Autor: Vortex Cultural

  • Review | Marvel: Ultimate Alliance 2

    Review | Marvel: Ultimate Alliance 2

    Marvel – Ultimate Alliance 2, jogo lançado pra Xbox 360, Nintendo DS, Wii, PlayStation 2 e 3, da Activision, desenvolvido pela Vicarious Vison. Baseado nas séries  Guerra Civil e Guerra Secreta, a história se trata de uma investigação feita por Nick Fury, que descobre planos envolvendo ataques terroristas do país da Latvéria aos EUA, então, os Vingadores comandados por Fury invadem o país comandado por Dr. Destino, destruindo armas e enfrentando o exército do país e matando Lucia Von Bardas, ministra do país.

    Algum tempo depois, Lucia reaparece um Nova York, revivida por um corpo robótico e inicia uma onda de ataques aos civis. Após esse evento, que matou por volta de 900 pessoas, o governo cria uma lei onde os heróis são obrigados a se registrarem, revelando sua verdadeira identidade. Mas pra deixar o negócio interessante, um grupo se rebela e vai contra a ideia. O grupo de foras da lei é liderado pelo patriotismo encarnado, de botas e escudo, também conhecido por Capitão América que também conta com Luke Cage, Hércules, Cable, Mulher Aranha e outros.

    Já do outro lado, está o grupo certinho liderado por Tony “Homem de Ferro” Stark, seguido de Sr. Fantástico, Bishop, Jaqueta Amarela, Mulher Hulk etc etc etc amém. A graça da história está nessa parte, onde você escolhe de que lado irá ficar, e seus atos no decorrer da história irão refletir no final da novela. Quanto à jogabilidade, o jogador forma um time de 4 heróis que podem ser controlados ou trocados a qualquer momento conforme o jogo decorre. Os personagens vão ganhando orbs no estilo Devil May Cry ao derrotar inimigos e ao quebrar objetos do cenário, o que possibilita a customização das habilidades.

    Também é possível desbloquear novos uniformes e bônus variados (artes conceituais do desenvolvimento do jogo e etc) ao completar missões e desafios, como esculhambar com um certo número de adversários, o que pode ser melhorado ao combinar poderes de integrantes do seu clubinho e criar combos matadores. Fique atento também a itens escondidos nas fases, que lhe darão medalhas para melhorar a estratégia do grupo e liberar outros heróis.

    Contando com os personagens acima citados, o jogo conta com 20 super heróis como, Homem Aranha, Demolidor, Wolverine, Tempestade, Tocha Humana, Hulk, Venom, Shocker, Duende Verde, Homem de Gelo, Miss Marvel, Mulher Invisível, Thor, Gambit, Máquina de Guerra, Penitência e etc. Com gráficos que vão explodir cabeças de muitos fãs de HQs, Marvel: Ultimate Alliance 2 é um dos melhores jogos do gênero ação e aventura.

    Texto de autoria de Felipe “Jim” Rozz.

  • Crítica | Mother: A Busca Pela Verdade

    Crítica | Mother: A Busca Pela Verdade

    mother

    “O amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho”. Essa frase da renomada romancista policial britânica Agatha Christie, estabelece o baluarte na proposta do diretor sul-coreano Bong Joon-ho em Mother – A busca pela verdade. Um thriller psicológico recheado de humor negro inspirado em um dos elementos da obra de Alfred Hitchcock: a figura do “homem errado”, definido pelo mestre do suspense como “o cidadão comum  quando pego em situações extraordinárias é capaz de atos extraordinários”.

    Em Madeo (título original), Joon-ho amplia esse conceito mesclando ao mistério um lirismo ímpar. Através desse tratamento poético pouco convencional ao gênero, ele subverte as convenções estilísticas, abusando de diversas fórmulas, mas sempre sendo original em sua abordagem. Joon-ho insere pistas falsas na trajetória detetivesca desse noir salpicado de enlaces surrealistas, com o objetivo de aguçar a curiosidade do público, mas sempre amparado na  cartilha narrativa de Hitchcock, como a utilização do MacGuffinin. Segundo o cineasta britânico um termo usado para inserir um objeto que serve de pretexto para avançar na história sem que ele tenha muita importância no conteúdo da mesma. Todos esses fatores a serviço de uma trama singela sobre uma mãe (a ótima atriz veterana Hye-ja Kim) extremamente protetora e carinhosa, determinada em descobrir o verdadeiro assassino de uma jovem, quando seu filho mentalmente incapacitado é o acusado.

    Joon-ho já tinha demonstrado essa desenvoltura no terror O Hospedeiro, seu filme anterior. Se antes o monstro era explícito, dessa vez ele vem disfarçado de mãe afetuosa propondo um debate sobre os limites desse amor fraterno. Esse proposital contraste entre inocência e monstruosidade, temperado com um ligeiro comentário social.

    Não é uma surpresa Mother ter atingido quase que uma unanimidade entre a crítica especializada ao redor do planeta. Através dos anos o cinema sul-coreano comprovou ter a mesma representação metafórica da bandeira de seu país: um círculo dividido em partes iguais e delineado em perfeito equilíbrio. Lá convivem artífices de uma linguagem contemplativa como Kim Ki-duk de A Casa Vazia com a brutalidade pop, meio mangá, meio Hollywood de Park Chan-wook e seu Oldboy. Os filmes oxigenam os neurônios com arte, ao mesmo tempo em que o coração é massageado através de uma prazerosa carga de adrenalina do cinema popular.

    Texto de autoria de Mario Abbade.

  • Review | Supernatural – 1ª Temporada

    Review | Supernatural – 1ª Temporada

    Supernatural_Season_1Supernatural trata da história de dois irmãos, Dean (Jensen Ackles) e Sam Winchester (Jared Padalecky). A mãe dos garotos morre de uma forma misteriosa, quando Sam era ainda bebê, que leva o pai, John Winchester (Jeffrey Dean Morgan), um veterano da Marinha a buscar explicações sobre quem ou o que teria assassinado sua esposa.

    Com isso, John passa a ser um caçador, enfrentando criaturas que o mundo ignora a existência, sendo esses vampiros, lobisomens, wendigos, bruxas, fantasmas e é claro, demônios.

    Os anos se passam, Dean e Sam crescem com a ausência do pai e se mudando constantemente, devido à demanda de “trabalhos” do veterano, o que é um dos motivos de tensão, principalmente para Sam, que não aprecia nada a vida que leva, diferente de Dean que idolatra o pai.

    A história começa já com Sam entrando para a faculdade. Muito inteligente, ele consegue uma bolsa para cursar direito em Harvard e é motivo de orgulho de seus amigos e de sua namorada, Jéssica. Nessa época Sam já havia saído do caminho de seu pai e Dean, e preferiu viver sua vida normalmente e ignorar a existência do sobrenatural e se afasta da família, com a qual não se entende, inclusive essa tensão é explicada com mais detalhes durante a história.

    Uma bela noite Dean vai até Sam, para que juntos possam ir atrás de seu pai, que não dá notícias desde que saiu para uma caçada. Contrariado, o irmão caçula parte em rumo ao desconhecido para ajudar a achar seu genitor. Resolvem o caso, mas nada de acharem o velho, e Sam volta com sua vida cotidiana, mas quando chega em casa, assiste Jessica morrer da mesma maneira misteriosa que sua mãe, o que o leva a voltar suas origens e lutar ao lado de seu irmão em busca de seu pai desaparecido e de informações que o levem ao que causou a morte de sua mãe.

    Já no seu quinto ano, o seriado voltou a ser exibido nos EUA no dia 21 de Janeiro, e aqui no Brasil, é possível conferir por TV a cabo ou pelo SBT. A série é interessante e agrada muito aos fãs do gênero terror, com direito a sangue, na medida do possível. Cheio de referências a filmes clássicos, a trama também agrada aos ouvidos, com direito à bandas como AC/DC, Black Sabbath, Metallica, Rush e outros clássicos na trilha sonora. Não espere muito dos efeitos visuais, porém, só a caranga dos irmãos Winchester, um Chevy Impala 67,  já cobre qualquer furo.

    Texto de autoria de Felipe “Jim” Rozz.

  • Review | Community

    Review | Community

    communityAntes de qualquer coisa, é fato indiscutível que existem muitos problemas nas produções audiovisuais feitas para a televisão. O principal deles claramente é o uso constante das mesmas fórmulas, subestimando a inteligência do espectador. O meu argumento é o seguinte: esse problema não pode ser associado exclusivamente ao formato ou as fórmulas em si, e sim a maneira como são utilizadas. Quando se coloca o assunto em análise, podemos ver que as fórmulas são produto da observação dos padrões de comportamento dentro de uma determinada classe de pessoas, ou seja, do que existe de comum na interação delas com o ambiente em que vivem.

    Dessa forma as séries de TV contam histórias com as quais muitas pessoas podem se identificar, por incluirem personagens e situações análogas aos que ela vêem, vivenciam ou idealizam em suas próprias vidas. O poder delas está concentrado nesse ponto, como no caso das novelas, pois praticamente todas as pessoas sentem fascínio em ver pedaços de si mesmas dentro de contextos estrangeiros. Mas as novelas são um caso particular. O assunto TV Aberta brasileira está em um patamar diferente, um tanto mais profundo do que uma simples questão de qualidade. Nesse argumento, quero falar sobre o conteúdo da TV Paga.

