Após o assalto a um cassino, trio de ladrões dirige-se à fronteira EUA-Canadá, quando um acidente na estrada acaba causando a morte de um deles. Escapando ilesos, os irmãos Addison (Eric Bana) e Liza (Olivia Wilde) separam-se com o intuito de dificultar a perseguição policial, tomando rumos diferentes no meio da neve para chegar à fronteira. Enquanto isso, Jay (Charlie Hunnam), um ex-boxeador recém saído da prisão, viaja para passar o Dia de Ação de Graças na casa dos pais – o xerife aposentado Chet Mills (Kris Kristofferson) e sua esposa June (Sissy Spacek).
A sequência inicial é suficientemente impactante para chamar a atenção do espectador e fazê-lo querer saber o desfecho da estória dos dois irmãos. A tranquilidade quase excessiva dentro do carro – de certo modo um reflexo da quietude da paisagem branca ao redor – é subitamente interrompida pelo acidente. É uma pena que a força dessa cena não se mantenha no restante do filme que avança numa sucessão de eventos bastante previsíveis, com coincidências que por vezes soam forçadas.
É um thriller de perseguição. Ponto. Dito isto, pode-se afirmar que o filme é satisfatório enquanto thriller de perseguição. Não se deve esperar algo similar a Argo, em que a perseguição é pano de fundo para o estudo dos personagens – todos muito bons. Neste, ao contrário, a tentativa de mesclar ação e dramas pessoais apenas enfraquece a trama. O roteiro, aliás, se mostra bem indeciso, sem saber se explora os dramas pessoais, o isolamento causado pela nevasca, as pequenas tramas paralelas ou se se atém à fuga dos ladrões. Ao tentar focar nos conflitos interpessoais de alguns personagens – Jay e seu pai, Liza e Addison, Hanna e seu pai – ou ao tentar acrescentar um pouco de complexidade psicológica aos personagens – Addison na cabana, por exemplo – a trama perde ritmo e interesse.
Percebe-se a boa intenção do roteirista, mas isso não é o bastante. A sucessão de clichês e estereótipos, principalmente na construção dos núcleos de personagens, poderia ter sido evitada. Citando apenas os mais óbvios: clichê machista – uma policial feminina, a única da delegacia, que é sempre preterida por ser mulher; clichê racial – um caçador com feições indígenas vestindo um casaco de peles com uma águia pintada nas costas.
Mesmo a presença de bons atores – Spacek, Kristofferson e Kate Mara (que demonstra todo seu potencial na série House of Cards) – não ajuda na construção dos personagens, já que estes são unidimensionais. A performance do elenco é correta, mas nada além disso. Eric Bana quase convence como o ladrão meio anjo meio demônio. Olivia Wilde não tem como ir além do perfil apático de Liza. Hunnam talvez pudesse tornar seu personagem mais carismático, se ele fosse mais que apenas o link entre os ladrões e seu destino.
Apesar do excesso de closes e de “establishment shots”, a fotografia não deixa a desejar. Principalmente nas externas em que é beneficiada pela paisagem. Ajudaria bastante se a montagem fosse um pouco mais ágil. Afinal, é uma perseguição a fugitivos, não um filme contemplativo. A sequência de perseguição com snowmobiles, mesmo com a obviedade de alguns cortes, é um bom exemplo do ritmo que deveria ser seguido no restante do filme.
A sequência inicial e o final (quase) inesperado – depois que os personagens lavam a roupa suja durante o jantar de Ação de Graças – compensam o “miolo” meio morno da narrativa. Em suma, é um filme mediano. Longe de ser um blockbuster, mesmo com o roteiro convencional e pouco criativo, personagens estereotipados e pouco complexos, consegue cumprir a função de entreter e passar o tempo.
Após um desgaste em sua carreira de ator, Ben Affleck decidiu se reinventar, dessa vez de maneira distinta do habitual, e acabou coescrevendo e dirigindo seu primeiro longa-metragem. Baseado no romance de Dennis Lehane, Gone Baby Gone, Affleck retrata as agruras do comportamento humano, em um thriller policial desesperançoso e melancólico.
A adaptação cinematográfica da obra literária de Dennis Lehane traz um comparativo direto com o longa-metragem Sobre Meninos e Lobos, de Clint Eastwood, também de Lehane, ambos os diretores abordam a realidade de uma comunidade americana que está à margem da sociedade, repleta de seres marginalizados pela classe mais favorecida, e construindo assim, um viés sob a ótica desses personagens.
Medo da Verdade traz como plano de fundo o desaparecimento de uma garotinha de 4 anos em um bairro do subúrbio de Boston. A investigação policial, coordenada pelo Capitão Jack Doyle (Morgan Freeman) e conduzida pelos investigadores Remy (Ed Harris) e Nick (John Ashton), não vem obtendo êxito no bairro, já que existe um código de silêncio que não pode ser quebrado por um fator externo. Por isso, os tios da menina decidem contratar uma dupla de detetives particulares da região que teriam contatos e informações que a polícia não teria acesso. Os dois detetives, Patrick (Casey Affleck) e Angie (Michelle Monaghan) aceitam o caso e imergem intensamente na investigação.
A trama traz um thriller policial em sua essência, no entanto, assim como Eastwood em ‘Sobre Meninos e Lobos’, ou Scorsese em Ilha do Medo (também adaptado da obra de Lehane), Affleck usa o gênero para discutir outros temas. Conflitos sobre moralidade, religião e ética estão presentes de forma visceral nesta obra de Affleck.
Os personagens da trama são todos extremamente bem construídos, profundos, reflexivos e repletos de nuances. Suas atuações eficazes carregam o longa dentro da atmosfera densa proposta pelo filme, tudo isso aliado a fotografia acinzentada e opaca da noite, que envolve suas personagens nas sombras, e a saturação amarelada do dia dos subúrbios de Boston. A direção de arte que confere veracidade a essa degradação proposta pelo filme, seja nos ambientes residenciais fechados ou nas ruas do bairro.
Ben Affleck em sua estreia na direção, demonstra uma incrível habilidade em realizar uma desconstrução de valores e conceitos, colocando em xeque nossos ideais e questões éticas contra a parede à todo instante. Até qual ponto a verdade será a melhor de nossas escolhas? Quão frágil é nossa percepção sobre o que é certo e errado? Um excelente trabalho de estudo de personagens e de um grupo social.
No é provavelmente o primeiro filme chileno a chamar atenção internacional desde o ótimo Machuca, de 2004. Vindo de um país sem uma cinematografia forte e realizado por um diretor com apenas uma pequena carreira em mostras e festivais, o filme contava em seu favor apenas a presença de Gael García Bernal, mas acabou se tornando uma das grandes surpresas e revelações de 2012.
O filme de Pablo Larraín abriu a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde foi escolhido melhor filme pelo público (que aplaudiu de pé em diversas sessões), ganhou prêmios especiais nos festivais de Cannes, Hamburgo e Oslo, foi eleito melhor filme em Londres e Tóquio e afinal chegou como o único indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro que poderia tirar o prêmio de Amor.
No começa anunciando que em 1988, por conta da pressão internacional, o então presidente e ditador Pinochet convocou um plebiscito para decidir sobre a continuidade de seu governo. Haveria um período de propaganda: quinze minutos na televisão para cada um dos lados, a primeira vez que a oposição teria voz em um veículo de comunicação desde o início da ditadura. O filme se centra na preparação da campanha da oposição, que dizia “não” ao governo de Pinochet e em René Saavedra, publicitário responsável por convencer a população chilena a também dizer não.
A primeira coisa que chama atenção em No é a forma como o filme se relaciona com seu tema: a ditadura de Pinochet é um dos pontos mais escuros da história da América Latina, mas em momento nenhum se assume um tom de lamento, rancor ou amargura. No é uma comédia e a escolha de tom se reflete na campanha sendo montada: é preciso sim assumir e reverenciar a história, mas histórias melhores são contadas quando se abandona a necessidade de lamentar as atrocidades já cometidas.
