Lançado em 2016, logo após o jogo de despedida do atleta conhecido em sua ultima fase como Black Mamba (já ostentando a camisa 24 dos Los Angeles Lakers), o especial da ESPN Brasil, Conquistas, Derrotas e Dramas – A Carreira de Kobe Bryant inicia com uma cena de um torcedor de pele beje, com uma camisa do jogador, em meio ao deserto, evocando toda a paixão que os latino americanos tem pelo jogador do Lakers.
As narrações em português, seja de Everaldo Marques ou José Renato Ambrósio (que assina direção e roteiro aqui) dão ao espectador uma sensação diferenciada, se comparar com outros documentários da ESPN gringa, em especial os 30 for 30. O inicio brinca com a origem do nome Kobe, vindo de um bife de carne, passando depois para o passado de Joseph Washington Bryant ou apenas Joe Bryant, seu pai, que jogava basquete na Itália após decidir largar a NBA. Esse conjunto de influencias tornou ele um competidor diferenciado, um homem cujas culturas diferentes não o limitavam, ao contrario.
Para aficionado em basquete que conhece minimamente a historia do ídolo de LA, é fácil perceber que ele era fã de Oscar Schmidt, que viveu seu auge no basquete italiano, como mostrado em A Estreia, e obviamente que a ESPN nacional puxaria boa parte de seus minutos para essa influencia, mas há também uma boa parte que se dedica ao basquete colegial, onde ostentava o número 33 do Lower Merion, colégio da Pensilvânia. Fora todas as obvias negociações de pular da escola direto para a NBA (algo inédito), ou a troca via Draft do Charlotte Hornets para o Lakers onde seria se não o maior ídolo, um dos maiores, tudo é muito facilmente sabido, mas o mergulho do especial ganha muito na parte sentimental, a utilização da parte dos fãs e entrevistas com aficionados, em especial a visita a coleção de David Kohler, que organiza leilões particulares, mas também guarda tudo importante que chega as suas mãos e que tem em sua sala.
É um pouco diferente verificar esse documentário após Kobe ter falecido, já que envolve não só a comoção pela forma trágica e abrupta como tudo ocorreu no acidente de helicoptero que lhe tirou a vida, mas também por esse ter em seu caráter o diferencial de fazer valer demais as emoções e dissabores que o armador passou ao longo dos seus vinte anos de Lakers e seleção dos Estados Unidos.
Também há um bom enfoque na relação de rivalidade e inspiração que tinha com Michael Jordan, e diferente do que normalmente se faz ao analisar Kobe, aqui não há limitação só em mostrar que os movimentos de ambos eram muito parecidos, mas também há registros de conversas entre eles, até em áudios de um NBA All Star em que jogaram contra, onde ambos se valiam de Trash Talk. É incrível como em pouco mais de 50 minutos se aborda isso, o jogo de 81 pontos, a busca pelo sexto anel que jamais veio (para enfim se igualar ao seu ídolo), as medalhas de ouro em Londres e Pequim,
Quando passa-se pelas polemicas com Shaquille O’Neal, o próprio astro assume que ele era impulsivo e que a juventude o fazia ser ainda mais competitivo e obsessivo do que o normal, mas a realidade é que seu sucesso em quadra fez parte disso. Infelizmente se dedica pouco tempo a isso e a polemica envolvendo o assedio do qual foi acusado, e de positivo neste momento mais espinhoso, há basicamente algumas falas sobre a criação do alter ego, Black Mamba, de resto, o programa é bem chapa branca.
Certamente o motivo desse especial existir foi o ultimo jogo do ídolo, em que fez 60 pontos, em que voltou a ser o garoto draftado em 1996, vinte anos mais velho, mais cascudo, penta campeão do maior espetáculo de basquete e com um final tão bonito que se fosse pensado por um roteirista de ficção, certamente seria chamado de irreal, mas que foi totalmente verdadeiro. Conquistas, Derrotas e Dramas faz ainda mais sentido se apreciado agora, pós despedida da maior lenda do Los Angeles Lakers, segundo Magic Johnson.