    O cenário é lastimável: Reality Shows se proliferaram e as séries de ficção estão em baixa. Os formatos mais batidos e aparentemente mais lucrativos, como os policiais, adolescente-conservadores e comédias de situação absolutamente ultrapassadas e repetitivas inundam toda a grade, produzindo um entretenimento vazio e condicionando o público a ter um senso crítico pobre. Não precisa ser assim, e nem sempre é assim. Em uma comédia de TV, as situações podem ser apresentadas de maneira inteligente e analisadas racionalmente, levando o espectador a reflexões construtivas sobre si mesmo e a sociedade em que vive. Tudo depende da construção dos personagens e da qualidade do roteiro. Um dos pontos mais importantes é o bom humor, e acima de tudo, saber fazer comédia com qualidade. O que a maioria das pessoas procura em programas da TV geralmente é o escape, algo que as faça relaxar e se libertar da tensão da rotina. Isso não quer dizer que elas procurem por entretenimento vazio, estúpido e sem significado. Eu pessoalmente só vejo qualidade no humor que desafia, quebra parâmetros e/ou distorce valores morais em prol da liberdade do pensamento. Temos muitos exemplos de grandes mentes no stand-up comedy, como George Carlin, Bill Hicks e o próprio Woody Allen, que conseguiu expressar mesmo na linguagem do Cinema o seu peculiar senso de humor cotidiano. É dentro dessa vertente que chego à recomendação que quero fazer ao meu caro leitor.

    Community – A Salvação

    Metalinguagem. Metahumor. Algo como “piadas sobre piadas”, ou o sarro tirado às próprias custas. Essa é a estratégia principal de Community, uma proposta honesta baseada no princípio de que nós não precisamos ser anestesiados, e sim incitados. Eu não vou fazer sinopse ou resenha sobre a série, porque considero bem melhor a forma como ela própria se apresenta ao espectador. Eu não preciso dizer que envolve um grupo de pessoas muito diferentes entre si que interagem em um contexto comum. Clássico. O seu principal diferencial está em um dos personagens: Abed Nadir. Abed é um excêntrico palestino-americano viciado em cultura pop que serve como uma conexão entre o público e os personagens. Em vez de “derrubar a quarta parede”, ele simplesmente abre uma “janela” para o espectador ao fazer constantes análises dos acontecimentos ao seu redor como se a sua “realidade” de fato fizesse parte de um seriado da TV, permitindo assim que possamos estar perfeitamente cientes das mensagens e ideias que serão transmitidas em cada episódio. Em referência a Platão, pode-se comparar o universo da série ao conceito do Mundo das Ideias: uma análise idealizada da realidade em contextos sociais e das características recorrentes de um mundo concreto.

    A série também evita cair na mesmice experimentando continuamente com diversos formatos através de paródias em investidas ousadas e inusitadas. A rapidez, acidez e sofisticação do humor no roteiro permitem que o politicamente incorreto e o contra-cultural tenham o seu devido espaço, promovendo o desvirtuamento de conceitos conservadores, uma das mais valiosas ferramentas para se exercitar a consciência de mundo e fugir do condicionamento geral por parte da propaganda que reina em toda a grande mídia. Não se deixe enganar: é sim possível rir e refletir ao mesmo tempo. Community está aí para quem quiser experimentar, e mesmo aqueles que não costumam assistir seriados podem abrir essa exceção.

    Texto de autoria de Thiago Debiazi.

  • Review | The Office – 1ª Temporada

    Review | The Office – 1ª Temporada

    TheOfficePara quem nunca trabalhou em um escritório, pare de ler e saia do post, este seriado não é para você. Para todos aqueles que já tiveram chefes inconstantes e que não podemos imaginar qual será sua próxima ação, vemos dia a dia aquele puxa-saco da chefia e para aqueles que tem seus amigos ou suas “panelas” para rir de todos os outros, continue lendo, este seriado nos pertence!

    The Office é um seriado de comédia sobre o dia a dia de um decadente escritório fornecedor de papéis, a Dunder Mifflin. Criado em 2005 pela dupla Ben Silverman (The Restaurant) e Greg Daniels (O Rei do Pedaço). Tem no elenco Steve Carell (O Virgem de 40 Anos e Todo Poderoso), Rainn Wilson (Six Feet Under), Jenna Fischer, (Miss Match), John Krasinski e B.J. Novak (Punk’d), além de muitos figurantes que cumprem o papel de funcionário que todo escritório tem.

    Sua primeira temporada é curtinha, 6 episódios apenas, aborda o tema Downsizing, que nada mais é que redução de custos e cortes de funcionários, onde o engraçadíssimo Gerente Regional Michael Scott (Steve Carell), tem de tomar as melhores ou não decisões para todos de sua equipe. Com a ajuda da bela e doce recepcionista Pam Beesly (Jenna Fischer), Jim Halpert (John Krasinski) o representante de vendas, faz de tudo para tirar do sério seu co-worker e incrívelmente puxa-saco bajulador Dwight (Rainn Wilson), o insuportável assistente DO Gerente Regional, assim ele mesmo diz. Temas como homossexualismo, racismo e relacionamentos no trabalho são muito abordados também.

    Com uma certeza inabalável, Michael acredita que é o cara mais engraçado do escritório e é a fonte da sabedoria dos negócios. Sem saber como ele é visto por seus funcionários, Michael acaba sempre alternando decisões absurdas ou patéticas, mas sempre muito hilárias.

    O diferencial de The Office é que quase não tem cenas externas e toda a série é feita como um documentário, com câmeras de mão e que os funcionários interagem e a usam como confessionário em muitas vezes. Seriado extremamente recomendado para quem gosta de comédia que não tenha conteúdo apelativo e que goste de dar boas risadas com piadas inteligentes.

    Texto de autoria de Henrique Romera.

  • Crítica | O Guerreiro Silencioso

    Crítica | O Guerreiro Silencioso

    O Guerreiro Silencioso

    Como todos pudemos perceber, nesses últimos anos a temática da História Antiga está em alta na literatura. Autores como Bernard Cornwell e Conn Iggulden entraram para o gosto do público, e com muita justiça. A principal razão para a popularidade desses romances sem dúvidas é a perspectiva dos autores na criação dos enredos, que descrevem em nosso passado distante uma realidade que, apesar de fantástica, é surpreendentemente verossímil. Seguindo a linha da fascinante história medieval da Europa, Nicolas Refn deu forma a uma verdadeira pérola meio-dinamarquesa, meio-britânica, sob o misterioso título de Valhalla Rising (“O Guerreiro Silencioso”, na tradução brasileira). O filme ganhou muito hype em 2010, devido a sua participação nos Festivais de Veneza e Toronto, e merece a atenção daqueles que prezam o Cinema bem executado.

    Mads Mikkelsen, o ator de perfil macabro que interpretou o vilão do reboot da franquia 007, Cassino Royale, em 2006, protagoniza os 90 minutos congelantes desse tapa-na-cara visual. One-eye, como ele é chamado por ter um dos olhos costurados, é apresentado sujo, acorrentado e enjaulado. Apesar de sua percepção de profundidade defeituosa, One-eye é um guerreiro intrépido e praticamente invencível em sua frieza psicótica. “Sangue no olho” é uma ótima expressão para descreve-lo. Os eventos mostrados no início do filme representam uma espécie de “briga de galo” com seres humanos, em que prisioneiros cobertos de pinturas corporais célticas lutam até a morte pelas apostas de seus senhores. Nessas circunstâncias podemos conferir a força derradeira de One-eye, que mesmo amarrado pelo pescoço consegue vencer o duelo em favor do seu senhor.

    Frequentemente trocado entre diferentes senhores, pois ninguém é capaz de mante-lo por muito tempo, One-eye é passado pra frente. Sua natureza brutal garante a alta rotatividade de seus “serviços”. Durante a passagem, ele consegue se libertar com a ajuda do garoto Are, que no grupo de seu antigo dono era encarregado de alimenta-lo. Os dois se tornam livres e formam um pacto silencioso. Pouco depois, eles encontram um grupo de cristãos em Cruzada (peregrinos viajando rumo ao que hoje é a Palestina, em busca de terra e tesouros). Para sobreviverem, juntam-se ao grupo e partem com eles em um barco. A Terra Santa, a terra prometida os aguardava. Jerusalém  o reino de Deus, que é deles por direito, direito adquirido por serem cristãos, por seguirem a cruz. Mas o desígnio do acaso discorda e não apoia a sua jornada. Uma forte neblina os engole durante a viagem, e eles acabam em uma terra sombria desconhecida, onde encontram o seu inexorável destino.

    Em nenhum momento vemos sinais claros da nacionalidade de nenhum dos personagens. Só se pode especular. O sangue é brilhante e jorra bruscamente. Não há slow motion. Não há trilha sonora: o silêncio acompanha a carnificina. O ponto mais forte do filme é, de longe, a estética. Cenários maravilhosos, figurino impecável e uma direção fria de Nicolas Refn. Pode-se dizer que o roteiro é limitado, mas somente para aqueles que estão acostumados ao cinema excessivamente comercial. Há pouquíssimos diálogos, e apenas alguns deles são esclarecedores em relação ao enredo. É possível que para aqueles que desconhecem o contexto histórico da Europa em 1000 dC o filme não faça o menor sentido. É preciso ter em mente a realidade da Idade das Trevas, o embate entre os cristãos e os pagãos, e também os constantes conflitos entre as diversas tribos e etnias que habitavam a região naquela época. O enredo precisa ser deduzido pelo que se vê, pensa e sabe. Ele não será explicado, mastigado e dado de bandeja por um narrador. Não há uma introdução que situe o espectador no contexto da história. O filme está lá, os acontecimentos são exibidos magistralmente, mas as conclusões finais ficam a cargo exclusivo do espectador. Os detalhes são importantes e o que é dito, embora seja pouco, tem muito significado. O filme é introspectivo e foge completamente do padrão do mainstream. Vale a pena ser conferido por sua indiscutível beleza estética e, acima de tudo, por sua riqueza em simbolismos misteriosos.

    Texto de autoria de Thiago Debiazi.

