O estreante Afonso Poyart cria uma narrativa inédita no cinema brasileiro, vomitando uma série de referências à cultura pop, aos quadrinhos (a apresentação de seus personagens é um bom exemplo), games (uso de computação gráfica simulando jogos como GTA) e o próprio visual nos remete a alguns diretores do cinema norte-americano, como Zacky Snyder, além de uma narrativa visivelmente influenciada por grandes mestres como Quentin Tarantino. Contudo, essas referências servem apenas como elementos no universo apresentado pelo cineasta. As influências existem, mas em nenhum momento a identidade da nossa cultura é perdida.
2 Coelhos conta a história de Edgar, que passa seus dias ou vendo filmes pornográficos em seu computador ou jogando videogame em sua TV. Seus planos como jovem adulto não deram certo e agora ele elabora um plano complexo em que visa resolver dois problemas simultaneamente ao concretizá-lo. No decorrer do filme, descobrimos a ligação do protagonista com Walter (Caco Ciocler) e Julia (Alessandra Negrini).
Com uma estrutura narrativa não-linear e intervenções gráficas para explicar alguns trechos da história, 2 Coelhos é mais do que competente. Apesar do excesso visual, o que acabamos vendo é algo autêntico. O roteiro do próprio Poyart fala de temas recorrentes no cinema brasileiro, como corrupção e violência, com um ar de filme noir. Edgar é um personagem dúbio, com narração em off, Alessandra Negrini é a femme fatale, e que lugar melhor para ambientar uma história do gênero do que na cinzenta cidade de São Paulo.
Assim como em Tropa de Elite, a trama expõe um Brasil corrupto, com leis que beneficiam os favorecidos e prejudicam aqueles que realmente precisam dela. Contudo, o filme não tem a pretensão de colocar o dedo na ferida e escancarar as mazelas sociais do povo brasileiro e nem de ir à fundo na corrupção. Até porque não é esse o objetivo do longa. O filme é uma forma de desabafo, mas mais do que isso, 2 Coelhos quer mais é brincar com o tema de forma ácida do que fazer um filme-denúncia.
A direção e fotografia são mais do que competentes, mas pecam pelo excesso, porém é algo que é facilmente relevado levando em conta que este é o primeiro filme do diretor, além do que, a forma como o roteiro se encaixa com o desenvolvimento da trama faz com que esqueçamos isso. Destaco a cena de tiroteio que ocorre na praça Roosevelt, em São Paulo, digna de filmes policiais norte-americanos com grande orçamento.
O elenco tem seus problemas e acertos. Fernando Alves Pinto se sai muito bem como protagonista, é um personagem que sabe o que quer. Alessandra Negrini (sempre linda) parece não se firmar na sua personagem e em alguns momentos parece ligada no piloto automático. O mesmo não pode se dizer de Caco Ciocler que praticamente não tem diálogos durante o filme e ainda assim rouba a cena, tudo isso apenas com expressões corporais. Roberto Marchese interpreta o deputado Jader e coloca todo o cinismo necessário para tornar crível algumas ações do mesmo. Por último, mas não menos importante, Marat Descartes é Maicom, um vilão que não mede esforços para alcançar seus objetivos, uma pena que sua personagem exagere na “canalhice”.
2 Coelhos é um filme que cresce cena-a-cena e até o final da trama se consolida como algo que vai muito além do visual. O cinema brasileiro agradece.
Ao chegar no fim de As Aventuras de Tintim fica difícil, mas muito difícil mesmo imaginar que qualquer outro diretor possa fazer uma adaptação do principal personagem do cartunista Hergé tão impressionante quanto a realizada por Steven Spielberg.
A ideia de se levar Tintim às telas é antiga. Afinal, ele mesmo, o próprio personagem, também já passou dos 80 anos: sua primeira publicação data de 1929. Por todo esse tempo de existência, não é difícil imaginar quantas pessoas já imaginaram como seria ver as aventuras do jovem repórter na tela grande.
Também é fato conhecido há bastante tempo na Europa que, tanto o artista belga quanto a crítica – sobretudo a francesa -, acreditavam que Spielberg era o homem certo para o trabalho. Diz a lenda que Hergé ficou encantado depois de ter assistido Caçadores da Arca Perdida e que viu no cineasta americano a pessoa ideal na transposição de sua criação mais conhecida para a sala escura.
E agora que o filme chegou ao circuito, é possível afirmar: ele estava absolutamente certo. Spielberg acerta do início ao fim em “As Aventuras de Tintim”. E o primeiro acerto precede o filme em si.
A opção por usar cenários virtuais e o recurso da captura de movimentos foi preciosa. Os principais detalhes encontrados nos personagens que formam a história de Tintim nos quadrinhos estão lá: o capitão Haddock, os inspetores Dupont e Dupond e o fox terrier Milu – que, aliás, em vários momentos se transforma no personagem principal do filme.
Todos retratados com uma fidelidade que dificilmente vai decepcionar quem acompanha as viagens dos personagens nos álbuns originais. É a prova do respeito que o cineasta tem pelo material original. Ou seja, a caracterização está mantida.
Imaginar uma versão com atores reais chega a dar calafrios. Isso porque determinados personagens têm características físicas tão cartunescas – traços exagerados ou minimalistas, retratação em cores berrantes – que torna praticamente impossível imaginá-los sendo vividos por seres humanos.
São justamente os exageros visuais dessas criações que nos transportam para outros lugares e garantem a fantasia. E quando se fala em fantasia, de fato ninguém supera Spielberg. Um dos maiores clichês sobre o cineasta é dizer que, em boa parte de suas obras, ele ainda mantém um olhar de criança ao filmar. Tintim comprova a afirmação.
“As Aventuras de Tintim” é um filme de ação desde o início. Sem o menor pudor de se assumir como tal. E esse talvez seja um de seus maiores méritos. O ritmo é acelerado, porém os cortes não são fragmentados – aqui não há o que se convencionou chamar de “estética MTV”. Trata-se de uma ação contínua: uma cena puxa a outra e a outra e a outra e assim por diante.
Muitos poderão até achar engraçado, mas ver esse filme faz imaginar o quanto Spielberg deve ter assistido as obras de François Truffaut. A câmera é de uma leveza e fluência assustadoras, que lembram muitos momentos do autor francês. E o meio virtual no qual a produção foi registrada rompe qualquer amarra que a realidade física poderia impôr ao cineasta.
A construção dos personagens fica em segundo plano, porém não é esquecida. E nesse ponto, nenhum chama mais a atenção que Haddock. Talvez para dar um pouco mais de drama e sofrimento, no filme o capitão é bem mais viciado em bebida que nos quadrinhos – o que, certamente, aprofunda sua fragilidade e, por consequência, sua dimensão humana.
E aqui cabe sublinhar mais um trabalho primoroso do ator Andy Serkis. Que ele não fique estigmatizado, mas o homem se tornou um mestre na composição de personagens virtuais, vide o “Gollum” de O Senhor dos Anéis e o César de Planeta dos Macacos – A Origem.
Em meio a tantas cenas de ação bem construídas, com muitos tiros e socos – quem leu os quadrinhos sabe que as histórias de Tintim não podem ser exatamente classificadas como “infantis”. Esse é um erro recorrente – , uma delas se destaca: preste muita atenção na sequência da fuga do castelo, no Marrocos. Se você não se movimentar na cadeira pelo menos um pouco com a agilidade das tomadas e a sucessão de cenas para se chegar à conclusão da sequência, acredite: há algo errado contigo.
Outro excelente momento ocorre quando Haddock finalmente se lembra da história contada por seu avô – fundamental para a compreensão da trama. Repare na precisão da sequência de fusões e flashbacks que o diretor cria para que a história fique coerente aos olhos do espectador.
É um filme para sair da sessão de cinema pensando seriamente em descer escorregando pelo corrimão da escada. Para voltar a se sentir um pouco como os garotos que já fomos numa época de nossas vidas. Sensação semelhante à que experimentamos quando assistimos Indiana Jones.
Aliás, veja como Tintim, numa das cenas citadas acima, utiliza uma motocicleta com sidecar muito parecida como a usada por Harrison Ford e Sean Connery em Indiana Jones e a Última Cruzada.
Há quem veja muitas semelhanças entre o repórter criado por Hergé e o arqueólogo concebido por Spielberg e George Lucas.
Vamos deixar bem claro, logo no início do texto, a informação mais importante sobre O Espião que Sabia Demais: trata-se de um filme absolutamente dedicado à espionagem.
Já sei o que você pode estar pensando.
“É óbvio que ‘O Espião que Sabia Demais’ é sobre espionagem! Todo mundo sabe disso!”.
Sim, meu amigo. Mas é justamente aí que você pode se enganar.
Quando se fala em espionagem no cinema, a associação mais comum é com filmes da série 007 ou, na última década e meia, com os episódios das franquias Missão Impossível e Bourne. Ou seja, filmes com algum – pouco – conteúdo relacionado à espionagem e imensas doses de ação.
“O Espião que Sabia Demais” não poderia ser mais diferente dos exemplos citados acima.
Gosta de tiroteios? “O Espião que Sabia Demais” não tem nenhum.
É fascinado por perseguições de carros em alta velocidade? Em “O Espião que Sabia Demais”, não há uma sequer.
Aprecia muita pancadaria e explosões? “O Espião que Sabia Demais” passa longe disso tudo.
Agora que as ressalvas foram feitas e você está advertido, vamos direto ao ponto: “O Espião que Sabia Demais” é uma das melhores películas lançadas nos últimos tempos.
O filme, como se sabe, é a adaptação do romance homônimo, escrito por John le Carré – um dos mais populares autores de romances de espionagem, responsável por títulos como O Espião que Veio do Frio, o Alfaiate do Panamá e O Jardineiro Fiel. Ele mesmo, ex-espião inglês.