Além do tom inusitado, o filme é bem construído: bons diálogos, personagens carismáticos e uma atuação íntima e agradável de Gael García Bernal tornam a obra leve, engraçada, mas sempre muito inteligente. A fotografia lavada, com ares de polaroid ajuda a construir o tom de lembrança, de resgate de uma história que faz parte da infância de boa parte dos espectadores. Existem momentos tensos, principalmente quando o filme acompanha os efeitos que o envolvimento de Saavedra no movimento de oposição têm na vida do publicitário e, para quem desconhece a história do Chile, a tensão é angustiante, ainda assim a impressão final é de ironia e irreverência.
No é um filme tão fluído, tão bem amarrado que se torna difícil apontar o que realmente faz dele um grande filme. Provavelmente a irreverência com que trata a seu tema e a si mesmo, e a despretensão com que foi feito. É um filme pequeno sobre um tema enorme e que acerta precisamente por isso. Atento às suas limitações, trabalha com e faz graça delas e isso se reflete na própria narrativa que é sobre uma campanha política para derrubar uma ditadura, mas poderia muito bem ser sobre fazer cinema em um país latino americano: sem recursos, comprando uma briga já dada como perdida.
Larraín construiu um filme memorável, ainda que singelo, e deixou uma lição que o cinema brasileiro poderia aproveitar: é possível “desrespeitar” a história do país, mesmo os pontos mais obscuros dela e assim ser universal sendo nacional. E é possível chegar longe com um filme barato, mas bem feito.
Não é de hoje que a política do planeta, em particular a das grandes democracias, precisa de críticas de humor afiadas e precisas para demonstrar seus vícios, fraturas e incongruências. Aí que está o erro de Os Candidatos, pois não é um filme de humor, não é afiado (às vezes beira a grosseria) e passa longe de qualquer tipo de conscientização. Fui ver esse filme já sabendo mais ou menos o que esperar, e infelizmente minhas expectativas foram atendidas.
Will Ferrell interpreta o congressista Cam Brady, que está concorrendo sozinho a mais uma reeleição em seu condado e é apoiado e financiado por lobistas inescrupulosos com planos cada vez mais ardilosos para aumentarem seus lucros às custas da democracia. Zach Galifianakis interpreta Marty Huggins, o filho gordinho, desajeitado, com trejeitos femininos e que usa roupas justas (lembram-se de Se Beber não Case 1 e 2 e Um Parto de Viagem? Então…) de um milionário local que decide bancar sua campanha contra Brady, já que Marty é de fácil manipulação.
O filme ainda tenta dar um ar de seriedade, colocando como trama a influência de lobistas em cima do processo eleitoral e como eles escolhem os políticos para depois terem projetos que os beneficiem aprovados, coisa que acontece no mundo todo e que, nos EUA, é algo regulamentado. O plot exagerado (os lobistas querem trazer o regime de trabalho desregulamentado da China para o condado, que seria independente das leis americanas) não ajuda, transformando os vilões em algo cartunesco, sem profundidade, que lembra mais Pica-Pau do que uma crítica mais séria. Dá muito bem para se fazer comédia com profundidade e crítica política. Qualquer pessoa que já tenha visto os dois filmes da excelente dupla The Yes Men sabe disso.
A partir de estabelecidas as personagens e suas motivações, o filme se repete em um tipo de humor muito comum nos EUA atualmente: o de situações que causam riso no espectador pela vergonha experimentada pelo personagem. Não há absolutamente nada de novo na proposta de humor do filme, que repete o formato das piadas durante todo o longa, em que apenas algumas cenas (e boa parte delas estão no trailer, como a cena em que Brady, bêbado, tenta escapar de um policial durante uma abordagem) conseguem tirar mais do que um sorriso envergonhado do espectador. A escalada da violência física, a perda da ingenuidade de Marty, as constantes mudanças de pensamento e comportamento dos personagens no final, tudo funciona para tornar a narrativa bastante confusa. Apesar de o ritmo se manter constante, a atenção do espectador a cada ato é sacrificada.
Não sei o que se passa com Ferrell, mas tem escolhido produções cada vez piores para fazer e daqui a pouco estará perto de Nick Cage e Liam Neeson no quesito “perda de credibilidade”.
Resumindo: Os Candidatos é uma tentativa fracassada de dar conteúdo a um filme de comédia, mas esqueceram de que um filme de comédia, em primeiro lugar, precisa ter graça, e falha miseravelmente nisso.
A trama se passa em 1950. Um veterano da Marinha, Freddie Quell (Joaquin Phoenix), volta da guerra instável e sem certeza de seu futuro. Como tantos outros, tem dificuldade de se situar na sociedade após o retorno, não só pelas sequelas psicológicas da guerra, mas também por ser um alcoólatra. Depois de abandonar vários empregos, principalmente por causa de seu temperamento explosivo, vagando pela cidade, entra no barco de Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), que o acolhe. Dodd é o criador de uma espécie de seita ou religião – “A Causa” – que prega a existência de vidas passadas, usa a hipnose como forma de cura e métodos psicológicos pouco usuais como tratamento de problemas diversos. Quell vê-se arrebatado pela Causa e por seu carismático líder. Ele enxerga em Dodd a figura paterna que não teve. E Dodd enxerga em Quell não apenas o seguidor perfeito, como também a cobaia perfeita para testar uma nova metodologia de “tratamento”.
Americanos gostam de fazer – e assistir a – filmes que tratam das guerras em que seus soldados lutaram, seus feitos, sua volta ao lar, sempre embebidos de um tom ufanista que costuma irritar aos que não compram essa visão idealizada do “sonho americano”. Para contrabalançar, há os que optam por mostrar o avesso desse sonho. E é o que Paul Thomas Anderson faz n’O Mestre, assim como em seus filmes anteriores. Neste, o foco está no dia a dia dos soldados, nas sequelas da guerra, na nem tão triunfante volta ao lar, na dificuldade de reinserção no cotidiano. Em suma, se o espectador for ao cinema em busca apenas de diversão, esta definitivamente não é a melhor opção. Mas se a busca for por um bom roteiro, regado a ótimas músicas, com performances dignas de nota, este filme merece ser visto.
Mesmo com certa polêmica criada ao redor do fato de que Dodd é inspirado em L. Ron Hubbard, o criador da Cientologia, esse detalhe é, na verdade, menos relevante do que pode parecer. Não há dúvidas de que o diretor se vale da história também para mostrar como é criada uma seita, como se desenvolve, como angaria seguidores – e os manipula -, enfim, como ganha dinheiro explorando a crença alheia. Mas não é este o ponto central. O cerne da narrativa é o relacionamento entre Quell e Dodd. Importa mais a dinâmica mestre-discípulo (ou cientista-cobaia), a relação quase simbiótica que se estabelece desde o momento em que se conhecem, do que o questionamento sobre o quão charlatão Dodd é, o quanto ele acredita no que diz e no que faz seus seguidores acreditarem. É interessante reparar que, em várias situações, enfatizando o paralelismo – ou o contraste – entre eles, são mostrados lado a lado, como na excepcional cena da cadeia. Freddie dá vazão a toda sua raiva numa cela, enquanto Dodd pondera calmamente na cela ao lado, até que Freddie duvida da veracidade das ideias da Causa, momento em que Dodd se exalta e dá vazão, de seu lado, a toda a irritação por ter suas ideias postas em dúvida.
A trama é sinuosa, por vezes errática, dando a impressão (errônea) de que a narrativa segue desgovernada em alguns momentos. Ledo engano. A aparente falta de rumo é a representação fiel tanto dos caminhos tortuosos que Freddie seguiu depois da guerra quanto do modo como sua mente funciona. É significativo que, durante o filme, Dodd pergunte várias vezes a Freddie: “Is your behavior erratic?” (“Seu comportamento é errático?”).
