim, em seu primeiro trabalho em Hollywood. Ao longo de todo o filme ele demonstra experiência e segurança em conduzir cenas de ação empolgantes, mas sem excessos ou firulas visuais, sabendo dosar os momentos frenéticos com os de respiro. E, mais importante, deixando o astro brilhar. Fica a expectativa pelos próximos trabalhos do bom e velho Terminator, e a torcida para que essa onda de saudosismo ”brucutu oitentista” não passe tão cedo. O cinema blockbuster agradece.
Ang Lee é um cineasta de obra variada (O Tigre e o Dragão, Razão e Sensibilidade e Hulk passaram por ele), mas a adaptação de As Aventuras de Pi parecia ter os elementos em que ele funciona melhor: um roteiro com elementos de estranheza e surrealismo e a possibilidade de ser visualmente impressionante.
O filme é uma adaptação do romance de Yann Martel e conta a história de Pi Patel, um garoto indiano que está migrando para o Canadá com sua família quando o navio afunda e ele se vê preso em um bote salva-vidas com um tigre de bengala. Durante a maior parte do tempo, tudo que o espectador vê é Pi, o tigre e o mar, e é um grande mérito de Lee que, embora seja lento, o filme não se torne excessivamente arrastado.
Ang Lee consegue passar com relativa eficiência a angústia e a claustrofobia do personagem, e é essa tensão o que segura em parte a quase uma hora e meia de filme em que nada efetivamente acontece. Além disso, o tigre é construído com eficiência e, no fim, se torna um personagem mais carismático do que o próprio Pi. A montagem e os ângulos de câmera são todos pensados para aumentar a tensão e a sensação de pequenez de Pi frente ao tigre, ao mar e às outras forças da natureza. No entanto, a impressão que se tem é que, para além do medo, existem emoções em Pi que o diretor deixou de lado, ou não conseguiu encontrar uma forma adequada de passá-las do livro para imagens.
A história de Pi é anunciada a seu interlocutor canadense (e, consequentemente, ao espectador) como capaz de fazê-lo acreditar em Deus; porém, toda a jornada espiritual de Pi e tudo o que efetivamente deve ter se passado em sua mente é deixado de lado e o filme se foca apenas na tensão e no medo entre ele e o tigre. Além disso, algumas pontas do roteiro ficam soltas, como a relação entre Pi e a namorada que ele deixa na Índia.
No final, Ang Lee pegou um livro considerado inadaptável e transformou-o em um filme acessível. O filme é de uma riqueza visual considerável e impressiona por não ser extremamente tedioso, apesar de não ter quase nenhuma ação. Mas toda a profundidade que a história anuncia é deixada de lado: Lee não trata das religiões de Pi, de sua solidão no mar e joga uma reflexão sobre o poder das narrativas e sua relação com Deus, mas isso também não é desenvolvido.
As Aventuras de Pi não é de forma alguma um filme ruim: é um filme lindo, bem construído e com um final engenhoso, mas que indica um potencial muito maior que parece ter sido deixado de lado em favor de visual e tensão, atributos mais prováveis de garantir sucesso comercial ao filme.
Dirigido pelo músico Oswaldo Montenegro, Léo e Bia é um filme bem complicado, mesmo com toda sua simplicidade. Se passa em Brasília, no auge da ditadura militar (anos 70), onde um grupo de jovens faz teatro. O Filme se passa praticamente todo em um cenário: o galpão onde os jovens ensaiam. O que parece ser limitado, acaba impressionando, quando esse galpão se transforma em casas, instituições, palcos, etc…
O objetivo do diretor é mostrar as dificuldade e limitações da liberdade de expressão e cultural na Ditadura militar e ele faz isso misturado com um excelente drama.
O enredo principal consiste na história de amor entre Léo e Bia, um casal estranho. Léo é o diretor e o líder do grupo de teatro e Bia, mesmo com problemas familiares, a melhor atriz. O relacionamento deles é bem complicado. Bia tem ciúmes da Marina (Melhor amiga de Léo), que por sua vez, ama o rapaz também.
