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  • Resenha | Amor Imortal – Volume 1

    Resenha | Amor Imortal – Volume 1

    Os vampiros estão em ascensão na cultura pop, e nunca um “gênero” foi tão explorado nos últimos anos como é o caso dos sanguessugas. Não importa onde você olhe, lá estão eles: cinema, TV, animações, literatura, games, e logicamente, os quadrinhos, como acontece com a HQ Amor Imortal, de Tomm Coker e Daniel Freedman.

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  • Crítica | Abaixo de Zero

    Crítica | Abaixo de Zero

    Em 1985, Bret Easton Ellis chocou todo um público quando lançou seu primeiro romance “Less Than Zero” (Abaixo de Zero na tradução nacional), o qual mostrava de uma forma diferente, pessimista e quase agressiva a classe de pessoas com maior poder aquisitivo na sociedade. Em 1987, o diretor Marek Kanievska faz uma adaptação homônima e leva a visão de Ellis para os cinemas.

    Abaixo de Zero conta a história de três jovens que se formaram juntos no Ensino Médio: Julian (Robert Downey Jr.), Clay (Andrew McCarthy) e Blair (Jami Gertz). Após vários anos distante de seus amigos, por ter ido para a Universidade, Clay é chamado por sua ex-namorada, Blair, para visitá-los. Chegando de volta à sua terra natal, Clay encontra seu amigo Julian completamente entregue ao vício por drogas e tenta ajudá-lo.

    A primeira coisa a se dizer de Abaixo de Zero é que o filme é um soco no estômago. Marek é bem sucedido ao adaptar a realidade de jovens ricos, mas que se entregam a uma vida de sexo e drogas em excesso, ausentes de qualquer esperança. É exatamente isso que se trata este filme: a falta de esperança. Esta ganha forma pelo fato de que é praticamente impossível fazer um viciado largar o seu vício.

    O filme apresenta várias cenas significativas que constroem a atmosfera decadente da narrativa. A atuação de Robert Downey Jr. é arrebatadora ao interpretar Julian que, além de viciado, foi expulso de casa e está devendo uma grande quantia em dinheiro para seu traficante. Seu personagem vai se mostrando cada vez mais ao longo do filme, mostrando devagar ao expectador o quão fundo ele está dentro do poço e o que faz para conseguir um pouco de droga. Os sentimentos são fortes e expressivos por parte do ator a retratar tudo isso. McCarthy e Gertz não são excepcionais, mas cumprem uma atuação satisfatória para seus personagens, desesperados ao ver um amigo decadente e tentando ajudá-lo.

    Toda essa decadência do personagem Julian se contrapõe, durante toda a extensão do filme, com as ambientações de Los Angeles, Bel Air e Palm Springs. Mansões, ruas limpas, carros caríssimos, glamour. Dentro de todo esse lugar visualmente intocável, a existência de elementos de podridão. Jovens que representavam “o futuro da nação” completamente entregues à aceitação da decadência de suas vidas.

    Abaixo de Zero é forte e expressivo. Todos os elementos do filme são muito bem colocados em sintonia com sua narrativa, o que o torna mais significativo ainda.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    Ouça nosso podcast sobre Bret Easton Ellis.

  • VortCast 21 | Bret Easton Ellis – Niilismo, Sexo e Psicopatas

    VortCast 21 | Bret Easton Ellis – Niilismo, Sexo e Psicopatas

    Vortcast 21 - Bret Easton Ellis

    Bem-vindos à bordo. Nesta edição, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Isa Sinay (@isasinay), Jackson Good (@jacksgood), Pedro Lobato (@pedrolobato) e Mario Abbade (@fanaticc) comentam sobre as adaptações para o cinema das obras literárias do escritor norte-americano, Bret Easton Ellis. Os valores sociais são colocados em cheque na visão niilista e distópica do autor, tudo isso em um mundo rodeado de sexo, drogas e rock and roll!

