Certo dia entraram num estúdio dois roteiristas e um diretor. Um estava bêbado, outro drogado e o outro sóbrio. Eles precisavam de inspirações para seu novo projeto. Primeiro assistiram Mad Max, depois Water World, fizeram alguma relação. Depois assistiram Transformers. Então veio a lâmpada de inspiração em suas cabeças. Vamos fazer nos inspirar na obra-prima Transformers, só que na água. O drogado então disse, com alienígenas, robôs e BURROS e ainda com um quê de suspense, em que o pessoal não sabe onde está o inimigo. Os 2 já comemoravam o novo Blockbuster. Até que o sóbrio tem um complemento de ideia mais genial ainda. Vamos ligar pra Hasbro e licenciar o jogo, batalha naval, vai ser um sucesso fácil de bilheteria, vai trazer todos que jogaram batalha naval pro cinema. E ainda completou, ESTAMOS RICOS!!! Foi a festa no estúdio. O executivo da Universal fez até um churrasco pra comemorar.
Essa poderia muito bem, ser a história do filme Battleship: A batalha dos mares. Mas com certeza não é, porque nada que gere um filme, se é que podemos assim chamar, tão ruim, pode ser tão legal.
Battleship, como diz o nosso garoto do Blockbuster, Jackson, é um filme errado. A começar pelo roteiro, que tem mais furos que cobertor de mendigo. Que eu vou tentar resumir em poucas linhas. Humanos desenvolvem um tipo de projeto SETI, com o objetivo de tentar fazer contato, com um planeta, que tem as mesmas características que a Terra. Em algum sistema solar por ai. Obviamente, que não existem alienígena bonzinho em filme de ação, Hollywood já nos ensina isso desde os anos 40/50.
O mais incrível é que em pouco tempo depois de fazer contato, esses aliens chegam à Terra. Com apenas 3 naves. Só que uma delas, a de comunicação, porque não, bate num satélite e eles ficam com duas naves de batalha. Criam então uma cúpula de campo de força no meio do oceano pacífico. Justamente onde está rolando uns “jogos de guerra???”, entre Japão e Estados Unidos. No fim das contas, o que interessa, é que meia dúzia de gato pingado, uns veteranos da segunda guerra e uma chaleira da segunda guerra mundial, destroem os alienígenas burros. Mais um detalhe, que faz parecer muito verídico. Os alienígenas tem ultra sensibilidade a luz, escolhem justamente o Hawai. No melhor estilo, Sinais. Um artifício barato de roteiro, para colocar alguma limitação nos inimigos.
Entre cavalos de paus de destroyers, avaliação sobre quem é inofensivo e quem não é por parte dos aliens, desenvolvida pela universidade de loucos. Temos uma tonelada de clichês, exagero de efeitos visuais e sonoros, pra compensar a total falta de roteiro. E estrelando essa merda toda, temos o nosso querido, Taylor Kitsch (também conhecido como, Temperado na Merda). Brooklyn Decker, uma gostosa andando para lá e pra cá, com camiseta regata sem sutiã e shortinho. Rihanna, fazendo o papel da Michelle Rodriguez, mas esquecendo de morrer nos minutos iniciais do filme e também, sem mostrar o reguinho. Pra completar o time que merece ser mencionado, Liam Neeson ( também conhecido como Liam Nelson), fazendo o almirante Zeus, num papel absolutamente tosco, para um ator de seu calibre. A única coisa que ele tem oportunidade de fazer, é mandar o presidente a merda. Nem discurso do igual o do Bill Pullman, em Independence Day, deixaram-no fazer.
Eu nem precisaria dizer o obvio, que no final das contas os humanos (americanos, é claro) vencem, mesmo contra toda as possibilidades. Mesmo com a marinha inteira dos Estados Unidos, não conseguindo intervir na cúpula. Talvez o único ponto interessante do filme, seja a participação de um veterano da guerra do Afeganistão, que perdeu as pernas em combate, que senta a porrada em um alienígena, com tanta vontade. Tudo em câmera lenta, com direito até a dente alien voando no soco.
Tudo isso que eu critiquei, ainda seria aceitável se o filme não se levasse a sério. Fosse uma porradaria desenfreada e frenética do começo ao fim. Agora, quando temos intermináveis 131 minutos de exibição, tentativas da forma mais clichê possível de fazer desenvolvimento e motivação do herói. Tentar fazer o ponto de virada do herói, quando ele passa a ser maduro e forte, pronto para salvar o mundo. E ainda dizer, “Eles podem nos vencer, mas não vai ser hoje”. Não da. Simplesmente não dá.
Pra fechar com chave de merda. A sequência inicial do filme, é uma refilmagem de um vídeo famoso. Em que um ladrão tenta assaltar uma loja de conveniência nos Estados Unidos. E acaba fazendo um monte de merda. Segue o vídeo.
Assista ao trailer de Battleship: A batalha dos mares.
PS: Disseram por aí, que os efeitos visuais do filme são bons.
ATENÇÃO: O TEXTO ABAIXO CONTÉM SPOILERS. ESTÃO AVISADOS!
Assistir a um filme nada mais é do que uma atividade sensitiva que estimula nosso cérebro a raciocinar e a trabalhar em cima de todas as imagens que são transmitidas aos nossos olhos ao longo da película. É uma espécie de quebra-cabeça. As imagens funcionam como peças de informação, as quais devem ser montadas para poderem ser analisadas através de uma visão global, de modo a compreendermos uma possível mensagem que está tentando ser passada para os espectadores. Esse é o trabalho dos diretores. Transmitir uma ideia.
Hoje vou falar sobre um dos filmes que, na minha visão, melhor trabalham a questão do quebra-cabeça cinematográfico. Estou falando de Donnie Darko, dirigido por Richard Kelly e lançado em 2001. Um filme que não pode simplesmente ser considerado ordinariamente e abaixo tentarei explicar o porquê. Antes de mais nada, recomendo sinceramente que assistam ao filme, já que o texto com toda a certeza terá spoilers. Se você, mesmo sem ter assistido, quiser se aventurar, bom… a vida é uma longa e insana viagem.
Donnie Darko, interpretado por Jake Gyllenhaal, é um jovem problemático que possui indícios de esquizofrenia. Um dia, Donnie conhece Frank, um coelho gigante que o salva de um acidente que ocorre em sua casa. Frank profetiza o fim do mundo para Donnie, o qual passa a obedecer ordens do Coelho. Donnie se encontra inserido entre a realidade e suas alucinações, ao mesmo tempo em que questiona o sentido da vida e da morte.
A primeira cena do filme nos apresenta o clima em que adentraremos: Donnie amanhece no meio da rua, em uma estrada com um lindo visual nas montanhas. Ele levanta sem saber como chegou até lá e dá um sorriso, como se achasse graça da situação. É evidente que Donnie é um garoto diferente, solitário e sombrio. Na cena seguinte, pega sua bicicleta que estava deitada no acostamento (indicando como ele se locomoveu até aquele ponto tão distante da cidade) e volta para casa. Nesse caminho de volta, somos apresentados a uma pacata cidade, ambientada no final dos anos 80, com pessoas caminhando, o pai de Donnie cortando grama, sua irmã mais velha saindo para passear, sua irmãzinha pulando na cama elástica e sua mãe lendo um livro do Stephen King. Um típico exemplo de família modelo, em que Donnie seria a ovelha negra: ao entrar em casa depara-se com “Onde está o Donnie?” escrito na porta da geladeira. A figura do personagem no filme representa sua autenticidade no contexto geral da sociedade.
O mundo em que vivemos cria padrões de comportamento e modelos a serem seguidos por toda uma sociedade. Todas as pessoas e elementos indiretamente acabam sendo englobadas por essas “tendências” sociais. Os que não se enquadram no modelo acabam sendo moralmente coagidos, retaliados ou forçados a adentrarem. Fica evidente essa ideia quando descobrimos que Darko toma remédios psiquiátricos. Teria ele esquizofrenia como sua analista suspeitava ou seria apenas uma forma de a sociedade não aceitar a forma não convencional como nosso protagonista age? Donnie desaprova quando toma seus remédios; porém, mesmo assim, o faz.
Na noite do mesmo dia somos apresentados à entrada de dois universos: o da mente de Donnie Darko e a realidade. Donnie é acordado por Frank, o coelho gigante, que profetiza o fim do mundo. “28 dias, 06 horas, 42 minutos e 12 segundos”, diz Frank. Podemos dizer que metaforicamente Donnie estaria adentrando nesse momento no País das Maravilhas: na fábula de Lewis Carroll, um coelho conduz Alice para uma outra dimensão. Tanto Donnie quanto Alice apenas existem; seus conhecimentos passam a ser adquiridos com os acontecimentos que vem a seguir. Na mesma noite acontece outro fato estranho: uma turbina de um avião cai em cima da casa de Donnie, mais especificamente em cima de seu quarto, porém nosso protagonista não estava lá, pois havia sido acordado por Frank. Ninguém sabe de onde veio a turbina e nem de que avião, o que torna as coisas ainda mais misteriosas até esse ponto do filme.
Inserido no meio de uma série de acontecimentos estranhos, uma pessoa “anormal”, por assim dizer, passaria a se encontrar na anormalidade das coisas que vão acontecendo. Uma nova realidade é criada, com a qual Donnie acaba se identificando. O filme apresenta uma forte discussão no que diz respeito ao sentido da vida e da morte. Em uma cena do filme, o pai de Donnie quase atropela uma velha senhora chamada de Roberta Sparrow. Ela chega no ouvido de Donnie e diz que “todos os seres vivos morrem sozinhos”. Essa fala, por si só, vai cair como um peso sobre os ombros do protagonista, pois é um pensamento terrível. Em um mundo onde as pessoas vivem socialmente e se apegam, a solidão é um pesadelo. Morrer ganha a figura desse pesadelo ao pensarmos que vivemos em vão, sem nenhum sentido, para atingirmos um fim indiferente, que é nossa morte.
A vida não é tão simples assim e, por isso, Donnie vai questionar a ordem da sociedade. Em seu colégio, uma de suas professoras passa a incitar os alunos a aceitar a filosofia de Jim Cunningham (interpretado por Patrick Swayze), o qual defende que a vida se baseia em amor e medo. Todos temos que nos afastar de atitudes que se enquadrariam na categoria “medo” e deveríamos assumir posturas coerentes com “amor”. Donnie não aceita essa visão e passa a se meter em problemas na escola por conta disso, como quando ele mandou sua professora enfiar a “linha do medo” na… é, deu para entender.
Frank incita Donnie a realizar uma série de atos “criminosos” contra sua cidade, buscando como único objetivo o de virar de cabeça para baixo o mundo em que vivem. Inundar a escola e queimar a casa de Cunningham, por exemplo. Tudo não passa de um movimento de criação. No contexto do filme temos a destruição como uma forma de criação e a busca da quebra de paradigmas.
Ao mesmo tempo entramos em uma discussão digna de Stephen Hawking, já que Frank diz: “Venha comigo para o futuro” e, a partir de então, entramos em uma discussão pesada em relação a viagens no tempo. Observamos que todas as atitudes que Frank manda Donnie fazer acabam influenciando de alguma forma o futuro do personagem. Até mesmo quando Darko conhece Gretchen (interpretada pela linda atriz Jena Malone), a qual virá a ser namorada de Donnie futuramente, foi justamente pelo fato de ter inundado a escola na noite anterior.
Nesse momento do filme percebemos que Donnie Darko já entendeu que ele é o responsável por determinar os resultados de seu futuro. Ele possui o poder de manipular os acontecimentos e é nisso que ele acredita. Queimar a casa de Cunningham, por exemplo, acabou por revelar que o mesmo possuía uma série de fotos, vídeos e objetos que o denunciavam como pedófilo. Através da atitude de Darko, Cunningham é desmascarado e por isso é preso.
A todo momento não sabemos até que ponto as coisas que vêm acontecendo, os encontros com Frank e as coisas que ele manda Donnie fazer são parte da realidade e o que faz parte de possíveis alucinações do nosso personagem principal. Será que as supostas viagens no tempo realmente seriam possíveis? Donnie está intrigado com essa possibilidade e passa inclusive a buscar ajuda de um dos seus professores para tentar entender os princípios físicos da viagem do tempo.
Algumas cenas que se passam na escola ajudam a desenvolver ainda mais os mistérios apresentados ao longo do filme. Quando a professora Karen Pomeroy (interpretada por ninguém menos que Drew Barrymore) é demitida, ela diz a Donnie “cellar door” (porta de adega, em tradução livre), citando Edgar Alan Poe e J.R.R. Tolkien, que a consideravam a frase mais bela da língua inglesa, sonoramente falando. Essa “porta de adega”, posteriormente, se apresenta como um possível portal para viajar no tempo.