Todos os personagens tem seu destaque, sua história, suas angústias e tristezas e tudo isso é misturado ali, na nobre arte de atuar. Oswaldo usa da ingenuidade e inteligência da esquerda festiva para criar suas falas. Todos eles ao longo do filme tem ao menos uma frase marcante.
– Aonde houver mulatas, não haverá nazismo – É, mas o Brasil “tá” cheio de mulatas e o nosso governo é fascista pra caralho.
Durante os ensaios, simultaneamente, é contada também a história de Bia, que tem problemas com sua mãe obsessiva. Durante todo o longa são mostrados diálogos entre as duas e aí que entra o ponto mais importante de todos: A excelente atuação.
Como já era de se esperar, a trilha sonora é toda de Oswaldo Montenegro. Apesar de cansativa, gostei dessa escolha. As letras se encaixam perfeitamente na trama e a edição é impecável. Como eu disse, é complicado na simplicidade. Léo e Bia sai do comum, é ousado, crítico e romântico.
A mais recente produção da Dreamworks Animation tem o consagrado estilo do estúdio: uma aventura leve, movimentada e divertida, claramente direcionada ao público infantil, mas com elementos que também agradam aos adultos. A Origem dos Guardiões segue uma premissa similar à do mega sucesso Shrek: depois dos contos de fadas, agora são figuras do folclore que ganham uma “repaginada” para se adequar aos novos tempos. Mas sua mensagem continua sendo a mais clássica possível – e emocionante justamente por isso.
Na trama, quando o perigoso Breu (ou Bicho-Papão) ressurge após séculos para ameaçar as crianças do mundo todo, cabe aos Guardiões se reunirem para enfrentá-lo. Mas o time formado por Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Fada dos Dentes e Sandman pode não ser o suficiente diante da ameaça, pois o enigmático “Homem na Lua” escolhe um 5º guardião: o irresponsável Jack Frost. Ele vaga pelo mundo há trezentos anos, sem memória, objetivos ou mesmo reconhecimento por parte dos humanos. É essa sua busca pessoal, pelo seu “cerne”, que acaba sendo o motor da narrativa.
Baseado na série literária Guardians of Childhood, de William Joyce, o filme é uma agradável surpresa, ao fazer dos Guardiões uma verdadeira equipe de super-heróis. Não falta nem a Jornada do Herói, representada no protagonista Frost. Igualmente bem conceituada e realizada é a roupagem cool que os personagens ganharam. Papai Noel não é mais só um bonachão: careca, tatuado, com duas espadas enormes, ele adquire uma divertida aura badass. O Coelhinho, ou melhor, Coelhão, é quase um ninja: é alto, sério, ágil e atira bumerangues. A Fada dos Dentes é meiga, mas protetora com suas fadinhas. E o Sandman não tem a aparência de Robert Smith, é um simpático gorduchinho (mas que sabe se virar numa briga) que se comunica usando a areia dourada dos sonhos.
Um aspecto interessante é a reciprocidade na relação dos Guardiões com as crianças. Ao mesmo tempo em que eles representam e zelam por sentimentos como esperança, imaginação, alegria, capacidade de sonhar etc., eles dependem da crença dos pequenos para poderem existir e continuar seu trabalho. Isso gera alguns momentos tristes e reflexivos, bem coerentes dentro da narrativa, mas que talvez sejam resolvidos muito facilmente. Mas, como é um filme destinado a crianças, não dá para reclamar muito disso. Outro ponto negativo é que o protagonista fica devendo em matéria de carisma. Ágil, poderoso e com seu visual de personagem de anime, Jack Frost deve agradar crianças e pré-adolescentes, mas é inegavelmente insosso se comparado ao bom e velho Shrek ou ao Kung Fu Panda.