    Duração: 92 mins.
    Edição: Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira

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    Comentados na edição

    Crítica Abaixo de ZeroCompre aqui
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    Crítica Regras da AtraçãoCompre aqui
    Crítica Informers – Geração PerdidaCompre aqui

    Bibliografia do autor

    Abaixo de Zero (em português)
    Regras da Atração (em inglês)
    Psicopata Americano (em português)
    The Informers (em inglês)
    Glamorama (em português)
    Lunar Park
    (em português)
    Suítes Imperiais (em português)

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  • Crítica | O Segredo da Cabana

    Crítica | O Segredo da Cabana

    O ano de 2012 foi excelente para Joss Whedon. Ao mesmo tempo que foi super aclamado pelo roteiro e direção em Os Vingadores, escreveu uma excelente história de terror que, não por acaso, tem conquistado uma legião de fãs.

    Ao se tratar de um filme de terror, saber menos é sempre mais interessante. Confesso que raramente leio sinopses de filmes com medo de descobrir detalhes antes de assistir ao filme. Assim, o que conheci de O Segredo da Cabana foi um belo poster que brincava com a ideia de uma cabana para montar, como um cubo mágico, e notícias afirmando que era uma produção recomendada para se assistir pela excelente história. Considerei o panorama atual do terror focando os grandes estúdios, indagando-me se seria mesmo um argumento tão interessante ou apenas um burburinhos de críticos tentando levantar um filme com má qualidade.

    É difícil apresentar sua sinopse sem apresentar nenhum detalhe específico que estrague a diversão. Portanto, é necessário saber apenas que o filme é uma homenagem aos filmes de terror. Com grande apuro, Whedon revisita o conceito de terror, principalmente a vertente atual, e, ao mesmo tempo que compõe sua trama, estabelece uma homenagem crítica. Se tornando complicado catalogá-lo como um mero filme de terror, pois sua narrativa quebra este conceito diversas vezes, ainda que o medo prevaleça como sensação primordial.

    A ambientação está presente, a maneira parcial de apresentar a história e com isso aterrorizar o público também. O diferencial é a potência da história implícita no meio assustador. Caminhando de segmento a segmento, o diretor realiza uma trama que tem sua história mas é, ao mesmo tempo, todas as histórias de terror. Não sendo exagero chamar esta excelente produção de um meta filme, dialogando com o próprio gênero.

    Mais do que criar uma teoria sobre o gênero do terror, como algumas personagens de outros filmes fazem, Whedon coloca a própria teoria em prática, o que explica porque a produção conquistou tanto público. A maneira fluida que conseguiu encaixar a crítica, dentro da história de terror, completa o filme além produzir genuína tensão no público. E nos fazendo inferir que talvez o terror de hoje está esgotado e precise de renovação.

    Infelizmente, a produção não será lançada nos cinemas brasileiros. Foi programada mas a Universal decidiu lançá-lo direto em home video em breve. Uma pena, pois produções de terror sempre tem boa recepção de bilheterias e uma história como essa mereceria ser vista na tela grande.

  • Crítica | O Último Grande Herói

    Crítica | O Último Grande Herói

    A década de noventa marcou auge e decadência dos brucutus. Vindos principalmente dos anos oitenta, realizaram bons e rentáveis filmes até então. Porém, os gêneros começaram a mudar seu paradigma, quebrando barreiras internas e o estilo machão em um filme de ação violento perdeu parte do prestígio. Van Damme, Stallone e Schwarzenegger, depois de sucessos como O AlvoRisco Total e Exterminador do Futuro 2, respectivamente, viram o sucesso de suas carreiras minguando aos poucos.

    A grande problemática de O Último Grande Héroi é a época de seu lançamento. O filme é um misto de comédia com ação, desenvolvendo a descrença do exagero destas produções ainda populares. Na época, a barreira entre gêneros ainda era alta, não houve espaço e aceitação para uma história que brincava tão explicitamente com tais mundos. O mesmo Scharza repetiria a sátira em outro estilo, no excelente True Lies.