Na trama, ambientada em 1973 – portanto, durante a Guerra Fria –, logo de cara somos informados que um dos integrantes do Circus, o alto escalão do serviço secreto da Inglaterra, é, na verdade, um agente duplo que vende informações para a KGB, a agência de inteligência da falecida União Soviética.
O personagem George Smiley (Gary Oldman), que curiosamente havia acabado de ser demitido do Circus, é contatado diretamente pelo gabinete do primeiro ministro e recebe uma missão: investigar o caso para descobrir quem é o traidor.
E é a partir daqui que o diretor sueco Tomas Alfredson – da excelente versão original de Deixe Ela Entrar – imprime seu ritmo: toda a trama é construída lentamente. Passo a passo. Não há cortes bruscos, nem tempo narrativo acelerado. Pelo contrário. A história flui num ritmo caudaloso que muitos, certamente, poderão considerar arrastado.
Mas não caia nessa.
Alfredson sabe exatamente o que está fazendo. Ele dita um ritmo cadenciado e contínuo – com algumas idas e voltas no tempo – para construir um mistério que é impenetrável para quem está assistindo. Acredite: a menos que tenha lido o livro, você dificilmente descobrirá quem é o traidor antes do filme chegar ao fim.
Por ter esse andamento, as cenas de maior violência – sim, elas existem – são impactantes quando surgem na tela.
E aqui há um ponto muito importante: este filme é exigente com quem o assiste. Se o espectador resolver deixar a sala por dois minutos para ir ao banheiro ou comprar pipoca, corre o imenso risco de perder o fio da meada e ficar confuso em relação à trama. Logo, faça tudo isso antes do filme começar. “O Espião que Sabia Demais” pede atenção absoluta.
Os planos são longos e, em boa parte das vezes, estáticos. Os movimentos de câmera, quando acontecem, são incisivos, mas ao mesmo tempo discretos: aproximações , afastamentos e deslocamentos laterias.
A composição é primorosa. Cada cena é construída com grande cuidado. A fotografia é do suíço Hoyte Van Hoytema, que já havia trabalhado com Alfredson em “Deixe Ela Entrar” e também cuidou da imagem de O Vencedor. Perceba como o trabalho dele, associado ao figurino e à cenografia, remetem imediatamente ao visual europeu da década de 1970.
Em alguns momentos, a impressão que se tem é que estamos assistindo – pelo menos em termos estéticos – imagens de O Dia do Chacal, de Fred Zinnemann – não por acaso, adaptação de outro clássico da literatura de espionagem, este de Frederick Forsyth.
Atenção especial à sede do então MI6 – atual SIS, sigla que designa a inteligência britânica. O marrom e seus matizes, além das prateleiras, mesas e arquivos de pastas dominam o ambiente, dando ao local uma inevitável cara de repartição pública. O estoicismo de alguns planos é reflexo da imensa burocracia que aquele local deixa transparecer.
E no meio de um time espetacular de atores – John Hurt, Colin Firth, Mark Strong, entre outros – Gary Oldman rouba praticamente todas as cenas. É impressionante a postura de contenção que ele imprime ao espião George Smiley. O personagem, mesmo nos momentos de solidão em casa, parece viver num mundo de autocontrole e ordem. Em apenas um ou dois momentos do filme ele ameaça ceder para, logo em seguida, recuperar o controle absoluto que tem sobre si mesmo.
E se você acha impossível associar Julio Iglesias – ele mesmo. Aquele cantor espanhol brega que sua avó provavelmente adorava – à espionagem, espere até o fim do filme. Você vai se surpreender.
E aqui, ao fim do texto, vale relembrar a explicação do início: “O Espião que Sabia Demais” é um filme de espionagem.
Pouco depois do início de Tudo pelo Poder, o personagem Tom Duffy (Paul Giamatti) tenta convencer Stephen Meyers (Ryan Gosling) a mudar de lado na campanha das primárias para escolher o futuro candidato democrata às eleições presidenciais dos Estados Unidos.
Ambos trabalham para concorrentes dentro do mesmo partido. Impressionado com o carisma do jovem e ambicioso assessor interpretado por Gosling, Giamatti quer contratá-lo a todo custo e, para isso, argumenta que o candidato de quem o jovem é empregado dificilmente vai vencer a disputa.
“Não posso aceitar a oferta”, recusa o assessor. “Trabalho para Mike Morris (George Clooney). Acredito nas propostas dele. Acredito que ele realmente pode fazer diferença na vida das pessoas. E, além do mais, ele é meu amigo”.
A resposta do personagem de Giamatti – na forma de uma pergunta – não poderia ser mais direta: “Você quer trabalhar para o seu amigo ou para o futuro presidente?”. A fagulha que incendeia a ambição e a vaidade de Stephen Meyers é lançada aí. As chamas desses sentimentos vão se espalhar e virar sua vida do avesso.
Na verdade, esse exercício de retórica apenas abre espaço para o assunto sobre o qual George Clooney – que dirige o filme e também interpreta o candidato Mike Morris – quer colocar sua lente de aumento: a perda definitiva da inocência. O personagem de Gosling não é bobo. Sabe que está num jogo. Que todas as palavras de cada discurso, entrevista ou debate são fundamentais para que seu candidato chegue à vitória. No entanto, percebemos que ele possui uma visão limitada da máquina monstruosa da qual faz parte. A realidade é percebida por um filtro de credulidade devotada a seu chefe. Um grande erro, sem dúvida.
Em pouco tempo, entretanto, ele vai aprender da pior maneira que, dentro do jogo político, não há espaço para sentimentos. Não há espaço para falhas. E também não há espaço para deslealdades, como o chefe da campanha de Clooney, interpretado por Philip Seymour Hoffman, o lembra num momento crucial do filme.
As campanhas estão acima de tudo. E mesmo supostos inquebráveis laços de amizade podem ser partidos sem maiores preocupações em favor da vitória do candidato defendido. Isso fará toda a diferença ao longo da trama. A inocência do personagem principal será arrancada pedaço por pedaço de forma impiedosa.
No começo da história, os dois candidatos democratas disputam as primárias no estado de Ohio. A conquista do apoio de um senador de posições radicais é fundamental para saber quem será o vencedor. Clooney, apesar dos esforços de seus dois assessores principais para convencê-lo, não está disposto a aceitar.
Gosling o olha com respeito e admiração.
No entanto, o envolvimento romântico que ele terá com a estagiária interpretada por Evan Rachel Wood vai lhe colocar em contato com o choque de realidade que despedaçará sua visão idílica dos fatos. Seus olhos serão abertos à força. Mesmo ídolos aparentemente perfeitos possuem máculas. Algumas delas, bem graves.
Não há heróis em “Tudo pelo Poder”. Mesmo o protagonista é capaz de mudar radicalmente de posicionamento quando está de posse do principal segredo do enredo. Tudo para obter uma vantagem. Suas convicções iniciais, outrora defendidas com tanta veemência, são descartadas por ele mesmo sem maiores traumas. A mudança de posicionamento é valorizada pela interpretação de Ryan Gosling – a partir desse ponto, sua postura física e olhar mudam visivelmente.
O diretor faz uma apropriação de termos usados durante a disputa da última eleição para a Casa Branca. O termo “socialistas” usado pelos Republicanos – principalmente pela então candidata à vice-presidência Sarah Palin – para se referirem aos democratas está lá. Até mesmo o “We are ready to lead” proferido por Obama encontrou eco no personagem no representado por Clooney. A incorporação de um dos fatos mais marcantes da gestão Bill Clinton também é visível no roteiro. É impossível não notar a influência de cineastas proeminentes no cinema norte-americano nos anos de 1970, como Norman Jewison e Alan J. Pakula, na estética adotada por Clooney.
A composição é limpa. Seus planos, na maioria das vezes, são estáticos. A ênfase não é no trabalho de movimentação de câmera, mas na interpretação dos atores. Coerente, uma vez que o próprio Clooney é um ator. Preferências estéticas que já haviam sido evidenciadas em seus trabalhos anteriores: “Confissões de Uma Mente Perigosa” e “Boa Noite e Boa Sorte”.
Ainda sobre a composição de “Tudo pelo Poder”, os personagens são reduzidos quando comparados ao ambiente que os cerca. O homem aparece sempre pequeno diante de grandes prédios, palcos e salões. A metáfora é clara: dentro da política, o indivíduo é minúsculo. Apenas uma peça frente aos interesses e poderes que o sobrepõem largamente.
Além disso – e mais uma vez volto a Pakula – luz e sombra são definidos claramente. Em boa parte das cenas, dentro do mesmo quadro, há espaços iluminados e outros sombrios. É o simbolismo do homem dividido entre a luz e a sombra. E que, no final, descobre de forma dolorosa que ter uma visão dualista da vida – e mais especificamente dos bastidos res da política – pode ser limitante e perigoso.
Vivemos num grande cinza. E na luta pelo poder político, esse cinza é ainda mais intenso. George Clooney sabe disso. Nós deveríamos, também.
Martin Scorsese é um dos maiores cineastas da história e Os Infiltrados (The Departed, 2006) já reservou seu espaço entre as obras-primas da sétima arte. São 152 minutos de pura técnica e beleza. A história é baseada no eletrizante Conflitos Internos (2002), sucesso de Hong Kong. Mesmo não sendo material original dele, o diretor extrai originalidade, na maneira sempre cheia de frescor com que trabalha seus temas preferidos, como os conceitos de culpa, redenção e violência na sociedade norte-americana.
Personagens solitários procurando uma saída em um mundo corrompido, muitas vezes encarando seus pecados através de uma “crucificação” sanguinária, no plano metafórico. Tudo isso tangenciado com uma forte presença da religião católica, em termos de Scorsese sempre de forma conturbada, e a sombra discreta em citações de Joyce, Freud, Shakespeare e John Ford (cenas de O Delator em uma TV).
O elenco traz interpretações impecáveis, liderado por Jack Nicholson em uma atuação anti-realista, quase demoníaca, própria para emoldurar o dualismo espiritual e físico por parte da polícia e gangsteres protagonizadas, respectivamente, por Leonardo DiCaprio e Matt Damon. Isso é exemplificado na cena em que os dois são refletidos de forma fragmentada. Um espelho nefasto emprestado do universo de Hamlet.
