Criança, a alma do negócio é um documentário nacional de 2008, dirigido por Estela Renner, produzido por Marcos Nisti e Maria Farinha Produções, que trata de um assunto de extrema seriedade e que muitas vezes é neglicenciado: a publicidade e o mercado de consumo direcionados para o público infantil.
Criança, a alma do negócio é um documentário simples, todo baseado em depoimentos de pais, crianças, pedagogos, pesquisadores – enfim, um rol de diferentes pessoas – com o objetivo de debater e questionar tanto os métodos quanto a ética que permeia a publicidade e o consumo voltado para crianças e adolescentes, e quais os impactos que isso poderá trazer à nossa sociedade no curto e longo prazo.
Com um estilo influenciado pelos documentários de Michael Moore e, principalmente, Super Size Me, de Morgan Spurlock, somos apresentados primeiro a uma série de curtos depoimentos intercalados de crianças, pais, especialistas e até comerciais, que nos passam como é esse relacionamento entre as crianças e o consumo. Crianças dizendo, por exemplo, que preferem comprar do que brincar; uma garotinha que sabe de cor alguns comerciais e tem nada menos do que 22 pares de sapato; até mesmo o sentimento de frustração, não só dos pequenos como dos próprios pais, quando não têm os seus desejos atendidos; além de outras influências negativas, como um sentimento de alta competitividade, e fatores de inclusão e exclusão de grupos pela posse ou não de determinados produtos.
O documentário nos coloca alguns dados técnicos impressionantes, por exemplo, o de que o necessário para uma marca atingir uma criança é apenas 30 segundos. Ou até que 80% da influência de compra em uma casa parte das crianças. Some isso ao depoimento de uma menina, que diz o seguinte, ao ser indagada por que deseja comprar algo: “O motivo? Isso eu ainda não descobri. Só sei que eu quero”.
Especialistas dão a sua opinião sobre qual é o papel da publicidade, e se é ético direcioná-la para um público que não tem uma real capacidade de discernir e interpretar aquilo que está sendo apresentado a elas. O CONAR, sendo um órgão institucional, acaba por defender majoritariamente os interesses da própria atividade comercial que ele representa, e não o público e as pessoas afetadas pela publicidade.
Criança, a alma do negócio também nos aponta dados mostrando que o consumismo chegando mais cedo acaba por encurtar a fase da infância. Esta ideia culmina em um depoimento de uma “criança” de 13 anos, casada e na segunda gravidez. Esse depoimento é dado em tom natural, sem nenhuma intenção de chocar, inclusive com um ar infantil, o que é totalmente díspar em relação à situação que ela enfrentará de criar e educar um filho. Talvez ela não tenha estrutura para lidar apenas com ela mesma, sem auxílio.
Outros pontos são abordados, como a sustentabilidade, o papel dos pais tendo que lutar contra uma indústria bilionária, e até mesmo como isso pode influenciar na formação do caráter e dos valores desses jovens.
Criança, a alma do negócio nos faz refletir sobre a sociedade que estamos criando para o futuro. Nos faz avaliar o valor da publicidade e do consumo, e qual o impacto real dela sobre todos os indivíduos – não só do prisma das crianças, mas questionando a sua influência sobre nós mesmos, e se realmente queremos nos definir por aquilo que compramos para, aí sim, formar o que somos.
Cara, achei foda esse documentário. Me senti idiota quando vi as propagandas ali exibidas com outra ótica. O lance de ser explorada a necessidade humana de ser aceito em algum grupo social nós vemos no dia a dia, pra nós já é rotineiro tu dar uma votla de ônibus, de carro ou de bicicleta e ser bombardeado por propagandas, só que não fazemos idéia do quanto isso é violento pra uma criança.
Essa foi uma boa dica de doc.
Valeu cara, não tinha visto antes o seu comentário.
E realmente é bem isso, quando paramos pra pensar de verdade o real impacto de todo e qualquer tipo de propaganda na nossa vida, é de dar um nó na cabeça.
Ah, e legal o lance de dar notas também 😀
Achei o documentário super válido, as informações são concretas e temos sorte de termos vivido muitas mudanças em relação a publicidade voltada para as crianças. Porém não acho justo a culpa indiscriminada da publicidade pelos desejos infundados das crianças! O mundo atual emana consumo de todas as partes e não somente para crianças, é interessante notar o que um dos pais fala quando está no grupo conversando sobre os prováveis porques das crianças assistirem tanta televisão… os pais as empurram para um mundo de consumo onde é mais fácil dar coisas do que entender as pessoas e, no caso, seus filhos! Ela mesmo diz que eles, os pais, estão em uma busca desenfreada de trabalho, para quê? para consumir! para comprar uma casa melhor, um carro melhor, para dar coisas para seus filhos, eles dão o exemplo, eles ensinam a consumir para se sentirem melhores e pertencentes a sociedade.
Deveria haver um ensinamento por parte dos pais, acredito eu. Sei que educar e ensinar valores extremamente difíceis como esse, pois se torna uma batalha dizer para uma criança que não há uma necessidade de ter certas coisas, pode ser uma luta todos os dias, e os pais também tem que fazer sua contribuição de sentar-se e escutar os filhos e não somente o que eles querem (apesar que botá-los na frente da televisão por horas enquanto se faz qualquer outra coisa é mais fácil, né?)