    Vilões caricatos, heróis quase imortais, são aceitos hoje como um alívio cômico. Não se leva mais a sério pela tendência realista do cinema contemporâneo. Evidente que há exemplos isolados, tanto do realismo, como de um elemento mais híbrido. Porém, hoje se tornou um padrão que somente o tempo transformará.

    Assistido com distanciamento, a produção teve bom envelhecimento. A trama brinca com a fantasia de todo garoto em conhecer o seu herói favorito de ação. Ao ganhar um bilhete mágico para seu filme preferido, o garoto Danny Madigan atravessa para o mundo fictício do enredo. O estranhamento de situar-se em um mundo regido por outras leis é evidente. Armas possuem tiros limitados, heróis não sangram e sempre estão dispostos para mais um golpe. A ação se concentra boa parte neste ambiente até que o reverte com a chegada das personagens no mundo real, realizando outro golpe, dessa vez evidenciando como é difícil ser um mocinho na vida real.

    Sem perder a ideia de um entretenimento, o filme promove uma reflexão de seu próprio tempo e acabou por prever como o cinema pipoca se comportaria na década seguinte. Elementos que hoje apresentam alguns sinais de cansaço e que, muito provavelmente, também começarão a ser deixados de lado, à procura de outra inovação.

    Mesmo a metragem um tanto extensa, não tira o divertimento deste filme que falhou em seu lançamento, mas que hoje tem mais significado do que em sua época.

  • Crítica | Regras da Atração

    Crítica | Regras da Atração

    Regras da Atração, baseado no livro homônimo de Bret Easton Ellis e dirigido por Roger Avary e considerado um dos trabalhos mais significativos do mesmo como diretor. Assim como os demais trabalhos de Ellis, vai se focar em uma geração perdida e vazia, de jovens ricos, os quais se entregam às drogas e ao sexo.

    A história do filme vai se envolver nos conflitos e confusões amorosas de alguns jovens: Sean (interpretado por James Van Der Beek), traficante de drogas na universidade de New Hampshire, o qual é apaixonado por Lauren (Shannyn Sossamon), que está guardando sua virgindade para Victor (Kip Pardue), o qual já namorou Paul (Ian Somerhalder), que por sua vez só possui olhos para Sean.

    Durante toda a narrativa, somos apresentados aos fatos através dos olhos de Sean, Lauren e Paul, muitas vezes inclusive repetindo algumas cenas com o intuito de mostrar as mesmas situações, mas dos olhos de cada um deles. Essa é a primeira coisa a se dizer sobre o filme, o qual explora esses momentos com vários recursos divertidos e muito válidos à trama. Temos a “rebobinação” de cenas e o uso de “Split-screen” (tela dividida em duas). Em uma das cenas, duas câmeras se encontram e se unem a partir do momento em que Sean e Lauren se encontram também. Alguns momentos do filme são muito significativos e mesclam bem ao jogo de câmeras utilizados.

    Alguns podem achar que se trata de mais um filme do estilo de “American Pie”, mas aqui cabe uma ressalva, pois Regras da Atração não busca apenas mostrar o lado divertido da vida de jovens pansexualistas. Breast Easton Ellis é conhecido por retratar uma geração vazia de uma juventude entregue aos prazeres e a efemeridade da vida.

    Por mais que Regras da Atração possua esse lado divertido, temos situações que beiram o desesperador. Sean recebia cartas de uma admiradora secreta, a qual acreditava ser Lauren. Em determinado momento do filme uma garota completamente desconhecida ao espectador se mata em uma banheira, em uma das cenas de suicídio mais significativas que pude ver em filmes – e não pelo explícito da cena, mas pelo o que ela passaria a significar. Em flashbacks o diretor nos mostra a garota em dezenas de cenas anteriores do filme, porém em posições secundárias. Avary nos faz sentir que assim como Sean havia ignorado a a existência da sua real admiradora secreta no seu dia a dia, nós também a ignoramos. Os espectadores eram cúmplices de Sean ao fazê-la se sentir extremamente solitária, perder as esperanças e se matar.

