Partindo de uma curiosa parceria entre Diablo Cody – escritora responsável pelos roteiros de Juno e Garota Infernal – e o diretor Jonathan Demme, Ricki and Flash: De Voltan Pra Casa é mais um drama que se vale de arquétipos musicais e de um astro para valorizar uma história simples, sem grandes aprofundamentos morais, usando o carisma como chamariz principal de sua estrutura narrativa.
Ricki, ou Linda Brummel, é interpretada pela premiada Meryl Streep, que consegue exibir inspiração e alcance vocal de maneira bastante promissora, com um caráter eclético atroz, afastando-se da imagem do recente Caminhos da Floresta e do não tão contemporâneo Mamma Mia. Desde o princípio, o personagem parece resignado, atormentado por seu passado e de certa forma arrependido, ainda que em cada canção que execute haja uma forte carga de emoção destilada, artifício somente comum a quem trabalha com a sua paixão. A presença de Ricki e de sua banda The Flash em um pequeno bar, sem o glamour e holofotes dos rockstars faz diferir a premissa da obra do recente Não Olhe Para Trás, com Al Pacino, ainda que a personagem de Streep tenha um drama bem semelhante ao de Danny Collins, especialmente em relação ao drama familiar.
Falida de uma forma que não preserva qualquer traço de romantismo, e que claramente exala o aroma de fracasso, Ricki recebe o chamado da aventura convocada por seu ex-marido, Pete Brummel (Kevin Kline) para socorrer Julie (Mamie Gummer), sua filha que recentemente se divorciou. Em sua cidade natal, Ricki volta a ser Linda, e inicia uma trajetória de reconstrução de seu passado, confrontando traumas e fantasmas, tendo que assumir seus próprios erros e abandonos do passado, mas não sem travar uma nova trajetória, repleta de bordões típicos do gênero de filmes de superação, estabelecendo assim uma rota agridoce.
Apesar de ter uma porção exagerada de clichês, o roteiro de Cody consegue estabelecer uma relação de rivalidade entre o life style da pretensa roqueira com a bela vida familiar normativa dos Brummel, já que, fora do eixo das apresentações, nada funciona bem, exceto pela química nostálgica de Streep e Kline, retirada de A Escolha de Sofia, para ser reaproveitada em uma nova década e em uma proposta bastante diferenciada.
Ainda que haja uma uma grande quantidade de personagens pré-fabricados – especialmente os do núcleo familiar de Linda -, Ricki and the Flash – De Volta ao Lar consegue fazer referência às sensações nostálgicas de quem já tencionou cortar a estrada do sucesso e que fracassou nesta jornada. As atitudes de Ricki condizem com toda a construção de sua personagem, tendo sua lógica ratificada por cada reviravolta do roteiro, mesmo que estas teimem em contradizer o argumento. Apesar de bastante aquém dos melhores momentos de Demme na direção, o produto final é simpático, funcionando perfeitamente como diversão descompromissada.