  • Review | White Collar – 1ª Temporada

    Review | White Collar – 1ª Temporada

    white-collarEu estive um pouco longe de séries ultimamente. Acompanho duas via torrent e duas via TV a Cabo (quando dá), fora isso estava longe de pensar em acompanhar outra série, então certo dia me vi em frente a TV sem nada mais para fazer, liguei na Fox e vi um episódio de White Collar, e definitivamente minha curiosidade se ligou.

    Fiquei realmente instigado com a série, eu vi de cara o sexto episódio da primeira temporada, All In, e a fórmula do seriado me prendeu em frente a TV durante uma hora, mesmo com péssimos e repetitivos comerciais. White Collar conta como o ladrão de arte, falsificador, golpista e outras coisas, Neal Caffrey vai trabalhar como consultor para FBI sob tutela do Agente Peter Burk. É possível também explicar a premissa da série com: “Sabe o filme Prenda-me se for capaz? Então, imagina a continuação dele? É a série.”

    A premissa em si promete muito e foi feita de maneira incrível. Temos um misto de detetive, o caso a ser resolvido e prender o criminoso, e comédia, a relação Cafrrey-Burke é cheia de sarcasmo e ironia, e a série leva isso a frente em todos os episódios sem ser cansativo. Não estou falando que você dirá que a trama detetive é extraordinária ou que cairá na gargalhada a cada 10 minutos de um episódio, mas é possível que em muitos capítulos você fique com um sorriso na cara pelas piadas e ainda fique surpreso com o fim que tudo terá.

    Cada episódio é um caso e fechado em si, a primeira temporada inteira não teve um tão odiado To Be Continue ou o conhecido Previously on, o que faz também que seja possível assistir a série sem pretensão, vendo episódios soltos. Porém, ao contrário de outras séries que fazem isso, White Collar segue uma trama maior, não vital para seu entendimento, mas necessária para que se tire total proveito de jogadas e o entendimento dos personagens e suas motivações.

    Por falar em personagens, aqui eles são distintos, bem trabalhados e clichês, mas não pejorativamente. Geralmente quando se cita que algo é clichê, logo todos ficam achando que é ruim, não é. O clichê é um artifício, que deve ser bem utilizado (aprenda James Cameron e seu Pocahontas com Smurfs). O Agente Peter Burke é incorruptível, Neal Caffrey é O Cara e galanteador, Elizabeth Burke, esposa do agente, é a mulher-por-trás-de-todo-grande-homem. A cada episódio eles constroem isso em frente a câmeras para rotular os personagens e mesmo assim ainda tudo é aproveitado pela história, para torná-la divertida.

    E finalmente o Season Finalle, o último episódio consegue te prender na cadeira/poltrona/sofá inquieto e ansioso  e termina com o gancho do início da próxima temporada, é a primeira vez que se vê um episódio na série que termina com algo que “necessita mais para se entender”, porém não seria um season finale americano se não tivesse isso.

    Por fim, White Collar é uma série divertida, não tente ver achando que será uma série de detetive sério ou esperando que haja certo rigor com o que é possível e impossível alguém fazer. É uma recomendação para quem quer uma série a qual possa ver sem pretensão, sem a necessidade de a cada semana estar lá e ver, é um passatempo extremamente bom e recompensador. E que venha a próxima temporada.

    Texto de autoria de André Kirano.

  • Resenha | 1933 Foi Um Ano Ruim – John Fante

    Resenha | 1933 Foi Um Ano Ruim – John Fante

    1933_foi_um_ano_ruimAlguns livros são gratas surpresas, nos prendem, tem um tom especial que nos chama a atenção e nos fazem por alguns momentos suspender nossa realidade e mergulhar em outra, não necessariamente melhor, mas certamente diferente. Cada vez mais procuro fugir da expectativa (embora goste de ouvir opiniões acerca do livro, desde que devidamente livres de spoilers), pois ela costuma deixar a leitura condicionada, esperando algo que não costuma corresponder ao que você pensou ou imaginou.

    Foi com esse pensamento que iniciei 1933 foi um ano ruim, de John Fante, procurei entrar o mais desprovido possível de pretensões pré-concebidas. Posso dizer que o resultado foi muito bom, encontrei uma literatura leve e espirituosa, simples mas não simplista, cuja narrativa e não-complacência lembraram-me o Holden Caufield, de O Apanhador no Campo de Centeio.

    John Fante nos conta a história de Dominic Molise através dos olhos dele próprio, filho de pais pobres e uma família estadunidense (descendente de imigrantes) desprovida de luxos, cheia de dívidas, com um futuro incerto em um ano nada auspicioso, já que haviam se passado apenas quatro anos da chamada “Grande Depressão”, ou seja, ainda se viviam os desdobramentos da profunda crise econômica.
    Dominic Molise não se destaca no colégio, se irrita com o fanatismo religioso de sua mãe, discute aos berros com sua avó (uma ranzinza conservadora saudosista, para quem nada nem ninguém que existe é bom), troca bravatas com seus irmãos e oscila entre compadecimento e raiva de seu pai, que passa as noites em bares, jogando sinuca e envolvendo-se com sirigaitas.

    As perspectivas que se apresentam a Dominic são: 1. aprender o ofício de pedreiro e trabalhar com seu pai até que eles tenham dinheiro suficiente para que eles iniciem uma construtora própria (o que é altamente improvável); e 2. usar sua habilidade de lançador para se tornar um jogador de beisebol profissional. Ele não tem dinheiro o suficiente para apresentar-se a qualquer time para um teste, nem quer trabalhar com seu pai, correndo o risco de estragar O Braço (quase uma entidade, a passagem de Dominic e sua família para fora de sua vida miserável) que com tanto zelo cuidou desde a mais tenra idade para dedicar-se ao beisebol.

    Nesse dilema, vivenciado junto com seu colega Kenny, de uma família mais abastada, é que John Fante cria uma trama fluida e aprazível, que descortina um drama particular que tem como pano de fundo o cenário de desolação econômica que se sucedeu a crise de 29. O chamado “american way of life”, que começou a dar as caras na bonança dos anos 20 (mas que se tornou mais amplamente conhecido e delimitado pós-Grande Depressão e Segunda Guerra Mundial), entrava em crise juntamente com a economia e impregnava a literatura da descrença nesse modelo que se mostrava tão frágil.

    A situação de Dominic tem um apelo gigantesco, já que se vê refletida nas vidas de muitas pessoas, tanto daquela época como de hoje em dia, como um espelho despedaçado. Molise enfrenta sua dura realidade com sarcasmo e bom humor, tomando decisões drásticas como meio de sobrevivência, perturbando sua consciência com tantos dilemas. Fante consegue fazer-nos compadecer do pobre Dominic, abandonado a sua azarada sorte, evocando a emotividade em diversos momentos, já que o jovem tem raiva e pena de sua mãe, seu pai e sua avó, afinal, eles são tão vítimas quanto ele de toda essa realidade acabrunhante. Só que a emotividade somente vem para lembrar-nos de que somos humanos, para situar-nos no lugar de Dominic e fazer-nos sentir o karma que paira sobre sua cabeça, sem que, por esse recurso, o autor entre na seara da auto-
    complacência ou pieguice.

    Junto a esse turbilhão de etéreos sonhos e árida realidade, Dominic ainda enfrenta o rito de passagem da infância a vida adulta, dividido entre dois mundos, enfrentado a dualidade transitória ao mesmo tempo em que se vê jogado na cisão social que o separa dos “outros”, como o abastado Kenny. Fante, que ficou conhecido principalmente com Pergunte ao Pó e foi tido por Bukowski como o “precursor dos beats”, nos brinda com uma história que embora não transcenda grandemente em mergulhos profundos sobre a natureza humana e questões existenciais, metafísicas etc., consegue manter-se como um bom livro que versa sobre a persistência em condições nada favoráveis sem cair nas tentações enganadoras da auto-ajuda.

    Texto de autoria de Lucas Deschain.

  • Review | Red Dead Redemption

    Review | Red Dead Redemption

    Red Dead Redemption é um sandbox western desenvolvido pela já experiente nesse estilo de jogo RockStar Games, lançado para as plataformas Xbox 360 e PS3 – deixando de fora o PC, deixando muitas pessoas com raiva por não poder jogar este tão falado jogo.

    Sendo o segundo jogo da franquia Red Dead, mas muito mais conhecido do que o seu antecessor Red Dead Revolver, que inclusive é um bom jogo também mas nada comparado ao Redemption. Mas não ache que é necessário jogar o Revolver para conseguir entender o enredo do Redemption, pois são histórias paralelas.

    O jogo se passa no início do século XX com o personagem John Marston saindo de uma cidade acompanhado de dois homens-da-lei, a priori você não entende muito bem o porque disso estar acontecendo, não irei explicar pois você só tem a perfeita noção lá pelo meio do jogo, e não quero estragar o enredo do jogo contando spoiler.

    Assim como Fable, Red Dead Redemption te dá uma escolha parecida para fazer, você pode ser o cowboy honroso que ajuda as pessoas que encontra pela frente – e como tem pessoa que te pede ajuda -, seja para ajudar a recuperar o cavalo que foi roubado ou para salvar a esposa do desesperado marido; ou você pode ser o mais temido, ajudando os bandidos a assaltar uma carroça e matando os xerifes. Mas isso tem uma consequência, e irá notar isso quando for comprar alguma coisa, o que tem mais honra paga muito menos do que o bad guy que mata mocinhas indefesas.

    Outro fator importante no jogo, além da Honra, é a Fama, ela vai aumentando conforme você faz qualquer tipo de missão, infelizmente aqui não existe vantagem, sendo que se você tiver a fama no máximo, quando cometer algum crime, o preço pela sua cabeça dobra.