    Tudo o que acontece leva a um fim onde todos os personagens acabam se entregando para a própria decadência e se conformando com ela. Regras da Atração é uma jornada a um mundo de jovens irreverentes e sem escrúpulos. As atuações são significativas para somar positivamente à narrativa deste filme. Avary adaptou muito bem os sentimentos, os quais Ellis é conhecido por passar em suas obras.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    Ouça nosso podcast sobre Bret Easton Ellis.

  • Resenha | Do Jeito Que Você Gosta – William Shakespeare

    Resenha | Do Jeito Que Você Gosta – William Shakespeare

    do_jeito_que_voce_gostaO maior escritor da literatura universal. Completo. Ilimitado. Gênio. Estes são alguns exemplos dos muitos superlativos que o inglês William Shakespeare conquistou por conta de sua grandiosidade e excelência, tanto no teatro como na poesia – potencial inversamente proporcional à habilidade deste crítico, que procura um senso mínimo para expressar ao menos uma parcela do significado do autor nas artes.

    A marca de Shakespeare na literatura é definitiva, até hoje sendo referência como leitura, objeto de estudo, citações ou releituras. O distanciamento temporal, acrescido da falta de material histórico a seu respeito, produz dúvidas quanto a quem foi o homem por trás do mito, dando espaço para teorias conspiratórias que, de qualquer maneira, nunca negaram o óbvio. Shakespeare é um escritor ímpar. Suas peças eram populares, apresentadas para diversas parcelas da população. Hoje em dia parece estranho conceber esta façanha, em um país em que a cultura, principalmente o teatro, se desenvolve em eixo e tenta ser elitista. Ainda assim, encontramos sempre em cartaz uma interpretação de suas peças.

    Todas as obras do dramaturgo estão disponíveis em nossa língua, com mais de uma tradução. Há desde traduções mais clássicas, que rebuscam desnecessariamente a linguagem, a obras de estudiosos shakespearianos que se esforçam para não perder o estilo original e são bem-sucedidos na empreitada. Porém, nenhuma delas tem como função primária compreender o texto como material para uma peça teatral: ao se ler uma peça de teatro, os leitores devem levar em conta que apreciam apenas parte de uma intenção maior. O texto de um drama pode ser suficiente para produzir excelente literatura, mas só alcança a plenitude quando encenado.

    A Balão Editoral, em parceria com a Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, lançam no mercado uma nova tradução de As You Like It, tida como uma das comédias maduras do dramaturgo. A companhia dedicou-se a estudar e discutir a obra do bardo e, em uma ação coletiva, traduzir a peça a partir do original, sem perder o estilo e a eficiência para o teatro.

    O título foi versado como Do Jeito Que Você Gosta, mantendo a intenção de uma comédia popular que explicita a composição da história ao gosto do povo. A peça é chamada também de “a comédia de Rosalinda”, por ser esta a personagem central responsável por boa parte do elemento cômico em cena.

    A trama se desenvolve em dois polos, evidenciando um estilo duplo que permeará toda a história. De um lado, um duque e sua filha que usurpou o poder de outro e o baniu do reino; de outro, um irmão que, mesmo orientado pelo testamento do pai a cuidar do irmão mais novo, o trata como um mero empregado. É a partir desse conflito, e do descontentamento das personagens, que nasce o riso.

    Shakespeare desenvolve o conceito de que o poder, movido por desejos pessoais, sempre corrompe, enquanto no desapegar dos bens – principalmente em encontro com a natureza – seria possível reencontrar-se uma harmonia. A peça retoma um dos conceitos primordiais do dramaturgo, que sempre fundamenta o palco como um exemplo da própria vida em que cada um, movido por seus atos e falas, é responsável por um enredo, dando voz a personagens que, dentro da sociedade, são periféricos – como o bobo da corte, a personagem mais sã e sábia da história, em analogia aos que se dizem nobres mas são os mais cegos do reino.