Apesar de toda a força dos dois personagens centrais, há outro que a princípio parece não ter tanta importância mas que se revela essencial à ascensão de Dodd como líder da seita: sua esposa, Peggy. É a figura mais dominadora – e quiçá fanática – do filme. Sua presença, por vezes aterrorizante, é quase mais forte que Freddie e Dodd juntos. A cena do toalete, em que ela o masturba enquanto lhe diz como agir, beira o aterrorizante, demonstrando o controle que mantém sobre Dodd e sobre a condução de sua carreira e vida pessoal. E a atuação de Amy Adams é excepcional, corroborando de forma essencial a construção da personagem. Seus olhares recriminadores conseguem deixar até o espectador com sensação de culpa.
Não apenas a performance de Adams é digna de nota. A força dos personagens centrais em cena deve-se em grande parte à atuação de Phoenix e Hoffman. Enquanto este último confirma ser um dos melhores atores da atualidade, alternando entre a autoconfiança do líder e a instabilidade emocional ao ser questionado, Phoenix nos entrega o que talvez seja a melhor atuação de sua carreira. Antes de mais nada, pelo aspecto físico. Extremamente magro, assume uma postura ligeiramente encurvada, retraída (exceto ao visitar a casa da “mulher de seus sonhos”), a todo momento em busca de apoio – basta reparar nas mãos constantemente apoiadas no quadril. Falando pouco, com a boca meio fechada e os dentes cerrados, dá a impressão – que se confirma ao longo do filme – de estar sempre prestes a explodir e tenta evitar isso sendo o mais contido possível. E a riqueza de detalhes na interpretação, as minúcias nas variações de humor, as nuances na entonação da voz beiram a perfeição.
Adicione-se a tudo isso a fotografia competente e a trilha sonora bastante provocativa e tem-se um filme que vale a pena ser visto. Apesar de, a princípio, parecer que será lembrado apenas como “aquele em que o Joaquin Phoenix está irreconhecível de tão magro”, ou então, “aquele que faz alusão à religião de Tom Cruise, sem nomeá-la”, O Mestre vai muito além dessa primeira impressão.
Paraísos Artificiais é uma reflexão acerca de escolhas, e por consequente, consequências. Marcos Prado, diretor e roteirista, além de produtor dos filmes de José Padilha (Tropa de Elite), trabalha com a ideia de uma juventude desvirtuada e/ou incomum. Sexo. Drogas.
O fato do longa ser conduzido de forma leve, não afeta a intensidade da trama. Esta que, basicamente, entrelaça as histórias de Erika (Nathalia Dill), Lara (Lívia de Bueno), e Nando (Luca Bianchi).
Erika, DJ que luta por um espaço no cenário da música eletrônica, vive uma relação de amor e amizade intensa com Lara. Adeptas das drogas e das polêmicas raves, cruzam com Nando e Patrick (Bernardo Melo Barreto) em uma festa paradisíaca que dura dias a fio, onde em suma preferem viver estados alucinógenos inconsequentes, ou melhor dizendo – Paraísos Artificiais.
Prado, não faz da produção uma crítica social às drogas, e faz uso delas como intensificadoras de emoções, sejam elas boas ou ruins. Há sequências em que é impossível não ceder a viagem psicotrópica acompanhada da marcante trilha sonora de Rodrigo Coelho. Isso tudo, aliadado à direção de fotografia de Lula Carvalho (Tropa de Elite 2), que é inegavelmente magistral em seus planos com ótima iluminação.
Anos após a festa, Nando reencontra Erika em Amsterdã. Já estabelecida como DJ e com um filho, só ela lembra em que circunstâncias os dois realmente se conheceram, e o que resultou daquilo tudo. A despeito disso, acabam se envolvendo novamente.
As atuações são excelentes. É incrível como os atores realmente se entregaram aos personagens – inclusive em cenas eróticas, extremamente presentes no filme, mas que são tratadas sob um ponto de vista sedutor, prazeroso, e envolvente. É essencial citar também a montagem do longa, que mesmo trabalhando com duas linhas do tempo juntas, flui de maneira a não deixar quem assiste perdido. Esse formato de construção é quase como um jogo de perguntas e respostas, onde a dúvida que surge em uma linha é respondida em seguida pela outra.
O debut (ficção) magnífico mostra o que hoje é realidade para muitos jovens. Mostra o quão cíclico esse tipo de pensamento que não tem medo do futuro pode ser. Mostra sim, que Paraísos Artificiais, apesar de intensos, são literalmente – artificiais. Um bom drama definitivamente; que foge de ser um outro entre tantos filmes com a temática droga – é mais sobre, culpa, ódio, amizade, e arrependimentos.
A diretora Kathryn Bigelow parece ter apreciado a temática EUA vs Oriente Médio. Dois anos após faturar 6 estatuetas do Oscar, incluindo Melhor Filme, com Guerra ao Terror, Bigelow retorna com A Hora Mais Escura.
A película que ilustra a caçada ao mentor dos atentados do 11 de Setembro, Osama Bin Laden (ou UBL, como é referenciado em alguns momento do filme), roteirizada por Mark Boal, já estava sendo escrita quando o anúncio da morte de Bin Laden foi feito, em Maio de 2011. Imediatamente Kathryn e Boal começaram a retrabalhar o roteiro para que o longa fosse condizente com os novos fatos.
O resultado deste nos apresenta Maya, interpretada por Jessica Chastain, uma jovem analista da CIA que tem seu primeiro contato em campo interrogando prisioneiros da Al Qaeda no oriente médio – in loco.
Inicialmente intimidada pelas técnicas de interrogatório, Maya possui uma evolução espetacular e brilhantemente interpretada. Anos se passam enquanto a mesma persegue pistas as quais, em boa parte do tempo, só ela acredita que estas devam levar a algum lugar. Jessica Chastain se supera de forma magistral e demonstra a crueza que, catalizada pela obsessão, transforma-se em convicção.
O roteiro de Boal que trabalha com elipses temporais constantemente faz uso de capítulos para prosseguir com a narrativa. Os capítulos bem explicitados não levam o espectador a perda da noção de continuidade. Ademais, o roteiro evolui muito bem quase sempre com, pelo menos, uma tensão martelando sua mente. A segurança dos envolvidos nunca é certa, e o transpasse dessa sensação é fortalecido por ótimas atuações do elenco. Destaque para Jason Clarke, Kyle Chandler e Jennifer Ehle.
A direção de fotografia de Greig Fraser (Deixe-me Entrar) é eficiente e dinâmica, trabalhando com cenários diversos. Há, de fato, uma identidade visual bem trabalhada. Desplat (Árvore da Vida) toma as rédeas da trilha sonora que, ainda que extremamente mais notável quando escutada à parte, cumpre sua função narrativa.
A Hora Mais Escura culmina em uma captura curiosa e bem conduzida. A cineasta coordena toda esta apreensão de forma precisa e sensata, sem jamais perder a linha. A Hora Mais Escura explora, ainda que uma versão duvidosa, o trabalho descomunal e personificado de uma nação para capturar o maior de seus inimigos. Bigelow, por mim você volta a esta temática o quanto quiser.
Animação baseada num conto de fadas escrito por Hans Christian Andersen, dinamarquês autor de estórias clássicas: O patinho feio, A menina dos fósforos, O soldadinho de chumbo e A roupa nova do Imperador. Apesar de não tão conhecido quanto os demais, ao menos aqui no Brasil, “A rainha da neve” já ganhou várias adaptações cinematográficas. A propósito, a Disney pretende lançar sua versão, chamada Frozen, em novembro de 2013.
