Mark Burton e Richard Starzak dão à luz a animação Shaun – O Carneiro, focada no personagem título e no rebanho que tradicionalmente o acompanha na fazenda. Cansado de ser tosquiado rotineiramente, o personagem – dublado por Justin Fletcher – começa a tencionar novos rumos, planejando uma audaciosa fuga da rotina de execução bem simples, seguindo o passo de como seus produtores conduziram a animação.
O roteiro é bastante formulaico, apresentando todas as etapas da jornada de libertação das ovelhas em busca de novos ares. O texto se baseia em uma série televisiva homônima, criada por Rick Park, o mesmo responsável por animações anteriores como Wallace e Gromit e Fuga das Galinhas. A escolha por não compreender diálogos praticamente, exceto por balbucios, demonstra que o caráter do filme é ligado a uma faixa etária mais baixa do público infantil, mas que em momento nenhum repele a atenção do adulto mais exigente, já que as situações pitorescas refletem também o lugar comum do homem moderno.
O ambiente estabelecido no campo revela além de uma abordagem bucólica da Europa, mas também a possibilidade de um universo compartilhado entre as animações de Park, já que todas as desventuras de seus personagens se passam em ambiente e sítio, ou tomam este lugar como ponto de partida.
A relação entre os animais e o Fazendeiro (John Sparkes) é bastante curiosa, tendo por princípio uma troca de exploração, passando por uma interdependência que soa harmoniosa e não forçada, uma vez que há ligação sentimental entre as partes nos pouco menos de noventa minutos do longa metragem. Todas as viagens que o roteiro oferece em relação ao personagem humano de maior destaque apresentam um mundo de possibilidades normalmente sonhado por quem habita a vida inteira no campo, valorizando, por fim, o bucólico e a simplicidade do companheirismo presente no dia a dia de quem tira da própria terra o seu sustento.
Os momentos finais do filme se valem de uma figura vilanesca improvisada de última hora, que serve basicamente para dividir o cunho heroico entre o humano e seus animais, que não só lhe provém como causam espécies de sentimentos muito caros e estimados. A docilidade do desfecho passa longe de ser incômoda, assim como a quase total ausência de diálogos, surpreendendo o espectador em quanto a sua história se vale do visual, sem subestimar sequer a parcela infantil de seu público.