No dia de Halloween, a irmã mais velha de Donnie resolve fazer uma festa em comemoração ao fato de que foi chamada para estudar em Harvard. Esse seria o último dia do mundo, segundo a previsão de Frank. Uma fatalidade acontece e as coisas passam a ganhar outra direção. Gretchen é atropelada por um carro e, quando percebemos, um garoto com a fantasia de Frank sai de dentro do mesmo. Somos apresentados ao presente, que representava o futuro por toda a extensão do filme até então.
Frank é o namorado da irmã de Donnie e lá estava ele com sua fantasia de coelho. Todos os acontecimentos convergiram para o momento em que Donnie puxa a arma que havia pego do quarto de seu pai e atira em Frank. Sua namorada estava morta e ele se encontrava mais uma vez desolado, sem entender o porquê de as coisas terem tido aquele resultado. Donnie pega o corpo de Gretchen e o leva para o local onde o filme se inicia, na estrada em que nosso protagonista havia amanhecido. Uma espécie de renascimento acontece, uma epifania atinge nosso personagem e em um momento percebemos que ele atingiu o autoconhecimento.
Ao mesmo tempo em que isso acontece, a cena muda para o avião da mãe de Donnie, que está voltando com Samantha (irmã mais nova) de um campeonato de dança. Repentinamente, o avião entra em um estranho turbilhão que mais parece um portal (ou um wormhole, que nas teorizações de Stephen Hawking abriria portais para viajar no tempo) e sua turbina quebra. Todos os acontecimentos passam pelos olhos de Donnie Darko e mais uma vez voltamos para a noite em que ele havia entrado no País das Maravilhas. Dessa vez, Donnie sorri e deita na sua cama, com um ar de alívio, como se estivesse aceitando o que deveria acontecer desde o começo. Ele entende o que significaria a sua vida dali para frente tendo um outro resultado. Donnie sorri. A turbina cai em cima do seu quarto e ele morre.
O filme deixa uma margem gigantesca para diversas interpretações. O final não junta todos os pedaços, porém nos oferece uma direção de raciocínio. Pra encerrar com direito a nos arrepiar completamente, Mad World começa a tocar, ao passo que nos são mostrados todos os personagens que fizeram parte dessa história, como se a escolha que Donnie fez tivesse influído de alguma forma para um autoconhecimento de todos. Temos o autossacrifício, baseado no Cristianismo e nos ensinamentos do Budismo (neste, o Coelho é um símbolo de autossacrifício, pois o animal teria se atirado ao fogo com o objetivo de alimentar Buddha, que estava faminto. Como recompensa, ele ganhou uma nova casa na lua). O mundo de fato havia acabado, na vida de Donnie Darko. Atingiu uma nova forma de criação através de sua morte.
Para finalizar este longo estudo sobre o filme de Richard Kelly, deixo um poema escrito pelo próprio Donnie Darko, e que foi disponibilizado nos extras do DVD:
“Uma tempestade está a caminho, diz Frank. Uma tempestade que irá engolir as crianças, e eu vou devolvê-las do mundo da dor. Vou devolvê-las de volta para suas portas; Mandarei os monstros de volta para o subterrâneo. Vou mandá-los de volta para um lugar onde ninguém poderá vê-los, exceto por mim porque sou Donnie Darko.“
Se uma ideia foi transmitida eu não sei. Donnie Darko é um quebra cabeças que possui milhares de peças, que, por incrível que pareça, formam desenhos diferentes. Com certeza uma excelente obra pra ser apreciada pelos amantes da sétima arte.
Do sucesso sem precedentes de Marilyn Monroe todos tem conhecimento. O brilho de uma estrela que com apenas 27 anos atingiu um sucesso absoluto em Hollywood é muitíssimo reconhecido em diversas homenagens feitas a ela, porém em Sete Dias com Marilyn o enfoque é um pouco mais peculiar. Mesmo um atraso considerável na chegada deste filme aos nossos cinemas, finalmente podemos contemplar este filme dirigido por Simon Curtis e que merecidamente disputou os os prêmios de Melhor Atriz (Michele Williams), e de Melhor Ator Coadjuvante (Kenneth Branagh).
A história baseada em dois livros de Colin Clark se concentra no ponto de vista do mesmo, interpretado por Eddie Redmayne, e se passa nos bastidores da gravação do filme “O Príncipe Encantado”. Clark acaba de adentrar no mundo do cinema e está trabalhando na produção do filme, mas não esperava se aproximar tanto da atriz principal a ponto de viver uma curta, mas intensa paixão por ela.
O brilho, a sensualidade e a beleza de Marilyn entram em contraste direto com seus problemas pessoais, sua insegurança e seus medos. Para os que não estão familiarizados com a história da atriz, somos apresentados a uma Marilyn mais ambivalente e mais humana. Uma jovem que é considerada um exemplo para um mundo que ao mesmo tempo confronta o medo desse fardo.
Michele Williams é perfeita e brilha no filme. Seu olhar é profundo de tal forma que podemos perceber muitos sentimentos apenas com o vislumbre do seu semblante. A iluminação e fotografia utilizada no filme, misturados com algumas cenas de câmera lenta, se mesclam perfeitamente à atriz. Ela revive Marilyn Monroe nesse filme e o faz muito bem, não somente em relação aos momentos de brilho, mas também nos momentos obscuros da personalidade da atriz.
Eddie Redmayne e Kenneth Branagh também se destacam de maneiras diferentes. Enquanto o primeiro trabalha a visão inocente e de certa forma impulsiva de um jovem que se apaixona por uma grande atriz, conseguindo criar empatia com o público dos seus sentimentos joviais, o segundo explora um personagem que procura criar o filme perfeito e para isso tem que contornar os problemas de Marilyn e o ciúmes de sua esposa.
A fantástica atuação compensa o roteiro simples e a trilha sonora modesta que o filme possui. Conseguimos sentir e simpatizar com os personagens nas ações mais triviais, nos olhares e nos sorrisos. Estes pequenos problemas acabam não sendo nada para a grandiosidade que o filme se apresenta em seu produto final.
John Ottway (interpretado por Liam Neeson) é um atirador contratado por uma empresa petrolífera para defender os campos de trabalho contra lobos. O local de trabalho localizado no Círculo Ártico é descrito rapidamente pelo protagonista como o próprio inferno. Os que estão ali querem se distanciar da sociedade assim como John. Tudo muda após um acidente de avião em que Ottway e mais algumas pessoas sobrevivem, porém devem enfrentar a sobrevivência em um lugar gélido e cheio de lobos famintos à espreita.
Liam Neeson lidera o filme do começo ao final. Seu personagem com tendências suicidas se vê na obrigação de ajudar os seus colegas frente a uma situação de sobrevivência em que é claramente mais experiente. O ator realiza um excelente trabalho guiando um personagem que acaba buscando sua redenção lutando contra sua própria natureza.
Em um filme que se busca sufocar a humanidade frente o natural, todos os personagens acabam tendo sua importância. Tirando o destaque de Liam Neeson, os outros sobreviventes tem suas próprias naturezas e personalidades sendo exploradas de maneira modesta, mas ainda assim considerável. O roteiro possui esse pequeno buraco, porém essa falha acabou sendo camuflada dando abertura para que boa parte do desenvolvimento desses personagens secundários se dessem por mérito dos atores.
O diretor Joe Carnahan tenta levar a essência do ser humano ao limite. Apesar de achar que isso poderia ter sido levado em um patamar mais acima, de uma forma que sentiríamos a “claustrofobia” causada pela natureza sufocando o ser humano, acredito que o filme realiza um pouco dessa sensação de forma justa e satisfatória. Boa parte disso se resolve até mesmo pelo habitat gélido que está ali presente, quase como um personagem opressor que castiga os personagens.
A Perseguição nos leva aos limites da tensão dramática. Os indivíduos presentes no filme não estão apenas enfrentando lobos, que quase que estrategicamente se aproveitam do clima para enfraquecer os homens e matá-los um a um, mas suas próprias naturezas e instintos. Como o próprio pai de John Ottway escreveu em uma poesia quando jovem: “você vive e morre neste dia”.
A Mulher de Preto é um filme do diretor James Watkins com o famoso ator Daniel Radcliffe (conhecido pelo seu papel em Harry Potter) que alcançou bastante propaganda justamente pelo seu protagonista. O filme conta a historia de um advogado que se vê forçado a viajar para uma aldeia do interior para cuidar de um caso, mesmo que ainda não tenha se recuperado da morte da sua esposa que ele passou recentemente.
Primeiramente, o filme tem paisagens excelentes. As locações do filme são magníficas, deixando com vontade de visitar os locais. Além das paisagens naturais, que dão um ar de interior da antiguidade, as locações de cidades passam muito bem a ideia de estar em um interior da Inglaterra antiga ou até na londrês antiga.
Mas um ponto é o figurino, que também ficou muito bem feito. Existe uma diferença visível até entre as roupas usadas pelas pessoas na cidade e no interior. Como seria de se esperar daquela época. Até mesmo dos ares entre a cidade e o interior.
Agora porque eu notei isso? Porque eu faço corte&costura e paisagismo? Não, juro. Porque o filme tem um clima de era vitoriana muito grande, causando uma impressão de realismo e não lhe tirando do clima do filme e sempre aumentando. Por algum tempo você até pensa que poderia ser a população que devia realmente ter suas crenças nessa época que estava criando aquele clima. Você se sente transportado direto para aquele ambiente, o que se torna muito importante para gerar esse clima de desconfiança do que é real ou mito no filme.
Veja que o filme passa uma grande parte do tempo se preocupando em desenvolver e lhe prender na tensão da historia. Quem seria a mulher de preto? Ela seria um fantasma mesmo? Se for um fantasma, seria a mulher dele?
O personagem muito bem interpretado pelo “Harry Potter” segue com suas motivações muito criveis, além de interpretar muito bem um pai que tem que ser melhor e mais forte por causa do seu filho. Tudo isso em uma interpretação muito contida, em que você olha alguém que passou por muita coisa, mas não pode demostrar, não tem para quem o intenda e tem que seguir em frente mesmo ainda não superado os seus traumas.
O filme tem uma duração curta de uns 90 min., que acaba sendo um pouco curto. Mas, se o filme se estendesse mais, possivelmente perderia o ritmo ou seria adicionado na historia do filme elementos desnecessário ao ambiente. Nesse caso, a duração ser curta é uma coisa boa. Nesse caso, menos tempo é mais conteúdo.
Sobre o final do filme, aguardem uma boa surpresa. O final eu classificaria como corajoso por não se render a ser mais agradável e não previsível por brincar com o que você sabe e o que você acha que sabe. Em nenhum momento sabemos de tudo e tudo é incerto, e o final não podia ser diferente.
Pessoalmente, recomendo o filme porque eu gostei. Diferente de muitos filmes, esse da um ar de susto/tensão pelo seu desenvolvimento e interpretação dos atores, apesar de abusar de alguns clichês de vez em quando, mas sabemos que o que importa não é a historia e sim como ela é contada. E nesse caso foi uma excelente forma de contar uma historia de fantasma.
Após uma longa espera, repleta de ansiedade e expectativa crescentes, chegou o evento mais importante da História da humanidade. E a conclusão (sim, já na segunda frase) é que é ótimo estar vivo nessa época. Os Vingadores finalmente chega aos cinemas, e o fato de todo mundo estar falando incansavelmente sobre o filme deixa mais difícil fazer uma análise “original”, então ligarei o foda-se pra isso e tratarei simplesmente de apresentar minha opinião.
Em sua trajetória até aqui, o Marvel Studios optou por controlar fortemente suas produções, assegurando que tudo sairia de acordo com o planejado. Por conseqüência, os filmes anteriores foram muito mais “do estúdio/produtores” do que de seus respectivos diretores (quem chegou mais perto de colocar uma certa identidade foi Kenneth Branagh em Thor). Discussões artísticas a parte se isso é certo ou errado, o fato é que funcionou.
Os heróis foram apresentados, o universo foi estabelecido, e chegou a hora do próximo passo. Fácil, alguns poderiam dizer: só juntar todo mundo pra dar porrada em alguém e pronto. Seria “massaveísticamente” divertido, lógico, mas porque não fazer um BOM FILME contendo isso? Então temos uma quebra do padrão, pois é inegável que em Os Vingadores muito do crédito se deve a Joss Whedon.
Além da direção, ele fez modificações no roteiro quando assumiu o cargo, e conhecendo seu background, conclui-se que o cara acertou a mão. Quase um estreante no cinema, a experiência de Whedon em seriados de Tv e como roteirista de quadrinhos lhe ensinou a trabalhar com vários personagens dando a todos a devida atenção. O que, qualquer ameba deduz, era fundamental neste filme. Muito mais do que uma história mirabolante, o foco aqui é, e devia ser, a interação entre a galera. E numa palavra: SENSACIONAL.