Como em tantas outras adaptações, apenas o “esqueleto” da estória foi mantido, assim como os personagens centrais – com exceção de Omp, o troll, que no conto original é o próprio demônio. Mas não seguir o conto à risca não é um problema, desde que o filme se sustente sozinho. No caso deste, os roteiristas deram um banho de modernidade em toda a estória, transformando um conto de sete atos, repletos de discussões éticas e morais, num quase thriller de fantasia. Para desfrutar, basta esquecer a estória original, encarar o roteiro como uma nova ideia e embarcar na aventura.
O roteiro tem algumas falhas mas nada que comprometa a compreensão da estória. Sobre os personagens há pouco a dizer, pois são os esterótipos básicos de contos de fadas: o casal de órfãos – a menina valente e o menino sonhador; a rainha má – com direito a um espelho conselheiro; o ajudante da vilã – sempre um pouco atrapalhado e que acaba se revelando como sendo “do bem”; as pessoas diversas que Gerda conhece durante sua jornada – a dona da estufa, o rei e seus filhos, o grupo de piratas, a feiticeira boa; e, certamente, não poderia faltar um animalzinho – Luta, um furão – para garantir o nível de fofura necessário.
É nitidamente um filme para crianças. Os adultos acostumados ao estilo Pixar de roteiros de animação certamente sentirão falta daquelas sacadas “for adults only”. O tom é menos de comédia e mais de fábula. Mas isso não deixa o filme menos interessante de se assistir. A qualidade da animação é muito boa, levando em consideração que não se trata de um grande estúdio. A sequência de abertura captura a atenção do espectador de forma bastante eficiente. As cenas de ação, exceto pelo exagero no uso de slow motion, são convincentes e bem empolgantes. Pode perfeitamente ser assistido em 2D, pois o 3D pouco ou quase nada acrescenta à experiência de assistir ao filme.
É um filme mediano, a maioria de seus aspectos está na média, alguns um pouco abaixo. Não há nada que se destaque do todo, nada que faça o espectador dizer “Ah, a estória é comum, mas tal coisa é sensacional!”. Enfim, “não é assim uma Brastemp” mas cumpre bem sua função de passatempo, certamente agradando crianças e pré-adolescentes.
O filme Pusher, de 1996, é o primeiro da cultuada e violenta trilogia que alavancou a carreira do então jovem diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn. Obviamente a trilogia só tomou uma maior notoriedade devido à boa receptividade que seus últimos filmes tiveram – vide Bronson (2008) e Drive (2011) –, mas, segundo as palavras do próprio Refn, Pusher foi o fator determinante para a sua carreira.
Já na sua estreia, Refn deixa impressa sua forma particular de contar histórias. Ele nos convida a passar uma semana na vida de Frank, um traficante que, junto de seu parceiro Tonny, limita-se a pequenas transações e a gastar o lucro obtido com as mesmas da forma mais inútil possível. Até que, na oportunidade de uma grande negociação que, em um primeiro momento, parecia fácil, nada sai como o esperado e a partir daí vemos o desespero de Frank em consertar erro em cima de erros.
Logo após o seu lançamento, o filme virou cult na Europa pela forma com que o diretor expôs o panorama do submundo do tráfico em Copenhagen e pela violência presente em toda a trilogia. Eu disse no início que “ele nos convida”: na verdade ele nos pega pela mão e nos arrasta junto ao protagonista, pois por diversas vezes a câmera apenas segue literalmente atrás de Frank, e a utilização apenas da iluminação ambiente – ou, por vezes, a falta dela – nos faz sentir imersos naquela atmosfera pesada e muitas vezes claustrofóbica. Em algumas cenas ocorre a ausência total de iluminação. Refn deixa aqui também muito claro o seu (bom) gosto pela trilha sonora.
Toda a violência crua, a direção marcante, a exposição do submundo da época ou a procura por referências (como um pôster gigante do filme Mad Max logo no início) pode fazer passar despercebido o fato de que Pusher trata de pessoas, que não só não têm a que se agarrar como também não fazem muita questão de ter algo para se agarrar. Os quatro personagens que julgo principais (Frank, Tonny, Vic e Milo) são o que não queriam ser, vivem uma vida querendo estar em outra, mas não conseguem mudar ou, como nas palavras da própria Vic: “Eu poderia ser o que eu quisesse, só não tenho vontade”.
De fato, quem for ver Pusher tendo como refrência o recente Drive pode achar o filme um pouco difícil pela sua densidade e pela já citada falta de luz. Entretanto, assim que você se deixar ser arrastado atrás da decadente semana de Frank certamente não terá do que se arrepender, pois uma das características de Nicolas Winding Refn é saber deixar uma história interessante, por mais simples que ela seja.
Não é todo dia que vemos um filme de Quentin Tarantino no cinema. Nas duas últimas décadas, o estadunidense de 50 anos lançou apenas 8 filmes, e mandou bem em todos!
O número de títulos assinados por Quentin é tão impressionante quanto seu aproveitamento: O filme mais fraco (minha opinião: Jackie Brown) não pode ser chamado de ruim, o casting de seus filmes sempre é incrivelmente estrelado e Hollywood sempre vê seus futuros projetos com bons olhos. Foi assim desde Cães de Aluguel, seu primeiro filme e que teve atores muito famosos se acotovelando para ocupar os poucos papéis disponíveis. Diretor novato, Tarantino conseguiu o que ninguém acreditava ser possível para um estreante: Ter o projeto aceito por um dos maiores nomes da época em Hollywood, o renomado Harvey Keitel. Além de Keitel, o primeiro filme de Quentin Tarantino, contava também com Steve Buscemi, Michael Madsen, Tim Roth e ele próprio, dentre outros.
Assim como seus filmes, Tarantino possui várias marcas registradas que transbordam nas películas e fazem dele um diretor autoral com o nome gravado à ferro na história do cinema. Exímio diretor de câmera, abusa dos chamados long shots com cenas de até 10 minutos sem cortes. Seus roteiros, geralmente originais, trazem personagens de personalidade forte e a grande maioria das tramas tem uma dualidade muito evidente: Os personagens nunca são completamente vilões ou mocinhos. O grande trunfo dos filmes “tarantinescos” sempre foram os personagens e seus diálogos, muitas vezes surreais, sobre assuntos cotidianos.
Os filmes dirigidos e roteirizados por Quentin tem, também, uma veia sanguinolenta e extremamente violenta que sempre se apresenta por grandes tiroteios, linguagem obscena e violência explicitada com litros e mais litros de sangue que transformam os cenários em retratos de chacinas fantasiosas, totalmente inverossímeis e exageradas. Todo filme dele é aguardado do anúncio à estreia com expectativas muito elevadas por parte da comunidade cinéfila, e Django Livre não foi exceção.
O filme conta a história de Django (D-J-A-N-G-O, o “D” é mudo…), um escravo que é resgatado por um caçador de recompensas enquanto era transportado de sua fazenda de origem para um outro local. O caçador de recompensas, um alemão abolicionista conhecido como Doutor King Schultz, propõe a Django que o ajude a capturar (e matar) os três donos da fazenda em que ele trabalhava e em troca oferece sua liberdade e algum dinheiro para recomeçar sua vida. A principio relutante em aceitar a proposta, o escravo parte com o caçador em uma viagem em busca dos alvos.
Depois de achar e matar os três irmãos e mais crédulo do discurso anti-escravagista do nobre Doutor Schultz, Django recebe a ajuda do caçador para reaver sua esposa, vendida para um fazendeiro de identidade até então desconhecida. Enquanto viajam lado-a-lado caçando procurados por todo o sul dos Estados Unidos, os dois se tornam amigos em busca do objetivo maior de Django: reunir-se novamente com sua esposa Broomhilda.
O filme, vendido para mim como um thriller de ação e vingança se mostrou outra coisa durante a primeira uma hora. Esperei ver litros de sangue, tiroteios frenéticos e muitos personagens se interligando ao maior estilo Quentin Tarantino mesmo, mas essa primeira parte do filme não tem nada disso. Decepcionado? Nem um pouco!