Visualmente, o filme tem a competência habitual da Dreamworks, ainda que não traga nada inovador ou surpreendente. Também competente é a dublagem brasileira, nada devendo ao original (que conta com vozes famosas como Alec Baldwin, Hugh Jackman, Jude Law, entre outros). No fim das contas, A Origem dos Guardiões é uma boa recomendação até para quem não é particularmente fã de animações – caso deste que vos escreve.
A história começa exatamente no final do segundo jogo, quando o Point Man (personagem principal de F.E.A.R.) é capturado. Ele está sendo interrogado quando aparece seu irmão, Paxton Fettel, e o ajuda a fugir. Logo no início, a ação já começa com a fuga dos irmãos, até chegar ao Jin.
Esse enredo, apesar de excessivamente pequeno, prende o player do início ao fim. Até porque a jogabilidade é a maior arma do jogo. A liberdade de movimento dos jogadores, o modo Multiplayer (melhor que a história original) e, principalmente, a dificuldade tornaram o jogo, na minha opinião, o melhor FPS de 2011.
A trilha sonora e o som do jogo são impecáveis também. Mesmo não sendo assustadores, os efeitos sonoros algumas vezes conseguem proporcionar um suspense, assim como a interação das vozes dos inimigos (dá pra ouvir eles te xingando) e os sons de tiros, granadas, gritos. Tudo muito bem feito.
É claro que, mais uma vez, os gráficos não foram explorados e isso desanima um pouco. Efeitos ruins, texturas dos personagens, cenários, nada disso empolga de verdade. A equipe de desenvolvimento mudou em F.E.A.R. 3, mas aparentemente só mudaram a jogabilidade. Comparado aos outros FPS da mesma época, os gráficos são péssimos.
Para quem curte jogo difícil, essa é a escolha perfeita. Mas, como eu disse lá em cima, não esperem o terror dos dois primeiros games.
Gostei muito do jogo e, se ele fosse um pouco maior, talvez fosse o melhor de sua categoria no ano passado, mas deixou a desejar em alguns aspectos que com certeza poderiam ter sido corrigidos. Apesar de tudo, o que me impressiona é que, com tantos FPS bons no mercado, esse foi o único que me chamou a atenção de verdade. Excelente jogo.
Adaptações são um perigo. Nos últimos anos pudemos presenciar vários projetos para cinema que foram trazidos a nós como adaptações de livros e histórias em quadrinhos. Alguns foram grandes acertos e outros fracassos completos. Quando foi anunciado que um filme em live action de Rurouni Kenshin (mais conhecido no Brasil como Samurai X), mangá criado por Nobuhiro Watsuki, estava sendo produzidos e dirigido por Keishi Ohtomo, os sentimentos se dividiram. O meu particularmente esperou pelo pior, porém fui surpreendido.
Rurouni Kenshin é ambientado em um Japão após a vinda da Era Meiji e conta a história de Kenshin Himura, um samurai que vaga pelo Japão ajudando pessoas e, ao mesmo tempo, tentando lidar com os fantasmas de seu passado, em que era um famoso e temido retalhador conhecido como Battousai.
Este filme, especificamente, abarca os dois primeiros arcos do mangá/anime, que seria Kenshin tendo que enfrentar o excêntrico traficante de ópio Kanryuu Takeda e o assassino Jin-E, com algumas modificações. Esse é o primeiro ponto que vale a pena ressaltar do filme: como toda adaptação que se preze, uma série de mudanças na forma como se constrói a narrativa é realizada. A dificuldade de ultrapassar a barreira da adaptação foi vencida perfeitamente pelo roteirista Kiyomi Fujii, o qual produziu um roteiro coerente e crível, mesclando dois arcos que englobam uma quantidade considerável de plots em um único filme e excluindo momentos superficiais da história original. Todos os elementos principais e importantes estão lá.
A escolha dos atores foi outro acerto. Takeru Sato interpretou perfeitamente Kenshin Himura. Desde o lado calmo e sereno de Kenshin, quanto a raiva incontrolável de Battousai (a dualidade do personagem) foram inseridas de maneira muito satisfatória em sua atuação. Munetaka Aoki interpretando Sanosuke Sagara não fez feio também. Seu personagem em diversas cenas rouba a atenção por seu modo de agir, que acaba provocando vários momentos cômicos. O elenco no geral foi muito bem escalado, respeitando fielmente as características físicas dos personagens na história em quadrinhos.
