Rindo a Toa é um documentário do trio Cláudio Manoel, Álvaro Campos e Alê Braga, o mesmo que havia feito Tá Rindo de Que?. Esta obra é parte da trilogia que estuda o humor e comédia no Brasil, portanto é continuação do anterior citado, e seu ponto de partida é a abertura política do Governo Militar, nos anos oitenta, e a saída dos militares do governo, gradualmente.
A partir desse momento histórico, de abertura, pode-se finalmente fazer humor que não era o de costume ou ao menos era isso que se pensava e alguns movimentos ganharam espaço e notoriedade, como o Planeta Diário, que só existiu graças ao Pasquim e ao fato de alguns dos seus redatores terem passado pelo outro jornal, e outro grupos de comunicadores, que tinham entre eles Marcelo Tas e Fernando Meirelles, que culminaria aí na criação do repórter Ernesto Varela. As origens destes dois causos são bem desenvolvidos, falado um pouco sobre os problemas dos mesmos, que às vezes extrapolavam nas brincadeiras, e que contavam ainda assim com uma boa paciência dos alvos das piadas, por conta da antiga censura, com medo de que ela voltasse.
Já os membros da antiga Casseta Popular afirmam que tinham influência de Monte Python e misturavam esse estilo com a troça que faziam com o Partido Comunista (o Partidão), do qual boa parte deles era afiliado. A junção deles com o Planeta Diário é revelada como ideia de Paulinho Albuquerque que sugeriu a eles um show de humor com musicas, esquetes e piadas sobre a atualidade, se exibindo no Jazz Mania, e depois no Teatro Ipanema e Canecão.
A parte que se fala do teatro que Asdrúbal fez e suas manifestações na televisão, com Tv Pirata, Armação Ilimitada e Programa Legal misturam também a cena de rock’n roll, a carioca, com a Blitz, e a de São Paulo com o Ultraje a Rigor. É legal que o filme se debruce sobre tantos assuntos, mas nota-se que alguns segmentos são melhor estudados que outro, não só por soarem mais interessantes, mas também porque algumas delas tem análises mais profundas. Entender como a Globo digeriu a ideia da TV Pirata e como pensou-se em fazer esquetes sem bordões – mesmo com reclamações de Chico Anysio e outros veteranos da comédia – é bem mais curioso que a contribuição que Roger Moreira e seu Ultraje a Rigor fizeram. Poderia se dedicar um pouco mais de tempo a Joelho de Porco ou Premeditando o Breque, brevemente citados por Marisa Orth. Ainda assim, há de se valorizar o esforço dos documentaristas em fazer todo o panorama da graça popular brasileira.
Na parte em que se analisa Hermes e Renato, dois dos integrantes destacam não só o caráter de Self Made, de um humor sem muito peso cultural, pois não eram os rapazes de Petrópolis, ditos pelos próprios como “humor de pedreiros”, e nesse ponto é que abre outra discussão, a respeito do politicamente correto e se o humor tem ou não lado político. Manoel, Campos e Braga sabem equilibrar bem os lados. O formato mais clássico do documentário permite a tentativa de soar isento, deixando os humoristas falando o que querem, deixando o público decidir seu ponto. Apesar de não ousar tanto, Rindo à Toa tem o mesmo clima leve do primeiro, e acerta os mesmos pontos de Tá Rindo de Quê?, expandindo bem o estudo e causando curiosidade sobre como serão os rumos do próximo capítulo da trilogia, que ainda há de ser rodado, um desafio que certamente exigirá que seja esse sim mais ousado que estes dois, especialmente no que tange o fato do humor ficar datado e/ou anacrônico, fato que dificilmente ocorrerá dado que os dois outros são bem chapa branca.