Quem já leu uma revista em quadrinhos na vida sabe que é lei: heróis saem na porrada quando se encontram pela primeira vez. E não se engane, este é um filme feito pra fãs. Então temos um festival de pequenas lutas, praticamente um todos contra todos. O detalhe positivo é que o roteiro conduz tudo isso de forma muito natural, evidenciando que todos estão acostumados agir sozinhos e não vão confiar de cara em desconhecidos. Inverossímil seria se todos fossem Super Amigos desde o início. Também com naturalidade vem a superação das desavenças quando o momento exige. Outro ponto inteligente do roteiro: não foi todo o planejamento da S.H.I.E.L.D. que botou os heróis pra trabalharem juntos. Foi a necessidade, o surgimento de “uma ameaça grande demais pra qualquer um deles enfrentam sozinho”. Como é bom quando os realizadores do cinema LÊEM os quadrinhos…
Mesmo os personagens mais irrelevantes encontram seu espaço. Começando pelo melhor de todos (ironia mode on), o Gavião Arqueiro. Um zé ruela com arco e flechas no meio dos outros, muita gente questionava. Pois bem, amiguinhos: os caras não são idiotas, Barton é naturalmente colocado como um peixe fora d’água. Mas graças a um esperto artifício de roteiro, logo no início ele adquire uma posição diferente, ganhando uma participação mais ativa do que teria. E no fim das contas, ele é um agente fodão, que ta lá pra fazer aquilo que puder numa situação onde qualquer ajuda é bem vinda. E ele manda bem, simples assim. Jeremy Renner é um ator em ascensão, competente apesar de (na minha opinião) supervalorizado.
Passemos então a (aaahhh…) Scarlet Johansson. Uma das boas surpresas do filme, devo dizer. Gostosa como sempre, mais uma vez com espertos enquadramentos de sua lendária e maravilhosa bunda, nenhuma novidade aí. Mas deu pra perceber uma boa atuação por parte dela, aliada a um desenvolvimento interessante da personagem Viúva Negra. Muito legal sua origem russa ser citada aqui (algo ignorado em Homem de Ferro 2), da mesma forma que seu passado com o Gavião. Ficou a curiosidade em saber mais sobre isso, de repente um spin off estrelado pela dupla seja uma idéia a ser pensada com carinho.
Outro que surpreendeu foi o Hulk/Banner de Mark Ruffalo, um ator meio “mais do mesmo” que aqui conseguiu achar um tom que me agradou muito: algo entre a insegurança de um cientista meio loser em relações pessoais e a tranqüilidade de alguém que há anos convivendo com uma maldição, conseguiu controla-la. Ao contrário do que imaginei, Bruce Banner aparece bastante (o que não fica chato!) e o Hulk é usado com moderação, garantido níveis épicos de fodacidade quando parte pra ação. E na boa, pessoal, chega do eterno mimimi sobre o CGI do bicho ficar ruim, etc. Ele não é um ser humano grande e forte, é um monstro deformado. Não dá pra ficar “realista”. Algumas pessoas parecem desejar uma tecnologia que não existe. Vamos parar com a frescura e seguir em frente.
Thor foi um personagem que me decepcionou um pouco, no sentido de sua relação com os outros. Lindos os quebra-paus contra Homem de Ferro e depois contra o Hulk, sem dúvida. Mas o fato do loirão já estar estabelecido e auto afirmado como “protetor da Terra” deixou pouco espaço pra um drama pessoal, uma evolução, além dele surgir um tanto abruptamente na meio da história. Seu interesse maior foi mesmo em relação a Loki, ainda tentando convencer o irmão a parar com as maldades. Postura recorrente nas hq’s, então não dá pra reclamar muito. Mas a impressão final é que, no caso dele, rolou um ctrl c no roteiro de Thor 2 e um ctrl v no meio da trama de Os Vingadores, fazendo com a jornada deste herói destoasse da dos demais. Chris Hemsworth mais uma vez manda bem.
O outro Chris, o Evans, eternamente criticado por boa parte do público, também faz um bom trabalho. O que prejudica, e muito, o Capitão América, é a inexplicável mudança de sua roupa maneira pra um cosplay bem ridículo. Modernizar o uniforme pra que, após todo esforço que o filme solo teve pra combinar o aspecto super-heroístico com um visual militar? Pelo menos partissem pra algo mais sóbrio, talvez uma roupa de couro com um tom mais escuro, sóbrio. Aquele azul berrando deixou-o deslocado em meio aos outros heróis. Por outro lado, vê-lo muito mais ágil foi excelente, aproximando o personagem dos quadrinhos. Outra discussão pré-filme sempre foi sobre sua liderança (ou não) da equipe. Aqui ele não é, de fato, um líder inquestionável, apesar de ter seu momento de comandante de campo, visto sua experiência na Guerra. Isso se deve, porém, muito mais o fato do grupo ainda estar se formando (e o próprio Rogers ainda estar deslocado no presente) do que ter esse posto roubado por outro personagem de mais sucesso, como muitos imbecis pregaram aos quatro ventos.
Pois o Homem de Ferro NÃO lidera a equipe, não comanda nada. Não aconteceu um fenômeno Wolverine aqui. Stark é o personagem mais legal, mais carismático, tem as melhores tiradas, Robert Downey Jr rouba a cena? Com certeza, mas sabiamente (graças a Deus) os caras não botaram o Ferroso pra dar ordens por conta disso. Ele ainda é o rebelde piadista, que apenas toma consciência da grandiosidade da situação e de sua própria importância no meio de tudo, e age de acordo. Sem nunca perder o humor mordaz. Se o herói se destaca, é naturalmente, não por ser “O” protagonista.
Finalmente, o vilão. Tom Hiddleston mais uma vez ótimo no papel de um Loki eternamente movido pela inveja de Thor, isso é intrínseco do personagem. Muitos dos que estão criticando provavelmente desconhecem isso. Sem dúvida que todo seu plano, e movimentos para executa-lo, são bem “qualquer coisa” pra fazer a trama andar e os heróis brigarem entre si e depois se unirem. Sem dúvida um ponto pouco trabalhado do roteiro e o grande defeito do filme, porém perdoável. Como citado antes, o importante são os heróis interagindo, então a ameaça não ser tão bem desenvolvida é uma simples questão de falta de tempo. Falando em falhas, outro elemento que me incomodou foi a S.H.I.E.L.D. Emocionante ver o porta-aviões aéreo, nosso querido Samurai L Jackson tendo mais espaço pra ser mothafucka, hilário o agente Coulson se revelando um nerdão vergonha alheia, até Maria Hill em sua micro participação consegue ser legal. Mas a agência parece conseguir informações precisas das coisas muito rápida e facilmente, como que por mágica. Tudo bem que é uma central de Inteligência, mas esse é outro aspecto de um roteiro apressado. Mais uma vez, nada que comprometa a diversão.
E esse é ponto principal, o filme é insanamente divertido. Ação desenfreada com toques de humor, a marca do Marvel Studios, agora numa escala maior. Pois Os Vingadores só pode ser classificado como um novo nível no cinema do gênero. Antes ficávamos feliz com qualquer adaptação, em seguida vimos que era possível ter bons filmes, e agora está provado que dá pra juntar um bando de heróis sem ficar galhofa. Se for algo bem planejado e executado, lógico. Então, Warner, já passou da hora de se coçar. Um mega filmaço com a Liga da Justiça é sim possível, e é o que todos enxergam e esperam pro futuro. Mas por enquanto, serei babaca ao encerrar o texto com um #ChupaDC.
Há muito tempo venho largando aqui pelo Vortex Cultural um carinhoso apelido que foi inventado para o filme dos Vingadores. Esta mega produção da divisão cinematográfica da Marvel Studios vinha sendo carinhosamente chamada de “evento cinematográfico do ano” por várias pessoas, e eu resolvi aderir à causa.
Os Vingadores sempre foi um sonho de todos os amantes do universo Marvel e de super-heróis em geral. O encontro da formação mais clássica do grupo nas telonas nunca havia passado disso. Pois bem, começamos a acordar deste sonho em 2008 com o lançamento de Homem de Ferro. Quando Nick Fury aparece na cena pós créditos deste filme, parado no apartamento de Tony Stark, tivemos a certeza de que ele estava vindo: Nosso sonho impossível viraria realidade.
Então, quatro anos e quatro filmes depois, finalmente essa fantasia impossível tornou-se 100% realidade. São 3 horas da manhã do dia 27 de abril de 2012 e eu acabo de voltar da pré-estréia de Os Vingadores, mas até agora não me bateu um milésimo de sono. Não vou conseguir dormir tranquilo enquanto não contar exatamente o que foi Os Vingadores e por que esse filme é importante, na minha empolgada e nada balizada opinião, para a indústria cinematográfica e para o futuro dos filmes de super-heróis.
Caso ainda não tenha ficado totalmente claro, Os Vingadores é simplesmente o maior filme de ação/aventura feitos nos últimos 50 nos, e provavelmente não será igualado pelos próximos 50! Um filme espetacular, bem humorado, respeitoso com os fãs e que vai marcar a vida de milhares de pessoas, a começar pela do diretor.
Joss Whedon será lembrado, para todo o sempre, como o diretor que trouxe o grupo de super-heróis mais famoso da Marvel para as telas do cinema pela primeira vez. É inacreditável, na verdade, que alguém tenha deixado o filme nas mãos deste cara que, pasmem, nunca havia dirigido um filme inteiro antes! Eu não sei o que o pessoal da Marvel fumou antes de ligar pra ele e oferecer o trabalho, mas essa foi a aposta mais arriscada da história, sem dúvidas!
Antes de entrar no plot, vamos só recapitular rapidinho o que o pessoal da Marvel largou na mão do diretor do cara: um personagem deus, um personagem indestrutível e incontrolável, um escoteiro super forte com um escudo errado, um gênio bilionário com tudo para roubar o filme de seu legítimo dono (leia-se: Capitones!) e dois personagens que nunca haviam sido explorados nos filmes introdutórios. Tudo isso junto no mesmo filme enfrentando um vilão que precisa ser muito foda, mesmo não tendo demonstrado antes fodulência o suficiente para bater de frente com esta galera… Fácil de fazer né?
No filme, Loki é enviado à Terra por uma entidade desconhecida para roubar o cubo cósmico (que neste filme tem um outro nome que eu não consigo lembrar porque toda vez que ele era dito eu substituía a palavra estranha por “cubo cósmico”) da S.H.I.E.L.D.. Em troca da fonte inesgotável de poder, o meio-irmão de Thor receberia o controle de nosso lindo planetinha azul e seria o que sempre quis ser quando vivia em Asgard: rei do mundo e senhor de escravos.
Diante do poder incomparável de Loki e seu bastão de energia vindo diretamente dos sets de filmagem de Stargate, Samuel Fury se vê obrigado a reativar o Projeto Vingadores, recutrando os heróis mais poderosos do planeta. Thor, Steve Rogers, Tony Stark, Bruce Banner, Clint Barton e Natasha Romanoff (gostosa) devem aprender a trabalhar em equipe para derrotar Loki e seu exército ciborgue de uma dimensão desconhecida, recuperar o cubo e destruir o máximo possível da ilha de Manhattan.
O plot não tem nada de espetacular, isso é fato. O que é realmente espetacular é a forma como ele foi trabalhado dentro do roteiro, muito bem elaborado, diga-se de passagem. Whedon participou ativamente da elaboração do roteiro também, o que pode explicar boa parte do excelente resultado que conseguiu trabalhando uma história que não tinha nada de extraordinário. O filme esbanja ação e tem momentos de comédia tão bem localizados que até eu gargalhei no cinema (inclusive fazendo uma referência FANTÁSTICA a uma conhecida empresa do pessoal aqui do blog: O Boston Medical Group). Todos os recursos que estavam a disposição de Whedon e todas as adaptações necessárias foram utilizadas (e muito bem utilizadas) para manter o ritmo e não ofender os fãs no cinema. Vou enumerar as 2 que achei mais interessantes:
A primeira, mais visível, e talvez mais importante adaptação que fez-se necessária diz respeito ao dono do filme. Quando a Marvel lançou os filmes preparatórios para Os Vingadores, Robert Downey Jr. mostrou ser “o” Tony Stark. Dos filmes anteriores, o que fez mais sucesso e o personagem mais querido da galera foi o Homem de Ferro. Sem ter como colocar outro personagem como chamariz para o filme, a equipe de roteiristas e o diretor deixaram o filme nas mãos do Stark, e ele óbviamente não decepcionou! Ele não é o líder do grupo de super-heróis, como muitos pensaram (este cargo é ocupado relativamente bem pelo Capitas), mas é o cara mais foda, mas engraçado e é o dono do filme.