Tecnicamente a produção reafirma, com primor, todas as idéias sugeridas pela orientação de Scorsese. Cada cena tem uma função na narrativa, sedimentando as nuances da trama. A fotografia de Michael Ballhaus enriquece cada plano com uma cor sombreada sugerindo ambigüidade em diversos personagens. A edição de Thelma Schoonmaker corrobora essa premissa com uma série de eventos que por nenhum instante deixa o espectador confuso. Os cenários de Kristi Zea nos levam para uma selva urbana e atmosférica pela dualidade de comportamento dos personagens.
Modernidade e retro se completam. Mesmo sendo encenado nos dias de hoje, sentimos um certo clima de produção ambientada nos anos 70. Época em que os filmes retratavam pessoas amorais e ambíguas sem muita preocupação com o politicamente correto. Tudo isso embalado por uma mistura de rock e ópera na trilha sonora. Os Infiltrados também marca a volta de Scorsese ao caos urbano, gênero em que ele é um mestre. Depois de realizar filmes grandiosos e de época, ele volta suas lentes para o mundo do crime repleto de gangsteres trágicos. Mas dessa vez a ação também é concentrada no dia-a-dia dos policiais. Pois “ratos” não são um privilégio exclusivo dos bandidos.
Que Mel Gibson não vai bem das pernas todo mundo sabe, um bom sinal disso foi sua volta aos cinemas atuando, já que desde Sinais não atuava, em 2010 ele retornou com O Fim da Escuridão, filme que passou batido pelos cinemas sem nenhum alarde. Nem mesmo as polêmicas de Gibson salvou o filme.
Neste longa, Gibson retorna com um personagem polêmico e longe dos maniqueísmo que estamos acostumados da indústria de cinema. Interpretando Thomas Craven, um policial de Boston do departamento de homícidios, víuvo e pai de uma única filha, Emma (Bojana Novakovic), uma estagiária de uma grande companhia.
O Fim da escuridão retrata um dia na vida do agente Craven (nome maneiro, hein?) em busca de vingança. Não entrarei muito na história, senão o spoiler será necessário. O filme tem o objetivo de ser um thriller dramático, muito parecido com Busca Implacável com Liam Neeson, que é magistral, porém, enquanto Busca Implacável é ação frenética com algumas cenas de drama, O Fim da Escuridão vem como o oposto, talvez por isso tenha sido tão criticado, o filme não é extraordinário, mas talvez tenham entendido errado o que ele estava proposto a mostrar. O Fim da Escuridão não era pra ser um filme de ação frenético como Máquina Mortífera, como algumas pessoas reclamaram por aí.
Gibson está muito bem em seu papel, não achei nada que o desfavorecesse, e discordo de muitos que o chamam de ator de um só filme. Martin Campbell (Cassino Royale) é o responsável por dirigir o acerto de contas do personagem interpretado por Mel Gibson. Em algumas cenas, Campbell acaba abusando do sentimental, o que incomoda um pouco, mas que no somatório geral, não chega a prejudicar. Vale resaltar a presença de Ray Winstone na trama, com excelentes atuações.
Apesar de estar longe de ser um grande filme, O Fim da Escuridão cumpre bem seu papel e merece um olhar mais atento do espectador.
A Conquista do Planeta dos Macacos é o quarto filme da saga Planeta dos Macacos, e a melhor das continuações, bem como um dos mais violentos, trazendo uma forte alegoria ao fascismo e a escravidão.
O ano é 1991 e os EUA se tornaram um estado militar. Os cães e gatos foram dizimados por um vírus trazido do espaço pelos três macacos astronautas do filme anterior. Com isso, os seres humanos têm a necessidade de encontrar novos animais de estimação e passam a importar macacos da África, com o passar do tempo esses macacos passam a ser leiloados, treinados e escravizados para executar quaisquer tipos de tarefas mecânicas.
Nesse cenário surge Caesar (Roddy McDowall), o mesmo macaco cujos pais eram Zira e Cornelius, chimpanzés inteligentes e articulados que viajam para o passado em busca de um novo começo, mas são mortos em uma tentativa de evitar a dominação símia que viria acontecer no futuro. Armando (Ricardo Montalban), o havia escondido dezoito anos atrás, e desde então vem o educando longe das grandes cidades.
Graças a sua vida circense junto à Armando, Caesar não tem um contato muito grande com a civilização humana e desconhece o tratamento que é dado aos macacos nos dias de hoje. Tudo isso muda quando Caesar acompanha Armando para o complexo Century City para divulgar seu espetáculo na cidade. Caesar fica horrorizado com o tratamento degradante que os macacos recebem dos humanos e acaba amaldiçoando os polícias que estão ali. Com isso, não vê outra alternativa a não ser fugir e se esconder no meio de um carregamento de macacos que serão leiloados.
As coisas não saem da forma como Caesar esperava. Armando acaba sendo detido pela polícia e Caesar passa por um “treinamento”, que nada mais é que um programa de condicionamento, onde todos os macacos são submetidos até aprender determinadas funções motoras. Sua revolta cresce cada vez mais com o tratamento que seus similares recebem e com isso passa a organizar pequenas ações revoltosas.
A Conquista do Planeta dos Macacos busca uma proposta diferente dos filmes anteriores, o longa tem um clima sombrio e até perturbador para a série, a direção de J. Lee Thompson é dinâmica, utilizando câmera de mão em muitas sequências o que colaborou para transmitir a atmosfera pretendida de hostilidade. Apesar de muito criticado, “Conquista” é o meu preferido, seja pelas referências à obra de George Orwell, como câmeras de vigilância onipresentes por toda cidade (1984) e também a corrupção existente dentro de uma sociedade (Revolução dos Bichos), além de toda a crítica social trazida em um filme “família”, como o recondicionamento vicioso onde os macacos são treinados, sem se esquecer do brilhante e apaixonado discurso final de Caesar.
Um dos filmes mais sinceros e violentos de toda série, uma pena que sua sequência cedeu as pressões da Fox e abriu as pernas de vez.
Falcão, o campeão dos campeões, encontra Transformers num filme do Rocky Balboa. Um crossover maluco? Nada disso, essa é basicamente a essência de Gigantes de Aço, filme estrelado por Hugh Jackman que estreou no dia 21 de outubro.
Em 2020, o boxe como o conhecemos não existe mais. Devido à crescente ânsia do público por mais e mais violência, o esporte foi proibido para humanos. Em seu lugar, robôs se enfrentam em lutas até a “morte”. Nosso querido Wolverine vive um Charlie Kenton, um ex-boxeador que quase foi campeão mundial, e agora tenta sobreviver controlando sucatas velhas em lutas no mundo underground do boxe robótico. Azarado e ganancioso, ele se afunda em dívidas. Até que surge em sua vida Max, filho para o qual nunca deu bola. A mãe, uma ex-namorada, acaba de morrer de câncer, e o escrotíssimo Charlie tem a chance de faturar uma grana alta vendendo a guarda do menino para os tios, só vai ter que antes passar o verão com ele.
Inevitavelmente, temos uma conflituosa relação entre pai e filho, mas o que salva o filme da chatice é Max ser um apaixonado e profundo conhecedor do boxe de robôs. Ele e o pai vão se conhecendo numa jornada que vai literalmente do ferro ao velho ao estrelato do esporte, através do robô Atom, um autômato velho mas capaz de copiar os golpes que vê, além de agüentar muita porrada.
O filme é sem dúvida previsível, o que não tira em nada sua qualidade. Jackman manda bem como o pai canalha que vai aos poucos revendo suas atitudes e se transformando em alguém melhor, enquanto ator-mirim Dakota Goyo parece um clone do Anakin de Ameaça Fantasma, só que muito mais carismático. Também chamam atenção no elenco dois atores de Lost:
Evangeline Lily, competente no papel de ajudante/amiga/interesse romântico de Charlie, e Kevin Durand, obviamente como um vilão.
E quanto aos gigantes de aço propriamente ditos, sem exagero: esqueça Transformers. Misturando os bons velhos animatronics, técnicas de captura de movimentos e, claro, efeitos em CGI, temos aqui robôs mais VIVOS do que nunca. Cada um tem suas particularidades, e o realismo é exaltado em cada amassado ou arranhão na lataria. As lutas são ótimas, sem economizar em “sangue” e desmembramentos por causa da censura, afinal, são apenas robôs.
Entre inspirações, homenagens e clichês, o resultado final é muito divertido e empolgante. Um dos melhores do ano, recomendado a todos que gostam de cinema.
Um dos maiores clássicos da literatura mundial ganha sua enésima adaptação cinematográfica, mais massavéio do que nunca. Os Três Mosqueteiros, nos cinemas desde o último dia 12, traz a conhecidíssima história na visão do diretor Paul W. S. Anderson. Ou seja: roteiro raso e ação desenfreada com direito a câmera lenta, 3D e muitas explosões. E o resultado é surpreendentemente divertido.
Na França do século XVII, um jovem chega a Paris sonhando entrar para a célebre Guarda Real, os Mosqueteiros, e acaba se envolvendo numa série de conspirações contra o trono, etc… você certamente já viu essa história antes. E o filme espertamente se aproveita disso, estabelecendo rapidamente o ambiente e os personagens, sem perder tempo com desenvolvimento do que quer que seja, e parte logo pra ação com piadinhas. E isso domina o filme todo, cenas de ação bem feitas apesar de exageradas, e um forte tom cômico que assume que o filme não tem qualquer pretensão de se levar a sério.
A solução encontrada por Anderson (conhecido principalmente por cometer as adptações da franquia Resident Evil) para imprimir seu estilo num cenário capa-e-espada foi apelar pra uma estética steampunk, com armas, equipamentos e engenhocas “modernos”, chegando a usar dirigíveis fortemente armados numa batalha naval aérea. Mas o auge mesmo é a representação renascentista do clichê máximo dos filmes de assalto/espionagem: os lasers de segurança. Exagero é pouco.
