Campo, filme do português Tiago Hespanha começa contemplativo, após um letreiro que situa o espectador do que foi e do que é um campo militar em Lisboa, o maior da Europa, por sinal. Suas primeiras cenas são sem cor, mostrando uma região natural tomada pela neblina da tarde/noite, acompanhada de uma música instrumental que emula o gênero clássico.
O filme é intimista, embalado por uma narração tão calma que deixa o público confortável ao ponto de se embalar como num sono leve, não que este seja um documentário enfadonho em seu início, mas seu método de adentrar sua própria historia é sereno ao ponto de fazer relaxar em boa parte dos momentos.
A edição cuida de intercalar a calmaria com algumas das atividades mais barulhentas do local, como o trabalho dos apicultores, que lidam diariamente com o zumbido das abelhas. A maior parte desses momentos são assim, lembrando a rotina de quem vive neste campo, refletindo também sobre o passado daquele mesmo lugar, em uma clara viagem no tempo através de uma abordagem um pouco lisérgica.
O estilo hibrido entre documentário e ficção ajuda a transitar entre esses mundos, mas não salva o filme do marasmo, nem mesmo a narração do diretor, que até tenta dar alguma dinâmica ao filme. A duração que ultrapassa 100 minutos é grande demais para um filme intimista, e surpreende que esse tenha sido lançado comercialmente no Brasil, uma vez que todo o seu caráter cabe muito nos festivais mais herméticos e não em salas comuns do circuito.
Em alguns pontos, Hespanha referencia a guerra, desde o começo ele utiliza imagens com militares, com paraquedistas e gravações antigas de objetos sendo despejados por aviões, e as mistura com quedas de árvores, e outras explosões, misturando as devastações naturais entre. O tal Campo que dá nome ao filme foi alvo de testes do exército, e a escolha de Hespanha é de mostrar esse pretérito como um fantasma, e o diretor português consegue nessa metáfora é um dos melhores pontos da obra cinematográfica, que carece de dinâmica e de maior apelo carismático.