O segundo aspecto diz respeito ao cara errado da trupe. O Hulk é um personagem errado para se colocar num filme como este sem que seja modificado totalmente. Talvez pelo fato de ele não trabalhar muito bem em equipe, talvez pelo fato do Hulk de computador estar sempre com cara de dor de barriga, optaram por deixar suas aparições meio de lado. Ele aparece pouco no filme, mas sempre há um momento OMFG quando ele bate em alguém (amigo ou inimigo). O CGI que gerou o mostro não é mal-feito, mas incomoda na telona, ainda que ele seja o protagonista de uma porradaria homérica com o Thor e outra meio decepcionante com o irmão do lourão(ui!).
Mais alguns pontos merecem destaque como, por exemplo, a bunda atuação da agente Romanoff(gostosa) na trama, a “massaveísse” do Gavião Arqueiro (que, para o desgosto do Jackson, não usou seu uniforme cláááássico), o escudo de vibrânio do Capitas que pára ou rebate as coisas de acordo com a vontade do Chris Evans e, logicamente, as sequências de montagem e desmontagem da armadura do Robert Downey Stark.
Os Vingadores foi, para mim, uma experiência única no cinema. Chutou nádegas “Nolanianas” e mostrou para Warner/DC que é possível, SIM, fazer um filme de heróis que seja vendável pro público geral e que não desrespeite os fãs. Duas horas de filme que passaram sem que eu pudesse olhar para o lado ou desfazer o sorriso idiota na minha cara. O filme prende, tem boas atuações (destaque para a bunda atuação da Scarlett e sua maravilhosa roupa de couro) e um final interessante. Não preciso dizer que quando digo “final” quero dizer “cena pós-créditos”, não é?
“The Avenger é o evento cinematográfico do século, Aoshi?”
CERTEZA!! Desliga essa computador, corre pro cinema e, sendo fã de quadrinhos ou não, tenho certeza que você vai concordar comigo, ou não…
“Quem não tem criatividade para criar tem que ter coragem para copiar”. Muitas obras seguem à risca esse pensamento e podemos notar isso muito bem nos últimos anos, já que a maioria dos grandes sucessos na literatura e no cinema não passam de re-contextualizações de temas e histórias clássicas. Jogos Vorazes, adaptação de uma série de livros de mesmo nome, está aí como mais novo representante desse fenômeno e o faz muito mal.
Em um mundo pós-apocalíptico, o governo da Capital realiza anualmente um doentio reality show em que 24 jovens devem se enfrentar até sobrar apenas um vivo. A história se foca em Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), uma garota do Distrito 12, que se voluntaria a participar do programa substituindo sua irmã mais nova, que havia sido escolhida no sorteio.
Battle Royale (2000), filme do diretor Kinji Fukasaku baseado na obra homônima de Koushun Takami, não sai da minha cabeça em nenhum momento do filme. Muitos podem achar tendenciosa essa análise, mas todos os elementos principais daquela história estão presentes no filme de Gary Ross: governo obrigando jovens a matarem uns aos outros simplesmente para reafirmarem sua soberania frente à população, basicamente. Porém o problema não é a re-utilização da ideia, mas a falha em sua execução.
Imagino que em um cenário em que cidadãos ordinários são colocados para matarem uns aos outros em um reality show (considerando que eles não tem escolha se querem ou não fazer aquilo), o que mais deveria ser explorado seriam os conflitos internos e os pensamentos obscuros que circunscreveriam os “participantes”. Aquelas pessoas não são homicidas. Apenas foram obrigadas a estarem ali. Em Jogos Vorazes essas dúvidas e hesitações não existem e, por isso, podemos ver jovens entre 12 e 18 anos matando umas as outras como se tivessem sido criadas para isso. O fato de ser uma ficção científica não exime dessa responsabilidade, já que notamos que a população no geral está descontente com esses jogos. Vale dizer inclusive que o filme sequer poderia ser considerado uma “ficção científica”, pois as aparentes tecnologias futuras não fazem diferença alguma na trama (no máximo aparece uma nave voando, que também não faz nada).
Os personagens são vazios e não evoluem conforme os fatos vão se desenvolvendo. A protagonista interpretada por Lawrence – a qual é uma atriz muito boa, porém seu papel no filme não valoriza sua atuação – sequer consegue convencer de que as mudanças abruptas que estão ocorrendo em sua vida a estão realmente afetando. Os personagens são completamente desprovidos de sentimentos e tirando por dois momentos de “emoção forçada”, o filme não convence. Inclusive temos uma tentativa de um romance, contracenado com o ator Josh Hutcherson (que interpreta Peeta Mellark), o qual simplesmente se demonstra ambíguo, fazendo com que não conseguimos saber até que ponto existe sinceridade na personalidade de ambos personagens. As atuações de Lenny Kravitz (sim, pra mim foi uma surpresa vê-lo no filme também), Stanley Tucci e Elizabeth Banks apenas se resumem aos seus visuais “futurísticos” que se aproximam do bizarro, muito provavelmente inspirados pela cantora Lady Gaga.
Outro fato que incomoda muito é a ausência de violência em um filme cujo pressuposto inicial são “pessoas se matando em um reality show”. O diretor Gary Ross optou por escolher todas as opções erradas, inclusive na hora das cenas de ação, as quais ao invés de serem minimamente interessantes acabam se tornando confusas e sem nexo, pois a única coisa que vemos são borrões de movimentos causados por uma câmera bagunçada, que não tem coragem de mostrar a violência que o filme, em tese, se propõe.
Tal como Crepúsculo se aproveitou das lendas dos vampiros e lobisomens para fazer uma contextualização mais “atual”e voltada para um público mais jovem, Jogos Vorazes faz a mesma coisa com Battle Royale (entre outras referencias) e perpetua um filme ruim, que não se sustenta e não cumpre sua proposta.
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Texto de autoria de Pedro Lobato.
Você também pode conferir a minha análise do filme, com um ar um pouco mais descontraído (e ainda sob fase de melhorias), em formato de vlog no primeiro episódio de FASTBURGER. Confiram logo abaixo:
Assistir Protegendo o Inimigo e compará-lo com Dia de Treinamento é inevitável, seja pela narrativa proposta, desenvolvimento dos personagens, como até mesmo a escolha de atores, já que Denzel Washington pode ser visto em ambos os filmes. Contudo, o novo filme de Denzel está muito distante daquele feito com Ethan Hawke em 2001.
A trama se passa na África do Sul e conta a estória de dois personagens centrais. Denzel washington interpreta Tobin Frost, um ex-agente da CIA acusado de traição e procurado no mundo todo por vazar informações sigilosas. Já Ryan Reynolds faz o papel do novato Matt Weston, um agente responsável por cuidar de um abrigo da CIA – Instalações criadas para receber criminosos procurados pelo mundo -, na Cidade do Cabo. O destino dos dois se cruzam quando Frost tenta ser assassinado após uma negociação que faz, se vendo sem alternativa, ele decide entrar no consulado americano da cidade. Frost acaba sendo encaminhado para interrogatório no abrigo onde Weston está e a partir disso a trama começa a ganhar corpo.
O filme é calcado no trabalho de atuação desses dois personagens, o roteiro colabora para isso. Impressionantemente, Reynolds entrega um ótimo trabalho e se sai muito bem como protagonista de ação. Seu personagem começa como um agente inseguro e cheio de sonhos, e pouco a pouco vê seu mundo ruindo, e tendo que amadurecer rapidamente. Quanto a Denzel Washington, já sabemos o que esperar, interpretando seu personagem padrão, Denzel mostra a segurança de sempre e muito a vontade ao lado de Reynolds. Aliás, esse é um dos pontos fortes do longa, a interação dos dois está ótima. Destaque para o excelente elenco de apoio com Sam Shepard, Brendan Gleeson e Vera Farmiga. Uma pena terem sido tão mal aproveitados.
Se o filme é competente nas atuações, o mesmo não vale para o roteiro de David Guggenheim. Apesar de trazer uma apresentação de personagens interessante, o mesmo se perde pelo didatismo e o abuso de clichês do gênero. Os diálogos funcionam bem, e fluem com naturalidade. A Direção do estreante, Daniel Espinosa traz bons momentos, explorando o clima quente da África do Sul com uma fotografia saturada e usando a câmera com precisão nas cenas de ação, resultando em momentos viscerais de lutas, todas coreografadas de maneira crível, propositadamente desajeitadas, conferindo uma crueza necessária ao filme.
Além disso tudo, ‘Protegendo o Inimigo’ arruma tempo para fazer uma crítica interessante, mas que acaba ficando em segundo plano. No final das contas, o longa se mostra competente e coeso, mas falta ‘culhões’ para figurar ao lado de filmes como ‘Dia de Treinamento’.
O mundo de Brandon Sullivan (Michael Fassbender, espetacular) é vazio. Sem cores e esmaecido. Ele acorda, pega o metrô, trabalha, volta para casa e vai a bares à noite. Cada uma dessas ações, entretanto, é pontuada inteiramente por um fator: sexo. O personagem – protagonista de Shame, novo filme do cineasta Steve McQueen – possui um distúrbio que os psicanalistas atualmente classificam como hipersexualidade ou transtorno hipersexual.
Por conta disso, Brandon é um sujeito, já a beira dos 40 anos, que se entope com pornografia, sexo virtual, relações com prostitutas e casos de apenas uma noite. Partindo de uma análise superficial, poderíamos questionar qual o problema em se gostar tanto de sexo.
E Esse é um dos pontos fundamentais abordados pelo filme.
Brandon não gosta de sexo. É obsecado por ele.
Torna-se tão cego por isso que não consegue perceber que o mundo ao seu redor simplesmente não existe. Trabalha de forma burocrática, é incapaz de se relacionar ou se apaixonar por qualquer pessoa ou coisa. Brandon, na verdade, está doente.
Ao longo do filme, é possível notar vários sinais do quão isolado e imerso em seu vício ele se tornou. O computador que usa no trabalho está repleto de pornografia – o que lhe rende uma advertência de seu chefe. Costuma se masturbar no próprio banheiro do local onde trabalha e também em casa. Passa boa parte do dia tendo encontros com prostitutas e se masturbando diante de bate-papos na internet. Isso sem falar na quantidade colossal de revistas pornô que guarda nos armários de casa.
Antes de tudo, nada de puritanismos. Qualquer uma das atividades descritas acima é perfeitamente aceitável e normal. O problema é quando as mesmas se tornam uma obsessão e único ponto focal de uma vida inteira.
E é justamente o que acontece com Brandon, que parece estar alheio – ou mesmo se está consciente parece não se importar – com os problemas que isso lhe causa. No entanto, dois fatos primordiais farão com que ele abra os olhos para essa realidade.
O primeiro é a chegada de sua irmã, Sissy (Carrey Mulligan, ótima), que passará a morar com ele. Mesmo perdida e emocionalmente instável, ela consegue ter uma maior ligação com se lado emocional. E tenta transferir essa conexão para o irmão, que a rejeita de forma agressiva. Ao negar Sissy, Brando na verdade nega suas emoções. A barreira emocional criada por ele por meio da devoção ao seu vício em sexo não permite qualquer tipo de sentimento.
Num dado momento, ele assiste a irmã – que é cantora – se apresentar num bar sofisticado em Manhattan. Ela canta uma versão lenta e melancólica de “New Yor, New York”. As aspirações da letra, as figuras evocadas por seus versos e a interpretação emocional fazem com que uma lágrima caia de seu rosto. Raro momento de concessão às emoções.
Posteriormente, quando a própria irmã cede a uma relação de uma noite com uma pessoa próxima ao irmão, percebemos a tensão sexual que existe entre Brandon e Sissy.
O outro fator fundamental da trama está no quase relacionamento que ele mantém com a colega de trabalho Marianne (Nicole Beharie, em boa interpretação). A aproximação dela será o grande ponto de inflexão do filme.
Durante uma cena num restaurante – que até provoca alguns risos involuntários – vemos que Brandon é absolutamente avesso a uma relação mais séria. Justamente o contrário do que Marianne deseja.
Surge um impasse.
Mesmo assim, ambos sentem-se atraídos um pelo outro. Fatalmente partem para consumar o ato. E é justamente o que acontece nesse trecho que vai jogar a trama numa direção mais aguda. O predador sexual – diante de uma mulher que demonstra ter a capacidade de expressar sentimentos verdadeiros por ele – falha em seu próprio campo de batalha.
O que se segue é uma sessão de catarse do protagonista em busca de liberação sexual sem limites. Isso o leva a ser espancado por um namorado ofendido, passar parte da madrugada numa boate gay e terminar a madrugada num ménage com desconhecidas. Tudo isso quase ao preço da perda de uma pessoa especial.