Esta primeira (e maior) parte do filme foca inteiramente na interação de Django (Jamie Foxx) e Schultz (Christoph Waltz). Tem diálogos impressionantemente bem feitos, ótimos momentos de humor e ação na medida certa para desenvolver os dois personagens. Durante esta primeira metade, Django e Schultz caçam dezenas de procurados enquanto o escravo aprende a técnica necessária para colocar seu plano em movimento. Quando finalmente descobrem o paradeiro de Broomhilda (Kerry Washington), as rédeas do filme passam para as mãos do protagonista-título da trama. Até este ponto de virada, Waltz leva o filme com a mesma maestria e atuação que deu vida a Hans Landa (vivido por Waltz em Bastardos Inglórios, também de Tarantino). Impressionou-me bastante a forma como ele trabalha magistralmente bem junto de Quentin Tarantino, e o filme é levado por ele com uma atuação de gala que lhe rendeu, merecidamente, a indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante. Seu personagem alterna extremamente bem momentos de serenidade e bondade com sequências de implacável violência e inteligência na caça aos bandidos procurados.
E por falar em atuações de gala, Samuel L. Jackson está tão solto e frenético em “Django Livre” quanto estava em Pulp Fiction (pra mim, o melhor filme de sua carreira). Aqui, ele vive o afetado Stephen, um escravo que trabalha há muito tempo para o personagem de Leonardo Dicaprio administrando sua fazenda e cuidando da casa. O inglês pronunciado com um incômodo sotaque texano e sua falta de educação nos diálogos rendem boas risadas nos últimos 40 minutos de filme. Sua atuação tira parte do brilho do personagem de Leonardo Dicaprio, que vive Calvin Candie, um dono de terras que negocia escravos negros para as lutas de “mandingos” e é o atual dono da esposa de Django. Interpreta bem, nos poucos momentos em que o roteiro o deixa em evidência, mas não faz nada extraordinário.
Jaimie Foxx me surpreendeu bastante com sua atuação. Na verdade, era o único que eu não sabia o que esperar mas manda bem demais durante todo o filme. Django é um personagem complexo e ele pareceu entender bem qual era seu propósito no roteiro, sendo modesto quando necessário, violento e forte quando o roteiro assim o pede e, como já falei, tomando as rédeas do filme depois que o personagem de Waltz vai embora.
E é só depois que o nobre Dr. Schultz se ausenta que o filme toma ares mais tarantinescos de verdade. Passa, apartir dalí, a se tornar um filme sobre vingança, com ritmo acelerado e, como não poderia faltar, baldes e mais baldes de sangue derramado na tela. A velocidade da câmera, as viradas no plot e a aparição modesta de Quentin na tela mudam completamente a pegada do filme e compõe, agora sim, o thriller frenético de ação e vingança que haviam me vendido. Não sei precisar qual das duas partes eu gosto mais, mas este é certamente um adendo favorável ao meu resumo da obra: Comprei um ingresso de cinema e acabei vendo dois excelentes filmes!
A trilha sonora é simplesmente uma das mais fantásticas que eu já ouvi e ajuda demais a ditar o andamento das cenas. Misturando estilos, Tarantino traz para o filme uma série de artistas diferentes que vão desde as trilhas compostas por Ennio Morricone até uma música montada num remix incrivelmente bem feito que une as vozes de, acreditem, James Brown e Tupac Shakur!
Que outro autor/diretor você conhece com moral suficiente para emplacar um Western ao som de Hip Hop?! E o melhor da trilha é que ela está disponível, gratuitamente, para ser ouvida neste link. Nele você encontra todas as trilhas empregadas e algumas citações tiradas do próprio filme. Abaixo, a música póstuma produzida pelo Rei do Soul e o Mestre do Rap:
Com orçamento estimado em 100 milhões de dólares e faturamento de quase 350 milhões, “Django Livre” tornou-se o maior e mais bem sucedido filme da ainda curta (mas muito bem sucedida) filmografia de Quentin Tarantino. O filme chegou ao Brasil em 18 de janeiro, mas ainda está em exibição em algumas poucas salas do país. Tarantino, que já anunciou que não pretende ir muito além de 10 filmes em sua carreira, conseguiu um resultado excelente e acima do meu esperado ainda que tivesse grande expectativa para o filme. Como já é de praxe, fez dezenas de referências durante os 160 minutos de filme. Referências facilmente captadas, como o nome do personagem e trilha de abertura (retirada do filme “Django”, de Sergio Corbucci), diversas metáforas ao homem branco e à relação do negro com a liberdade e até uma crítica bem humorada à Ku Kux Klan. Um filme bastante fácil de compreender, divertidíssimo e nada cansativo, que merece ser visto por todos os fãs de cinema, menos o Spike Lee.
O argumento é conhecido do público e, provavelmente, foi assistido anteriormente. O bombeiro Jeremy Coleman presencia um crime racial e decide colaborar com a justiça identificando o culpado. Devido a periculosidade do acusado, líder de um grupo de orgulho branco, Jeremy entra no programa de proteção as testemunhas que se mostra ineficaz quando o líder decide persegui-lo e matá-lo por colaborar com a lei.
Fogo Contra Fogo utiliza o mesmo título de um grandioso filme de Michael Mann e qualquer comparação permanece apenas no nome. Além da evidente batalha das personagens, o título alude a profissão da personagem, um bombeiro competente, que gosta da profissão e da irmandade em torno dela, mas que decide deixar sua vida para lá para ajudar o delegado Mike Cella. Após sofrer um ataque de um assassino profissional a mando do líder do orgulho branco, o bombeiro decide retornar a cidade da qual foi afastado pela proteção de testemunhas e fazer justiça com as próprias mãos.
Produzido diretamente para a televisão, a trama não apresenta nada de novo, nem ao menos intenta ser uma repetida história funcional. O ator Bruce Willis é o grande chamariz da história, vendida de maneira errada como um filme do astro. Willis aparece em poucas e inexpressivas cenas. Nem tendo o trabalho de realizar o seu papel padrão de policial.
A história acompanha a vingança do bombeiro de maneira burocrática, indo dos peões até chegar no grande chefão. Exceto por uma cena de tiroteio que a câmera viaja com a bala, não há nada de novo também na direção. Rosário Dawson que faz par amoroso com a personagem, está presente como função estética, fazendo o papel da mulher pela qual se deve lutar.
É impressionante como uma produção deste calibre conseguiu chegar as telas brasileiras. Utilizando a potência de Willis, sempre convidativo ao seu público, e aproveitando as semanas que antecedem o lançamento de mais um filme da série Duro de Matar, para tentar conquistar alguma bilheteria.
Desde já selecionado para figurar na lista das piores estreias deste ano.
Pi, filme de estréia de Darren Aronofsky, ganhou Sundance em 1998, confirmando o diretor como um sucesso de crítica logo no início de sua carreira. Filmado com orçamento apertado e uma fotografia preto e branca extremamente granulada, Pi já possuía as principais características do cinema de Aronofsky e anunciava o cineasta que ele iria se tornar.
Pi se foca em Max Cohen, um matemático obcecado em pesquisar padrões nas casas decimais do pi. Aronofsky parece ser ele mesmo obcecado com as obsessões, no entanto ele sempre olha além do vício inicial de seus personagens e no caso de Cohen a obsessão não está no pi, mas no pi como chave para se entender o universo.
Cohen acredita que a matemática é a linguagem da natureza e ele busca desesperadamente fazer sentido dessa linguagem. O grande mérito de Aronofsky na construção de seu personagem e, principalmente, de sua obsessão é dar profundidade a ela ao mesmo tempo que prende o espectador na mesma teia de paranoia de Max.