    Seu estilo é simples, mas repleto de uma sutileza poética emocionante. Suas personagens possuem a língua afiada e sempre estão dispostas a nos presentear com reflexões breves sobre o momento em que estão. Escrito concentrado na ação e nas palavras das personagens, há poucas referências cênicas em suas peças, fazendo da leitura um espaço mais imaginativo para o leitor e, nos palcos, dando fluidez para que encenadores contemplem a cena da maneira que acharem mais conveniente.

    A edição da Balão Editorial, além da excelente tradução (que contém poucas adaptações, todas explicadas pela equipe), conta com uma introdução do diretor artístico da companhia, Marcelo Lazzaratto, explicando a concepção da adaptação, e uma entrevista com os atores tradutores da peça. Além disso, o livro vem também com um marcador de páginas que lista as personagens, uma simples, porém excelente, ideia que facilita o acesso do leitor a elas, sem a necessidade de, caso esqueça quem é quem, voltar ao começo do texto.

    O projeto da Cia. De Teatro Panorâmico com a Balão Editoral é um interessante conceito que poderia ser apenas o início para que a editora fundamentasse uma coleção com traduções de companhias teatrais, além de enriquecer o cenário da dramaturgia brasileira. Mesmo que alguns leitores fiquem incrédulos, ler uma peça teatral é sempre prazeroso. No caso de uma obra como a de Shakespeare, tão múltipla, nunca é demais ler ou reler.

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  • Resenha | Casanova: Luxúria

    Resenha | Casanova: Luxúria

    “Bem-vindo ao mundo de Casanova! Cornelius, seu pai, é o diretor supremo da I.M.P.E.R.I.O., uma força-tarefa internacional que mantém brutalmente a paz e a ordem por toda a Terra. Sua irmã gêmea, Zephyr, é a principal agente da I.M.P.E.R.I.O. e investiga uma perturbação no tecido do continuum do tempo-espaço.

    Todo o planeta está sob a jurisdição da família Quinn; toda lei é cumprida por sua vontade. E Casanova Quinn pretende destruir todos eles ao mesmo tempo…”

    Casanova: Luxúria é o primeiro arco desta série, sucesso de crítica nos EUA e Europa, assinada pelas mãos de Matt Fraction nos roteiros e Gabriel Bá (Daytripper) na arte. Somos apresentados a uma história de ficção científica de espionagem, recheada de humor, conspirações mundiais e espionagem ao melhor estilo James Bond. Impossível não comparar o carisma de Casanova Quinn com o 007 de Sean Connery.

    A arte de Gabriel Bá, responsável pelas ilustrações do premiado Umbrella Academy, é fluida e se encaixa perfeitamente à história proposta por Fraction. As belíssimas cores de Cris Peter criam harmonia para a arte de Bá, tornando-a mais significativa ainda no contexto da história. Ao final do encadernado, temos alguns comentários de Gabriel Bá e Cris Peter contando como foi escolher a paleta de cores e de que forma ela contribui para a narrativa.

    Tirando o preço alto do encadernado, o material vale muito a pena não só pelo seu conteúdo, mas também pelo acabamento gráfico impecável realizado pela Panini Books. As aventuras de Casanova Quinn são bem-vindas em terras tupiniquins.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | A Sombra do Inimigo

    Crítica | A Sombra do Inimigo

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    Alex Cross – A sombra do inimigo é um misto de thriller de serial killer e filme de ação que nos conta a história do detetive Alex Cross (Tyler Perry). Durante as investigações de um sádico assassinato, ele se envolve em uma trama conspiratória ligada a poderosos empresários, trazendo consequências não apenas a ele e a seus companheiros de polícia, mas também à sua família.

    Alex Cross e seus métodos de investigação fazem Sherlock Holmes parecer um iniciante, e isso se torna um dos primeiros problemas do filme. Ao analisar uma cena de relance, Cross já sabe quase todos os pormenores do caso, como cada detalhe aconteceu. Mais alguns segundos de análise e já consegue descobrir o modus operandi, que ele é um serial killer, voltará a atuar. Traça até um perfil psiquiátrico completo, sem nunca ter tido contato anterior com o criminoso, isso tudo com a ajuda de um desenho que o assassino deixa na cena do crime como pista para seu próximo ato. Em função desse desenho ele recebe o pseudônimo de Picasso. E a grande pista secreta, deixada por Picasso, é um nome formado a partir da dobradura do desenho, algo típico de revistas juvenis. Tudo muito pueril e óbvio principalmente porque as cenas se intercalam com flashbacks do assassinato, sempre confirmando que Alex Cross está 100% correto.