O final do personagem é aberto. Ele terá aprendido sua lição? Não saberemos. Para ilustrar essa incerteza, o diretor usa no fim uma situação explorada logo no início do filme, no metrô.
Steve McQueen é primoroso ao retratar o estado de vazio emocional e existencial experimentado pelo personagem. Sua casa, seu trabalho. Todos os ambientes, enfim, são retratados com uma fotografia fria e inóspita. Não há espaço para emoções no mundo de Brandon.
Nas cenas de casa, há uma predominância de tons brancos e cinzas. O trabalho e os bares frequentados pelo personagem são dominados por tonalidades de cinza e também por sombras. O único momento no qual outra cor – o amarelo quente – prevalece é justamente durante o ménage, quando o protagonista está em seu auge, colocando suas frustrações para fora.
Quanto ao tempo, o roteiro é direto. Não há idas e vindas na história.
As tomadas são longas. O diretor se demora em várias delas, registrando com cuidado as expressões faciais e corporais dos atores. Há uma exploração consciente da horizontalidade da tela.
Aliás, para retratar o distúrbio psicológico do protagonista, em vários momentos McQueen coloca a figura de Fassbender exatamente no canto da tela, o que transmite uma sensação de falta de adequação e isolamento em relação ao mundo que o cerca.
Num dado momento de uma das viagens do metrô, entretanto, é possível ver que o diretor se mostra otimista com relação ao futuro de Brandon e também com um possível controle de sua compulsão.
Atrás dele, numa das paredes do trem, há uma quadro com a frase “Improving. Don’t stop”. Traduzindo: “Melhorando. Não pare”. Será?
Mostrando que o cinema de ficção científica está cada vez mais em alta, John Carter: Entre Dois Mundo, baseado no clássico romance A Princesa de Marte de Edgar Rice Burroughs, finalmente chega aos cinemas, porém infelizmente com a impressão de que chegou tarde demais.
Somos apresentados a John Carter, um capitão veterano da Guerra de Secessão nos EUA, que tenta fugir a qualquer custo de continuar servindo em mais guerras e conflitos. Carter acaba sendo teletransportado inexplicavelmente para Marte e é a partir daí que a trama se desenvolve. Em um planeta em que sua estrutura óssea e gravidade o permitem pular mais alto do que o normal e ter força sobre-humana, acaba atiçando a curiosidade da raça dos Thark, uma das raças habitantes de Barsoon. Ainda que contra a sua vontade ao primeiro momento, Carter se vê envolvido em um conflito épico entre duas facções do planeta e acaba tendo que redescobrir a sua humanidade e os valores que quer defender para salvar a vida da Princesa Dejah Thoris e de toda uma população.
Ao contrário do que muita gente desavisada pode achar, John Carter foi um personagem criado em 1912 e serviu de inspiração para uma série de histórias, dentre elas incluindo Star Wars e Avatar. Porém o fato de estar saindo nos cinemas pela primeira vez depois de tanto tempo dá uma impressão errada quanto a quem foi realmente o precursor no estilo.
Trata-se de uma clássica história da jornada de um herói com todos os seus elementos clássicos presentes: a luta de um homem contra os fantasmas de seu passado, a princesa que foi prometida em casamento para o vilão com o intuito de terminar a guerra, um plano malévolo de dominação mundial e a superação do personagem lutando por uma causa, buscando sua redenção.
O filme foi dirigido por Andrew Stanton – conhecido pelos seus trabalhos em grandes animações como Vida de Inseto, Procurando Nemo e WALL-E– que trabalhando juntamente dos roteiristas Mark Andrews e Michael Chabon não conseguiram convencer a história nas telas, tornando-o superficial e sem plots emocionantes.
O destaque do filme fica por conta dos efeitos especiais, os quais foram abusados sem dó e nem piedade, e que são levados aos extremos. Em muitos momentos se tornam enfadonhos acabando por somar negativamente em uma história mal conduzida.
Por outro lado, a concepção visual da raça dos Thark, por exemplo, teve um resultado excelente. Estes personagens são carismáticos e tornam o longa metragem no mínimo interessante, ao contrário dos atores de verdade, Taylor Kitsch e Lynn Collins, que esbanjam simplicidade em suas atuações, tornando os momentos em que contracenam juntos (mais de 60% do filme) extremamente desgastantes.
O recurso 3D utilizado no filme não é excepcional, mas compõe bem os quadros utilizados. Serve apenas pra criar satisfatoriamente o efeito de profundidade nas cenas, principalmente naquelas que aparecem grandes cidades e paisagens.
Uma obra que se torna fraca pelo mérito da forma como foi produzida, não da história original em si. De fato cumpre o seu papel em se tornar um grande blockbuster e diverte tanto quanto assistir filmes de aventura clássicos. Acho que é o suficiente para fazer alguém ir vê-lo nos cinemas.
Baseado na obra homônima de Joe Dunthorne e dirigido por Richard Ayoade, Submarine é um filme arrebatador. Somos apresentados a Oliver Tate (Craig Roberts), um garoto de 15 anos que passa a ter que lidar com as adversidades da vida. O espectador é levado a acompanhar um pequeno pedaço da vida desse garoto e os seus envolventes acontecimentos.
O filme conta a história de Oliver Tate, um garoto socialmente alienado e introvertido. Sua vida muda quando começa a ter um romance com sua colega de classe Jordana Bevan (Yasmin Paige). Oliver começa a namora-la, uma garota cuja personalidade se diferencia e muito do mesmo. Somos colocados de frente a um personagem introspectivo, que se adapta ao ambiente em que se encontra. Da mesma forma, em sua vida amorosa, se desdobra com as nuances mais incomuns da personalidade de Jordana, muitas vezes indo contra os seus desejos. Paralelamente a um Oliver explorando um novo lado da vida – o lado do amor – o personagem passa a confrontar um casamento em ruínas de seus pais e a mãe adoecida de sua namorada. Os problemas que vão aparecendo em sua vida o deixam desorientado muitas vezes não sabendo lidar com eles.
Submarinos são dotados de sonares que os permitem captar os movimentos de dentro da água. Infelizmente na vida não possuímos sonares capazes de captar os pensamentos das pessoas. Pra compensar esse fato, Oliver tenta se tornar mais atento a todas as movimentações que seus pais e sua namorada faziam, de modo a tentar encontrar soluções para seus problemas. Somos imperfeitos e Oliver também o é. A descoberta das fragilidades do ser humano e a impotência do agir diante de diversas situações adversas da vida o fazem “afundar na água”, tal qual um submarino.
A trama muitíssima bem produzida por todas as suas partes, seja pelo roteiro, direção e atuação nos levam a uma atmosfera intensa e cheia de sentimentos. O destaque da atuação fica a cargo do protagonista Craig Roberts, que demonstrou enorme envolvimento com um personagem de personalidade tão peculiar. A trilha sonora do filme merece um comentário a parte, pois é excelente. Alex Turner, frontman da banda Arctic Monkeys, é o responsável pela mesma, a qual não deixa a desejar em nenhum momento, nos acompanhando durante todo o filme e se mesclando perfeitamente com os sentimentos e a atmosfera do longa-metragem.
Submarine é intenso e envolvente. Duvido que a maior parte dos que assistirem ao filme não vão se identificar com muitos dos sentimentos ou maneiras de pensar do jovem Oliver Tate. Crescer e amadurecer faz parte do processo da vida de todas as pessoas. Podemos viver debaixo da água convivendo com sentimentos que se assemelham a uma tonalidade peculiar do azul escuro do céu quando o sol se põe, porém também faz parte da vida emergir das mesmas águas e continuarmos vivendo.
Que preço estamos dispostos a pagar para vivermos pautados por um código? Até onde nos é possível negar nossa própria natureza? Podemos colocar as pessoas que mais amamos em risco em troca de nossa própria felicidade?
Ao fim de Drive, filme mais recente do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn (Pusher, Bronson, Guerreiro Silencioso), o motorista vivido por Ryan Gosling terá – ainda que apenas para ele mesmo – as respostas para todas essas dúvidas. Até lá, entretanto, ele terá de atravessar e, se possível, conseguir sair vivo de uma espiral de violência, frustração e desilusão.
Logo no início, somos apresentados ao motorista vivido por Gosling. Todos à volta veem que ele ganha a vida em dois empregos: como piloto para cenas de acidentes em filmes de ação e também como mecânico. No entanto, o piloto – sim, ele em momento algum do filme será chamado pelo próprio nome e o motivo ficará claro ao longo da trama – também conduz carros em assaltos. E é justamente nesse período – na tensa cena do roubo ocorrida no começo da película – que ele estabelecerá uma série de regras a serem cumpridas por seus contratantes.
Sabemos, portanto, que o motorista vive por meio de regras. Normas. Um código de conduta. O que, numa alusão simbólica, o aproxima por demais da figura do samurai e seu Bushidô. A associação ao “homem silencioso” criado por Clint Eastwood para a Trilogia dos Dólares de Sergio Leone também é bastante adequada.
O piloto é contido. Calmo. Fala pouco. E mesmo as raríssimas palavras que saem de sua boca são emitidas num baixíssimo volume. Ele não tem nome. Não há individualidade. O motorista é a personificação de uma maneira particular de enxergar a vida. No entanto, essa postura plácida é apenas aparente. Só uma contenção. Ao olhar nos olhos do homem, sabemos desde o início que ali dentro se encontra uma bomba-relógio prestes a explodir.
E o gatilho desse explosivo é acionado em dois momentos.
O primeiro é quando ele encontra e se envolve com a garçonete Irene (Carey Mulligan) e seu filho, Benicio (Kaden Leos). Os dois representam algo que ele nunca teve: redenção. A possibilidade de uma família e de laços afetivos. O distanciamento do mundo violento e arriscado no qual o motorista vive. O personagem se humaniza.
No entanto, esse estágio chega ao fim com o retorno do marido de Irene, que até então estava na cadeia. A partir daí, uma série de fatores – todos envolvendo o dinheiro roubado inadvertidamente de mafiosos – vai acionar o segundo detonador. Quando a garçonete e o menino passam a correr risco, a explosão do motorista é inevitável e devastadora. Sua natureza, enfim, vem à tona. A justiça precisa ser feita. E terá que ser a seu modo.
Aqui, o código de conduta do piloto predomina. Ele não quer o dinheiro. É sujo demais. Deseja apenas proteger a mulher e a criança pelos quais se apaixonou.
Winding Refn demonstra um impressionante domínio da composição. Não há um fotograma sequer que seja menos que excelente. As belíssimas tomadas aéreas de Los Angeles (lembrando muito as produções de Michael Mann), a manipulação de luz e sombras, o contraste acentuado entre claro e escuro – aqui, méritos também para o diretor de fotografia Newton Thomas Sigel.
Tudo funciona perfeitamente, inclusive – e principalmente – a condução dos atores. Ainda há espaço para uma cena de perseguição perfeita – para ser mais específico, a que envolve um Mustang GT preto e um Chrysler.
Há claras referências aos filmes e séries de ação da década de 1980. Reparem nos caracteres cor de rosa usados na abertura do filme e percebam como lembram as letras utilizadas em seriados como Miami Vice. Isso sem mencionar a trilha sonora – grande parte calcada em composições dominadas por teclados e sintetizadores.
O autor também é hábil ao sugerir, por meio de uma série de metáforas, a essência do personagem principal. Isso é particularmente notado numa cena de extrema violência – sempre filmada de maneira direta e seca – dentro de um elevador. Nela, após um ato violento – motivado inteiramente por um instinto de autodefesa – o motorista permanece no interior, enquanto Irene vai para o lado de fora.
Assustada com a carnificina que acabou de presenciar, ela se afasta. Em segundos, a porta do elevador os separa. O recado é claro: ambos vivem em mundos separados.
A metáfora maior, no entanto, está na jaqueta usada pelo piloto. Há a imagem de um escorpião costurado às suas costas. E o diretor propositalmente realiza uma série de closes na figura do artrópode. Calmo e silencioso. Letal quando forçado a agir. Assim é o escorpião. Assim também é o motorista.
E ainda sobre o escorpião, cabe citar outra metáfora. Esta, no entanto, está ligada a uma velha fábula que talvez já tenham ouvido falar.
Com uma ou outra variação, a história conta mais ou menos o seguinte: certa vez, um escorpião se aproximou de uma rã (em algumas versões é uma tartaruga) e pediu que ela o levasse ao outro lado de um rio. A rã rejeitou o pedido, argumentando que certamente o escorpião a picaria. O artrópode a tranquilizou, afirmando que jamais faria aquilo, uma vez que, como estaria nas suas costas, e ambos estavam no meio de um rio, se a picasse e ela se afogasse, ele certamente também morreria. Portanto, não fazia sentido que a rã desconfiasse de que ele poderia matá-lo.