Hoje em dia não há publicidade voltada para crianças na tv aberta e ruas (pelo menos na minha cidade faz muitos anos que não existe, de fato, mídia externa voltada para crianças) e então, porque elas continuam consumindo desenfreadamente e sendo o ponto principal de decisão de compra nas famílias?
É complicado, mas como um educador falou, ou psicólogo não me lembro, a luta dos pais contra uma industria bilionária, é uma briga perdida.
Há problemas dos dois lados, mas se por um lado é notadamente ruim a publicidade com viés infantil, não há defesa que justifique o uso da prática.
Independente da culpa ser dos pais, por negligenciarem a educação dos filhos, a publicidade para crianças acaba sendo um alvo muito fácil, justamente porque os publicitários entendem muito bem do publico em que eles estão mirando.
Mas há uma conduta na publicidade e na legislação que protege a criança, tanta que várias propagandas foram retiradas do ar por segurança e hoje não há, o que eu acredito ser o pior, publicidade relacionada a comida para crianças.
Somente em televisão fechada há uma grande gama deste tipo de publicidade, mas como são canais internacionais não existe lei no país que cubra ou proíba comerciais voltados para o público infantil!
Acho que é muito, E MUITO MESMO, em relação a educação. Poxa, cresci vendo uma imensidão de coisas e SIM, quis muitas, pedi muitas e me frustrei porque eu não as ganhava, porque havia pais, que mesmo trabalhando e não estando presentes o tempo todo sabiam dizer não. É muita liberdade pra pouco entendimento, as crianças tem que entender o que se despende para conseguirem o que elas querem, elas tem que saber que não é uma coisa que simplesmente SURGE do nada para alegrá-las.
Óbvio que eles sabem exatamente onde querem chegar com a publicidade, se não ninguém investiria nela. Há pesquisa de público, interação da própria agência, com crianças, no processo de pesquisa. A publicidade tem o lúdico de mexer com os sentidos, instigar o íntimo de cada um, fazer nascer o desejo e isso é desde sempre e sempre será, porque é como o ser humano funciona, não há uma NECESSIDADE real de consumo, consumimos porque somos consumistas. Você não precisa de 100 pares de sapato, você precisa de um, pra te calçar e proteger enquanto anda. Você não precisa de 300 peças de roupa das mais variadas, você precisa de um que lhe cubra e lhe proteja dos agentes externos, climáticos e afins… não é sensato, se pararmos para pensar, mas é assim, a nossa realidade.
São hábitos a serem mudados, são valores a serem ensinados, não é simplesmente culpar algo, é uma sociedade de grandes empresas querendo grandes lucros e milhões de pessoas buscando satisfação, realização, encontro, pertencimento e FELICIDADE através do consumo. Não é em uma mera propaganda que decide o que você compra, como você age, o que você busca com aquilo, é todo um background que te diz muitas outras coisas que você quer com os produtos. É simples pensar que não é tudo que você vê na televisão e em um outdoor que você compra, que você é atiçado a ter, o papel principal da publicidade é criar lembrança da marca, pra na hora que você for fazer uma compra decida entre uma marca e outra. O mesmo funciona pras crianças, não há limites porque elas não entendem todo processo de compra e ganho para realizar compras, e deve ser explicado, elas veem mil coisas e querem mil coisas e mudam MIL vezes de opinião, errado são os pais que dão o que elas querem e não explicam nada, porque é mais fácil dar algo material para uma criança do que perder meia hora brincando com ela e ensinando valores.
Eu sei que são opiniões radicais mas eu não acredito que haja essa possibilidade de jogar a culpa para um segmento somente.
Eu concordo com vc. Também não acho que devemos culpar apenas a classe publicitária pelas mazelas do mundo. Seria ridículo fazer isso.
Eu não vou entrar em argumentação sobre o cerne da publicidade porque definitivamente não é a minha. Porém, uma frase que você disse eu não concordo de jeito nenhum:
“não é sensato, se pararmos para pensar, mas é assim, a nossa realidade.”
É a nossa realidade hoje, não significa que sempre foi assim, e principalmente, que sempre será. Essa frase me soa como “lei não se discute, lei se cumpre”. Me desculpe, mas não, nossa realidade está ai, temos que encará-la e se algo está errado, ou pelo menos errado sob algum ponto de vista, devemos nos movimentar justamente para mudar o que nos incomoda, ou o que não é sensato.
Essa mudança, mesmo que pequena, pode vir justamente como você disse, da educação da criança ao saber que ela deve ter limites não só para consumo, como pra tudo. Só que inevitavelmente entraremos em aspectos do consumo em si, aliado a desigualdade social, pode vir a influenciar não só o comportamento da “família padrão”. Mas também os lares problemáticos (que são muitos), em que não existe qualquer suporte interno para as questões mais básicas de vida. Quem dirá para impor limites de consumo pra saber que ela não pode ter aquilo que vê um milhão de garotos usando, porque infelizmente nasceu na favela.
A publicidade é a “culpada” desse caso? Claro que não, é um problema social que não cabe a nenhum publicitário resolver. Mas também não podemos eximir as responsabilidades que cabem a cada um, e nesse caso, eu continuo com o meu ponto de vista, que uma ética publicitária seria a de não atacar alvos tão vulneráveis.