Dica Cultural será uma coluna, ainda sem periodicidade definida (tenham paciência), onde poderemos conversar mais franca e diretamente com o leitor e espectador, sem rodeios, sendo esse um espaço para dar dicas sobre coisas legais a serem consumidas e apreciadas por vocês.
Para um primeiro episódio, decidi indicar um podcast, na verdade, uma série específica em um podcast: Memórias, um segmento que resgata histórias clássicas, narrada e produzida pelo jornalista e grande influenciador Rodrigo Alves, no seu não menos brilhante podcast Vida de Jornalista, veiculado na Rádio Guarda-Chuva.
Esse é um podcast independente que trata de bastidores do jornalismo. O clima é informal, normalmente cobrindo algum grande evento ou acontecimento curioso. O diferencial é a maneira prosaica e íntima com que Rodrigo leva a conversa. Não é raro que o ouvinte se sinta parte da ação ou da conversa ao dar play em algum dos episódios.
Na parte final de 2021, Alves reeditou os episódios antigos, melhorando a qualidade do som. No entanto, não é a forma que mais chama a atenção em Memórias, e sim o conteúdo, já que são historias absolutamente deliciosas ou angustiantes, a depender do que a pauta exige. A primeira temporada foi lançada em 2019, e tem oito episódios, com assuntos como o Césio 137 em Goiás, o caso do Ônibus 174 no Rio de Janeiro, a cobertura do Tricampeonato Mundial do Brasil, crimes “como o Caso Eloá e da Irmã Dorothy, a Epidemia de Ebola, o caso do acidente de avião da Chapecoense, e claro, o season finale sobre a Guerra do Vietnã, com José Hamilton Ribeiro.
Conheci Rodrigo Alves como comentarista de jogos de basquete, da NBA nos canais Globo. Depois da temporada da Bolha em Orlando (2019-20), ele resolveu sair dos canais para se dedicar com exclusividade ao seu podcast solo — na época ele fazia ainda o igualmente brilhante podcast de basquete Dois Pontos, com Rafael Roque.
Falando assim parece que Rodrigo é “apenas” um mero jornalista esportivo, dado que a classe é conhecida por ser alienada em relação ao que não envolve o campo (ou quadra, no caso do basquete) e bola. Alves foge dessa regra, se junta ao saudoso João Saldanha, aos veteranos ainda na ativa José Trajano e Juca Kfouri, e os contemporâneos de Alves, Mauro Cezar Pereira e Paulo Vinícius Coelho, o PVC. Apesar da predileção em falar sobre esporte, é em Memórias que mora seu maior mérito.
Dos episódios, os que mais me marcaram foram o da tragédia da Chapecoense, até por conta do lado pessoal, já que amigos jornalistas morreram na queda do avião. Outro marcante foi o Caso Eloá, que denuncia a espetacularização da violência, que resultou na morte da vítima, mas é o relato de Hamilton Ribeiro sobre a cobertura da Revista Realidade a respeito do conflito no Vietnã que chama a atenção pelos detalhes relatados.
Tudo é muito detalhado e se destaca as dificuldades mundanas das pessoas, em especial dos jornalistas. Apurar, correr atrás, conversar com fonte, investigar, tudo isso é feito por gente de carne e osso, e todos os relatos, até nos assuntos de maior frieza, se preza demais pelo relato humano.
O podcast Vida de Jornalista está em diversas plataformas de áudio, e a série Memórias também está correndo, com uma nova temporada, que já iniciou ótima, com um episódio sobre a Chegada do Homem a Lua, Os meninos da Caverna e Casimiro e o Disco Voador, e seguirá assim, para uma nova leva de capítulos.