As atuações seguem a mesma linha, tudo tão forçado que acaba se tornando bom. A esposa do direto, Milla Jovovich, obviamente, tem todo o destaque possível no papel de Milady. O oscarizado Cristoph Waltz precisava pagar algumas contas, então bateu cartão como o Cardeal Richelieu. Os três mosqueteiros são vividos por Matthew MacFadyen (Aramis), Luke Evans (Athos) e Ray Stevenson (Portos), este último se mostrando muito a vontade num papel cômico, muito semlhante ao que fez em Thor. Logan Lerman, o Percy Jackson (se é que alguém lembra disso), não faz feio como o arrogante “protagonista” D’Artagnan, ajudado em muito pelo roteiro não exigir nada dele em termos de evolução, jornada do herói e tudo mais. As coisas simplesmente acontecem e pronto. Mas o grande destaque do elenco, e eu ainda não acredito que vou dizer isso, é Orlando Bloom. Vivendo o afetado Duque de Buckingham, ele dá uma aula de canastrice e entrega provavelmente sua melhor atuação da vida. Sempre com um sorrisinho irônico de quem está se divertindo horrores e ainda faturando algum, ele é o símblo desse filme.
Como expectativa e proposta são a chave de tudo no cinema, muito cuidado com Os Três Mosqueteiros. Para os fãs puristas da obra original ou quem não consegue abrir mão de um roteiro bem elaborado, é melhor passar longe. Mas se você quiser apenas se divertir com o cérebro desligado, assista e seja feliz.
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Texto de autoria de Jackson Good.
Nota do Flávio: Esse nova versão de viadinho dos Três Mosqueteiros nunca chegará aos pés da de 1993, que contávamos com Kiefer “Jack Bauer” Sutherland e o ídolo-mor deste humilde blog, Charlie Sheen. Ok, ok, tinha o Chris O’Donnell como protagonista, mas vamos esquecer isso…
Catalogar Deixa Ela Entrar como um filme de vampiro é simplificar os temas alvitrados pelo diretor Tomas Alfredson. O longa propõe uma reflexão sobre as aflições da pré-adolescência, como a descoberta do primeiro amor e a solidão de não ser compreendido nessa fase da vida.
Baseado no livro de John Ajvide Lindqvist, que também assina o roteiro, a trama mostra uma love story inusitado entre dois púberes envoltos em uma espécie de crise existencial de melancolia e isolamento social. Oskar (Kåre Hedebrant) é um garoto solitário perseguido na escola por um grupo de valentões. Seus pais são divorciados e não lhe dão a atenção necessária. Ele passa o tempo fazendo recortes sobre assassinatos nos jornais locais. Em uma certa noite, ele conhece Eli (Lina Leandersson), que acabou de se mudar para seu prédio. Ela também demonstra um comportamento similar. Percebe-se que são almas gêmeas. Desse encontro inusitado nasce uma amizade e uma empatia emocional, que se torna paixão.
O diretor Tomas Alfredson não cai nas armadilhas do melodrama. Ele mantém um tom de distanciamento através de vários recursos técnicos, como a ausência de cores fortes. As longas tomadas invocam a solidão dos personagens. O frio e a neve contrastam com o concreto e as ruas propondo um encarceramento das relações humanas, que sofrerá uma ruptura através da afinidade de Oskar e Eli.
A abordagem realista resulta em um filme extremamente verdadeiro, mesmo tendo todas as costumeiras tradições de filmes sobre vampiros. Essa busca pelo real fica mais evidente pela opção de Alfredson ao inserir a violência em um ambiente doméstico e familiar para o espectador. Lirismo e brutalidade caminham lado a lado provocando uma colisão entre o fato e a fantasia. O desempenho da dupla de jovens atores corrobora essa intenção.
Em um primeiro momento, Deixa Ela Entrar parece ser um típico filme de terror. Na verdade, é um filme sobre a alienação social, amizade e amor, interpretado por crianças e direcionado ao público adulto.
2011 é o ano dos extra-terrestres. Pelo menos no cinema esta afirmação certamente é valida.
Depois de Transformers 3, Eu Sou o Número 4, Invasão do Mundo: A Batalha de Los Angeles, Super 8, Lanterna Verde e Apollo 18, chegou a vez dos homenzinhos verdes voltarem às telas, e desta vez para enfrentar o tipo de ser-humano mais durão da história de nosso planeta. Caras que mascam fumo, bebem uísque sem gelo, montam cavalos, fazem a barba muito porcamente e adoram uma boa briga que geralmente resulta em morte. Este duelo épico é a premissa de Cowboys & Aliens, adaptação dirigida por da HQ homônima publicada pela Platinum Comics.
Não vou, neste artigo, abordar os méritos da adaptação. Não lí os quadrinhos e o pouco que conheço da história sugere uma nota, no quesito adaptação, um pouquinho abaixo de 3. Dito isto, prossigamos:
Estrelado por Daniel Craig (007: Quantum of Solace, Lara Croft: Tomb Raider) e Olivia Wilde (Tron: O Legado, House), o filme conta a história de Jake Lonergan, líder de um bando de pistoleiros fora-da-lei, que acorda no meio do deserto com um estranho aparato metálico preso ao pulso e completamente sem memória. Enquanto tenta relembrar os acontecimentos que o levaram até lá, o cowboy envolve-se com os habitantes de um pequeno vilarejo local exatamente no momento em que seres desconhecidos em objetos voadores destrõem o lugar e sequestram vários de seus habitantes. Para salvar os habitantes sequestrados e evitar que os seres alienígenas destruam os humanos, Lonergan deve se aliar a um nada amistoso Coronel do exército que busca recuperar o filho sequestrado e uma atraente mulher misteriosa que parece conhecer os seres que o sequestraram. E reunida, essa turminha vai se meter em grandes aventuras e blá, blá, blá…
O filme é uma merda e daqui pra baixo eu vou contar tudo para que vocês não precisem vê-lo! Se você não viu e quer discordar da minha crítica, veja e depois deixe a sua opinião aqui na área de ofensas do blog. Espero que possa se dizer a palavra merda aqui (caso não possa, vocês nunca lerão este post)…
Não sou um grande fã do gênero Western. É muito fácil um filme ambientado do velho oeste cair numa galhofa intragável e ficar cansativo ou lento. Este novo gênero que vem aparecendo (vou chamá-lo de Sci-Western) é extremamente interessante, mas quando se juntam dois gêneros tão difíceis de serem trabalhados (e caso não tenha ficado claro, estou falando do Sci-Fi e do Western) a chance de acontecer alguma catástrofe de proporções gigantescas é ainda maior. Nesta, em especial, posso enumerar 2 falhas principais:
O protagonista de um filme tem que ser um personagem com o qual você se relacione. Você pode gostar ou odiar, mas tem que se relacionar de alguma forma com ele e, para isso, ele tem que ter algum traço de humanidade (ou ser declaramente uma máquina, como o fodástico T-800). Daniel Craig, na minha opinião, não serve como protagonista de nenhum filme pelo simples fato de não ser humano. O Jake Lonergan deste filme é tão expressivo e tem tanto carisma quanto uma pedra. Como diria um editor aqui do Vortex, o personagem de Craig é “qualquer coisa”, e você não se dá ao trabalho nem de gostar e nem de odiar ele.
O elenco de apoio é fraco e todos os personagens do filme são rasos e mal aproveitados, culpa dos brilhantes roteiristas que querem apresentar e construir trezentos personagens em um filme de uma hora e quarenta. Vou pular todos os outros duzentos e noventa e sete personagens e ir direto para os dois piores: Ella Swenson e Woodrow Dolarhyde.
Uma é o interesse romântico de Craig e a alienígena mais merda que eu já ví em toda a minha vida. Até o ET do Spielberg, por mais baixinho, feio e com cara de velho acabado que era, podia fazer a bicicleta do menino voar. A personagem de Olivia Wilde não tem importância nenhuma para a trama, a não ser a de explicar o que os malditos ETs vieram fazer na Terra. Informação esta que poderia ter sido arrancada de um dos alienígenas por meio de muita persuasão “porradeirística”, o que aumentaria em alguns décimos a nota do filme, certamente. Pelo menos ela aparece nua em uma das cenas do filme… O outro personagem secundário que merece seu destaque como uma das piores coisas que eu já ví no cinema foi, lamentavelmente, o personagem vivído pelo Sr. Harrison Ford. O Coronel Dolarhyde é o personagem mais mal construído da história do cinema, eu arrisco. Pare para pensar comigo: Um velho Coronel do exército americano, em 1873, que em menos de 2 dias passa a perdoar bandidos que lhe roubaram e atropela um preconceito que mantinha por décadas? em 1873?! 1873?! Tá bom Cláudia…
Cowboys & Aliens pode não ter sido a pior adaptação de quadrinho(apesar de eu quase poder afirmar isso, mesmo não tendo lido a HQ) mas certamente foi um dos piores roteiros que eu já ví. Sem pé nem cabeça, falhado, lento quando devia ser rápido e corrido quando devia ser bem argumentado… Estas são apenas algumas das características de que me lembro agora, de cabeça.
Segundo o roteiro, esta raça superior de seres alienígenas teria vindo para a terra em busca de ouro. Isso mesmo, você não leu errado, ouro! Seres evoluidíssimos que viajam no espaço sideral para ir a um planeta distante precisam de ouro para sobreviver. Detentores de uma avançada tecnologia que liquefaz o metal, os seres alienígenas se instalam em um local onde o ouro é abundante e começam sua extração. Devido ao tédio extremo que sentiam em sua nave-garimpo, resolvem sair e sequestrar nativos para fazer experiências científicas com eles, apenas para passar o tempo. Chegam em uma pequena vila próxima e saem atirando para todos os lados e sequestrando meia dúzia de espécimes para seus experimentos e poupando os demais da morte por motivo desconhecido. Isso tudo sem se preocupar com um dos primeiros sequestrados que fugiu da nave-garimpo levando consigo uma arma lazer que é a única do universo capaz de disparar projeteis efetivos contra a couraça metálica de suas naves e armaduras além de ser, também, uma bomba capaz de destruir toda a nave-mãe.
