Baltimore Boys é mais um especial da ESPN sobre os meandros do basquete americano, focado na historia do time colegial de Baltimore Dunbar High School, onde os diretores Sheldon Candis e Marquis Daisy fazem todo um panorama da localidade antes de falar do esporte em si. O inicio do filme narrado por Jesse Williams, se dá com o ex-armador Tyrone Curts Muggsy Bogues correndo pelas ruas da cidade, como um Rocky Balboa baixo e negro, acompanhado de uma musica ritmada pelas palmas, executada por Joe Carrano, que faz lembrar os números gospel.
A historia parte de 1968 quando Martin Luther King foi assassinado em Memphis, desencadeando um sem numero de manifestações de protestos pelo país. Saques e incêndios ocorreram por toda a extensão da nação e deixaram Baltimore pegando fogo, e é no meio dessa terra arrasada que Mugs e Reggie Williams começaram sua amizade e sua caminhada no basquete colegial.
É engraçado assistir Mugs hoje já mais velho, com alguns sinais de velhice, mas ainda ostentando a altura de uma criança. Sua fala é muito certeira, a de um homem que sabe seu lugar na sociedade e que entende que sem a emancipação de seu povo e seus antepassados, ele não poderia ter alcançado os feitos que conseguiu no Charlotte Hornets e na NBA, ao ponto de até co-protagonizar o filme da Warner Brothers, Space Jam, junto a Michael Jordan, Pernalonga e os Looney Tunes.
Por ser curto, o filme é bem direto ao introduzir a conversa a figura do treinador Bob Wade, com imagens de arquivo e entrevistas recentes. Foi ele o responsável por unir os já bons atletas de Dunbar David Wingate e Reggie Williams, aos novatos dos juniores, Tyrone que estava em Southern High School, e Reggie Lewis que foi expulso de Patterson High. Ali a defesa deles foi aprimorada aos poucos, assim como o entrosamento deles foi tornando todo o ataque em algo muito mais fluido.
Já neste ponto, se nota a qualidade gigantesca de Muggsy em marcar o jogador adversário que mantinha a bola em suas mãos. Sua velocidade e coordenação motora o colocavam a frente dos outros, e ele compensava seus 1,61 de altura correndo a quadra inteira, sendo quase onipresente. Só de serem graduados, e não terem enveredado pelo caminho das drogas, fez com que os colegiados de Wade fossem vistos por sua comunidade como vencedores. Isso dá um pouco da dimensão de como a comunidade estava combalida, e dos perigos que poderiam se avizinhar, pois até Jordan, no meio de sua entrada para o Chicago Bulls, via as pessoas utilizando cocaína como algo normal, imagina nos cenários e estágios anteriores do basquete profissional.
A parte que fala respeito da ida de Willians e Wingate a Georgetown (para jogar com Patrick Ewing) onde ocorreu uma rivalidade com a universidade de Houston retratada no especial Phi Slama Jama, assim como a jornada de Bogues em Wake Forest, onde jogava de maneira muito leve, com facilidade em roubos de bola, onde se foca inclusive no fato dele ter sido campeão mundial com a seleção num torneio Fiba, quando iam jogadores amadores disputar. Já Reggie Lewis foi para Northeastern, e mesmo tão tímido quanto era, fez historia, jogando muito bem em quatro torneios da NCAA.
A parte do draft de 87 também é legal, Mugssy como quase um co-narrador confessa que se sentiu aliviado ao ser chamado pelo Washington Bullets (atualmente, Washington Wizards) como 12º da classe. Toda a parte passada na época em que os quatro biografados estão na NBA é menos brilhante que os trechos no colegial, mas são de suma importância, para não só denunciar a questão de Reggie Lewis no Boston Celtics e a questão da negligencia ao seu problema cardíaco. Por mais que Tyrone tenha brilhado demais na liga, o foco emocional do filme mora na tragédia, mas também no louvor aos sacrifícios que cada um dos rapazes fizeram, incluindo também seu treinador, e no orgulho que causaram em Baltimore.