    O detetive que nunca erra mais à frente errará em uma das suas preposições. Como um castigo à sua autoconfiança exagerada, esse erro desencadeará fatos que mudarão a sua vida e a de seus pares, o que imediatamente dará o estopim para a busca implacável por vingança desse paladino da justiça. Ao ver-se impossibilitado de agir pelos meios legais, ele fará disso uma vingança pessoal, no velho clichê do policial entregando o distintivo. Se tudo isso fosse num filme de ação despretensioso, com alguns astros dos anos 80 nos papéis principais, seria ótimo. Mas não é: tudo é levado com absoluta seriedade e suposto realismo, traduzido inclusive pela câmera na mão nas principais cenas de ação, tentando colocar o espectador dentro da cena, mas é apenas falha e só traz incômodo.

    Outro ponto a se ressaltar é que quase tudo em A Sombra do Inimigo acontece com absurda sincronia temporal: coincidências seguidas de coincidências, colocadas na trama de maneira jogada, sem construção, apenas com o objetivo de resolver ou introduzir pontos chaves da história. O ápice disso se dá com uma batida de carros, totalmente ao acaso, que resulta no clímax final do filme.

    O único alento de A Sombra do Inimigo, que seria a transformação física e a construção do assassino Picasso por Matthew Fox, se perde em meio a um roteiro pífio, com situações sem pé nem cabeça para dar razão aos seus atos. Um exemplo disso é quando somos apresentados a ele numa luta de MMA, com seus 60 quilos, enfrentando um peso pesado. O personagem de Fox avisa: “Se me socar o rosto, você não lutará nunca mais”. Depois de apanhar muito, quando finalmente recebe um soco na face, ele entra em modo paranoico e acaba com seu oponente no segundo seguinte – fato que convenientemente não se repete em uma briga futura com Cross.

    Como se não bastasse tudo isso, terminamos com um plot twist envolvendo o bilionário vivido por Jean Reno, que serve apenas para validar as origens, até há pouco desconhecidas, da série de assassinatos. Novamente, apenas um artifício de roteiro para tentar fechar uma história mal construída. Melhor seria se esses pormenores ficassem em aberto; assim, pelo menos não seríamos obrigados a mais uma cena em formato de esquete, misturando uma gag com o castigo e redenção final do vilão e herói.

    Entre reviravoltas, situações e conceitos abordados e abandonados na sequência, coincidências, há personagens em excesso, que são introduzidos e depois simplesmente esquecidos, enquanto outros têm atitudes que não se justificam. Com tudo isso,  A Sombra do Inimigo erra em quase tudo a que se propõe. Nem mesmo as cenas de ação – que já foram bem feitas pelo diretor Rob Cohen em Velozes e Furiosos – empolgam o espectador, graças a uma câmera infeliz, tremida, impossível de acompanhar, que torna o filme uma experiência ainda pior.

  • Crítica | Psicopata Americano

    Crítica | Psicopata Americano

    Psicopata Americano não foi um sucesso notável de bilheteria, mas acabou se firmando como um dos filmes mais cultuados do cinema contemporâneo. O misto de violência, cultura pop e a atuação memorável de Christian Bale tornaram o filme uma espécie de clássico cult e referência para o cinema independente.

    Psicopata Americano conta a história de Patrick Bateman, um jovem executivo de Nova York que esconde fortes tendências assassinas. De dia, Bateman senta em seu escritório, almoça no clube e compara cartões de visita, durante a noite ele tortura e esquarteja prostitutas e rivais.