Então o rapaz que roubou a arma, fugiu e foi perdoado pelos alienígenas encontra uma outra alienígena(de uma espécie diferente dos garimpeiros sodomizadores) que veio SOZINHA para a Terra, seguindo os ETs comedores de ouro, para destruí-los. Acho que vale relembrar o que eu já citei brevemente acima e que eu considero ter alguma importancia nesse resumão que estou fazendo do filme: A ET boazinha não possue nenhuma habilidade especial e nenhum armamento alienígena avançado para combater os ETs malvados, talvez por que ela espere encontrar no planeta Terra algum armamento nativo para destruir os ETs garimpeiros(desconsiderando o fato de que, se existisse uma coisa dessas no planeta, os terráqueos nem necessitariam da ajuda dela…).
Depois de encontrarem a nave-garimpo camuflada, os 3 personagens centrais recebem ajuda do bando de Lonergan e de uns índios que não haviam aparecido antes no filme para tentar derrotar os aliens malvados em um combate aberto. Segundo a ET gostosa, os garimpeiros do espaço se consideram tão superiores aos humanos que não se dão ao trabalho e bolar uma tática e resolvem cair na porrada com os nativos da Terra. Depois de uma pancadaria genérica, onde os ETs malvados resolvem batalhar a pé, mesmo tendo máquinas voadoras que são óbviamente muito mais eficazes na batalha, Lonergan consegue entrar na nave junto com a gostosa que, óbviamente se sacrifica no processo de destruir a nave-garimpo usando a arma dos próprios ETs malvados que, convenientemente não é apenas uma arma mas, também, uma bomba muito poderosa. Eles resgatam todo mundo e conseguem fugir antes da destruição da nave e todos vivem felizes para sempre, fim!
A história do filme não é ruim, apesar de o roteiro ser terrível. Estão presente na história pontos muito interessantes que, infelizmente, não foram abordados com a devida atenção. Na história temos três classes bem definidas que são obrigadas a cooperarem por um bem maior (os habitantes do vilarejo, os bandidos e os índios). O filme falaria muito bem sobre o preconceito que existe entre o homem branco e o índio americano, se tivesse um roteiro melhor elaborado. Mostraria a inversão de papéis quando o homem branco, explorador e opressor da raça indigena, se transformasse em explorado e oprimido pela raça alienígena. Esta mensagem seria muito melhor apresentada no filme se o roteiro não fosse tão confuso e não quisesse apresentar tantos personagens.
No decorrer do filme é visível a preocupação dos roteiristas em contar a história do cowboy fora-da-lei, do coronel durão, do garotinho órfão, do médico humanista, do bravo dono de bar, do índio submetido ao homem branco, do filho mau-amado que precisa chamar atençãode alguma forma e de tantos outros personagens que foram levados juntos até o final da trama. Infelizmente esqueceram de contar para os roteiristas que não existe roteiro interessante sem construção de personagem e que não se constrõem tantos personagens com uma cena de cada um. Se tivessem se preocupado em contar a história de dois ou três personagens, o filme talvez fizesse mais sucesso. Um personagem bem construído carrega um filme com muito mais propriedade do que dez personagens rasos.
Quando ví o nome, imaginei imediatamente uma maior interação entre os cowboys e os aliens. Mais pancadaria entre eles, mais bang-bang, mais bravura e mais cowboys. Quando ví os nomes de Harrison Ford e Olivia Wilde no elenco, imaginei personagens muito mais marcantes e atuações muito mais expressivas. Relevei até mesmo o nome de Daniel Craig escrito com uma fonte maior do que a dos outros no cartaz e, apesar de ser um dos atores que mais odeio em Hollywood, resolvi dar-lhe uma segunda chance. As respostas à minhas expectativas, entretanto, foram totalmente aquém daquilo que esperava e me deparei com interpretações que beiram o ridículo de todos os atores. Esperava algo a mais.
A história recente do cinema mostra que o monstro da expectativa destrói grande parte dos filmes que assistimos, e a regra comprovou-se mais uma vez. Cowboys & Aliens, apesar de partir de uma ótima premissa e inaugurar o gênero Sci-Western, se mostrou um filme fraco, mal construído e mal interpretado. Uma decepção para quem esperava, como citei no início do texto, ver seres alienígenas batendo de frente com o tipo de ser-humano mais badass da história.
Uma nave americana retorna ao planeta Terra e cai próxima à costa americana (coincidências acontecem). Com isso, o exército resgata a nave e a surpresa ocorre com os astronautas que saem de dentro da nave. Macacos. E assim começa o terceiro filme da saga clássica, seguido de Planeta dos Macacos e De Volta ao Planeta dos Macacos, em 1971 chega às telas Fuga do Planeta dos Macacos.
O filme começa meio “sem pé nem cabeça” e você percebe com o decorrer do longa o quão caça-níquel ele foi. Ele parte de uma premissa um tanto inverossímil se analisada os dois filmes anteriores, já que a sociedade dos macacos apresentada apresentada anteriormente sempre foi primitiva e pouco desenvolvida. Três macacos conseguem recuperar a nave dos astronautas que caiu no “lago morto” no primeiro filme, como também consertá-la, fazê-la funcionar (indicando que pra uma nave daquela, naquela época, ter saído da terra ela deve ter usado tanques de propulsão que são deixados para trás logo que se sai da atmosfera, LOGO, “a tecnologia de lançamento” estava faltando ali) e com isso, escapar da iminente destruição de seu planeta retornando ao passado.
Em termos de personagem, o filme se prende aos dois macacos Zira (Kim Hunter) e Cornelius (Roddy McDowall), já vistos nos primeiros filmes. Embora as personagens sejam carismáticas e tudo, é difícil você querer segurar o filme em atores que, tecnicamente, não podem atuar. Afinal, por melhor que fosse as maquiagens, ainda assim havia uma grande deficiência em “atuação”, contudo, o trabalho dos atores é excepcional, já que os dois conseguem fazer milagre e deixar o filme divertido e dramático na medida certa.
Como não podia faltar, o filme tem um texto que busca uma reflexão, mesmo que rasa, sobre questões morais, sociais e políticas, como é de costume na saga, o que acaba tornando-o mais atrativo. O medo da humanidade ao se deparar com a questão “da futura destruição” do seu Planeta, até que ponto são responsáveis por isso, o quão ambíguo é o fato de Zira fazer experiências com humanos no futuro e nós fazermos o mesmo com animais nos dias de hoje, entre outros detalhes são o que tornam o filme uma experiência mais interessante.
No terceiro filme da série ainda temos a primeira explicação do que indica ter sido o motivo para a criação do que viria a ser o Planeta dos Macacos. Cornelius faz uma explanação sobre a história e cultura dos macacos que embora um tanto forçada, é o que faltava para “fechar” o caixão.
Com tudo isso, Fuga do Planeta dos Macacos é o filme mais fraco da saga clássica, e o segundo mais fraco da franquia (perdendo apenas para o remake pavoroso do Tim Burton em 2001). Começando com uma tentativa frustrada de resgatar a saga, que havia sido dada como morta, pois o segundo filme culmina com o fim de tudo, e terminando com um gancho para uma possível sequência que não forçasse tanto a barra quanto ele. Mas ainda assim é um capítulo essencial para quem gosta da saga, viagens no tempo, paradoxo temporal e que traga algum conteúdo para reflexão.
Depois do estrondoso sucesso comercial do original Planeta Dos Macacos, uma sequência era quase certa para o que se tornaria uma lucrativa franquia simiesca.
O filme se passa dando sequência direta aos acontecimentos finais da primeira película, uma nova espaço-nave foi enviada da Terra em busca de Taylor e seus companheiros. A nave acaba por sofrer dos mesmos distúrbios temporais que a original e aterrissa no planeta agora dominado pelos símios. O protagonista agora é Bret, interpretado por James Franciscus (cuja tamanha semelhança com Charlton Heston é até mencionada no filme), ele se junta a Nova (Linda Harrison) que juntos, ao fugir dos símios acabam por descobrir uma passagem subterrânea que os levam a explorar o que há abaixo do planeta dos macacos (daí o nome original Beneath the Planet of the Apes). É na estação subterrânea de metrô que Bret descobre que está na Terra do futuro. Claro, sem nem um décimo da carga emocional que sentimos no final do filme anterior.
Devido ao orçamento mais do que reduzido se comparado à primeira obra, esta sequência fica logo de cara comprometida com os efeitos especiais utilizados e nas vergonhosas mascaras de gorilas, contrastando com as maquiagens que haviam sido extremamente elogiadas no primeiro filme.
Além destes ‘detalhes’ técnicos, a sequência não traz nada de novo para o debate filosófico, moral e religioso abordado no original. Na verdade, isso é algo deixado quase que totalmente à margem dos acontecimentos vivenciados pelo nosso protagonista e pelas cenas de ação. Todos estes aspectos deixam no espectador a impressão de que a sequência só existiu por um objetivo ‘caça-níquel’ (algo que infelizmente permeará praticamente toda a franquia).
Talvez o grande momento de inspiração e ousadia do roteiro esteja no final inesperado e categórico. Ele talvez gere alguma discussão mais aprofundada, algo que é sempre inerente a qualquer boa obra de ficção científica (seja qual for a mídia). O final também seria algo que encerraria a franquia ali mesmo. Mas como bem sabemos, isso não aconteceu. Porém, deixo as críticas com relação à continuação para o próximo filme.