    Além das Story Missions – que são todas fantásticas -, existem as Stranger’s Tasks, que são pessoas que você encontra pedindo para você fazer alguma coisa por elas, são praticamente side quests, mas poucos são os jogos que me deixaram com tanta ânsia de fazer as side quests quanto Red Dead, os personagens delas são intrigantes e alguns chegam a serem cômicos, como o Charles Kinnear que afirma que será o primeiro homem a voar, mas no final, vocês já imaginam o que acontece, ou também Jimmy Saint que é um escritor que está procurando um pouco de aventura no velho-oeste para fazer um livro, e você está tendo sempre que resgatá-lo das gangues.

    Claro que um jogo do porte de Red Dead não podia faltar as suas referências western, encontrei duas em especial, a primeira em um cemitério, dá pra ver escrito na lápide: A cowboy without a name, alguém duvida que é uma referência à Trilogia dos Doláres do diretor italiano Sergio Leone? A outra também em uma lápide, adivinha o nome do morto? Clinton Underwood! Existem muitas outras referências, mas essas duas foram as duas principais que encontrei.

    Antes de começar a jogar Red Dead, imaginei que fosse um jogo sem uma variedade de armas, muito pelo contrário, principalmente se você tiver os DLCS – existem 9 tipos de armas no jogo, dentro dessas nove tem uma média de 5 armas, e nenhuma arma você vai deixar de usar em alguma parte do jogo.

    Mas o ponto alto do jogo, na minha opinião, não são as roupas, as referências, a trilha sonora, a jogabilidade ou os gráficos – que ainda assim são todos ótimos -, o melhor do jogo são os personagens, a Rockstar constrói tão bem eles que é difícil você não gostar do maluco Seth, o bêbado Irish, o velho e famoso pistoleiro Landon Ricketts, a belíssima Boonie McFarlane, o atrapalhado Mr. West Dickens e tantos outros personagens. É díficil escolher um personagem como preferido, todos são tão bem feitos e com características tão próprias que você acaba gostando de todos. Red Dead Redemption acaba sendo muito mais que um simples “sandbox”.

    Texto de autoria de Felipe Vieira.

  • Review | Batman: Arkham Asylum

    Review | Batman: Arkham Asylum

    Enquanto aguardamos o tão esperado Batman: Arkham City, vamos comentar um pouco do seu anterior que causou tanto rebuliço entre os gamers e amantes do morcegão. Lançado no final de 2009, Batman: Arkham Asylum preencheu o vazio que os games de heróis tanto precisavam. Que venham mais deles.

    A história do jogo começa com Batman levando o Coringa, seu arqui-inimigo para o famoso asilo de Gotham City. O homem morcego está um pouco incomodado com o modo que o Coringa se rendeu, porque foi fácil demais, e passa a desconfiar que o palhaço maluco está tramando alguma traquitana no sanatório junto com seus outros amiguinhos pirados.

    Dito e feito. Chegando no Arkham, Coringa inicia uma rebelião e todos os internos escapam e começam um verdadeiro pandemônio na ilha onde fica o sanatório. Aparições de vilões clássicos não faltam, Crocodilo, Hera Venenosa, Bane, Espantalho, entre outros dão as caras e ajudam a complicar a vida do nosso detetive mascarado. Sua missão principal no jogo seria recapturar seu inimigo e colocá-lo de volta na jaula, assim como os outros criminosos que também escaparam. Mas há submissões logicamente, e desafios durante a história, como resolver charadas do… Charada (dãã), que consiste em fotografar elementos do cenário, de acordo com a pergunta feita, encontrar troféus e esmagar dentaduras saltitantes.

    Ao lutar com os inimigos, você pode executar combos, e de acordo com o número de hits, seus pontos de experiência vão se multiplicando, o que permite aprimoramentos para sua roupa, novas armas e novos golpes. O interessante é que o jogo segue bem no ritmo de investigação, onde há uma espécie de visão especial, para identificação de elementos interativos nos cenários, posições de seus inimigos e pistas que ajudam na solução de mistérios.

    Pra quem é fã da HQ, Batman Arkham Asylum é uma boa opção, já que jogos de super heróis nem sempre são tão bons como o esperado. Com gráficos matadores e uma jogabilidade ótima, com certeza é um dos melhores jogos do Homem Morcego já lançado para plataformas como Xbox360, PS3 e PC.

    Texto de autoria de Felipe Rozz.

  • Review | Wolverine and the X-Men

    Review | Wolverine and the X-Men

    Wolverine and the X-Men

    Wolverine and the X-Men é a nova série de desenhos dos X-Men. O novo desenho sai de X-Men Evolution e leva mais a cara que nós já conhecíamos da série clássica dos anos 90, com personagens mais maduros e crescidos.

    A formação da equipe de Charles é de Wolverine, Jean, Ciclope, Fera, Homem de Gelo, Anjo, Noturno, Tempestade, Vampira, Lince Negra, Forge e Emma Frost. Temos ainda nessa temporada além da Irmandade, personagens como: Dentes-de-Sabre, Mística, Gambit, Bishop, Magma, Boom Boom, Psylocke, Blink, Pyro, Fanático, Sr. Sinistro, Arcanjo, Homem Multiplo, Polaris, Maverick, X-23 e finalmente Apocalipse.

    A animação começa quando o Professor X e Jean Grey sofrem um ataque psíquico, que causa a explosão da mansão X e tanto Professor Charles quanto Jean desapareçem.
    Semanas depois, Wolverine reúne os X-Men e assume a liderança do grupo. Emma Frost entra na equipe e ajuda na procura por Jean e Charles.

    Finalmente quando encontram Charles em Genosha com Magneto, descobrem que ele está em coma e que durará 20 anos, pois no futuro com a ajuda do cérebro, o próprio professor dá as instruções a Wolverine, os orientando sobre os acontecimentos que levarão o mundo à destruição, onde o mundo é dominado por robôs, com humanos e mutantes derrotados, sem vencedores.

    Enquanto isso, Magneto cria Genosha e recruta novos membros para a Irmandade de Mutantes: Dominó, Blob, Avalanche, Mercúrio e Groxo. O grupo sequestra o Senador Robert Kelly, e isso faz com que os humanos odeiem ainda mais os mutantes, os fazendo produzir robôs especiais para os exterminarem: os Sentinelas.

    Vampira também passa a fazer parte da irmandade após o incidente na mansão X. Mais tarde junta-se novamente aos X-Men. Começa então a travar-se uma verdadeira guerra entre os homo-sapiens e os homo-superior. A primeira temporada gira em torno dos esforços dos X-Men em evitar que o mundo seja destruído pelos Sentinelas, o Molde-Mestre.

    Após evitar a catástrofe futura causada pelos sentinelas, os X-Men conseguem mudar o futuro e também deter a Fênix, que foi retirada de Jean graças ao sacrifício de Emma Frost, que tentou segurar a Fenix em forma de diamante para salvar a vida de Ciclope, por quem é apaixonada. Xavier então, aparece em um novo futuro, que não está destruído, mas está dominado por Apocalipse. Uma pena a Disney ter cancelado a série depois da compra da Marvel.

    Texto de autoria de Henrique Romera.

  • Resenha | X-Men: Garotas em Fuga

    Resenha | X-Men: Garotas em Fuga

    X Men - Garotas em Fuga - Milo Manara

    Sempre achei os heróis e arcos da Marvel um tanto “adolescentes demais”, por isso o fraco interesse pelo selo. Só que uma vez ou outra a editora lança algo que me chama a atenção. A mais recente foi com a revista X-Men – Garotas em Fuga. A quantidade de curvas e cenas sensuais é tão grande que fui obrigado a ler e comentar sobre essa obra fora dos padrões Marvel de ser.

    A descoberta de Garotas em Fuga se deu meio que por acaso, estava eu matando tempo em uma banca de jornal e a vi jogado num canto com algumas publicações que também saíram esse mês. Eu já tinha lido algo sobre a HQ e mesmo com o nome do Milo Manara, não me interessei muito. Acabei folheando algumas páginas e descobri que se não comprasse a revista, provavelmente me sentiria frustrado. Li a hq em menos de meia hora e durante o trabalho, o que não é muito aconselhável, porém o conteúdo contido naquelas páginas foi o suficiente para me alegrar e fazer valer o 15 reais pagos.

    A história tem aquele jeitão “X-Men de ser”, nela vemos um time de mutantes montados apenas pelas representantes femininas do Instituto Xavier Para Estudos Avançados. Vampira, Garota Marvel (Rachel Summers-gray), Psylock, Lince Negra e Tempestade saem para tirar férias na recém adquirida casa de praia que Anne (Vampira) herdou de sua família. O legal é que não é uma simples casa de praia e sim uma mega mansão numa ilha no meio do Mar Mediterrâneo, porém, como a própria Kitty (Lince Negra) diz durante toda a HQ, nada é fácil quando estamos falando sobre os X-men. A viagem acaba sendo interrompida quando a Garota Marvel é sequestrada por um homem que supostamente a estava paquerando. Os eventos consecutivos estão dentro de um tempo surreal onde o grupo sai em resgate a sua companheira que se encontra no meio da fictícia ilha de Madripoor e terminam num final totalmente “festivo”.

    O fato é que, apesar de bem construído e bem terminado, o roteiro tem alguns elementos persistentes no que diz respeito ao universo Marvel. Boa parte das motivações não são críveis, nem mesmo para o mundo dos quadrinhos, assim como os diálogos entre as personagens tem aquela pretensão de serem “reais”, criando um efeito de falsificação do comportamento. Quem está acostumado com o existencialismo e discussões subliminares sobre preconceito, tão característicos das revistas referentes ao mundo X-men, talvez não consiga ver essa história como um componente da linha cronológica dos heróis. O que posso fazer é comentar que esses elementos só se tornam aceitáveis, porque a arte caiu como uma luva. Por falar em arte, é necessário um parágrafo inteiro para falar sobre a magia presente nos desenhos de Milo Manara.