Diante de tamanha lógica, a rã aceita a proposta, coloca o escorpião em suas costas e começa a travessia. No meio do rio, entretanto, para espanto da rã, o escorpião a pica com seu ferrão.
“Você enlouqueceu?”, pergunta a rã. “Agora eu vou morrer e você, que está nas minhas costas e não sabe nadar, vai se afogar junto comigo”. O escorpião olha para a rã e responde calmamente: “Sinto muito. Esta é a minha natureza”.
Ambos morrem.
É justamente uma menção a essa fábula que o motorista usa para dar ao bandido Bernie Rose (Albert Brooks, excelente) a noção exata de sua própria natureza.
Como as melhores obras de arte, “Drive” está aberta a interpretações. No entanto, as duas principais mensagens transmitidas pelo seu escritor – o filme é uma adaptação do romance homônimo escrito por James Sallis – são bem claras:
– Paga-se um preço alto por viver por meio de um código.
– As pessoas podem até fingir para si mesmas e se adaptar às situações por um tempo. Mas, no fim, a sua natureza, a sua verdadeira essência, virá à tona.
O anti-herói interpretado por Ryan Gosling traduz perfeitamente as afirmações acima.
No fim, este filme cumpre um papel importantíssimo: dá um belo soco no estômago de todos aqueles que argumentam que “filmes de ação não precisam de conteúdo, argumento ou um bom roteiro”. Argumento muito comum entre os fãs de produções como “Transformers”…
Assista “Drive” pelo menos 10 vezes para entender que ação e uma história extremamente bem construída e dirigida não precisam – e nem devem – estar dissociados.
Billy Beane (Brad Pitt) odeia perder. Mais que tudo. Mesmo a sensação de vitória fica em segundo plano quando comparada à fúria provocada por uma derrota. Ele mesmo admite isso num dos vários bons momentos de O Homem que Mudou o Jogo, novo longa do diretor Bennett Miller (Capote).
A primeira frase deste texto resume totalmente o gancho temático da produção. Muita gente poderá olhá-la sobre uma perspectiva equivocada e acreditar que “O Homem que Mudou o Jogo” é um filme sobre baseball.
Nada poderia estar mais equivocado.
O baseball é apenas um instrumento utilizado pelo diretor para contar a história de um homem consumido por duas obsessões: impor suas ideias e nunca, em hipótese alguma, perder.
O esporte usado poderia ser futebol, vôlei, basquete, ou qualquer outro. Não faria a menor diferença. O foco não é a modalidade, mas o posicionamento do protagonista: a derrota não é, de forma alguma, uma opção.
Em “O Homem que Mudou o Jogo”, Billy Beane é o gerente do time Oakland Athletic’s – os Oakland A’s. Uma equipe de resultados apenas modestos dentro da Major League Baseball (MLB), a principal liga de baseball norte-americana. Posicionamento pequeno demais para ser aceito peloo personagem interpretado por Pitt.
Logo no início do filme, ele é visto num estádio vazio, acompanhando por rádio a derrota de sua equipe diante do poderoso New York Yankees. Nesse momento, ele dará sua primeira demonstração física dos efeitos que a derrota lhe provoca. Ao longo do filme, ele será visto em outros momentos como este – vai socar painéis de carros e arremessar cadeiras sempre que perder. Vai se matar na sala de musculação como uma espécie de punição por cada derrota, lembrando muito rituais de auto-punição adotados em determinadas religiões.
Beane quer mudar o jogo. Quer transformar sua equipe num time campeão.
No entanto, está cercado de assistentes que possuem uma visão antiga e ultrapassada do esporte. Ele precisa de alguém novo. Que tenha um posicionamento racional e embasado em análises frias sobre o baseball.
Ele precisa de Peter Brand (Jonah Hill). O jovem formado em Economia por Yale. Que baseia sua visão dos jogadores e do próprio jogo em estatísticas, em números. Na ciência. Não em “tempo de estrada”. Fascinado por ele, Beane o contrata. A partir daí, enfrentando todo tipo de obstáculo e resistência, os dois vão revolucionar o esporte.
A postura intransigente de Beane – que é um personagem verdadeiro – é fruto de uma vida anterior como atleta. Quando jovem, foi considerado um gênio pelos olheiros do New York Mets. Nesse momenteo, teve de fazer uma escolha entre o baseball e uma bolsa integral na Universidade de Stanford.
O esporte versus os estudos.
Optou pelo primeiro. Os resultados, entretanto, não foram dos melhores. A frustração foi inevitável.
A partir daí, para se proteger de novas decepções, Beane decidiu criar uma espécie de “couraça emocional”, cortando vínculos afetivos até com as pessoas mais próximas. A única exceção é sua filha, com quem ainda se permite demonstrar sua fragilidade.
Nesse ímpeto para impor sua visão e conseguir os resultados que deseja, é capaz de tudo. Percebam como ele troca e negocia jogadores como quem lida apenas com mercadorias. Para ele, aproximações sentimentais não podem entrar no caminho da vitória. Se um jogador ameaça o futuro dotime, deve ser extirpado.
Esse posicionamento fica ainda mais claro quando ele ensina o assistente a fazer uma demissão. Rápida, direta e seca. Não há espaço para emoções ou apelos sentimentiais ali.
Ao contrário do que vem se falando, a interpretação de Brad Pitt não é brilhante. Mas é eficiente. Muito eficiente, na verdade. Os olhares focados, arroubos físicos intempestivos e fala arrogante construídos por ele traduzem a postura de Billy Beane e a forma resoluta de impor sua vontade. Atenção especial à forma comedida e fisicamente tímida criada por Jonah Hill para dar vida à Peter Brand. Vale menção, também, a participação de Philip Seymour Hoffman, que interpreta o treinador Art Howe. Barrigudo, lento e cabeça dura. É a manifestação física do velho baseball – o oposto da abordagem proposta por por Brand.
A narrativa é direta, com algumas intervenções em flashback da vida de Beane. A compreensão da trama, portanto, é bem simples. E esse é um pnto positivo.
Billy Beane é um revolucionário. Um rebelde que impõe suas convicções. Ele luta contra um um mundo antigo e ultrapassado. O velho embate entre o indivíduo e o sistema. Tema que foi muito abordado pela banda inglesa de punk The Clash.
Não por acaso – e os mais atentos irão perceber isso – Beane é fã do grupo: perceba dois posteres da banda em seu escritório: um deles, o anúncio de um show. O outro, uma foto de Joe Strummer, vocalista do Clash.
Ambos, cada um a seu modo, tentaram mudar o status quo no qual viviam. Ambos sofreram as consequências dessa postura. Como diz um personagem importante que aparece quase ao fim do filme: “O primeiro a atravessar uma grande parede sempre deixa seu sangue pelo caminho”.
Logo no quadro inicial de Histórias Cruzadas, somos apresentados à personagem Aibileen Clark (Viola Davis, espetacular). Naquele momento, uma das primeiras frases ditas por ela define exatamente como é a sua vida e as das outras domésticas que surgirão ao longo do filme.
“Eu sou uma empregada, minha mãe foi empregada e minha avó foi uma escrava caseira”, ela diz.
Tudo nas vidas daquelas mulheres negras gira em torno dessa realidade: a conformidade com a condição imutável de que suas existências se resumem a trabalhar nas casas de patrões brancos, preparando suas refeições e cuidando de seus filhos.
Elas estão ali para servir. São uma parte invisível das famílias de seus empregadores. Mas uma parte que jamais é totalmente aceita. Afinal, são mulheres. E pior: são negras – a característica imperdoável para os brancos que viviam na cidade de Jackson, Estado do Mississipi, ao longo dos anos de 1960, local e época nos quais a obra se desenrola.
“Histórias Cruzadas” trata de dois temas difíceis: a total incapacidade de mudar o rumo da própria vida e a estupidez humana ao segregar um semelhante apenas pela cor da sua pele. No entanto, mesmo lidando com assuntos áridos, a película é uma obra simples, direta e – pelo menos na maior parte do tempo – leve. E talvez essa simplicidade seja sua maior qualidade.
O roteiro é linear. A história é clara, bem como o posicionamento de cada um dos personagens que a compõem.
Na trama, somos apresentados à Eugenia “Skeeter” Phelan (Emma Stone). Aspirante à jornalista e escritora, ela consegue um emprego no jornal local. No entanto, por ser mulher e viver numa cidade racista e sexista, a jovem consegue apenas escrever uma pequena coluna dedicada a donas de casa na qual lhe cabe apenas dar às leitoras dicas de limpeza doméstica.
É nesse contexto que Skeeter e Aibileen se aproximam – a partir daí, a jovem branca que quer ser escritora percebe que a empregada pode ser a fonte da matéria-prima necessária à realização de uma grande reportagem: contar como é a vida das empregadas naquela sociedade segregacionista a partir do ponto de um ponto de vista até então inexplorado – o das próprias domésticas.
Ambas – Skeeter e Aibileen – estão infelizes: a primeira quer claramente ir além dos limites da cidade e provar que uma mulher pode ser muito mais que uma caçadora de maridos, atividade para a qual praticamente todas as moças de Jackson são treinadas desde muito jovens. Já a segunda, tem a dor da morte de um filho e a amargura imposta pelo preconceito atravessadas na garganta. Ela precisa colocar para fora os absurdos cometidos em nome da separação provocada pela segregação.
Absurdos, esses, que são bem retratados por meio da ação mais simples que se possa imaginar: ir ao banheiro – ou seja, até mesmo o mais corriqueiro dos atos pode ser utilizado para demonstrar como brancos tratavam negros dentro daquele contexto. Cabe ressaltar a maneira honesta como o diretor Tate Taylor retrata a hipocrisia dos moradores do subúrbio norte-americano daquele período: por trás das cercas brancas, gramados verdes e bem aparados, encontros sociais e lares aparentemente perfeitos, é possível ver, mesmo no menor dos gestos, o ódio e o desprezo que as pessoas que viviam ali sentiam pelos negros.
Essa visão segregacionista é incorporada pela personagem Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard) – tradução literal da América racista, branca e protestante.
Seu mundo, no entanto, está prestes a ruir. Discretas intervenções feitas pelo diretor por meio de reportagens de TV assistidas pelos personagens mostram a evolução que os direitos civis nos Estados Unidos experimentavam naquele momento. A luta pela igualdade comandada por Martin Luther King e o assassinato do presidente John Kennedy contextualizam a história dentro daquele período e deixam ainda mais claro que as coisas estavam mudando.
E a própria Hilly será vítima de uma das maiores ações de vingança e Justiça mostradas no cinema nos últimos tempos. Protagonizada por sua ex-empregada Minny (Octavia Spencer, excelente), a cena em questão se vale de uma, digamos, metáfora “orgânica” para mostrar do que ela realmente é capaz.
Atenção também à bela performance de Jessica Chastain (A Árvore da Vida), que interpreta a personagem Celia Foote e carrega sua construção com altas doses de inocência, desprendimento e sensualidade involuntária.
“História Cruzadas” é um daqueles filmes simples – e não simplórios – que nos lembram o quanto situações insanas podem estar mais próximas do que imaginamos – até dentro de nossos lares.
Insanidades como acreditar que o valor de uma pessoa pode ser medido pela cor da sua pele.
Insanidade como fechar os olhos para o fato de que, no fim das contas, todos pertencemos à mesma raça: a humana.
Lançando quase um filme por ano, Clint Eastwood não demonstra sinais de desgaste. Nada mal para um senhor de 81 anos. Em 2011, Clint retorna com seu novo longa, J. Edgar, uma cinebiografia que conta a história de uma das figuras mais importante dos Estados Unidos. O controverso diretor do FBI, John Edgar Hoover.
Hoover foi uma das figuras mais importantes dentro do governo norte-americano por anos. Serviu a oito presidentes americanos, totalizando a incrível marca de 48 anos de trabalho. Hoover também ficou conhecido por ter revolucionado o estudo da criminologia, quando transformou o Bureau de Investigação, uma pequena instituição de investigação no FBI, uma organização federal conhecida mundialmente. Além disso, a forma como modernizou a polícia americana, introduzindo peritos criminais e métodos científicos revolucionou a criminologia.
O diretor do FBI ainda foi importantíssimo na prisão de grandes gangsteres nos anos 30 e figura fundamental na captura do sequestrador do filho do aviador Charles Lindberg, um crime brutal que ficou conhecido no mundo todo e só foi possível ser solucionado graças a essas inovações que ele trouxe para a investigação criminal.