Uma das franquias mais clássicas da história do cinema e da cultura pop está de volta. Na onda interminável de remakes, reboots, relaunchs (opa, assunto errado), foi a vez de Planeta dos Macacos ganhar seu “como tudo começou”, com o filme lançado no dia 26 de agosto nos cinemas brasileiros. A última vez em que os símios marcaram presença na telona foi em 2001, numa tentativa frustrada de refilmar o original de 1968 cometida por Tim Burton. Agora, a opção foi por começar do zero. E a exemplo de X-Men – Primeira Classe, a decisão se mostrou acertada e o resultado foi surpreendente.
Nos tempos atuais, no planeta Terra como nós o conhecemos, Will Rodman (James Franco em uma atuação competente) é um pesquisador em busca de uma cura para o mal de Alzheimer, motivado principalmente por ver seu pai (John Lithgow, ótimo) sofrer com a doença. Ele desenvolve uma nova droga capaz de regenerar neurônios, e durante os testes em macacos descobre que o composto aumenta exponencialmente as capacidades mentais dos animais. Após um incidente, todas as cobaias são sacrificadas, mas Will esconde e leva pra casa um chipanzé recém nascido, cuja mãe recebeu a droga durante a gestação. Cesar, como é batizado, acaba revelando possuir uma inteligência muito superior á de qualquer macaco, sempre se desenvolvendo aceleradamente. Já adulto, é forçado a tomar consciência de quem e do que é, e daquilo que representa para sua espécie.
Preciso dizer que não sou fã da franquia, nem assisti aos filmes antigos. O conceito de um mundo povoado por macacos humanóides falantes sempre me pareceu galhofa demais. Então, meu interesse por essa nova produção era zero… até ver o trailer. A proposta aqui é algo bem diferente, pegando apenas alguns conceitos da franquia e adaptando tudo para um cenário mais crível e realista. Esse ainda não é o Planeta dos Macacos, mas é possível vislumbrar como e por que esse será o futuro. Em grande parte porque a jornada de Cesar é muito bem construída, apesar de alguns exageros perfeitamente aceitáveis, afinal, a ficção científica exige uma dose de suspensão de descrença. Mas sem dúvida o roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver é bastante coeso, e a direção de Rupert Wyatt é impecável sobretudo nas cenas de ação.
O grande mérito do filme, porém, vêm de uma parceria antiga: A Weta Digital nos efeitos visuais e Andy Serkis na atuação por captura de movimentos. Ele que já foi Gollum e King Kong, agora surge como protagonista indiscutível e dá um show. Cesar não parece “real”, a proposta nem era essa, inclusive todos os macacos do filme são digitais. A chave aqui é o desconforto causado por ver expressões faciais e corporais tão absolutamente humanas em feições simiescas, sem parecer galhofa em nenhum momento. O trabalho de Serkis é tão impressionante que se cogita uma indicação ao Oscar. Exagero? Provavelmente, mas de forma alguma imerecido.
Planeta dos Macacos – A Origem está entre as melhores surpresas do ano, e é um filme recomendadíssimo quer você seja ou não fã da franquia.
Há mais de quarenta anos, o astronauta Neil Armstrong colocou seu nome na história como o primeiro homem a pisar em terreno lunar. “Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade“, esta célebre frase foi proferida pelo cosmonauta pouco antes de sair do módulo lunar da Apollo 11 e entrar para a história da humanidade.
Ok… Não contesto a veracidade da história e muito menos a capacidade humana de desenvolver sua tecnologia a ponto de conseguir, realmente, pisar na lua. Mas, há mais de quarenta anos, a pergunta que não quer calar e que permeia todas as rodas que comentam a notícia é a seguinte: Por que diabos não voltamos mais para lá?
Esta é a premissa básica da produção cinematográfica que estreou nos cinemas brazucas na última sexta-feira. Será que existe algo naquela bola amarela que as pessoas não podem ver? Estaria o homem evitando um problema desnecessário e renegando o capricho de uma segunda viagem à lua em prol do bem comum?
Apollo 18 me impressionou pela narrativa pouco comercial. O filme, com toda a pinta de ser uma produção independente de baixo orçamento, conta a história de três astronautas americanos, tripulantes da nave título do filme. Em sua missão de instalar câmeras e transmissores em terreno lunar com o suposto propósito de vigiar as incursões soviéticas ao satélite, os cosmonautas respondem a outra pergunta fundamental da humanidade: Estamos realmente sozinhos no universo?
Captado quase que inteiramente em Steady Cam, as imagens mostram-se amadoras e de baixa qualidade e cumprem o propósito documental da trama. Todos os takes do longa foram filmados pelas câmeras de mão dos astronautas e pelas instaladas no interior da nave e do módulo lunar, dando um caráter mais caótico e imersivo às cenas.
A viagem ao satélite e a aterrissagem em solo lunar transcorrem dentro do programado e dá-se início ao processo de instalação das câmeras e do transmissor que espionará os russos. Tudo transcorre normalmente até que os dois personagens responsáveis pela instalação dos equipamentos encontram um módulo lunar soviético abandonado e um cosmonauta russo morto, demonstrando que a verdade oficial contada pelo governo americano de que os Estados Unidos eram a única nação a pousar na lua é colocada em xeque pelos dois militares. As verdadeiras intenções da missão da Apollo 18 fica clara para os dois astronautas após um acidente ocorrido com o traje espacial de um deles e ambos percebem que não estão totalmente sozinhos no satélite.
O filme é lento, caótico, e bocejei forte algumas vezes. A narrativa é diferente de todas as outras que entraram em cartaz nas últimas semanas, e talvez por isso valha muito a pena uma visitinha à sala escura. O filme parte de uma pergunta bastante verdadeira e que, desde sempre, me intrigou. Se os astronautas pisaram na lua em 69, por que nunca mais voltaram para lá? Com o casting bem reduzido, o filme com orçamento avaliado em mais ou menos US$ 5.000.000 pôde se concentrar em gastar com locações e efeitos. Gostei bastante de todas as locações utilizadas (a lunar é impressionantemente crível, para um filme deste orçamento), os efeitos de gravidade zero e até mesmo a maquiagem do filme tornaram-se excelentes após a pós-produção. Não vá ao cinema esperando excelente qualidade de imagem e de som, nem cenas de ação “Michael Bayanas”e você vai se interessar pelo filme.
Por falar em qualidade de imagem, a qualidade dela na telona ficou totalmente aquém ao que foi mostrado neste trailer:
Em 2006, cineasta Clint Eastwood resolveu levar para os cinemas sua visão pessoal sobre uma batalha travada numa Ilha do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. A Conquista da Honra (Flags of Our Fathers, 2006) é a versão norte-americana sobre o conflito e as suas conseqüências.
O longa leva o espectador a refletir sobre diversos temas, que ganham forma a partir da famosa foto de seis soldados içando a bandeira americana no monte Suribachi. Antes do fim da batalha de Iwo Jima, metade deles já terá morrido. E logo os três sobreviventes da foto, John ‘Doc Bradley (Ryan Phillippe), Rene Gagnon (Jesse Bradford) e Ira Hayes (Adam Beach), são transformados pelo governo em garotos-propaganda da venda de títulos de guerra para manter o país na luta.
Por décadas, a foto de Iwo Jima simbolizou a vitória e supremacia americana. Eastwood desmistifica e apresenta os detalhes sórdidos dos bastidores dessa cena, que hoje é monumento nos EUA. Fica claro que o ser humano é um peão nas mãos de quem detém o poder. E da mesma forma que é elevado à condição de herói, é relegado ao ostracismo quando sua presença não é mais necessária. A trama é um questionamento filosófico sobre esse heroísmo, o papel da mídia, racismo e os horrores da guerra.
Eastwood utiliza o roteiro de William Broyles Jr. e Paul Haggis, baseado no livro escrito por James Bradley e Ron Powers, para destruir arquétipos. Sua abordagem é humana e distanciada. O tratamento quase documental confronta fato e mitologia com extrema imparcialidade.
Tecnicamente, o filme é deslumbre visual. Eastwood utiliza as cores para separar os três segmentos da narrativa. Imagens descoloridas por filtros nas cenas de guerra, coloridas representando o presente e um tom intermediário marcando os acontecimentos em 1945. Esse maneirismo técnico provoca um jogo cênico de contrastes repleto de significado. Eastwood objetiva através desse recurso, mostrar respectivamente o lado sombrio da guerra, e nebulosidade de uma mentira perfeita e a busca incansável pela verdade.
A trama avança e retrocede em flashbacks, que se completam milimetricamente. A investigação realizada por um dos narradores é similar a ocorrida em Cidadão Kane. Figurinos, cenários e a música minimalista, composta por Eastwood, provocam um êxtase sensorial. Nos créditos finais, as fotos reais corroboram com a bela reconstrução ficcional.
Depois de realizar o filme definitivo sobre os westerns com Os Imperdoáveis, Eastwood atinge outro marco, desta vez sobre a Segunda Guerra Mundial.
Dois meses de atraso para estrear e uma avalanche de críticas negativas acabam com qualquer hype que um filme poderia ter. E com o produto final revelando-se, de fato, ruim, chega a ser melancólico comentar a estréia de Lanterna Verde, que finalmente chegou ao Brasil no dia 19 de agosto, ficando na, hã… lanterna dentre os filmes de super-herói que saíram em 2011. Tanto na ordem de lançamento quanto na qualidade.
Dessa vez conhecemos Hal Jordan, um piloto de testes da Ferris Aeronáutica, muito bom no que faz, porém irresponsável e meio babaca. Hal vive ao mesmo tempo inspirado pela figura do pai, também piloto, e assombrado por sua morte num acidente. Completa o quadro um caso mal resolvido com Carol Ferris, sua colega e filha do chefe. Sua vida muda quando ele encontra uma nave caída com um alienígena roxo moribundo, que lhe entrega um anel e diz que Jordan foi escolhido como seu substituto na Tropa dos Lanternas Verdes. Mas o que raios é isso? Uma força policial intergaláctica criada pelos Guardiões do Universo, seres muito antigos, sábios e poderosos, a Tropa é composta por 3600 membros que patrulham todo o cosmo. Cada um armado com um anel capaz de manipular a energia verde da Força de Vontade e criar construtos limitados apenas pela imaginação do usuário. Agora, porém, todos estão sobre a ameaça do terrível Parallax. Inclusive a Terra.