Max Cohen não quer apenas achar um padrão no pi, ele quer provar para si mesmo que a natureza se constitui em padrões matemáticos, ele quer entender o universo. Enquanto seu antigo professor afirma que ele voa perto demais do sol e busca por algo que não pode ser encontrado, um judeu ortodoxo alimenta sua convicção ao afirmar que a matemática pode também ser a linguagem de Deus. No judaísmo, Deus não deve ser nomeado, embora diversas palavras sejam usadas para se referir a ele, seu verdadeiro nome é oculto, uma vez que Deus não deve estar submetido a conceitos humanos. Ou seja, a chave da criação do universo, o conhecedor de suas regras e padrões não pode ser conhecido pela mente humana, está fora do que cabe a nós.
Mas Max se convence de que sim, entender o universo cabe a ele. Seu sobrenome é o dos descendentes do alto sacerdote judaico que era o único a conhecer o nome verdadeiro de Deus, ele acerta os números da bolsa, ele foi capaz de olhar para o sol. Aronofsky constrói um personagem extraordinário com uma obsessão que vai além do óbvio (o entendimento, não o Pi, assim como a Nina de Cisne Negro não é obcecada com seu papel, mas com a perfeição) e que se consome por isso e constrói um filme que afirma isso a cada momento.
A fotografia é preto e branca e granulada de forma que toda a imagem as vezes parece uma massa cinza. Os planos fechados se tornam amontoados de forma, cheios, claustrofóbicos, como a mente do próprio Max. Além da imagem poluída, a trilha de Clint Mansell é incômoda, ensurdecedora e cheia de barulhos industriais, novamente emulando as dores de cabeça e a vivência do personagem. A montagem de Pi anuncia a de Réquiem para um Sonho: rápida e fragmentada ela torna mecânica certos atos do personagem e explicita à sua escravidão de certos atos enquanto impede o espectador de vê-lo como um ser inteiro.
Dessa forma Pi é um filme que experimenta e desconstrói, como se espera de um filme de estréia, e ao mesmo tempo apresenta os elementos que o diretor aprenderia a dominar com o tempo. É um filme imaturo, mas de uma força criativa imensa e que já anunciava um dos cineastas mais interessantes em atividade.
Monstros S.A. está situado em um momento anterior a compra milionária da Pixar pela Disney. É o quarto filme da produtora em uma época em que suas tramas ainda apresentavam maior tonalidade juvenil, sem as narrativas composta em camadas que se tornariam uma característica do estúdio que não possuía empresas rivais em lançamentos de animação.
A trama dialoga com o medo infantil de que, durante a noite, monstros escondidos em armários habitam os quartos para assustar as crianças. Mal sabem elas que, do outro lado da porta, existe a Monstrópolis, cidade sede da Monstros S.A., uma empresa especializada em aterrorizar as crianças, garantindo, com seus gritos, a energia que abastece a cidade. Dentre os responsáveis pelos gritos, estão a dupla Mike Wazouwki e James P. Sullivan, a dupla central da história que equilibra bem a sensibilidade e o humor da produção.
O estúdio Pixar desenvolve um pequeno universo para situar sua história, outra característica que seria comum em suas histórias. Esteticamente, a cada produção a empresa desenvolve um personagem que salta aos olhos pela animação competente. Caso do grandalhão Sully, um peludo personagem azul que foi trabalho detalhadamente para que a pelagem parecesse real.
As personagens formam uma boa dupla divertida que são responsáveis pelas diversas cenas de humor, encontrando o contraponto sensível na história da pequena Boo, uma garotinha que acidentalmente invade o mundo dos monstros e transforma o coração peludo de Sully.
Ainda que produção primária do estúdio, é perceptível a intenção de um roteiro que produz o híbrido entre riso e sensibilidade sem que nenhum lado se sobreponha. Um estilo que será perseguido pelo estúdio que, até então, tinha realizado somente Toy Story 2 com uma alta carga dramática.
Neste relançamento em terceira dimensão, a história ganha maior interatividade sem os excessos visto em outras produções que utilizam a estereoscopia. Uma demonstração de que o recurso pode ser bem utilizado se colocado de maneira sutil para realçar as dimensões da cena e dar destaque a pequenos elementos. Além da novidade do 3D, é funcional para que aqueles que nunca assistiram a história no cinema possam revê-la. Um projeto que a Disney tem realizado desde o recente relançamento de O Rei Leão.
O sucesso da produção – que tem o mesmo diretor de Up – Altas Aventuras – gerou uma continuação, Universidade Monstro que estréia em 12 de julho de 2013 no país.
Michael Haneke é um cineasta com um projeto muito claro: colocar na tela aquilo que o espectador preferia não ver. Violência gratuita, perversão sexual e as origens do nazismo já foram seus temas e em Amor, ganhador da Palma de Ouro em Cannes no ano passado, ele realiza o que parece ser seu filme mais íntimo, ao mesmo tempo em que trata de um dos assuntos mais onipresentes do universo: a morte.
Anne e Georges são um casal idoso que vive em Paris. A sequência inicial do filme nos mostra um casal extremamente próximo, íntimo e independente que vai a concertos ver antigos alunos. Haneke constrói, nos primeiros 15 minutos de seu filme, um breve retrato de um casal em que o marido, aos prováveis 50 anos de casamento, ainda diz como sua mulher é bonita. É breve, mas essencial para que se entenda o que vai ser perdido mais tarde.
Anne sofre um derrame e a cirurgia que se segue a deixa com a perna e o braço esquerdos paralisados. A perda de movimentos parece pequena; no entanto, Anne deixa de ser um ser humano independente, deixa de ser dona de suas vontades e, mais do que isso, traz para o casal a consciência da morte. Algo ali se quebra assim que Anne volta, e Haneke faz questão de demonstrar isso visualmente: o escritório onde o casal passa seus dias é todo decorado em cores quentes, tons de amarelo e laranja; a iluminação usada acentua esses tons e as vestimentas de todos os personagens que passam por ali são sempre em tons de marrom, exceto as de Anne, sempre em cores frias, como se já não pertencesse ao lugar onde a vida se dá.
O derrame de Anne anuncia a morte, e o filme anuncia seu segundo capítulo com a visita de um ex-aluno. Ele chega de preto, de surpresa, e sua visita lembra a personagem de sua idade, de tudo de que ela já não lembra e do início de sua decomposição. Pouco depois ela tem um segundo ataque e começa uma espécie de segundo ato.
Nessa segunda parte o que vemos é um ser humano que definha, morre devagar e dolorosamente em uma tela de cinema. Progressivamente Anne perde a dignidade, a personalidade e passa a ser tratada como uma coisa, um corpo doente e nada mais. Ao mesmo tempo, Haneke discute o próprio filme, ao opor a recusa feroz da filha de Anne e seu marido a aceitar a morte da mãe à conformidade de Georges. Eva, a filha, está no lugar do espectador que preferia não entender aquilo que o personagem, e o cineasta, insistem em dizer que é inevitável.
Amor é um filme claustrofóbico: ele se passa inteiro em um apartamento, os planos são fechados e são feitos muitos closes dos rostos dos personagens. Ao mesmo tempo, esse apartamento é decorado de forma agradável, íntima, e a luz quente e difusa aumenta a sensação de conforto. É um pouco como o longa: duro, contido, cruel, mas cheio de momentos de ternura e graça.
Perto de A Fita Branca, seu trabalho anterior, Amor a princípio parece um filme menor e menos ousado. Mas, conforme ele se desenrola, a honestidade de Haneke mostra que o minimalismo ali fala muito. Amor é essencialmente sobre o que nos faz humanos: a morte, a resistência a ela, o amor como forma de aceitação e, finalmente, os limites desse amor. É profundo e visceral e confirma Haneke como um dos maiores cineastas em atividade.