Contudo, Hoover ficou marcado como a figura que perseguiu comunistas, expulsou estrangeiros do solo americano durante a Segunda Guerra, caçou os direitos civis dos negros, controlou a mídia e subornou diversos congressistas com escutas ilegais para beneficiá-lo em seus problemas pessoais.
O meu principal problema com o filme é ser superficial nesse ponto tão importante. Ora, não é novidade pra ninguém que Clint Eastwood é um republicano conservador, mas isso nunca o impediu de fazer críticas severas em seus filmes com uma abordagem mais política, seja o partido democrata ou republicano. Não é o caso de J. Edgar.
O filme lida com diversas questões, mas os bastidores políticos são deixados de lado para entrar em um tema bem diferente do esperado. A homossexualidade de Hoover. Para isso, Clint trouxe para junto de si o roteirista Dustin Lance Black (Milk – A Voz da Igualdade). Dustin usa um conceito de narrativa bastante interessante, o biografado narrando sua própria trajetória. O próprio Hoover dita sua história para seus agentes que servem de datilógrafos para transcreverem sua vida. Essa narrativa justifica o ponto de vista dado ao filme, que parece promover o FBI e o próprio personagem, e maquia alguns acontecimentos não tão heroicos para a figura de Hoover.
Clint sabe como ninguém que heróis são definidos pelos seus atos e não pela sua imagem (vide sua filmografia), porém, aqui ele brinca com esses clichês, mostrando como Hoover cria um personagem que ele não é. Isso traça um paralelo com sua vida pessoal. Como de costume, o cineasta sai do caminho mais fácil e demonstra sutileza e sensibilidade comovente ao tratar assuntos polêmicos como homossexualidade.
A direção é impressionante, seguro do que quer, o diretor dá destaque à todos atores, respeitando os trejeitos de cada personagem, e assim, proporciona uma das melhores atuações da carreira de Leonardo DiCaprio, intensa e sutil, de um homem doentio e paradoxal. Apesar da maquiagem pesada que procura caracterizar o passar dos anos – pra ser bem sincero, mais atrapalha do que ajuda – DiCaprio está seguro em sua atuação, e em minutos você esquece esse detalhe estético.
A fotografia – tão criticada por algumas pessoas – utiliza um jogo de sombras que quase parece um personagem com vida própria, como um traço do próprio Hoover que parece represar todos os seus reais sentimentos longe de todos, o que acaba sendo importante para compreender essas emoções. O mesmo não pode ser dito quanto à trilha sonora, composta pelo próprio diretor, que se mostra ausente musicalmente, faltando “gordura” em algumas composições, salvo exceções. O roteiro de Dustin Lance Black mantém um certo distanciamento do espectador, o personagem foco e a história que está sendo contado.
O resultado final é positivo. Grandes atuações, a direção segura de Eastwood e sua visão como um contador de histórias nato, tudo isso somado a coragem e singeleza com as quais o roteiro aborda certos assuntos são os pontos fortes do filme. Como nem tudo são flores, J. Edgar têm seus problemas, e muitos deles parecem ocorrer em sua montagem, talvez pelos saltos temporais frequentes do filme. Outro ponto é o já comentado não aprofundamento em várias questões que envolvem a iconografia de Hoover e esse distanciamento do protagonista com o espectador, mas como dito, o resultado final é bem satisfatório.
Ao terminar o longa, acabei comparando a trajetória do personagem com a de outro filme de tema parecido,Tudo Pelo Poder de George Clooney. Assim como o personagem de Ryan Gosling, Hoover é repleto de boas intenções, mas assim que começa a ganhar poder passa a ser corrompido se mostrando um homem egoísta, arrogante e paranoico. Um estudo interessante sobre a ambivalência do mundo da política.
O advogado Matt King (George Clooney) vive um dilema. Sua mente é povoada por questões para as quais, pelo menos aparentemente, não existem respostas fáceis. O que fazer quando sua companheira, a mulher que ele ama e escolheu para ser a mãe de suas filhas, está estática, quase morta, deitada numa cama de hospital diante dele e sem qualquer chance de recuperação?
Sem dúvida a sensação não é das melhores. A frustração e tristeza seriam mais que naturais e coerentes. No entanto, como esse mesmo homem deve reagir ao descobrir – por meio da própria filha mais velha, como o trailer do filme já havia mostrado – que essa mesma mulher o vinha traindo sem maiores problemas de consciência? E pior: estava realmente decidida a abandoná-lo.
Amor e carinho versus ódio e decepção.
Esse confronto sentimental interno é o motor que vai mover boa parte da trama de “Os Descendentes”, longa mais recente de Alexander Payne (Eleição, As Confissões de Schmidt, Sideways – Entre umas e outras), um diretor que, além de demonstrar domínio da linguagem cinematográfica no que se refere a aspectos técnicos, como movimentação de câmera – e talvez o melhor exemplo disso esteja em “Eleição” – é muito feliz ao retratar os sentimentos ambíguos de seus personagens. Seja por meio de expressões faciais angustiadas – preste atenção em como fisionomia tensa de Clooney é esmiuçada nos vários “zooms” que serão vistos ao longo do filme -, seja no uso de pequenos truques utilizados para pontuar uma determinada situação ou estado interior.
Na verdade, um desses artifícios é utilizado na imagem inicial do longa. Nela, Elizabeth (Patricia Hastie), a mulher do personagem vivido por Clooney, aparece feliz e sorridente dentro de uma lancha e em primeiro plano diante do belo mar azul do Hawaii. Em poucos segundos, aquela representação de prazer e satisfação será encoberta por um fade. A tela fica escura. A morte – ou pelo menos sua presença – acaba de chegar. As coisas serão diferentes a partir daqui.
Diante da ausência da mulher, Matt King é forçado a restabelecer e reforçar um elo quase perdido com suas filhas, Scottie (Amara Miller, divertida) e Alexandra (Shailene Woodley, bela interpretação).
Nenhuma das duas partes – nem pai, nem filhas – sabem lidar muito bem com o cenário estabelecido pelos fatos. E isso será sublinhado em vários momentos tensos – os confrontos são inevitáveis – e divertidos que surgem ao longo do filme.
Este é um fator importante: Os Descendentes poderia ser classificado – se isso fosse realmente necessário – como um drama. Porém, não se surpreenda se, durante a película. você se pegar gargalhando das situações que surgem na tela.
A descoberta da traição da esposa faz com que Matt entre numa jornada, acompanhado pelas duas filhas e o amigo da mais velha – Nick Krause, engraçado demais – em busca do homem com o qual sua mulher o traía. Subitamente, ele sente a necessidade de saber se ela estava mesmo apaixonada pelo amante ou tudo não passou de um caso passageiro e sem maiores envovimentos emocionais.
As respostas virão de forma direta.
No caminho, o advogado obsessivo por trabalho vai reavaliar sua presença – na verdade ausência – na vida familiar e tentar, à sombra da racionalidade, montar o quebra-cabeças dos fatos que teriam levado sua mulher a traí-lo.
A trama tem como pano de fundo a venda de um gigantesco pedaço de terra que pertence à família. Todos ficarão milionários com a conclusão do negócio. E Matt, que é o depositário do imóvel, precisa tomar uma decisão. Ele é pressionado a fazê-lo. E por fim, após perceber que a posse da vista privilegiada da praia paradisíaca que ele e sua família receberam como herança pode significar bem mais que um imóvel valorizado, ele fará uma escolha.
Payne é habilidoso ao construir a tensão e drama em seus personagens, bem como aliviá-las por meio de momentos cômicos. Interessante notar como, nos instantes de maior tristeza e tensão das pessoas que compõem a trama, externa a cada uma delas o cineasta cria uma atmosfera agradável e feliz – por meio da bela captação das lindas paisagens havaianas, mostradas em planos gerais e panorâmicas, e das músicas nativas que podem ser ouvidas ao longo de todo o filme.
Sobre essa particularidade, há um comentário feito pelo personagem de Clooney logo no início, que resume bem a questão: “Meus amigos acham que só por que vivemos no Hawaii, estamos no Paraíso. Que passamos o dia inteiro sentados à beira da praia, tomando bebidas e sobre pranchas de surf. Eles são loucos? Como eles podem pensar que só por que moramos aqui nossa família é menos confusa? Que somos imunes à vida, que nossas frustrações são menos dolorosas!?”.
São boas perguntas.
E, de fato, como filme deixará claro, você pode até viver num lugar paradisíaco. Mas isso não fará a menor diferença se seu interior não estiver em paz.
O primeiro plano que o espectador vê, logo no início de Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, é a paisagem de uma vila sueca. Branca, fria e nevada. Tudo é perfeito. Tudo está em ordem.
Pela beleza e “asseio”, o local remete muito mais a um cenário adequado a histórias natalinas ou a um conto de fadas infantil que a um thriller policial, costurado por assassinatos em série, esquartejamentos, estupros e relações incestuosas.
E esse é justamente o truque. As coisas aqui não são o que parecem. Aliás, quase nunca são. É sabido que as ações mais sombrias costumam se disfarçar sob uma fachada de civilidade, gentileza e harmonia. Embora não pareça, o pior do ser humano está escondido naquela ilha de beleza gélida.
Além de um conto policial muito bem construído, “Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres” é uma crítica contundente à hipocrisia imposta pela aparência. Ao quanto as percepções podem ser enganadas – muitas vezes de forma até letal – por noções superficiais de perfeição e normalidade. Neste caso, o clichê é mais que válido: imagem não é nada.
O diretor David Fincher (Seven, Alien 3, Clube da Luta, O Quarto do Pânico, Zodíaco, A Rede Social) escancara essa noção ao adaptar a obra de Stieg Larsson – criador do best-seller que deu origem ao filme e das outras duas partes que formam a trilogia Millenium, A Garota que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar. A trama começa quando o jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) recebe um telefonema em plena noite de Natal. Seu interlocutor, do outro lado da linha, o convida a ir até uma ilha afastada, na parte mais fria do território sueco, para ouvir uma proposta.
Blomkvist acabou de sofrer uma derrota nos tribunais por ter feito acusações sem provas contra um financista. Sua carreira e credibilidade, bem como sua vida pessoal, estão abaladas. Ele não tem muito a perder. Por issso, decide ir até o local.
Ao chegar lá, conhece o industrial Henrik Vanger (Christopher Plummer). Ele quer que o jornalista conduza uma investigação para descobrir quem é o assassino de sua neta, Harriet, desaparecida desde 1966. O milionário está convencido de que ela foi assassinada por um dos integrantes da própria família – todos moradores da mesma ilha – e quer provar sua tese.
O repórter reluta. Mas diante dos benefícios oferecidos por Vanger – um deles diretamente ligado a seus probelamas com a Justiça -, acaba aceitando.
A partir daí, a trama avança sobre dois trilhos que acabarão se unindo: a investigação feita pelo jornalista e o desenvolvimento de Lisbeth Salander (Rooney Mara, excelente), disparada a melhor e mais profunda personagem da história, e que também irá auxiliar o repórter na solução do mistério.
Hacker e investigadora com habilidades raras, Lisbeth não guarda espaço para sentimentos ternos. Eles existem, mas ela os mantém presos o mais fundo possível. A única coisa que importa é seu trabalho, ao qual se entrega com uma objetividade obsessiva. De fato, a jovem de 23 anos é tão direta e objetiva que transfere essa abordagem até mesmo para sua vida sexual. Ela tem as respostas. Ela precisa estar no comando.
É uma personagem de emoções primárias acentuadas – raiva, medo, timidez e fúria. Ao mesmo tempo, é possuidora de um forte senso moral. Certamente o mais sólido entre todos os que compõem a história.
Ao longo do filme, Lisbeth aparecerá em quatro cenas sexuais – dessas, apenas duas são consentidas. Repare como nessas últimas, é ela quem dá as cartas. Já a primeira mostra o que ela está disposta a tolerar para continuar com o seu trabalho. A segunda, é um ato de violência – pelo qual a hacker e sua particular noção de Justiça farão com que o perpetrador pague da pior forma possível.
A abordagem visual escolhida por Fincher reflete a frieza e aparência de normalidade que formam o cenário ao redor dos personagens. A estética é “clean”. A luz é dura e branca, fazendo um paralelo com o ambiente coberto de neve da ilha.
As exceções ficam por conta das imagens referentes ao dia do desaparecimento de Harriet, quando todas as cenas são banhadas por um filtro dourado. Metáfora visual para dias mais ensolarados e felizes que já foram vividos naquela ilha.
Repare como, em pelo menos dois momentos, o cineasta retrata Blomqvist em planos gerais, pequeno diante de um ambiente nevado e frio. Nessas duas situações, o repórter tenta, sem sucesso, usar seu telefone celular. Não é possível. Não há sinal. A mensagem é clara: o jornalista está isolado na sua busca pela verdade e diante do enigma que precisa decifrar.