A fotografia e as ambientações foram um diferencial que elevou ainda mais a boa execução do filme. Somos levados a um antigo Japão feudal meticulosamente reconstruído. O tom amarelado nas cenas comuns ajudam a contribuir com a beleza do filme, assim como as cenas em tom azulado e cinza conseguem mesclar bem com a atmosfera de terror e violência nas cenas em que Kenshin incorpora o retalhador que tanto almeja deixar para trás.
O pouco uso de CG e efeitos especiais – estes apenas para inserir sangue e conferir efeitos de agilidade em algumas cenas de luta – corrobora o cuidado com que o filme foi desenvolvido. A trilha sonora espetacular e as cenas de luta muito bem coreografadas e empolgantes ajudam mais ainda ao fazer com que Rurouni Kenshin não seja apenas uma excelente adaptação, mas também um excelente filme de samurai, agradando até mesmo quem ainda não é fã de Kenshin, Kaoru, Sanosuke e todos os demais personagens que fazem essa história ser uma das mais cultuadas por todo o mundo.
Ler que um filme é baseado em fatos reais em sua introdução sempre é um diferencial para o espectador na forma como ele enxerga a história ao longo da projeção. O Impossível, dirigido por Juan Antonio Bayona, vai contar o drama do casal espanhol María Belón e Enríque Alvarez – que no filme são interpretados como um casal inglês – que sobreviveram, junto de seus três filhos pequenos, ao tsunami que devastou a Ásia em 26 de dezembro de 2004.
Filmes que contam histórias de catástrofe geralmente seguem um padrão de quererem explorar as calamidades em si. O diferencial de “O Impossível” é tratar mais proximamente das consequências do tsunami e, principalmente, das emoções passadas pelas vítimas. Isso por si só traz uma carga dramática mais expressiva à narrativa – e em nenhum momento de maneira forçada -, tendo em vista que o espectador vai basicamente acompanhar os protagonistas a superar seus limites físicos e emocionais, buscando pelos seus entes queridos e por salvação em meio ao caos e a destruição deixada pela natureza. Ao longo da trama somos apresentados a dramas de personagens secundários, que ajudam a imergir ainda mais o sentimento deixado pela catástrofe.
Ewan McGregor e Naomi Watts são os grandes destaques do filme, interpretando o casal protagonista. Ambos demonstram uma atuação excelente ao passar a intensidade dos sentimentos vividos pelos personagens no contexto. O Impossível se demonstra um excelente drama e que garante emocionar a maior parte do público.
Dizem que o conto é um dos, senão o mais desafiador, dos gêneros literários, por exigir do autor o talento para desenvolver toda uma estrutura narrativa (com começo, meio e fim) de modo conciso. Se for verdade, que a narrativa curta testa de modo definitivo o repertório especulativo do autor, Matt Wagner provou na minissérie Grendel – Preto, Branco, & Vermelho, esforço colaborativo vencedor do prêmio Eisner de Melhor Antologia, em que artistas de diferentes estirpes aliaram traços distintos a seu sempre afiado texto, ser um escritor de grande calibre.
Abordando sob diferentes óticas o submundo nova-iorquino em que atua o jovem gênio do crime Hunter Rose, o primeiro a carregar o nome Grendel, numa reformulação que remonta às origens oitentistas do personagem, o roteirista, junto ao talentoso time de ilustradores, constrói um vil universo por meio de histórias não interligadas que têm apenas duas coisas em comum: o invariável equilíbrio entre as cores preto, branco e vermelho, e a quase cômica perversidade do protagonista.