Por essas poucas linhas, percebe-se que o Lanterna Verde tem um universo e mitologia muito ricos, que se fosse bem trabalhados poderiam render bastante na adaptação para o cinema. Infelizmente não foi o que aconteceu. O roteiro escrito por Greg Berlanti, Michael Green, Marc Guggenheim e Michael Goldenberg é raso, mal desenvolvido e cheio de furos. Somando isso à direção apenas burocrática de Martin Campbell e atuações pouco inspiradas, o resultado é um filme fraco, desinteressante, e que não empolga em nenhum momento.
Vamos chutar cachorro morto e detalhar os problemas. Spoilers a seguir, continue lendo por sua conta e risco. Começando pelo protagonista, a escolha de Ryan Reynolds foi bastante criticada, apesar de ele já ter mostrado que sabe atuar em filmes como Enterrado Vivo. Aqui ele trabalha no limite entre mediano e ruim, claramente mais a vontade nas cenas cômicas. Mas nem o melhor ator do mundo se sairia bem com esse roteiro. A famosa “jornada do herói” é feita de forma pífia. Hal é apresentado como alguém que sempre foge quando a situação fica difícil, e basta um discursinho meia-boca por parte de Carol pra que ele mude da água pro vinho. Aliás, na questão de desistir é que houve o maior atentado contra o personagem dos quadrinhos. No filme, Jordan tem seu momento mimimi e resolve abandonar o treinamento da Tropa na primeira lição de moral que ouve de Sinestro. Quem conhece as hq’s sabe que ele jamais faria isso, ia é partir pra porrada.
Puxando o gancho de Sinestro e da Tropa em si, lamentável o pouco espaço em tela que eles têm. Sejamos sinceros, eles não fazem NADA no filme! Tudo bem, vemos a arrogância aristocrática de Sinestro, numa boa atuação de Mark Strong (apesar dos olhos bizarra e desnecessariamente aumentados). Mas ele limita-se a proferir alguns discursos, e pior, o roteiro não desenvolve em nada sua visão mais dura e praticamente fascista do papel da Tropa, o que seria vital para o novo status quo que o personagem deve ter em futuras continuações. Dos demais Lanternas, Tomar Re é um figurante com falas, e Kilowog é Kilowog, ou seja, FODA. Com seus míseros segundos em cena, ele é a melhor coisa do filme.
Talvez o que tenha prejudicado uma melhor apresentação que a Tropa poderia ter, foi a grande parte da narrativa passada na Terra. Peter Sarsgaard é um bom ator, mas a presença de Hector Hammond como subvilão poderia ter sido facilmente limada, com Hal enfrentando alguma ameaça espacial menor como parte do treinamento. Em vez disso temos muita atenção em cima de um personagem insosso e uma tentativa patética de triângulo amoroso. Aliás, Blake Lively é uma gracinha, mas sua Carol Ferris passou longe da mulher forte e decidida dos quadrinhos.
Também como ponto negativo, tudo envolvendo Parallax. Aqui ele não é a Entidade Amarela, manifestação viva do Medo, e sim um Guardião corrompido por essa energia. E em certo momento os Guardiões decidem que a melhor forma de combate-lo é utilizando a energia amarela do medo. Tipo… HEIN?! Fora o visual clichêzão de nuvem de fumaça com rosto ameaçador. E nem vou falar da Tropa não fazendo NADA, Hal tendo que enfrenta-lo sozinho, e uma solução besta e anticlimática pra derrotar um inimigo mega poderoso (Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado mandou um abraço).
Enfim, o filme não tem pontos positivos? Já falei do Kilowog, né? E por mais legal que seja ver os Lanternas usando vários construtos energéticos, os efeitos visuais e as cenas de ação ficaram apenas ok, nada demais. Saldo final: um filme não ofensivamente ruim, mas muito decepcionante, tendo em vista o potencial desperdiçado. Mesmo com a bilheteria fraca, o estúdio já declarou o interesse em fazer uma seqüência. Esperemos que a lição seja aprendida e a Warner/DC consiga provar que pode ter vida inteligente no cinema além do Batman (ou melhor, além do Nolan). Até lá, a Marvel segue reinando soberana…
Após um longo atraso, finalmente chega ao Brasil Corações Perdidos (Welcome to the Rileys), um drama estrelado por James Gandolfini, Melissa Leo e Kristen Stewart, que interpretam três personagens que se unem em busca de uma razão para viver, e não apenas uma existência sem motivação alguma.
Na trama, conhecemos Doug Riley (Gandolfini) e Lois (Leo), um casal que vê sua vida completamente estagnada e repleta de uma tristeza absoluta após uma tragédia que envolvendo a única filha do casal. Com isso, ambos se isolam de sua maneira, Lois passa a se fechar dentro de cada, ficando completamente isolada do mundo exterior, enquanto Doug externa seus sentimentos em casos extraconjugais, casos esses consentidos tácitamente por sua esposa.
Não que não exista mais amor, mas é perceptível como pouco-a-pouco ele se esvai, e isso fica claro nos diálogos mecânico entre eles, como algo que deixou de ser natural e passa a ser estritamente necessário para a manutenção de um relacionamento a dois. E Neste isolamento dos dois protagonistas é necessário que o algo aconteça em suas vidas e demonstre que a vida continua, por mais difícil que isso seja. E esse fator externo é expresso na figura da personagem de Stewart, a stripper Mallory.
Após a súbita morte de sua amante, Doug faz uma viagem de negócios para Nova Orleans onde conhece Mallory. Doug vê na figura da garota uma chance de redenção por ter sido um pai ausente, e a garota vê nele um pai que nunca teve. É óbvio que existe um choque de gerações e de culturas, enquanto Doug é um empresário de classe média e pai de família respeitado, Mallory ganha a vida como stripper em um bairro pobre de Nova Orleans. Enquanto isso temos Lois tentando se reencontrar. O desenvolvimento desses personagens é o ponto alto do longa.
As atuações de Gandolfini esbanjam carisma e parece encaixar com perfeição e naturalidade para o personagem que vemos em tela, uma figura protetora e paternal, que demonstra em seus olhares e trejeitos esperança e doçura, mas que ao mesmo tempo externa um profundo trauma. Melissa Leo está contida, mas levando sua personagem ao ápice ao interpretar toda sua insegurança e sensibilidade. O ponto mais fraco fica por conta de Kristen Stewart, porém, tem seus méritos ao construir uma personagem ingênua e imatura, longe de ser pejorativa a crítica de sua atuação.
O roteiro de Ken Hixon não passa de um drama de superação onde temos personagens que decidem superar suas perdas e buscar um novo significado em suas vidas. Alguns clichês incomodam como a figura do marido frio, da esposa sentimental e de algumas escolhas para o desenvolvimento da trama, mas o filme em nenhum momento utiliza sentimentalismo barato e maniqueísmos como muitos longas do gênero.
A trilha sonora encaixa com maestria, talvez pela experiência do diretor, Jake Scott, em dirigir videoclipes. Seu trabalho de direção é simples, no entanto competente, privilegiando as atuações e o roteiro. Um filme redondo e sem grandes surpresas, mas que irá surpreender muita gente.
Sangue Negro é mais uma obra-prima concebida pelo cineasta Paul Thomas Anderson. Em doze anos ele só fez quatro longas (Jogada de Risco, Boogie Nights, Magnólia e Embriagado de Amor), mas todos possuem uma enorme representatividade para a sétima arte. Anderson realiza um cinema de autor contemporâneo no mesmo nível de outros mestres, como Orson Welles, John Houston e Stanley Kubrick. O filme concorre a 8 Oscar e mesmo se for derrotado, já faz parte da história do cinema pelos seus enquadramentos suntuosos, planos memoráveis e um profundo desenvolvimento de roteiro e personagem.
A história pode ser encarada como uma sombria fábula norte-americana sobre a relação do petróleo com a sociedade estadunidense. Ao mesmo tempo flerta com algumas características do western, como o desbravamento de territórios virgens em busca de riquezas. Independente da combinação de gêneros, o filme é um retrato denso sobre um homem implacavelmente ambicioso conquistando tudo para terminar com nada, tendo a indústria do petróleo como cenário. Impossível não traçar um paralelo com a situação política atual nos Estados Unidos. O roteiro escrito por Anderson é baseado no livro Oil, de Upton Sinclair, publicado em 1927. Ele tomou várias liberdades e mudou diversas passagens do livro. Um exemplo foi a mudança do protagonista, que deixou de ser o filho para se tornar o pai.
Na trama, acompanhamos a vida de Daniel Plainview (Daniel Day Lewis) por 3 décadas. Em 1898, ele esta a procura de ouro em um poço em sua propriedade no Texas. Ele encontra o metal amarelo junto com petróleo. Anos depois ele mudou seu objetivo unicamente para o ouro negro, tendo contratado homens para ajudá-lo. Um acidente resulta na morte de um de seus empregados. Daniel acaba herdando um órfão que ele assume como filho e lhe dá o nome de H.W. Em 1912, Daniel já é um homem reconhecido pelo seu pequeno império de poços de petróleo. Ele é procurado por jovem chamado Paul Sunday (Paul Dano) que lhe negocia por dinheiro uma informação sobre um território rico em Petróleo na Califórnia. Acompanhado de seu filho (Dillon Freasier) e seu sócio Fletcher (Ciarán Hinds), ele viaja até o local. Ao chegar lá, descobre uma região riquíssima de petróleo. Ele compra todas as terras com exceção de uma. Além de pagar os proprietários, Daniel precisa negociar com o crente Eli Sunday (Paul Dano), irmão de Paul.