    Só o Manara poderia fazer as x-girls extremamente gostosas, mas sem ficarem vulgares ou cômicas. O autor é conhecido como o criador do que podemos chamar de softporn e não estou me referindo só aos quadrinhos, logo, o tratamento dado ao time feminino das mutantes não poderia ser diferente. O primeiro traço marcante é que os uniformes são deixados de lado a fim de que as meninas mostrem seus corpos delineados em roupas curtas e que expressem suas essências. Nesse nível Manara vai criando cenas onde a sensualidade possa ser explorada de uma forma totalmente inserida no mesmo conceito de suas obras autorais (Clic e Borgia). O resultado dessa mistura são heroínas lindas e mortais.

    Felizmente encontrei a HQ num dia onde tinha dinheiro no bolso. Acredito que o preço sugerido de 14,50 pode ser “salgado” para algumas pessoas. Pensar que você estará adquirindo uma obra com as ilustrações do Manara, pode ser de grande ajuda e sim, o conteúdo final da revista vale o seu preço e se paga automaticamente no momento da leitura e apreciação das ilustrações.

    A revista foi editada pela Marvel e publicada aqui no Brasil pela Panini, tem 63 páginas de história e um material adicional explicando o processo de criação do roteirista Chris Claremont e do próprio Manara. Um ótimo presente de natal.

    Texto de autoria de Breno C. Souza.

  • Review | Supernatural – 5ª Temporada

    Review | Supernatural – 5ª Temporada

    Supernatural_Season_5Supernatural, uma das séries de maior audiência da atualidade, conta a história de Dean e Sam Winchester, dois irmãos que andam Estados Unidos afora caçando seres e entidades sobrenaturais, salvando vidas, fazendo inimigos, bebendo cerveja e imperando pelas estradas com seu Impala 1967. A série agrada os fãs do gênero mistério e terror, sem abrir mão do bom humor e do sentimentalismo familiar clássico.

    No quinto ano da saga dos irmãos Winchester, temos o que chamamos da pior fase da trama dos caçadores de monstros mais famosos da TV desses últimos tempos. No final da quarta temporada, Sam e Dean perseguem e matam o demônio (ou demônia) Lilith, e se enganam ao pensar que estariam fazendo um bem ao equilíbrio do mundo, pois na realidade, a morte da criatura seria mais um dos selos a serem quebrados para que Lúcifer, também conhecido como Diabo, Capeta, Tinhoso, Tranca Rua, Exú e etc, pudesse andar livre pela Terra, trazendo consigo destruição, pestilência e tudo mais que se espera do tão sonhado Apocalipse bíblico.

    Com isso, a consciência dos Winchester pesa, e se sentem obrigados a arrumarem a tamanha besteira que fizeram. Além do inferno literalmente estar tomando conta do planeta, com centenas de milhares de demônios fazendo zona por aí, o andar de cima também começa sua revolta. Deus teria desistido da humanidade e desaparece, assim, seus funcionários com asas passam a guerrilhar e começam uma guerra contra os demônios para impedirem a acensão de Lúcifer, que para reinar de vez sobre a Terra, precisa do hospedeiro perfeito, que é ninguém mais que o próprio Sam Winchester, que serviria de megazord na batalha final entre demônios e anjos, que por sua vez o lutador da parada seria o próprio Miguel Arcanjo e seu receptáculo (uma dança erótica do Fanaticc como prêmio pra quem acertar quem seria o megazord celestial), Dean Winchester.

    Tudo é uma bagunça, literalmente, e Dean e seu irmão superdesenvolvido contam com a ajuda de Castiel, o anjo gente boa que se rebela contra sua própria raça para defender os humanos, que estão no fogo cruzado na guerra Céu x Inferno, tudo por uma questão de fé, além de outros caçadores já conhecidos de outras temporadas como Ellen, Jo e Bob Singer. Juntos, a trupe exorcizam humanos possuídos e lutam contra anjos malvados, tudo pra salvarem seus traseiros, com doses de drama e preocupação familiar, já que Sam é famoso por ter quedas por garotas-demônio, e seu problema em ser viciado em sangue dos vizinhos do andar de baixo, poderia ser um passo pra que na hora H, tudo se perdesse e Lúcifer finalmente colocasse as mãos em são tão almejado hospedeiro perfeito.

    Isso tudo com direito a briguinhas entre irmãos e um certo Dean Winchester, que passava uma imagem tão foderosa nas temporadas anteriores, com seu jeitão deslocado e bem humorado, passa o tempo todo com aquele ar depressivo, o que parece afetar todos os outros personagens e faz perder o ânimo nesse 5º ano da série. A falta de outras criaturas além de Anjos e Demônios na trama também é uma falha. Tudo se resume na clássica disputa Céu x Inferno, sendo maçante e tedioso. Poucos episódios que arrancam uma gargalhada do espectador, como era de costume com as piadas, comentários e referencias nos diálogos entre os dois irmãos.

    Com uma trilha sonora bem selecionada, Supernatural tem gás pra mais algum tempo de divertimento para os fãs, que inclusive agora está explorando novos meios de publicidade, lançando um animê e revistas em quadrinhos.

    – 

    Texto de autoria de Felipe “Jim” Rozz.

  • Crítica | Machete

    Crítica | Machete

    machete

    E Robert Rodriguez está de volta com seu cinema mexicano e trash. Após muito medo por parte das distribuidoras, que adiou a data de estréia umas 3 vezes, FINALMENTE Machete chega aos cinemas brasileiros. Com El Gigante Danny Trejo como Machete, policial federal mexicano incorruptível que prefere usar facas (machete) e grande elenco, entre eles, Robert De Niro interpretando um político corrupto e Steven Seagal como um traficante de drogas de cartel que usa espadas… Nada poderia ter uma premissa tão épica.

    O filme começa em estilo impactante mostrando a que veio em sua primeira grande cena. Machete e seu parceiro estão em seu carro indo resgatar uma jovem que foi presa por traficantes, enquanto isso, seu chefe os manda não fazerem nada, e é claro, é completamente ignorado. Machete entra com carro e tudo na casa do traficante e seu parceiro já morre aí. Os próximos minutos são recheados de facadas e cabeças voando até o momento em que o protagonista é pego na armadilha e sua família é morta.

    Não é um roteiro original, passa longe de ser um dos melhores roteiros que você verá por aí, mas não se vai ao cinema ver um filme do Rodriguez, principalmente se tratando de Machete, esperando algo grandioso. Machete é um filme trash e se assume como tal, não poupa esforços para fazer com que o expectador não se esqueça disso. Os clichês estão inseridos nas cenas, diálogos, personagens; TUDO vai às raízes do trash e torna o filme extremamente divertido. Jéssica Alba como policial latina da imigração e Lindsay Lohan como a filha drogada de um traficante são provas das piadas que esse filme pode contar.

    Bom, as atuações não são excelentes, não há nada de incomum ali, exceto alguns poucos exemplos, como do De Niro fora do piloto automático, por exemplo. Já Michele Rodriguez faz a machona de sempre, Danny Trejo não sai muito de suas caras e bocas tradicionais, Jeffrey Frahey (a.k.a Frank Lapidus) também não sai de seu personagem.

    Porém, o filme exagera em determinados momentos. Certas cenas perdem o propósito e soam forçadas até para os filmes do Rodriguez, parecem ter sido postas ali apenas por parecerem legais e acabam não sendo. Além dos efeitos parecerem MUITO falsos em determinados momentos, o que pode ter sido feito propositalmente para que não esqueçamos de quão trash o filme quer mostrar ser.

    No final Machete é um filme de Robert Rodriguez, que vem repetindo a fórmula filme após filme. O que não o torna menos divertido, ele paga cada centavo que você gasta com nossos caros cinemas em diversão. E se você sair do filme reclamando dele, você não é um macho de verdade. No mais Machete don’t text.

    Texto de autoria de André Kirano.

  • Review | The Walking Dead – 1ª Temporada

    Review | The Walking Dead – 1ª Temporada

    The Walking DeadComo todo filme pós-apocalíptico, quem nunca se perguntou sobre o depois, se eles fugiram, se sobreviveram, ou o que aconteceu? Para estas pessoas que querem este algo a mais, recebemos de braços abertos este seriado maravilhoso que é The Walking Dead.

    Antes de continuar, escolha sua arma e fique atento, pois contém spoilers.

    A história é baseada nos quadrinhos de homônimo, The Walking Dead (2003), de Robert Kirkman com desenhos de Charlie Adlard e posteriormente substituído por Tony Moore e distribuída pela Image Comics. De início a história é simples e bem clichê, Rick Grimes (Andrew Lincoln) é um policial que foi baleado em uma patrulha e fica em coma.  Abandonado às pressas pela família e amigos, ele acorda sozinho no hospital, desorientado e sem saber o que esta acontecendo. Ao tentar voltar para a casa, ele percebe que algo de muito estranho aconteceu, o hospital está destruído, carros estão abandonados, casas abertas, pessoas mortas pela ruas, até que ele encontra alguém andando, veja bem, andando, não vivo! Sem entender ele grita por socorro e é surpreendido por um garoto  e seu pai, Morgan. Só então ele toma conhecimento do que está acontecendo e decide procurar por sua família, já que ainda tem esperança de que eles estejam vivos, é aí que a história começa!

    Rick tem a informação de que existem pessoas vivas e a salvo em Atlanta, decide então começar por ali sua busca! Entrando na cidade ele fica cercado dentro de um tanque de guerra, e acaba conhecendo uma das pessoas mais importante de sua jornada, Glenn (Steven Yeun), um amigo rápido, esperto e que salvaria sua vida muitas e muitas vezes e completaria a busca de Rick.

    Glenn era entregador de pizzas, e conhecia bem as ruas de Atlanta, rápido e ágil, depois da catástrofe passou a viver em um trailer com algumas pessoas, entre eles Shane. Shane (Jon Bernthal), o melhor amigo de Rick, estava junto dele no dia do incidente que o colocou em coma, fugiu quando tudo começou e acreditava que tinha visto Rick morto, prometeu proteger  Lori e Carl como sua própria família.