Craig empresta a fragilidade necessária à construção do repórter. Nem pense em ver o atual intérprete de James Bond realizando as mesmas ações dos filmes de 007. De jeito nenhum. Aqui, ele está até mesmo fisicamente mais fraco e magro. Uma aparência que ressalta o quanto ele pode ser uma presa fácil naquela trama.
A cenografia contribui para a sensação de frieza e isolamento. Quer exemplos? Na ilha, há dois tipos de imóveis: os muito pequenos, velhos e frios e os novos e modernos – esses últimos, principalmente a casa do personagem Martin (Stellan Skarsgärd) – são assépticos e extremamente impessoais. Quase sem traços de humanidade.
A trama é desenvolvida no ritmo de uma locomotiva: começa lenta e pausada – como todo bom início de investigação – e depois acelera rumo à solução definitiva do mistério, onde se chega por meio de uma longa e exaustiva análise de provas, informações cruzadas, entrevistas e imagens. Mas atenção. Fique atento. Este filme possui dois finais. Não se preocupe. Não se trata de anticlímax. É apenas a amarração de todas as pontas do enredo.
Vale uma menção muito especial à trilha incidental criada por Trent Reznor, o líder da banda de Rock/Tecno/Industrial Nine Inch Nails. Repare na tensão e agonia que seus teclados etéreos e ruídos eletrônicos provocam em cada cena. Isso sem falar na excelente versão que ele e Karen O (a vocalista dos Yeah Yeah Yeahs) fazem para “Immigrant Song”, do Led Zeppelin, que já podia ser ouvida no primeiro trailer e que aqui está nos créditos iniciais do filme.
Aliás, por falar na presença de Reznor, nesse sentido o próprio Fincher faz questão de dar uma piscadela para o público: logo no início do filme, um especialista em informática aparece usando uma camisa com o logotipo do Nine Inch Nails (NIN).
Ao fim de “Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, pelo menos duas mensagens ficam muito claras: a primeira é que o mal de verdade é insidioso e está mais perto do que imaginamos.
A segunda – e aqui não há qualquer intenção de pieguice ou conselhos de auto-ajuda – é que não importa quanto dinheiro você tem, quais roupas você veste ou quão alto você está na escala social. São suas ações que farão de você uma pessoa boa ou ruim.
Rejeição. Quem consegue lidar bem com ela?
Todos já fomos rejeitados por alguém. Sabemos o quanto isso pode magoar, machucar e deixar marcas que levam tempo para serem cicatrizadas. Isso quando a cicatrização é possível.
No entanto, na maioria das vezes, e sobretudo depois que nos tornamos adultos, as regras do jogo social nos obrigam a disfarçar esse mal estar e não deixar transparecer os efeitos devastadores que a rejeição de alguém que amamos pode provocar. Rejeição paterna, então…
Sinceramente, ninguém nasceu ou está totalmente preparado para conviver facilmente com essa emoção.
O que aconteceria, porém, se pudéssemos acompanhar a vida de alguém que não tem a menor preocupação em ocultar o quanto lhe transtorna o fato de ser rejeitado por uma pessoa fundamental em sua vida?
É justamente esta experiência que temos em O Garoto da Bicicleta, longa mais recente dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne. Uma observação aguda dos efeitos da rejeição e do poder transformador que o amor de uma mulher pode provocar na vida de um jovem perdido.
Ao externar a tristeza pelo afastamento de seu pai, o jovem Cyril Catoul – interpretado de forma magnífica por Thomas Doret – expressa toda a fúria e frustração da forma mais intensa, violenta e descontrolada possível. As emoções mais agressivas e viscerais vêm à tona sem qualquer tipo de freio.
Ele quer encontrar e ser aceito pelo pai. E nada, nem ninguém, pode ficar no seu caminho. Por isso, Cyril é grosseiro, indisciplinado, agressivo e incontrolável. Um desafio para os educadores que trabalham no internato onde está trancado há um mês. Um teste pesado no exercício de tolerância e amor posto em prática pela cabeleireira Samantha (Cécile de France).
Logo no início, os dois se encontram de forma acidental, quando Cyril tenta entrar no apartamento do seu pai. Há uma identificação entre ambos quando Samantha devolve ao jovem a bicicleta que lhe havia sido roubada – único símbolo da união paterna que lhe restou. Os dois – o jovem e a mulher – passarão a se ver nos fins de semana.
A história deslancha.
Cyril é retratado quase que todo o tempo com uma camisa ou casaco vermelhos. Símbolo visual da raiva que há dentro dele. Há apenas dois ou três momentos ao longo da película nos quais ele está vestido de azul – quando está dormindo e durante uma cena num tribunal.
Ou seja, quando não está ligado às suas emoções, uma vez que não se encontra desperto, ou já mais à frente, quando sua própria personalidade está em transformação. Logo, é possível entender que, durante todo o tempo no qual está consciente, Cyril é guiado pela raiva e frustração. E esse sentimento de fúria só piora quando finalmente encontra a figura paterna que, ao invés de aceitação e carinho, dá ao garoto apenas a certeza de que ele não o deseja. Que quer vê-lo o mais longe possível.
O mal estar e o constrangimento da cena do encontro entre pai e filho são transmitidos de forma tão honesta, que fica difícil não sentir pelo menos um certo desconforto. O corte dado pelo pai levará o jovem à substituição dele por uma perigosa figura paterna e às consequências dessa aproximação.
A raiva, por ser cega, sempre pode ser direcionada para o mal. Basta que alguém mais malicioso e observador perceba isso. E essas consequências também chegam à vida de Samantha, que ignora os problemas causados pelo jovem e insiste em acolhê-lo movida por um sentimento que talvez nem ela mesma consiga descrever. Amor materno? Talvez…
Os irmãos Dardenne registram toda a trama de forma naturalista. Sua câmera é quase voyeurística – parece estar espiando secretamente a vida dos personagens. Preste atenção especial às cenas gravadas dentro do carro de Samantha. A maneira como a lente passeia da direita para a esquerda e vice-versa, extremamente próxima, contrapondo os rostos dela e do jovem.
De um lado, amor. Do outro, cólera.
Há um embate emocional. Atenção especial também à cena retratada no pôster do filme, quando ambos passeiam num dia ensolarado à beira de um lago. Pouco mais à frente do fotograma usado no cartaz, eles trocam de bicicletas. Essa troca, entretanto, guarda um significado bem maior que a cessão de um veículo.
Ao pedalar a bicicleta de Samatha, Cyril mostra – de forma metafórica – que os sentimentos de amor oferecidos a ele pela cabelereira desde o início da trama finalmente estão fazendo efeito. Ele está se transformando. E essa transformação é testada na sequência final, quando o próprio garoto é vítima de um ato de violência.
Ao fim, os dois cineastas deixam uma mensagem: a rejeição vai te fazer sofrer e sentir raiva. Mas o amor da pessoa certa pode te transformar. No fim das contas, a escolha é pessoal. E Cyril faz a dele.
A temporada dos blockbusters deste ano começou, para nós brasileiros, com uma estréia atrasada de 2011, mas foi em grande estilo. Sherlock Holmes – O Jogo de Sombras, continuação do filme de 2009 (que por aqui saiu já em 2010), traz novamente Guy Ritchie na direção e Tony Stark no papel principal. O que? Tudo bem, vamos fingir que o nome “real” dele é Robert Downey Jr.
Em 1891, grupos nacionalistas promovem atentados por toda a Europa, gerando um clima de desconfiança e medo, e uma guerra mundial parece iminente. Sherlock Holmes tem certeza de que por trás de tudo está o gênio conspirador James Moriarty, um respeitado acadêmico e colaborador do governo britânico. O problema é que, mesmo se dedicando febrilmente ao caso, o detetive não tem provas concretas, e pra piorar, seu fiel amigo John Watson está prestes a se casar e nem um pouco disposto a ajudá-lo em suas loucas aventuras.
Tudo nesta seqüência evoluiu muito em relação ao primeiro filme, que se sustentava quase que unicamente no carisma do protagonista. As investigações de Holmes, sempre baseadas num dom de observação praticamente sobre-humano, ganharam muito mais espaço. Continuam as ótimas cenas de ação, com Ritchie mais Zack Snyder do que nunca, um tom humorístico muito forte, e a inevitável pegada steampunk, com tecnologia revolucionária explosões mil. Porém, isso não fica forçado, pois a trama enfoca justamente a indústria de armas e sua rápida evolução.
Mas onde o filme realmente supera folgadamente seu antecessor, é no vilão. O clássico arquiinimigo de Holmes possibilitou uma história mais grandiosa e ousada, e um sensacional embate intelectual entre dois gênios. Tão empolgante que não incomodam nem por um segundo os clichês monstruosos de 1) vilão como uma cópia evil do herói, e 2) Associar uma partida de xadrez aos estrategistas e seus planos.
Falando das atuações, Downey Jr. parece até mais a vontade no papel, somando ao sotaque inglês meio mequetrefe um ar perturbado totalmente dorgas, mano. Jared Harris está absurdo como Moriarty, chegando até a roubar a cena do herói em vários momentos. Jude Law, como deveria ser, faz um Watson discreto, o contraponto perfeito a Holmes. Já a cigana Simza vivida por Noomi Rapace não serve pra muita coisa fora movimentar a trama na direção necessária, a delícia Rachel McAdams reprisa o papel de Irene Adler numa (infelizmente) curta participação, e Stephen Fry faz uma divertida ponta como Mycroft Holmes, o irmão de Sherlock, mostrando uma afetação britânica nível máximo.
Como ponto fraco, vale citar a fotografia muito escura em alguns momentos. Tudo bem que é um filme de época e a iluminação não era grande coisa, mas cinema é espetáculo, eu gostaria de VER tudo o que acontece! Além disso, alguns momentos mais dramáticos ficaram deslocados, mesmo sendo bem executados, devido ao clima comédia predominar durante a maior parte do filme. Nada que tire o brilho dessa aventura divertidíssima, que certamente vale o ingresso. E dando spoiler da última cena, tomara que a resposta seja “não”.
Ps: Sei que já tem um filme brasileiro disso, mas… uma continuação adaptando O Xangô de Baker Street. Pensem o quão ÉPICO seria.
Baker Street, Apartamento 221B.
Aproveitando a chegada da nova adaptação, sobre o detetive mais famoso do mundo, Sherlock Holmes (não nerds, não é o Batman), decidi fazer um review rápido sobre o que achei do primeiro filme.
Filmes sobre o Holmes não são novidade. Desde que a obra caiu em domínio público, tivemos a oportunidade de conhecer diferentes versões do detetive inglês, até mesmo Jô Soares fez a sua. Com Guy Ritchie, a coisa não poderia ser diferente.
Quem esperava ver algo idêntico aos livros vai perder tempo. Não que não exista o Sherlock dedutivo, tem sim, mas o gentleman inglês, a persona séria, arrogante e um tanto enigmática, é quase nula nessa adaptação. Isso é natural, tendo Guy Ritchie na direção, um diretor autoral que, evidentemente, vai deixar sua marca no filme, a menos que fosse barrado pelos produtores, o que parece não ter acontecido.
Ritchie aborda a faceta mais aventureira do herói, enaltece sua paixão pelo boxe a um novo patamar e o despe da seriedade londrina, que é tão comum em seus livros. E é claro que não faltam os ótimos diálogos (rápidos e afiados), takes em slow motion que antecedem algumas ações, personagens sujos e porradaria, detalhes que Guy Ritchie adora colocar em seus filmes, tudo isso somado a excelente trilha de Hans Zimmer.
Mesmo com o inglês britânico um pouco forçado, Robert Downey Jr. esbanja carisma na construção de seu personagem. Jude Law trabalhou muito bem e teve uma ótima química com seu parceiro. O vilão interpretado por Mark Strong enche a sala cada vez que aparece. O único problema no elenco é Rachel McAdams que veio com a proposta de fazer o papel de sedutora no filme, mas não consegue cumprir bem isso, felizmente não é nada que prejudique a história.
O plot é básico, após Lord Blackwood (Strong) ser capturado por Holmes e Watson e ser entregue a Scotland Yard, acaba sendo condenado a morte, pelo assassinato de 5 mulheres, envolvendo rituais de magia negra. Com a resolução do caso e sem nenhuma investigação que instigue sua mente dedutiva, Holmes se isola do mundo aguardando algo que atraia sua atenção. A trama tem suas reviravoltas, Holmes demonstra toda sua perspicácia de grande detetive e a história deixa em seu desfecho a apresentação de um grande inimigo de Holmes.
Sherlock Holmes não é o melhor, nem o pior filme de Guy Ritchie. Tem seus méritos, já que conseguiu fazer um grande blockbuster sem perder sua assinatura.