Uma série de conflitos irá marcar a relação entre o pastor e Daniel. Percebem-se também as similaridades entre os dois, até porque religião e capitalismo sempre andaram lado a lado. Anderson demonstra que crença e dinheiro se equivalem, quando comandados por homens sem escrúpulo impregnados por cobiça. O título original (There will be blood) sugere uma parábola bíblica do Velho Testamento, em que o egoísmo e a ambição sem limites será a causa de sua destruição. Interessante que mesmo não sendo um homem de fé, a forma que Daniel explica sobre suas intenções para os proprietários de terra, remete a figura de Moisés garantindo para os judeus que os levará para Terra Prometida.
Através do confronto entre Daniel e Eli, o espectador é brindado por uma das interpretações mais arrebatadoras dos últimos anos. Paul Dano sai-se bem, mas é impossível desgrudar os olhos de Daniel Day Lewis (que já venceu o Globo de Ouro). O personagem interpretado por ele é uma combinação de paradoxos. Características como grosseria, carisma, teimosia, paciência, violência e suavidade, entre outras, surgem muitas vezes em uma mesma cena. Esse jogo de contradições o torna um personagem praticamente real. A atuação fantástica de Day Lewis corrobora esse desfile de emoções e sentimentos. Seu desempenho hipnotiza pela maneira que cada gesto e nuance foi executada. A transformação do personagem vai acontecendo a cada nova passagem até atingir a loucura. Lembra Dobbs, personagem interpretado de maneira irretocável por Humphrey Bogart em “O Tesouro de Sierra Madre”, de John Houston. A performance de Day Lewis é com certeza uma das melhores em anos. Não deveria nem haver disputa pelo Oscar.
Esse desempenho impecável de Lewis ganha a companhia de um impressionante virtuosismo técnico de Anderson. O cineasta trabalha diversas sequências de maneira épica. No inicio o impacto reside em uma série de tomadas cuidadosamente programadas para criar uma atmosfera decrépita. Anderson optou em não usar diálogos ou trilha. O silencio é a ferramenta empregada. O ritmo dessas imagens são obtidos através do posicionamento da câmera. A cada nova passagem de tempo, Anderson propõe novas perspectivas do ponto de vista imagético. Todo esse maneirismo visual apoiado pela fotografia deslumbrante de Robert Elswit, que contrasta vastas paisagens com close-ups. A trilha sonora composta por Jonny Greenwood, guitarrista do grupo Radiohead, também encanta pela maneira que o músico uniu instrumentos de corda com percussão.
Além de todo esse apuro técnico, Anderson cria mais um elemento psicológico repleto de camadas de significação, que visa provocar outros debates e reflexões sobre as motivações dos personagens. A princípio, Paul e Eli Sunday são irmãos gêmeos, mas talvez não sejam, pois isso nunca é mencionado durante a projeção. Um outro fator é que nunca aparecem juntos. Isso pode significar uma dupla personalidade doentia em que Paul/Eli são a mesma pessoa. Um pequeno recurso dramático, quase imperceptível, mas extremamente genial.
Cansado de tantos filmes de super-heróis? Azar o seu, pois essa onda está longe de acabar. E nesse ano recheado, acaba de estrear mais um: Capitão América – O Primeiro Vingador chegou às telas brasileiras no dia 29 de julho. Mais uma produção da Marvel Studios, e o último passo antes do evento mais importante da História da humanidade, ou seja, o filme dos Vingadores.
Em 1943, conhecemos o jovem nova-iorquino Steve Rogers. Franzino e doente, porém cheio de determinação, ele tenta (e falha) várias vezes entrar para o exército e lutar na Segunda Guerra Mundial, movido por uma convicção inabalável de que violência e bullying devem ser combatidos em todas as suas formas. Sua chance aparece quando ele chama a atenção do Dr. Abraham Erskine, responsável por um projeto científico visando à criação de supersoldados. Combinando um soro especial com a radiação dos raios Vita, Steve ganha força, agilidade e resistência além dos limites humanos.
Infelizmente, o Dr. Erskine é assassinado por um espião nazista, e o projeto de criar mais supersoldados morre com ele. O Governo decide então que o melhor uso para Steve é… vesti-lo com uma fantasia nas cores da bandeira americana e coloca-lo em espetáculos teatrais promovendo campanhas de recrutamento e a venda de ações de guerra. Somente quando vai à Europa para levantar o moral dos soldados, é que nosso herói tem chance de entrar em ação para salvar seu amigo de infância, o agora sargento James “Bucky” Barnes. Após provar seu valor, o Capitão América passa a combater a Hidra, uma facção nazista rebelde liderada pelo terrível Caveira Vermelha, cobaia de uma versão preliminar e imperfeita do soro de Erskine.
Não era das mais fáceis a tarefa de adaptar para o cinema um personagem tão identificado com os EUA, visto que hoje há no mundo um certo sentimento anti-norte-americano. Pra piorar, o Capitão normalmente é visto com um americanóide patriótico clichê por aqueles que não conhecem suas histórias. O resultado ficou à altura do desafio. Houve um cuidado muito grande em estabelecer Steve Rogers como alguém essencialmente bom, justo, corajoso, e por que não, humanista. Exaltando essas qualidades universais ao invés de um patriotismo tipicamente americano, ficou possível para o público internacional gostar do personagem. Resta a questão da ingenuidade desses valores, mas outro acerto do filme é se passar na Segunda Guerra, época em que tais características ainda faziam sentido.
Como nos demais filmes da Marvel, temos uma história de origem, simples e bem contada. A direção ficou a cargo de Joe Johnston (de O Lobisomem), que entregou um filme passado na guerra, mas com um espírito mais aventuresco, Sessão da Tarde mesmo. Claro que há o interesse comercial em não fazer nada sombrio demais, então os vilões não são os nazistas (não há uma suástica sequer no filme) e sim a Hidra, uma subdivisão. O que vemos é uma guerra paralela. Incomoda? Sim, mas nada que chegue a comprometer. Assim como os saltos que a trama dá, para abranger um período de tempo de alguns anos, apelando pros tradicionais clipes mostrando o que aconteceu naquele período. A ligeira falta de coesão e o gostinho de quero mais são os principais pontos negativos do filme, que impedem ele chegar ao nível foda, épico, etc.
Dentre as atuações, competência é a palavra-chave. A começar pelo criticadíssimo protagonista, Chris Evans, também conhecido como Tocha Humana, aqui em versão ultra bombada. Ele queima a língua dos incrédulos ao fazer um Steve Rogers bem convincente, sem nenhum resquício daquele ar irônico e babaca que o consagrou. Hugo Weaving trabalha no automático para fazer o vilão, o que no caso dele já é grande coisa. Infelizmente o roteiro não o ajudou muito, pois o Caveira teve pouco espaço pra desenvolvimento e profundidade, ficando um tanto genérico. O inevitável interesse romântico é a agente Peggy Carter, vivida com muito carisma e um sotaque britânico sensacional por Hayley Atwell. Sebastian Stan aparece pouco como Bucky, ficando mais como uma possibilidade para eventuais sequências (Soldado Invernal, cof cof). Dominic Cooper interpreta Howard Stark, pai daquele mesmo que você está pensando, num papel até maior do que o esperado. Completando, temos os coadjuvantes de luxo Tommy Lee Jones (General Phillips), pra variar fazendo o estilo rabugento e engraçado, e o sempre ótimo Stanley Tucci como o Dr. Erskine.
E no mais, filme da Marvel tem que ter o que? Isso mesmo, easter eggs. E dessa vez eles estão particularmente discretos, coisas que só fanboys hardcore vão pegar: a aparição de um herói antigo da editora, uma referência ao Dr. Zola dos quadrinhos, Bucky pegando o escudo, e a óbvia aparição de Stan Lee. Tão óbvia quanto, há uma cena pós-créditos que na verdade é um teaser de Os Vingadores. Capitão América, Homem de Ferro, Thor, Hulk, Gavião Arqueiro e Viúva Negra estarão todos juntos em 2012, e se você não se empolga alucinadamente com isso, só posso lamentar pela sua alma…
O que mais surpreende em 500 Dias com Ela é a completa inversão de papéis que ocorre. Enquanto em boa parte das comédias românticas temos certas “regras” clássicas do gênero e que aqui são completamente subvertidas, causando no público uma experiência muito diferente do que está acostumado.
Joseph Gordon Levitt interpreta Tom, um arquiteto que nunca exerceu sua profissão e trabalha na área de criação de uma empresa de cartões comemorativos. Tom tem uma vidinha típica que acaba dando uma nova guinada ao conhecer Summer (Zoey Deschanel, aquela mesma do nosso top 10), uma recém contratada secretária no escritório onde ele trabalha. Com o passar do tempo, os dois se dão conta de que têm várias coisas em comum e desenvolvem uma relação. O problema é que Summer não acreditar no amor.
Marc Webb faz sua estréia como diretor de longas em 500 Dias com Ela e começa muito bem. Conhecido por seu trabalho em videoclipes, Webb adota uma forma toda particular e própria para contar a sua história, o que dá o tempero necessário para a fluidez da história. Usando uma linguagem não linear, Webb intercala os 500 dias do relacionamento de Tom e Summer entre os bons e maus momentos vivenciados pelos dois, sempre mostrados sob a perspectiva do protagonista.
A trilha sonora funciona muito bem e serve para mostrar como muitas vezes Tom está se sentindo. A direção de videoclipes de Marc Webb imprime uma assinatura própria ao filme, o que não teria acontecido tão bem com um diretor qualquer, já que o longa tinha tudo para cair no lugar comum e se tornar uma comédia romântica com elementos de um grande clipe da MTV, aqui vemos o contrário, Webb usa toda sua experiência anterior para sair do lugar comum e funciona muito bem.
Gordon-Levitt e Zoey Deschanel esbanjam química e carisma, o que ajuda a imersão na história. 500 Dias com Ela é uma comédia romântica honesta, criativa, sensível e inteligente. Recomendado.