Certos diretores são conhecidos como donos de um estilo particular que buscam uma abordagem subversiva de seus temas, desenvolvendo discussões morais em suas obras e nos elementos existentes dentro de seus filmes. Destacam-se como representantes desse estilo Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick, Ridley Scott e, como não poderia deixar de ser: David Fincher. Dono de uma estética ímpar, Fincher alia um perfeccionismo técnico a temas niilistas, repletos de personagens moralmente ambíguos, tudo isso em sua lente fria e (quase) sempre em movimento.
Nascido em 1962 na cidade de Denver, no Estado do Colorado, Fincher se mudou ainda jovem para a Califórnia. Seu pai, Howard Fincher, escritor e jornalista, trabalhou na revista LIFE, enquanto sua mãe, Claire Mae, era enfermeira responsável por um programa de dependentes químicos. Aos dezoito anos de idade já trabalhava para os estúdios da George Lucas Industrial Light and Magic, tendo trabalhado em filmes como Star Wars: O Retorno de Jedi e Indiana Jones e o Templo da Perdição nas áreas de efeitos especiais.
Pouco tempo depois, desenvolveu uma carreira prolífica como diretor de comerciais televisivos trabalhando em marcas como Coca-Cola, Nike, Levi’s, entre outras. Posteriormente migrou para a área de videoclipes, onde também obteve grande reconhecimento, tendo atuado com artistas do calibre de Rolling Stones, Madonna e Michael Jackson. Fincher foi um dos primeiros diretores a migrar da propaganda para o cinema, como outros fariam depois. Essa passagem foi importante para sintetizar não só sua ideia de edição, com cortes rápidos típicos de comerciais, como também a fusão de trilha sonora ao roteiro.
Como diretor debutou no cinema em 1993, no contestado e mal recebido Alien 3. Apesar da crítica negativa, muitos entenderam os problemas pelo qual o diretor sofreu devido as constantes interferências do estúdio e identificaram elementos que se repetiriam em seus futuros filmes como a discussão da moralidade, a estética clínica, fria e muitas vezes angustiante, além do fascínio por tecnologia e o uso de câmeras inovadoras, como o caso da steadicam no final de Alien 3 que simula a perspectiva do Xenomorph enquanto atravessa túneis e obstáculos em velocidade e agilidade surpreendentes.
Dois anos depois, dirigiu Se7en e provou não só aos críticos e ao público, mas a si mesmo, que não seria apenas mais um. Pelo contrário, seria uma voz inovadora no mundo cinematográfico dos anos 1990 até os dias de hoje. Sua filmografia tem uma estética própria, trabalhando sombras dramáticas, alto contraste e baixa iluminação em locações exóticas e remotas. O diretor traz personagens desesperados, fracos moralmente, quase heróis arruinados, e os ambienta em um universo cruel, repleto de fatalismo, injustiças, em temas que remetem ao cinema noir, tendo ainda a violência como um foco dentro de suas histórias, quase sempre como repulsa. A ansiedade é uma crescente não só em seus personagens, mas no próprio espectador, uma sensação de ir contra o próprio destino. Suas câmeras subjetivas e o trabalho de edição, mixagem e trilha sonora tem tanta importância quanto o próprio roteiro que o cineasta desenvolve, talvez por conta de sua iniciação nos videoclipes.
Fincher continua provando que é um diretor inventivo e uma voz dissonante dentro dos enlatados hollywoodianos.
Filmografia:
(1992) Alien³ – Versão Estendida
(1995) Se7en: Os Sete Crimes Capitais
(1997) Vidas em Jogo
(1999) Clube da Luta
(2002) O Quarto do Pânico
(2007) Zodíaco
(2008) O Curioso Caso de Benjamin Button
(2010) A Rede Social
(2011) Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres
(2014) Garota Exemplar
(2020) Mank
Séries:
(2013) House of Cards
(2017) Mindhunter – 1ª Temporada
(2019) Mindhunter – 2ª Temporada
Atualizado até dia 07/01/2021.