Anton: Laços de Amizade, de Zaza Urushadze, se inicia com um senhor de idade chegando de táxi. Ele se senta em banco de praça a espera de algo, e ao olhar para o céu se lembra de seu passado. Esse é Anton, vivido aqui por Regimantas Adomaitis, e o longa explora o cenário do pós-primeira guerra mundial, em terras russas.
A história se desenrola de maneira gradual, e mostra o pequeno Anton (feito na infância por Nikita Shlanchak), lidando com seu amigo Jakob (Mykyta Dziad), uma criança judia de idade semelhante a sua. A parte lúdica do filme apresenta os dois brincando enquanto existe uma intervenção forte dos militares, mostrando os alistados e oficiais soviéticos como pessoas caricatas e irreais.
Além de retratar de maneira rasa e estereotipada as forças militares, a ideologia marxista também é representada como castradora. Há uma tolice sem tamanho nos diálogos que dão conta de que os estudiosos de Marx não tem tempo para sentimentos comuns aos homens. A forma como a política é empregada nos vilarejos flagrados pela câmera de Urushadze também é estranha, a forma como o povo e o clero lidam com a influência soviética é estranha e maniqueísta, mostrando os camponeses que aderem a revolução como pessoas cruéis e injustas, algumas vezes vigiados até pelos padres.
Tanto o título original quanto o brasileiro enganam, pois há uma preocupação maior em montar um cenário que faça toda a propaganda ter sentido, e não desenvolver a história de suas personagens. A abordagem carece de complexidades, praticamente todos os personagens são bidimensionais, não há como acreditar nem na vilania dos soviéticos, por mais que o filme tente empregar isso tal qual Colheita Amarga, obra de 2017 que mirava a farsa do Holodomor, e também não há muito como se importar com a amizade dos meninos, falhando esse também como uma tentativa de imitar O Menino do Pijama Listrado, herdando desse apenas o lado piegas e melancólico, mas sem os acertos carismáticos da obra citada, parecendo um pastiche de todas as referências que tenta reunir.