Baseado em um dos três antagonistas do poema épico Beowulf, Grendel é o maior dos vilões de mundo sem heróis, onde o sobrenatural e o urbano se cruzam. Às vezes reconhecido por terceiro como o chefe de um império do crime de proporções inimagináveis, outras tratado como uma lenda urbana ao estilo Batman, e mais comumente referido como o diabo em pessoa, o personagem é vilanesco em sua essência – fato que o leitor verifica ao acompanhar lapsos de sua infância, juventude e ascensão criminosa em histórias que vão desde o mais puro suspense com características noir (como A Marca do Diabo e O Advogado do Diabo, vencedora do prêmio Eisner de Melhor História Curta) até o horror psicológico (A Língua do Diabo; A Maldição do Diabo), passando pelo humor negro ortonesco (A Testemunha do Diabo; O Taco do Diabo) e a tragédia (Réquiem do Diabo e A Diva do Diabo).
Retratando um assassino implacável, um manipulador cínico, o texto não apresenta nenhum traço de moralismo nas relações do carismático vilão com seus inimigos, aliados ou mesmo com sua sobrinha, único ser pelo qual nutri algo que se assemelha a afeto – desse modo, Hunter Rose, ou melhor, Grendel se torna querido pelo leitor de modo inusitado, único: através de sua maldade cativante.
Eis que 2012 chegou ao seu fim e pudemos conferir uma série de lançamentos para todos os gostos e estilos. Na minha lista de TOP 10 2012 de hoje, gostaria de compartilhar com vocês quais, em minha opinião — portanto, ignorando a opinião da crítica especializada —, foram os melhores filmes lançados no Brasil no ano em que o prometido apocalipse deveria ter chegado, mas não rolou. Desse modo, como os maias se associaram ao clube do “vocês também estavam errados”, vamos à minha lista:
10. Mercenários 2
Seria injustiça da minha parte não colocar esta obra-prima dos filmes de ação neste top 10. Assim como no primeiro filme, Sylvester Stallone volta com sua equipe de brucutus para simplesmente explodir e atirar em qualquer coisa que se mova (ou não, se for considerar as inúmeras construções que são simplesmente destruídas). E como não gostar de ver Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis e, principalmente, Chuck Norris em ação? Mercenários é uma franquia divertida, que homenageia os clássicos filmes de ação dos anos 80/90 e que mostra que este tipo de filme ainda tem espaço no mercado cinematográfico atual. Mal posso esperar pelo terceiro filme desde já.
9. Shame
O filme dirigido por Steve McQueen nos apresenta um personagem obcecado por sexo (beirando um nível doentio), inserido em um mundo vazio, sem cores e sem sentido. O protagonista, interpretado por Michael Fassbender, domina este drama com uma atuação arrebatadora, enquadrando o ator como um dos mais promissores da atualidade. O fato de o diretor ter explorado tão bem os dramas psicológicos do protagonista e seu estado emocional vazio através de excelentes escolhas de planos de filmagens e capturando o melhor de Fassbender faz com que Shame seja um dos melhores filmes de 2012.
8. As Aventuras de Tintin
Sempre fui fã dos quadrinhos de Hergé e mais ainda da antiga animação. Juntos, ambos fizeram parte da minha infância de uma maneira muito boa. Quando vi o primeiro trailer da adaptação cinematográfica realizada por Steven Spielberg fiquei muito empolgado, e essa empolgação foi atendida de maneira muito satisfatória. Ver Tintin, o capitão Haddock, os inspetores Dupont e Dupond, além do cachorro Milu, foi uma experiência nostálgica e fantástica. Não apenas uma animação muito bem realizada, mas um filme de ação e aventura divertidíssimo.
7. O Hobbit – Uma jornada inesperada
Talvez um dos filmes mais esperados em 2012 e, mesmo sendo contra a decisão de Peter Jackson de fazer uma trilogia para o mesmo, fiquei extremamente satisfeito com a adaptação do meu livro favorito do J.R.R Tolkien. Temos uma atuação fantástica de Martin Freeman como Bilbo Bolseiro, embarcando em uma aventura épica junto de uma companhia de anões que querem tomar seu reino de volta de um temível dragão. A qualidade visual do filme é uma atração à parte, ainda mais ao se considerar a novidade trazida a nós por Jackson: o High Frame Rate (a filmagem a 48 frames por segundo). O HFR é excepcional e se mescla bem com a forma como a direção do filme foi conduzida, mostrando batalhas dinâmicas e muita empolgação.