No brasileiro Lisbela e o Prisioneiro, a mocinha interpretada por Débora Falabella, entusiasta de histórias românticas no cinema, faz uma afirmação que determina os princípios deste estilo de narrativa. Diz ela que normalmente o desenlace é previsível, importando a maneira como a história é conduzida.
Em breves linhas, uma história de amor sustenta-se em dois possíveis finais: o viveram felizes para sempre, a maneira cinematográfica de demonstrar que a história deu certo; ou a desilusão amorosa que comumente ainda é otimista, visando uma recuperação breve da personagem.
Talvez a simplicidade narrativa deixe mais aparente a sensação de repetição em diversas tramas semelhantes. Ainda é cedo para afirmar, mas observo uma nova tendência na narrativa americana de romance, inserindo uma história além da composição amorosa para aprofundar a carga dramática. Motivo pelo qual não tive empatia por Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo, que, apesar do fundo de destruição mundial, não passa de uma história de duas personagens à procura de preencher seu vazio existencial.
Em O Lado Bom da Vida, Pat e Tiffany são duas personagens que tentam se reintegrar à sociedade. Pat esteve oito meses em uma clínica psiquiátrica após flagrar sua esposa com um amante. Tiffany sofre a perda do marido com um pequeno colapso que a fez se entregar para diversos homens tentando preencher sua tristeza.
A intenção da trama é apresentar duas personagens com cisões internas e de frágil psicologia que, por um passado problemático em comum, se aproximam. Mas, além de desenvolver este pano de fundo, não há a intenção de utilizá-lo como carga dramática no interior da história para que o público compreenda como é trabalhosa e difícil a recuperação de uma crise de nervos e de outros problemas psicológicos.
Tem-se a impressão de que, em diversos momentos, as próprias personagens se esquecem dos infortúnios de seu passado. Como se tais artifícios estivessem presentes somente para mascarar a falta de criatividade ou justificar algumas ações exageradas em uma narrativa que o público sabe como termina.
Pela fragilidade de tais elementos, a trama recorre a personagens secundárias para se sustentar, espaço preenchido pela família de Pat, com um Robert De Niro fanático por esportes e apostador profissional. É este o núcleo que sustenta parte da história até o início da inevitável aproximação amorosa.
Bradley Cooper e Jennifer Lawrence trabalham bem em seus papéis de demonstrar talento para sustentar uma produção. Mas focam a sensibilidade emotiva somente para o romance visto em cena, parecendo-nos evidente que o passado psicológico é funcional somente para gastar tempo em cena, como uma ponta solta que, se cortada, daria mais força ao romance, que trabalha de maneira ineficaz um argumento potencialmente bom.
He’s back.Arnold Schwarzenegger retorna aos cinemas como protagonista, dez anos depois de O Exterminador do Futuro 3. Nesse meio tempo, teve seu mandato como “Governator” da Califórnia e, claro, as participações em Os Mercenários. E ele parece ter assimilado com o colega Sly a ideia de que ainda pode ser fodão, mas a idade avançada vale uma boa tirada de sarro. O Último Desafio não chega a ser uma comédia assumida (como Os Mercenários 2), mas as piadas estão tão presentes quanto a ação – não muito distante dos clássicos de Arnold dos anos 80 e 90, talvez com a diferença de que antes o humor era de certa forma involuntário, e agora é consciente.
A história mostra Ray Owens, veterano xerife de uma pacata cidadezinha de fronteira. Ele já teve sua cota de ação num passado traumático e agora só quer saber de sossego. Pro seu azar, um chefão do narcotráfico em um carro superveloz, após dar um baile no FBI, está em fuga para o México e vem direto na direção de Ray. Adivinha quem é o único que pode deter o bandido? O xerife e sua diminuta equipe.
O Último Desafio tem como maior mérito sua indiscutível honestidade. Quem viu o trailer sabia exatamente o que esperar: um filme do Schwarzenegger. A trama é simplíssima e repleta de situações exageradas (por exemplo, toda a tecnologia e planejamento magistral por parte dos criminosos), os coadjuvantes são rasos, os vilões são caricatos e os tiroteios têm balas infinitas. O filme até poderia ser considerado mediano não fosse o carisma do herói. Impagável a oportunidade de rever a atuação robótica e o sotaque inconfundível de Arnold, suas frases de efeito e sua predileção por armas grandes. O peso da idade, porém, se faz presente a todo momento. Ele não corre ou apresenta grandes feitos físicos, pelo contrário. Cada movimento é lento, e cada pancada, dolorida. Mas tudo executado de forma bem-humorada, como na ótima cena em que o xerife pula pela vidraça da lanchonete, levanta-se com dificuldade e, perguntado “como está”, responde “velho”.
Tudo isso mostra que o filme se apoia completamente em Schwarzenegger. Ele rouba até as cenas cômicas, pois suas piadas soam muito mais naturais, e por isso mais interessantes, do que aquelas de Luis Guzmán e Johnny Knoxville, os alívios cômicos oficiais. Muito pouco a se dizer sobre os outros atores: Forrest Whitaker faz o básico do básico, assim como a lindinha Jamie Alexander. Eduardo Noriega e Peter Stormare são competentes dentro da proposta de canastrice de seus vilões, e Rodrigo Santoro se vira bem no pouco espaço que tem.
O diretor é o sul-coreano Jee-woon Kim, em seu primeiro trabalho em Hollywood. Ao longo de todo o filme ele demonstra experiência e segurança em conduzir cenas de ação empolgantes, mas sem excessos ou firulas visuais, sabendo dosar os momentos frenéticos com os de respiro. E, mais importante, deixando o astro brilhar. Fica a expectativa pelos próximos trabalhos do bom e velho Terminator, e a torcida para que essa onda de saudosismo ”brucutu oitentista” não passe tão cedo. O cinema blockbuster agradece.
Ang Lee é um cineasta de obra variada (O Tigre e o Dragão, Razão e Sensibilidade e Hulk passaram por ele), mas a adaptação de As Aventuras de Pi parecia ter os elementos em que ele funciona melhor: um roteiro com elementos de estranheza e surrealismo e a possibilidade de ser visualmente impressionante.
O filme é uma adaptação do romance de Yann Martel e conta a história de Pi Patel, um garoto indiano que está migrando para o Canadá com sua família quando o navio afunda e ele se vê preso em um bote salva-vidas com um tigre de bengala. Durante a maior parte do tempo, tudo que o espectador vê é Pi, o tigre e o mar, e é um grande mérito de Lee que, embora seja lento, o filme não se torne excessivamente arrastado.
Ang Lee consegue passar com relativa eficiência a angústia e a claustrofobia do personagem, e é essa tensão o que segura em parte a quase uma hora e meia de filme em que nada efetivamente acontece. Além disso, o tigre é construído com eficiência e, no fim, se torna um personagem mais carismático do que o próprio Pi. A montagem e os ângulos de câmera são todos pensados para aumentar a tensão e a sensação de pequenez de Pi frente ao tigre, ao mar e às outras forças da natureza. No entanto, a impressão que se tem é que, para além do medo, existem emoções em Pi que o diretor deixou de lado, ou não conseguiu encontrar uma forma adequada de passá-las do livro para imagens.
A história de Pi é anunciada a seu interlocutor canadense (e, consequentemente, ao espectador) como capaz de fazê-lo acreditar em Deus; porém, toda a jornada espiritual de Pi e tudo o que efetivamente deve ter se passado em sua mente é deixado de lado e o filme se foca apenas na tensão e no medo entre ele e o tigre. Além disso, algumas pontas do roteiro ficam soltas, como a relação entre Pi e a namorada que ele deixa na Índia.
No final, Ang Lee pegou um livro considerado inadaptável e transformou-o em um filme acessível. O filme é de uma riqueza visual considerável e impressiona por não ser extremamente tedioso, apesar de não ter quase nenhuma ação. Mas toda a profundidade que a história anuncia é deixada de lado: Lee não trata das religiões de Pi, de sua solidão no mar e joga uma reflexão sobre o poder das narrativas e sua relação com Deus, mas isso também não é desenvolvido.