    Lori (Sarah Wayne Callies, Prison Break) e Carl (Chandler Riggs), esposa e filho de Rick, Lori foge deixando Rick, pois achava que ele estava morto e acaba se envolvendo com Shane, mas quando Rick volta tudo vira uma bagunça, seus sentimentos por Rick são fortes, mas o sentimento de culpa pelo que fez com Shane, era ainda maior. Carl, filho de Rick, não teve muita participação no seriado, como foi na HQ, tudo o que fez foi chorar e correr, mas sim, ele é um menino corajoso e que mesmo criança, tem muito mais atitude e sentimento de proteção do que muitos no acampamento.

    Com o decorrer da série, ocorre um ataque de muitos zumbis no acampamento, que acaba eliminando muitos alguns personagens, e o grupo decide que precisam partir, já que ali não é mais um lugar seguro. Nessa jornada partem para um centro de pesquisas e encontram abrigo com Dr. Edwin Jenner, um cientista que busca entender o que acontece com as células dessa nova peste que infestou o mundo.

    Uma história onde zumbis são apenas coadjuvantes, pois a atenção toda é no relacionamento das pessoas, convivência, novas políticas e regras de sobrevivência. Com uma primeira temporada muito empolgante, excepcional e muito bem vista lá fora e já com a segunda temporada garantida com 13 episódios. Contudo, corre o boato de que os roteiristas foram demitidos. Como assim? Simples, o produtor Frank Darabont achou que as coisas estavam tomando um rumo diferente, e se isso for verdade, contratará roteiristas diferentes para os episódios, eles seguirão a história, e diferente de muitas adaptações e seriados que morrem no meio do caminho, The Walking Dead tem tudo para ser um grande sucesso!

    Se você também não foi muito com a cara do Season Finale, não se preocupe aquilo não existiu, mas eles já estão tomando o rumo certo que foi o início! Comparando com a HQ, os elementos básicos foram levados e preservados, mais emoção e dialogo entre alguns personagens foram criados, tudo isto para não sair em disparada com o seriado que promete muito. Shane nos quadrinhos não é nada carismático e até odiamos e esperamos pelo seu fim, diferente do personagem do seriado.

    Zumbis da HQ são mais lentos, e alguns personagens bem diferentes dos desenhos, mas o que não afeta a história. Muito mais sangue derramado e cenas impróprias, fazem da HQ algo que uma criança não pode ler sem a supervisão de um adulto! Eu gostaria de contar mais um pouco, mas tenham certeza, se a seqüência for o que está na HQ, será fascinante e apaixonante!

    Uma dica de um leitor, telespectador e apaixonado por zumbis, se começar a ler a HQ, cuidado, não dá para parar!

    Texto de autoria de Henrique Romera.

  • Crítica | Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro

    Crítica | Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro

    tropa_de_elite_2

    Demorei cinco “longos dias” para juntar coragem em entrar numa sala de cinema que tivesse o cartaz do novo filme de José Padilha. Tentar anestesiar o monstro da ansiedade sobre o que esse diretor traria talvez tenha sido o motivo dessa minha letargia inicial.

    Vacinado com o modismo que se apropriou, no primeiro filme do BOPE e de seu fictício capitão, não me permitia acreditar nos (até o momento deste post) mais de 2 milhões de espectadores que foram, antes de mim, dar os olhos à surpresa das novas agressões que Padilha nos traria dessa vez.

    Mais que números e toda sorte de merchandising pós-filme-febre, minha reserva em ser levado pelas massas estava direcionada à dúvida sobre como os responsáveis pelo longa desenvolveriam ainda mais uma história que, desde o documentário Ônibus 174 já estava lustrada o suficiente para mostrar outros personagens que não apenas a díade de mocinhos e bandidos: nós próprios, “cidadãos de bem”, em nossa cativa passividade. Como, nessa sequência, o BOPE poderia ser mais “dissecado” do que fora anteriormente? Haveria um novo banho de sangue? Conheceríamos um novo repertório de palavrões e frases de efeito, entre fanfarrões e pedidos para sair? O que Padilha, agora associado a Mantovani (um dos nomes por trás de Cidade de Deus) teriam preparado para nós?!

    Quando a tela do cinema focou no filme, deixando para trás toda propaganda barata e efêmera, essa que pinta uma realidade rósea, bombardeando nossos sentidos dia a dia, foi projetada uma frase, que além de contrastar com o cenário habitual e comercial descrito neste parágrafo, colocava em transe não só o que as milhões de pessoas veriam a seguir, mas o próprio contexto social e político-eleitoral latente, porta do cinema afora:

    “Qualquer semelhança com a realidade é apenas uma coincidência. Essa é uma obra de ficção.”

    Pois, a “ficção” que ali se desenrolava trazia um problema de coordenação à dinâmica de quem a assistia: pensar sem respirar.

    Refletir sobre um Estado que, ao invés de coibir a violência e todos os seus derivados, está engendrado a estimulá-la por suas próprias instituições, no filme representadas pelo Poder Judiciário, na “idônea” polícia militar fluminense (tal qual aconteceu no primeiro filme), já era mote esperado nesta sequência. Contudo, Padilha fez mais: desdobrou a corrupção aos quinhões dos Poderes Executivo (representados na figura de um Governador inexistente e de um Prefeito estético e estático) e Legislativo (capaz de acomodar as mais caricatas figuras ao corpo dirigente, de um apresentador televisivo sensacionalista a um palhaço iletrado. Opa, perdão, não há palhaço iletrado na “ficção” de Padilha).

    A trama que o roteirista e diretor fez questão de mapear como irreal mostra um período posterior à saga do primeiro filme, mas que corresponde à nossa atualidade, onde o crime na “Cidade Maravilhosa” teria sido desorganizado pelo BOPE, agora mais estruturado e com maior campo de ação no combate à criminalidade carioca. Contudo, no vácuo desse poder paralelo, então supostamente erradicado, outra fonte de poder se apossou dessas fronteiras periféricas: as milícias. Constituídas e aparelhadas por policiais e políticos, fazendo com que a elite da tropa, representada na figura do, ainda, arrogante, inflexível, bad-ass-motherfucker e, acima de todas as demais características, determinado Nascimento. Esse que, de Comandante Geral do Bope à Sub Secretário de Inteligência, percebe a complexidade do sistema corrupto que assola nosso País e sua incapacidade de modificá-lo pelas vias “legais e pacíficas”.

    Os atores que dão personalidade aos personagens “cumprem a missão dada”. Enquanto Wagner Moura ratifica o principal personagem de sua talentosa carreira, Milhem Cortaz e André Ramiro mantém a maturidade de suas interpretações e reavivam a nostalgia dicotômica de seus personagens: a volta do malandro (tipicamente brasileiro) Capitão Fábio, contrastando com a severidade e disciplina militar de André Mathias. Somando esses altos patamares, outros personagens menores recebem nomes e interpretações muito além do que se esperaria desses na trama. Destaques que faço às representações de Antré Mattos, como o típico político que temos escolhido, Seu Jorge, num “Zé Pequeno” amadurecido e Irandhir Santos, que de figura secundária conseguiu elevar seu personagem a um embate paralelo na trama com Wagner Moura: as duas facetas (ou as “Duas-Caras”) da justiça.

    O desafio de respirar (asfixiado por um saco, parágrafos atrás) foi a acrobacia que todo espectador teve de realizar para refletir enquanto era esbofeteado por uma produção cara, importada e refinada, com direito a tomadas aéreas ausentes no primeiro filme, câmera dinâmica nas cenas de ação, roteiro truncado entre quem morria, como falecia e os porquês de cada “baixa”, uma fotografia propositalmente crua, oscilando entre cores fortes nas dependências abastadas, oficiais e, claro, no sangue jorrado, contrapondo com a opacidade desbotada da miserabilidade e condição rudimentar das comunidades.

    A edição, ainda que sem ineditismo algum em relação ao primeiro filme (iniciando um pouti-porri de cenas do primeiro e sucedido por uma apresentação que, tal qual em Cidade de Deus ou no primeiro Tropa, estampava uma cena-chave complementada e explicada ao longo da história), dá ritmo aos nossos fôlegos, de forma inteligente a cada salto da atividade profissional de Nascimento, assim como a cada tropeço na relação desse com seus entes: filho, ex-esposa e Mathias.

    A trilha sonora não se mostrou impactante como no primeiro. Fixar o grupo Tihuana na música tema, ainda que em nova versão, foi um voto pela preservação de uma imagem que já fora construída, assim como optar por um repertório bem conhecido entre faixas e artistas, caso de Paralamas, Marcelo D2 etc. Ademais, os efeitos sonoros ficaram bem alinhados com as cenas de ação.

    Extasiado, vi as cenas aéreas e audaciosas (não tecnicamente) finais desse filme cru, cruel e NADA fictício, com certo otimismo. Não se tratava de esperança nos dirigentes de nosso País que, ao meu ver, já estão de “pomba-gírice” há muito tempo, mas sobre o futuro da mensagem de Padilha que, tal qual fazia Sérgio Bianchi em seus filmes, mas sem arrebatar milhões de expectadores, novamente nos coloca em xeque:

    Se nada acontecer para mudar o cenário cancerígeno de nossos sistemas político e social, fodeu para todos nós. E, parafraseando Capitão Fábio (o modelo de nossa brasilidade), se “quer me foder? Então me beija!”

    Texto de autoria de Luciano Francisco.

  • Review | Call of Juarez: Bound in Blood

    Review | Call of Juarez: Bound in Blood

    Call of Juarez: Bound in Blood é um jogo desenvolvido pela Techland, publicado pela Ubisoft em 2009 para PC, Xbox 360 e PlayStation 3. O game é um FPS (First Person Shooter) ambientado no velho-oeste e com todas as características possíveis de um bom western e vem como um prequel ao Call of Juarez, lançado em 2007.