6. 13 Assassinos
Takashi Miike é um ícone do cinema oriental. Conhecido principalmente por usar de violência gráfica extrema em seus filmes, em 13 Assassinos ele faz um remake de um filme clássico de samurais. Um filme marcado por diálogos ricos, atuações expressivas e uma violação bem feita. Influenciado fortemente por Akira Kurosawa, Takashi Miike consegue fazer um dos filmes de samurai mais significativos dos últimos anos.
5. Vingadores
A Marvel ao longo dos últimos anos foi produzindo filmes de seus heróis com o objetivo final de chegar no projeto Vingadores. Eu, particularmente, não coloquei muita fé no filme, pois acreditava ser impossível lidar com tantos heróis ao mesmo tempo. Minhas expectativas baixas foram colocadas por terra e o que vi foi um filme de super heróis de verdade, descontraído, com um humor bacana e ação frenética. Joss Whedon conseguiu fazer acontecer, dando destaque a todos os heróis de uma forma justa e mostrando que esse sonho era possível.
4. Argo
Se Michael Fassbender é um dos melhores atores, Ben Affleck tem se mostrado um dos melhores diretores atualmente. Affleck atinge um patamar acima em seu terceiro trabalho como diretor nos cinema em Argo. Explorando o conflito entre Irã e EUA no final dos anos 70, Affleck nos apresenta uma direção segura, criando uma tensão meticulosa no espectador e sem incorrer em um patriotismo gratuito, muito comum em filmes desse tipo. Até agora Ben Affleck tem acertado em todos os seus trabalhos como diretor, melhorando cada vez mais a qualidade de seu produto, portanto, o jeito é continuar torcendo para que ele continue com o bom trabalho.
3. Indie Game: The Movie
Por essa ninguém esperava, mas o terceiro lugar desta lista vai para este fantástico documentário que procurou mostrar um pouco de como funciona o universo dos jogos independentes. Focando principalmente em Edmund McMillen, Tommy Refenes (criadores de Super Meat Boy) e Phil Fish (criador de Fez), o documentário explora os diversos aspectos do processo produtivo e criativo de um jogo independente, que se aproxima mais de uma obra autoral, que reflete a personalidade, a história e os sentimentos de seus autores, em comparação ao mercado de jogos mainstream. Qualquer um que saiba o que é se dedicar a trabalhos artísticos (seja eles de qualquer natureza) vai se identificar com os entrevistados. Impossível não se emocionar, torcer e vibrar junto com os desenvolvedores ao saber que seu jogo virou um sucesso (mesmo sabendo que ele já tinha feito sucesso, antes de ver o filme). Com certeza um dos melhores e mais emocionantes documentários que vi em toda minha vida.
2. Drive
Aqui temos mais um ator que se mostra em destaque atualmente: Ryan Gosling. Um ator versátil e que faz um excelente trabalho neste filme, que é uma homenagem ao cinema clássico dos anos 80. Uma obra-prima envolvente e de qualidade é o que posso dizer a respeito deste filme. Interpretando o “driver”, Gosling consegue transmitir muitos sentimentos, mesmo falando apenas duas dúzias de palavras por toda a extensão do filme. Muitas vezes era apenas necessário visualizar seu olhar, iluminado pela iluminação das ruas de Los Angeles enquanto dirigia, para compreendermos um pouco mais dos sentimentos e aflições de um personagem de que sabemos tão pouco. Tanto o forte contraste utilizado nas filmagens e nas ambientações escolhidas quanto a trilha sonora retro-cult (contando principalmente com a participação de Kavinsky e College na contribuição desta ambientação) ajudam ainda mais no envolvimento com a trama e na especial relação com os filmes policiais da década de 80. O roteiro simples é compensado com sua execução muito bem realizada. Uma experiência que, por mais que olhe para o passado, apresenta muito de inovador e jovem. A combinação da direção de Refn com a atuação de Gosling é impecável e merece ser valorizada.