As Aventuras de Pi não é de forma alguma um filme ruim: é um filme lindo, bem construído e com um final engenhoso, mas que indica um potencial muito maior que parece ter sido deixado de lado em favor de visual e tensão, atributos mais prováveis de garantir sucesso comercial ao filme.
Dirigido pelo músico Oswaldo Montenegro, Léo e Bia é um filme bem complicado, mesmo com toda sua simplicidade. Se passa em Brasília, no auge da ditadura militar (anos 70), onde um grupo de jovens faz teatro. O Filme se passa praticamente todo em um cenário: o galpão onde os jovens ensaiam. O que parece ser limitado, acaba impressionando, quando esse galpão se transforma em casas, instituições, palcos, etc…
O objetivo do diretor é mostrar as dificuldade e limitações da liberdade de expressão e cultural na Ditadura militar e ele faz isso misturado com um excelente drama.
O enredo principal consiste na história de amor entre Léo e Bia, um casal estranho. Léo é o diretor e o líder do grupo de teatro e Bia, mesmo com problemas familiares, a melhor atriz. O relacionamento deles é bem complicado. Bia tem ciúmes da Marina (Melhor amiga de Léo), que por sua vez, ama o rapaz também.
Todos os personagens tem seu destaque, sua história, suas angústias e tristezas e tudo isso é misturado ali, na nobre arte de atuar. Oswaldo usa da ingenuidade e inteligência da esquerda festiva para criar suas falas. Todos eles ao longo do filme tem ao menos uma frase marcante.
– Aonde houver mulatas, não haverá nazismo – É, mas o Brasil “tá” cheio de mulatas e o nosso governo é fascista pra caralho.
Durante os ensaios, simultaneamente, é contada também a história de Bia, que tem problemas com sua mãe obsessiva. Durante todo o longa são mostrados diálogos entre as duas e aí que entra o ponto mais importante de todos: A excelente atuação.
Como já era de se esperar, a trilha sonora é toda de Oswaldo Montenegro. Apesar de cansativa, gostei dessa escolha. As letras se encaixam perfeitamente na trama e a edição é impecável. Como eu disse, é complicado na simplicidade. Léo e Bia sai do comum, é ousado, crítico e romântico.
Desde os atentados de Onze de Setembro, a imagem de Osama Bin Laden adquiriu reconhecimento mundial. Seu rosto tornou-se figura central de noticiário e, de uma maneira torpe, foi rentável material de notícias, sendo uma espécie de celebridade. Nada mais evidente, portanto, que sua morte seja vista como um espetáculo.
O Homem Mais Procurado do Mundo é uma produção realizada para a televisão com o intuito de dramatizar as horas que antecederam a operação militar que resultou na morte do líder da al-Qaeda, como também apresentar um resumo dos procedimentos que levaram a descoberta de seu esconderijo.
A narrativa tem início com depoimentos dos soldados da marinha envolvidos na operação e de parte do grande escalão da inteligência americana. O didatismo dos testemunhos são tão evidentes que parecem muito semelhante ao estilo documental televisivo. Não há a intenção de expor verdadeiramente os fatos, mas apresentar uma versão da história oficial. História em que todos os soldados tem uma boa índole, acreditam na força americana e, acima de tudo, são regidos pela ética de batalha, sem subjugar o oponente.
Aos poucos, o molde didático cede a uma dramaticidade cinematográfica, explorando dois pontos distantes da mesma guerra: o dia-a-dia dos Navy Seals e a inteligência da CIA que articulou a operação autorizada pelo presidente Obama. A precariedade das interpretações salvam-se por dois atores conhecidos do público televisivo americano: Robert Knepper e William Fichtner que voltam a dividir a cena após trabalharem em Prison Break. São essas personagens que se destacam por dar maior realidade dramática as cenas, além de trazerem ao público parte de seu carisma (os nomes podem parecer desconhecidos, mas os atores sempre estão presentes em séries ou em pequenos papéis cinematográficos).
Mesmo que produtores tenham mencionado a dificuldade em desenvolver o roteiro da trama, devido aos documentos sigilosos da inteligencia americana, a necessidade em se produzir uma história chapa branca é maior do que uma narrativa bem realizada. A representação cênica não tira a ideia de que estamos assistindo a uma dramatização superficial que funciona somente se vista para compreender os acontecimentos que eclodiram na bem sucedida operação.
O diretor John Stockwell (Turistas, A Onda Dos Sonhos) parece não se esforçar além do registro das cenas. Como tradicional documentário dramatizado – visto em demasia em canais de televisão a cabo – alcança seu objetivo de apresentar um acontecimento. Mas falha como produção cinematográfica que deseja ser.
A mais recente produção da Dreamworks Animation tem o consagrado estilo do estúdio: uma aventura leve, movimentada e divertida, claramente direcionada ao público infantil, mas com elementos que também agradam aos adultos. A Origem dos Guardiões segue uma premissa similar à do mega sucesso Shrek: depois dos contos de fadas, agora são figuras do folclore que ganham uma “repaginada” para se adequar aos novos tempos. Mas sua mensagem continua sendo a mais clássica possível – e emocionante justamente por isso.
Na trama, quando o perigoso Breu (ou Bicho-Papão) ressurge após séculos para ameaçar as crianças do mundo todo, cabe aos Guardiões se reunirem para enfrentá-lo. Mas o time formado por Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Fada dos Dentes e Sandman pode não ser o suficiente diante da ameaça, pois o enigmático “Homem na Lua” escolhe um 5º guardião: o irresponsável Jack Frost. Ele vaga pelo mundo há trezentos anos, sem memória, objetivos ou mesmo reconhecimento por parte dos humanos. É essa sua busca pessoal, pelo seu “cerne”, que acaba sendo o motor da narrativa.
Baseado na série literária Guardians of Childhood, de William Joyce, o filme é uma agradável surpresa, ao fazer dos Guardiões uma verdadeira equipe de super-heróis. Não falta nem a Jornada do Herói, representada no protagonista Frost. Igualmente bem conceituada e realizada é a roupagem cool que os personagens ganharam. Papai Noel não é mais só um bonachão: careca, tatuado, com duas espadas enormes, ele adquire uma divertida aura badass. O Coelhinho, ou melhor, Coelhão, é quase um ninja: é alto, sério, ágil e atira bumerangues. A Fada dos Dentes é meiga, mas protetora com suas fadinhas. E o Sandman não tem a aparência de Robert Smith, é um simpático gorduchinho (mas que sabe se virar numa briga) que se comunica usando a areia dourada dos sonhos.
Um aspecto interessante é a reciprocidade na relação dos Guardiões com as crianças. Ao mesmo tempo em que eles representam e zelam por sentimentos como esperança, imaginação, alegria, capacidade de sonhar etc., eles dependem da crença dos pequenos para poderem existir e continuar seu trabalho. Isso gera alguns momentos tristes e reflexivos, bem coerentes dentro da narrativa, mas que talvez sejam resolvidos muito facilmente. Mas, como é um filme destinado a crianças, não dá para reclamar muito disso. Outro ponto negativo é que o protagonista fica devendo em matéria de carisma. Ágil, poderoso e com seu visual de personagem de anime, Jack Frost deve agradar crianças e pré-adolescentes, mas é inegavelmente insosso se comparado ao bom e velho Shrek ou ao Kung Fu Panda.
Visualmente, o filme tem a competência habitual da Dreamworks, ainda que não traga nada inovador ou surpreendente. Também competente é a dublagem brasileira, nada devendo ao original (que conta com vozes famosas como Alec Baldwin, Hugh Jackman, Jude Law, entre outros). No fim das contas, A Origem dos Guardiões é uma boa recomendação até para quem não é particularmente fã de animações – caso deste que vos escreve.