    O enredo do jogo se inicia no meio da Guerra de Recessão com os personagens lutando a favor da Confederação (o Norte), tendo como protagonistas os irmãos Ray Mccall e Thomas Mccall, dois militares nortistas que se veem obrigados a desertar o exército em prol de sua família que estava ameaçada de morte, já que os Sulistas se aproximam de onde eles moram, e por onde passam, deixam um rastro de pilhagem e sangue. Com o decorrer da história, um terceiro irmão se junta a aventura, William Mccall (o narrador da história), um jovem pastor que fica te seguindo o restante do jogo, propondo uma visão completamente oposta dos dois irmãos, principalmente a de Ray, que tem um temperamento selvagem e forte.

    Um dos pontos mais fortes do jogo é a história, senão o mais forte. Um enredo original, que te deixa intrigado para passar fases atrás de fases para ver o destino que terá cada um dos personagens apresentados. Digno de um western de Clint Eastwood, e falando nele, algumas falas no meio do jogo são citadas de alguns de seus filmes, além de tantas outras referências do cinema western.

    Quanto a jogabilidade, a Techland acertou em cheio nesse quesito, praticamente perfeita. Por exemplo, para se proteger dos projéteis que não param de serem disparados você pode se encostar em qualquer coisa que a cobertura vai funcionar perfeitamente, não é preciso ficar em uma posição exata ou apertar qualquer botão para isso acontecer. A única coisa que peca é a repetição das mesmas tarefas. E o principal deles, sem dúvida são os duelos.

    Talvez o que mais me incomodou no jogo foram os gráficos, não que sejam ruins, a Chrome Engine 4 faz seu papel, só que alguns erros incomodam bastante, como as feições dos personagens terciários que não se mexem e as sombras que em certos momentos deixam a desejar.

    A sonoridade é um dos melhores quesitos do jogo, com uma trilha sonora muito boa. As músicas fazem com que você entre no mundo western de fato. A dublagem muito bem feita é de ser elogiada e causar inveja em muitos outros jogos. Além de todos os efeitos sonoros que te deixam ambientados no que está sendo mostrado em tela.

    Infelizmente o Story Mode é curto, cerca de 6/7 horas de gameplay te  dá a possibilidade de concluir o jogo com tranquilidade, e a Inteligência Artificial é fraca praticamente o jogo inteiro, os inimigos nunca vão atrás de você, se você tomou um tiro, se esconda e pode fazer um cafézinho esperando a life ser recuperada que ninguém virá em seu encalço. Ainda assim, para quem curte um bom FPS com uma boa história, Call of Juarez não pode faltar na sua lista de jogos zerados.

    Texto de autoria de Felipe Vieira.

  • Review | Fullmetal Alchemist

    Review | Fullmetal Alchemist

    fullmetal_alchemistFoi-se a época dos cartoons que prendiam crianças na frente das televisões nos programas matinais, nada de cartoons engraçados e divertidos, hoje eles exigem mais: guerras, lutas, sangue (ou não! depende da censura). Não são feitos para simples crianças, as informações chegam rápido e fácil até eles. Quem se lembra de animes como Akira, considerado um dos melhores e primeiros animes, Evangelion, Cavaleiros dos Zodíacos, Samurai Warriors entre outros, da extinta TV Manchete?

    Neste mundo onde as pessoas maduras e crianças passaram a gostar mais de animes do que cartoons, que preferem ter em suas casas episódios em DVD do que esperar a boa vontade das emissoras. É nessa leva de animações que se destaca o anime Full Metal Alchemist, que não foi feito para crianças comuns, mas sim para crianças crescidas como nós.

    Full Metal Alchemist conta a historia de dois irmãos alquimistas, Edward e Alphonse Elric, em procura de recuperar seus corpos que perderam quando crianças ao tentar reviver sua mãe. Alphonse perdeu seu corpo no processo para ressuscitá-la, Edward perdeu sua perna direita e deu seu braço direito em troca de fixar a alma do irmão em uma armadura vazia, hoje utiliza próteses de metal que substituem perfeitamente braços e pernas, chamado Automail. Após o incidente, ambos decidem tornar-se alquimistas do estado, um título como general ou capitão do exército e recuperar seus corpos, custe o que custar. A história ainda conta com homúnculos, humanos criados com o poder da pedra filosofal, tal pedra, tem o poder de fazer tudo que o usuário desejar sem ter que pagar nenhum preço.

    Full Metal Alchemist teve uma primeira temporada de 51 episódios, porém não oficiais, grande parte não existiu no mangá, alguns ovas e um filme, com a continuação depois do final do anime. Sua “segunda temporada” (Full Metal Alchemist Brotherhood) foi diferente, o anime veio renovado tanto em questão de qualidade quanto na fidelidade ao mangá. Diferente de Naruto, Bleach ou One Piece, que hoje são os animes que tem mais destaque entre os espectadores, FMAB tem sua história parcialmente baseada em fatos e lugares reais, como a II Guerra Mundial , Europa e no Fuhrer (Hitler), um inimigo da justiça e que usa o exército para seus próprios interesses.

    FMAB é um anime cheio de suspense, reviravoltas, guerras, lutas, surpresas e também, porque não, humor e sarcasmo!

    O mangá está previsto para terminar dentro dos próximos meses e o anime está previsto até o episódio 100 aproximadamente, o que deixa muito mais interessante, pois teremos um final para toda a história, veremos sim um desfecho e o melhor de tudo, não teremos filler!

    Como de costume nos animes, FMAB conta com aberturas fantásticas e trilhas incríveis, não deixa nada a desejar!

    Se você assistiu a primeira temporada na RedeTV ou no Animax e não quer ver de novo a nova temporada, pode ter certeza, nova história, novos personagens, novas lutas, tudo novo! Confira! Vale muito à pena!

    Compre: Fullmetal Alchemist.

    Texto de autoria de Henrique Romera.

  • Resenha | The Walking Dead

    Resenha | The Walking Dead

    The Walking Dead - 01 - capa

    Para aqueles que se amarram em filmes e histórias de zombie, The Walking Dead é o que faltava para nos completar. Quem não adoraria ver nos filmes de zombies, se os mocinhos conseguem sobreviver, se os humanos sobreviventes conseguem ser resgatados, ou o que acontece depois?

    The Walking Dead, conta a história de alguns poucos sobreviventes em um mundo dominado pelo terror e por mortos vivos. Diferente do que vimos nos últimos filmes, os mortos-vivos não correm, não pensam e pouco oferecem perigo aos humanos. Aqui, o maior problema são os próprios sobreviventes, que por benefício próprio muitas vezes matam, brigam, cortam e mutilam uns aos outros.

    A historia é centrada em Rick Grimes, um policial que antes de toda a bagunça começar, foi baleado em serviço e ficou largado em coma na cama de um hospital. Quando Rick acorda, ele não entende o que está acontecendo e começa a procura por sua família. Logo Rick é encontrado por um grupo de sobreviventes acampados próximos a cidade de Atlanta, e junto destes, estava a família de Rick, sua esposa Lori e seu filho Carl.

    Morte de sobreviventes é algo constante nesta fabulosa HQ, o que faz com que dia a dia nossos protagonistas mudem o que sempre foram.

    Com o passar do tempo, Rick e o resto dos sobreviventes se unem a outro grupo de pessoas que procuram por abrigo e comida, e isto passa ser mais importante do que fugir dos zombies. Logo eles encontram uma prisão, com estoque de comida para muitos e muitos dias e resolvem ficar por ali mesmo, mas dentro da prisão alguns detentos faziam moradia e estavam se protegendo dos zombies.

    Sangue, sexo, estupro, mutilação, lutas, tudo freqüente neste HQ que trata de pessoas tentando sobreviver em um mundo pós-apocalíptico. O que vai acontecer depois? Todos serão salvos? Podem confiar em qualquer outro sobrevivente? Estas incógnitas fazem com que não percamos um único frame deste quadrinho.

    A história foi criada por Robert Kirkman e desenhada por Tony Moore, substituído por Charlie Adlard a partir do número 7. A história esta sendo adaptada para seriado e que iremos ver finalmente Rick Grimes e sua família na telinha. Aguardemos os próximos números e esperamos que realmente vire seriado, precisamos de algo novo na telinha.

    Compre: The Walking Dead.

    Texto de autoria de Henrique Romera.

  • Resenha | Kaori: Perfume de Vampira – Giulia Moon

    Resenha | Kaori: Perfume de Vampira – Giulia Moon

    Kaori - Perfume de Vampira - Giulia Moon

    ”[…] Naquele instante, o dragão rutilante soltou-se da pele alva da vampira e deslizou, célere, ao encontro do seu par. O dragão negro de Samuel percorreu, liberto, o corpo masculino, sua tela e sua prisão, até atingir a pele perfeita da amante, as suas nádegas, o seu ventre, o seu sexo. De repente, entre os dois corpos imersos no frenesi do amor carnal, as duas criaturas fabulosas encontraram-se, numa explosão de fogo e volúpia. […]”

    Depois desse começo quente, vou falar um pouco sobre esse livro esfuziante que li em 3 dias de tanta curiosidade pela história e fascínio pelos personagens.

    Kaori (traduzindo, significa perfume) está mais para biografia do que um romance (mas não pensem que é só isso, existem muitas partes de aventura e ação, além de doses de erotismo), já que o livro conta as aventuras dessa vampira nipônica desde o ano de 1647 (Período Tokugawa) até 2008 (Era Heisei).

    Pra entendermos o rumo que a personagem traça e a influência causada e sofrida por ela, devemos pensar no ensinamento do mestre dela: ”O que você sabe sobre o destino? Menina tola. Ninguém é dono do seu destino se não tem poder para mudá-lo.” [página 64]. Seguindo essa linha, no livro vemos como algumas atitudes da personagem geram reações voluntárias ou involuntárias de outros, ou mesmo, como o sobrenatural é cultivado dentro da sociedade atual e nos tempos feudais.