1. Batman: The Dark Knight Rises
Os marvecos que me perdoem, mas o terceiro filme da trilogia dirigida por Christopher Nolan foi algo grandioso e merece a primeira colocação dessa lista. De longe, de todos os filmes dessa lista — dos quais eu gostei bastante, cada um à sua maneira —, Batman TDKR foi o que me deixou mais empolgado. Eu vibrei como um fanboy das antigas assistindo ao filme, que possui uma história profunda, com referências históricas, críticas sociais e que se fecha muito bem nesta conclusão. Nolan mostrou ao mundo um novo modo de enxergar super heróis e foi esse seu maior mérito com sua trilogia do Batman.
Enfim, esse foi o meu top 10. Espero que vocês tenham gostado de minhas escolhas. Deixem nos comentários o que vocês acham a respeito e o que acham que deveria estar aqui. Vamos esperar que 2013 nos agracie com filmes cada vez melhores.
Após atravessarmos as quase infinitas e desnecessárias três horas de A Viagem — o título original é Cloud Atlas. Vai entender esses tradutores brasileiros… —, chegamos ao fim da jornada com um sorriso no rosto. Primeiro pelo alívio de o filme ter terminado. Depois, por realmente termos achado muito engraçado tudo aquilo que os irmãos Wachowski (Matrix) e Tom Tykwer (Corra, Lola, Corra) pretendiam nos apresentar como um estudo de grande profundidade filosófica.
Pelo menos em tese, ‘A Viagem’ seria uma investigação sobre como os atos de cada pessoa influenciam a vida dos outros, seja no passado, presente ou futuro. Isso é mostrado ao público por meio de seis histórias interligadas que se passam entre 1849 a 2114.
O conceito era interessante. Pena que ficaram só na intenção.
A produção passa boa parte do tempo tentando embasar suas teorias em frases vazias, mas pretensamente cheias de sabedoria. Quer um exemplo? Veja: “Não importa se nascemos num tanque ou num útero: somos todos puro-sangue”. Quer outro? Segura aí: “Meu tio era cientista, mas ele acreditava que o amor era real”. E por aí vai…
O filme é registrado numa escala que tem o mesmo tamanho de sua pretensão. Tudo parece grandioso, maior que vida, colossal. Tudo é feito para iludir os olhos do espectador. Não caia nessa: ‘A Viagem’ tem tanto conteúdo quanto uma casa vazia e, ao fim de sua exibição, sentimos na boca aquele gosto amargo de auto-ajuda.
As caracterizações feitas em Tom Hanks, Halle Berry e Hugh Grant deveriam acentuar os aspectos dramáticos dos personagens. Porém, a maquiagem têm efeito contrário e deixa todos com visuais risíveis. Poucas coisas são mais desastrosas para uma obra que se pretende muito séria do que se transformar num espetáculo provocador de risos involuntários. Justamente o que acontece aqui.
Único ponto positivo: o cuidado com a luz na fotografia concebida por Frank Griebe e John Toll.
Importante: até agora, ‘A Viagem’ arrecadou apenas US$ 26 milhões dos US$ 100 milhões que custou. Logo, corre o sério risco de ser o maior desastre financeiro cinematográfico do ano. Uma espécie de John Carter de 2013.
Sabemos o quanto Hollywood costuma ser implacável com pessoas envolvidas em projetos que resultam em tamanho prejuízo. Diante disso, é possível especular que o futuro da dupla que concebeu ‘Matrix’ seja um pouco mais complicado. Na melhor das hipóteses, a escala de produção diminuirá bastante e eles terão que topar orçamentos mais modestos.
A única certeza que temos até o momento é que o filme é a maior piada involuntária dos últimos tempos.