A história do Brasil é repleta de situações curiosas e tragicômicas e o papel do cinema é ,entre outros fatores, fazer uma revisão destes assuntos. A função de Caito Ortiz era de tentar remontar a polêmica questão da subtração da taça Jules Rimet, conquistada pela seleção brasileira de futebol no ano de 1970. O Roubo da Taça mistura ficção histórica com um estilo de comédia tipicamente italiana, que apesar de carregar toda a herança cultural do humor brasileiro, acaba por não lançar mão dos diversos clichês e arquétipos típicos dos filmes chanchadas recentes, não tendo no bordão seu maior trunfo.
Para contar essa história, o roteiro de Ortiz e Lusa Silvestre acompanha o curioso imberbe Peralta (Paulo Tiefenthaler), um flamenguista, fanático por futebol e com um sério problema de vício em jogo. Uma dívida que ele tem com um bandido local põe a ele a sua esposa Dolores (Taís Araújo) em perigo de vida, de modo que ele usa suas informações privilegiadas de dentro da CBF para furtar a réplica do troféu do tricampeonato, desencadeando assim uma série de eventos loucos, ora reais ora inventados.
O argumento do longa busca usar o velho jeitinho brasileiro como catalisador do caráter cômico inerente ao cidadão, sem necessariamente apelar para um auto comiseração desnecessária. Apesar de as participações especiais não apresentarem uma qualidade absurda em relação as performances, ao menos entre os protagonistas há uma clara inspiração, principalmente Araújo, Tiefenthaler e o parceiro de roubo Borracha (Danilo Grangheia), outro dos muitos personagens de pastiche que casam à perfeição com a proposta do humorístico.
A comédia poupa o público de escatologia e exploitation de linguajar chulo, fato que normalmente faz esconder a falta de substância da trama, ao contrário, este é um filme que é verborrágico em seus absurdos, fator que cai muito bem na produção, fazendo dele um diferencial entre o concorrido mercado de comédias vistos no cinema e fugindo de qualquer comparação com os sub produtos de Roberto Santucci e afins.
Caito é um diretor habilidoso, mas em alguns momentos, seu filme carece de um ritmo melhor. A duração de noventa minutos aproximadamente acaba por ter deixar o filme curto, especialmente para o seu potencial. As sub-tramas tornam-se corridas, mas não rasas, e certamente as consequência de cada ato não acabam tendo tanto impacto quanto poderiam, o que é certamente uma pena.
Em tempo, a direção de arte e fotografia são acessórios de luxo no filme. O Rio de Janeiro boêmio e pé sujo é muito bem representado em O Roubo da Taça, assim como toda a alma de biscateiro típica dos personagens clássicos da cidade maravilhosa visto nos contos de Nelson Rodrigues. Um filme que tinha tudo para ser mais um genérico da Globo Filmes surpreende por ter uma qualidade cinematográfica ímpar, mesmo que não seja escandalosamente engraçado.