    Cada capítulo do livro reserva uma surpresa, mínima, mas sempre presente. A própria disposição dos capítulos é diferenciada, pois temos um capítulo tratando do presente, outro, do passado (dezoito capítulos marcados em numerais arábicos [presente] e mais dezoito marcados em numerais romanos [passado], somando prólogo e epílogo, nas 371 páginas do livro), com um final, na minha opinião, bom, mas não tanto quanto eu esperava.

    Mais algumas considerações: personalidade de cada ser vivo ou ‘não morto’ bem trabalhada, exceto de um que é somente mais explorado no final; localidades bem assimiladas transportando assim o leitor para o lugar, ou mesmo, o fazendo imaginar, sentir, ”respirar” a paisagem; acho que faltaram algumas doses de comédia com alguns personagens e/ou situações; senti muita falta da situação que deveria envolver (não pensem besteira) Takezo e Samuel.

    Durante todo esse tempo somos apresentados à algumas criaturas do folclore oriental como Nekomata (No Folclore Japonês, um gato com habilidades sobrenaturais parecidas com as de uma Kitsune ou de um Tanuki.), Tengu ( São criaturas fantásticas do folclore japonês, uma espécie de duende cujas lendas possuem traços tanto da religião budista quanto xintoísta, habitam florestas e montanhas. Eram desenhados de duas formas diferentes: Os karasu tengu : com o corpo humanoide, mas uma cabeça de corvo, ou, Os konoha tengu: com feições humanas, mas dotados de asas e longos narizes. Os konoha tengu eram representados às vezes carregando uma pena. Máscaras representando seus rostos eram muito usadas em festivais.), kyuketsukis (denominação japonesa dos vampiros, composta pelos fonemas: kyu = sugador, ketsu = sangue, ki= demônio), já a outra espécie de bichos que aparecem no livro, os canis famélicos, não achei registros na cultura oriental, só os cito pra não falarem que esqueci.

    Um outro ponto interessante é a diferenciação das classes da sociedade do final do período feudal/começo do período Meiji (abertura dos portões do Japão após 250 anos fechados para o comércio externo, por interferência dos americanos, Almirante Mathew C. Perry, período que o Imperador volta ao poder, desprestígio do Xogum [general e chefe militar, encarregado da proteção do império]):

    – Mercadores (pai da Kaori, Gombei, dono de uma venda de dangôs, Dangô ya);
    – Daimyôs (Lorde Shin-nô, o típico senhor feudal [tradução de daimyô] do final do período Tokugawa);
    – Samurais (Wakabara Kodo, que demonstra muito do significado do bushidô [bushi = guerreiro, dô = caminho, portanto, caminho do guerreiro], os princípios que regiam [ou deveriam reger] a conduta do samurai).

    Algumas das figuras históricas citadas: Myamoto Musashi (considerardo o mais forte e também criador do estilo Niten Ichi Ryu [Ni = dois, Ten = céu, Ichi = Um, Ryu = Dragão ou usado para denotar quando se refere à um estilo de arte marcial, esse estilo é ensinado até hoje, sendo composto pelo combate com uso de duas armas: katana e wakyzashi] e escritor do livro Go Ring no Sho [Livro dos Cinco Anéis]); Oda Nobunaga, Hideyoshi Toyotomi e Ieyasu Tokugawa (três grandes generais responsáveis pela unificação do Japão, sendo que Ieyasu é quem cria o cargo de Xogúm e mantém por hereditariedade de 1603 até 1853, ano da chegada de Perry a Baía de Edo).

    Uma última explicação: ”mas afinal, de onde vem essa coisa de eras?” ou, ”o que é Tokugawa e Showa?” vocês devem estar pensando, eis a explicação: A família imperial japonesa mantém-se de forma contínua no trono desde o princípio do período monárquico, no século VI a.C.. Do ponto de vista religioso, os imperadores traçam sua ancestralidade até o reinado dos deuses sobre a terra, dos quais seriam descendentes e o Imperador Jinmu é o primeiro mortal da linhagem imperial. Atualmente o trono pertence ao Imperador Akihito, lá é o mesmo caso da Inglaterra, um sistema parlamentar de governo, isto é, de acordo com a Constituição de 1947 o Primeiro Ministro é quem comanda o país mesmo existindo a Família Imperial.

    Obs: Pra um melhor entendimento do livro, recomenda-se a leitura do conto Dragões Tatuados, do livro Amor Vampiro (Editora Giz, 2008).

    Compre: Kaori: Perfume de Vampira – Giulia Moon.

    Texto de autoria de Hatake Diogo.

  • Crítica | As Virgens Suicidas

    Crítica | As Virgens Suicidas

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    Sofia, aquela menina tímida que interpretou (terrivelmente) a Mary Corleone de O Poderoso Chefão III, carrega consigo um dos nomes mais pesados da Indústria Cinematográfica do século XX: Coppola.

    Tendo isso em mente, pode-se imaginar que uma pressão enorme, tanto por parte dos profissionais desse meio quanto da expectativa dos fãs de seu pai, deve ter caído sobre ela quando foi anunciada em 1999 que dirigiria e escreveria seu primeiro longa-metragem: As Virgens Suicidas. Hoje em dia Sofia Coppola tem em seu currículo quatro longas, mas não deixa de ser válido mencionar o primeiro deles, já que para uma obra de estreia, um filme desse porte não pode nunca ser deixado em segundo plano.

    Produzido por Francis Ford Coppola e baseado em um romance homônimo de Jeffrey Eugenides, As Virgens Suicidas mostra a fase final da vida de cinco irmãs do ponto de vista de um grupo de garotos que cultivam grande fascinação por elas. É importante mencionar a diferença de idade entre elas que é de apenas um ano, o que significa que o cenário consiste em uma casa onde vivem simultaneamente cinco garotas na adolescência. Mantidas pelos pais autoritários e religiosos em isolamento domiciliar, as irmãs Lisbon tornam-se ídolos inalcançáveis para os meninos que, sendo seus vizinhos e frequentando a mesma escola, analisam e especulam sobre cada aspecto da vida delas que são capazes de observar. Da perspectiva da narração (feita por Giovani Ribisi, ator que também está presente na obra posterior da diretora, Encontros e Desencontros), um desses garotos tenta, a partir dessa obsessão, entender os motivos que as levaram a cometer suicídio (quem disser que é spoiler, leia o título do filme) de uma maneira no mínimo bizarra.

    Com uma direção inspirada e controversa, Sofia conta em um turbilhão de cores, gestos e expressões uma história poderosa e comovente. A fotografia do filme é delicada, feminina e incitante, exibindo em muitos momentos um brilho ofuscante e uma aura sonhadora. A trilha sonora é impecável, contando com a introspecção eletrônica da maravilhosa banda francesa “Air” e algumas faixas da banda de rock “Sloan”.

    O pontapé inicial do enredo é a tentativa de suicídio da irmã mais nova Cecilia, logo de cara deixando claro que a melancolia dessa história não será manipulada pelos recursos clássicos de suspense e drama que normalmente vemos em filmes que focam a natureza feminina – os girl flicks. Em vez disso, a diretora carrega sutilmente ao longo do filme a tristeza de uma vida limitada por dogmas culturais no contexto da juventude dos subúrbios americanos. Geralmente ao assistir a filmes que relatam “dramas adolescentes”, o que se vê é uma verborragia um tanto novelesca, além de conflitos banais que acabam por serem resolvidos magicamente por fórmulas igualmente banais.

    O diferencial dessa obra é que para entender o que se passa com as irmãs Lisbon, é preciso acima de tudo observar atentamente aos detalhes, que são o ponto forte desse filme. Um bom exemplo é a cena do cinema, em que o talento de Sofia consegue de uma belíssima maneira transmitir as emoções implícitas na situação proposta, e com apenas uma frase, culminar no grande clímax da história do carismático casal que lidera o elenco das personagens, Kirsten Dunst e Josh Hartnett. Alguns críticos atiraram tomates dizendo que as personagens são superficiais e mal construídas, quando na verdade, para um observador externo, é impossível definir os sentimentos e anseios que ditam o comportamento de pessoas reais e, consequentemente, o que se vê pode não fazer perfeito sentido dentro dos parâmetros de uma história linear simplesmente por não conhecer o contexto das vidas delas por completo.

    Para enxergar a realidade da (des)motivação dessas garotas é preciso imaginar o que não se vê, através de gestos e detalhes, justamente como fazem os garotos que espionam as vizinhas com binóculos para satisfazer sua curiosidade. Compreender plenamente o que se passa com elas é uma tarefa impossível, afinal sabemos que muitos pais passam a vida toda sem ter a menor pista de quem seus filhos realmente são. No final o espectador ainda se encontra sem saber exatamente o que concluir, deparando-se com um desfecho ambíguo e aberto a diversas interpretações diferentes, o que faz jus ao peso dessa história e ao realismo das circunstâncias em que ela toma forma.

    Com atuações sensíveis de Kathleen Turner e James Woods, As Virgens Suicidas é um filme que pode comover ambos os gêneros, especialmente para o cinéfilo que gosta de analisar as personagens sem que sua caracterização seja mastigada e entregue de bandeja pelo autor. Não é um filme fácil, mas não pelos motivos óbvios. É perfeitamente inteligível mesmo para o espectador mais leigo, porém exige um total envolvimento com a trama e as personagens para que se compreenda o que ele realmente tem de melhor. A princípio, na história pode parecer que existe uma falta de propósito, mas pra quem gosta do Cinema que expressa através da linguagem visual, é um prato cheio e uma deliciosa viagem de sutileza e melancolia.

    Texto de autoria de Thiago Debiazi.