As primeiras imagens do longa de Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti mostram um fogo abrasador, consumindo um mapa antigo, aliado a um trabalho de som muito forte. A imagem remete a banalidade que a geografia teria sobre os destinos humanos, fator que ajudaria a reverenciar outro aspecto importante para a trama, que é o tempo. O Último Trago tem sequências iniciais bastante viajandonas, mostrando o homem e a mulher em seus estados mais primitivos, ainda que tenha nessas sequências elementos e traços da modernidade.
A trama viaja no tempo e utiliza arquétipos do interior do Brasil, comum em vários estados do Sudeste e Nordeste brasileiro, em um ambiente árido e ermo, cujo maior evento dentro do lugarejo são as noites regadas a cachaça nos botecos. Entre os detalhes visuais mais notórios, há o uso indiscriminado de tatuagens tribais, que remetem a identidade indígena do povo brasileiro. Os mergulhos no ideário de homens e mulheres revela não só a credulidade e o misticismo, mas também um ardente desejo de auto conhecimento.
Há uma leve semelhança espiritual e de caráter entre este filme e o recente O Abraço da Serpente, especialmente no tema vidas passadas e encarnações. Os ângulos obtusos em alguns momentos falam até mais que os diálogos e situações de história, que por si só não acrescenta muito. Os fatores interessantes no filme envolvem o burlesco e o transcendental, já que toda a parte normativa soa um pouco banal, com representações dos sentimentos pueris e pouco adultos.
A parte final dedica um bom tempo a mostrar viagens no tempo e detalhes sobre mediunidade e uma discussão sobre espiritualidade e vidas pregressas. Apesar de conter alguns momentos de inspiração, o todo é mais notório por sua forma do que por seu conteúdo, o que é uma pena, visto a qualidade da fotografia e potencial de uma boa história, obviamente não alcançado neste O Último Trago.