    O personagem de Bateman é apresentado enquanto realiza sua rotina cosmética diária. A precisão com que ele cita cada passo e principalmente cada produto, e a luz dourada que enquadra Bale como uma espécie de quadro ou deus grego deixam claro o que é Patrick Bateman: uma imagem. E no plano final da sequência, ao simbolicamente retirar uma máscara do seu rosto, o personagem confessa que sabe disso.

    Patrick Bateman é uma imagem, uma casca cuidadosamente construída, mas sem nada do lado de dentro. Nada, exceto a obsessão com essa imagem. A cena em que diversos executivos comparam seus cartões de visita é didática: eles são todos iguais, ainda assim cada um precisa ser o melhor.

    O filme é extremamente irônico e o distanciamento de Bateman é tratado de forma precisa e sutil, com destaque para os momentos em que ele discorre longa e academicamente sobre bandas da época, enquanto assassina alguém, assiste duas prostitutas transando ou se prepara para torturá-las. Mary Harron, a diretora do filme, acerta ao contar a história pelo ponto de vista de Bateman sem avisar o espectador disso, o que permite a surpresa e ambiguidade finais.

    A ironia confere ainda um ar absurdo a coisa toda: a violência de Bateman se torna extremamente caricata e no final até improvável; a forma como ele nunca faz nada em seu escritório, exceto palavras cruzadas; a noiva, interpretada por Reese Whiterspoon, que podia facilmente ser a “barbie anos 80”. O filme é uma crítica ácida, mas irônica, que equilibra violência e humor e talvez por isso tenha se tornado tão comentado.

    A direção de arte, os enquadramentos e a trilham reforçam a caricatura. Os figurinos são exatamente aquilo que diz o estereótipo dos anos 80, a direção usa planos e recursos datados, como o zoom e efeitos de transição na montagem e a trilha parece algum tipo de compilação de “top hits” da época. Tudo é extremamente anos 80, os yuppies, a cocaína, as roupas.

    Psicopata Americano critica fortemente o capitalismo e uma sociedade obsessivamente voltada para a imagem. Mas o faz de forma sarcástica e quase auto-acusatória (afinal, o cuidado da direção de arte do filme ecoa o de Bateman com seu corpo), ao contrário do que David Cronenberg fez em Cosmópolis, Psicopata Americano não se apoia em discursos, mas na imagem. Isso tudo, quando aliado ao final duvidoso do filme, parece querer falar de uma loucura que não é só de Bateman, mas própria do sistema.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

    Ouça nosso podcast sobre Bret Easton Ellis.

  • Resenha | Extraneus Vol. 3 – Em Nome de Deus

    Resenha | Extraneus Vol. 3 – Em Nome de Deus

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    Convenhamos que discorrer acerca das atrocidades que nossos semelhantes cometeram e continuam a cometer em nome de um Deus, seja ele qual for, não é exatamente algo original. Entretanto, destoando de vampiros, lobisomens e guerreiros de capa e espada, o reflexo da crença no divino na vida mundana é uma temática desbravada ainda timidamente, que não se encaminha para o eminente esgotamento, tampouco se tornou blasé – e talvez isso jamais ocorra. Por quê? Ora, porque alienação, loucura, crueldade e demais mazelas que podem ser desencadeadas pela religiosidade são assuntos incômodos; inconvenientes dispensados por muitos. E é justamente esse o pertinente desconforto que os quatorze contos que compõem o terceiro volume da Série Extraneus, Em Nome de Deus, vem trazer ao leitor em suas 109 páginas.

    Narrativas dramáticas, de horror e suspense se intercalam nessa breve antologia, que abarca autores de diferentes idades e localidades, com diferentes bagagens culturais e visões de mundo, e que, consequentemente, expressando-se em diferentes estilos. O virar da última página de cada conto desperta certa apreensão, pois não se sabe o que virá a seguir; podemos desembarcar num futuro próximo ou na Lisboa do século XVIII. Assim sendo, a diversidade de experiências promovida pelo livro é, sem dúvida, seu maior mérito.

    Porém, embora a proposta e o formato dados à obra sejam acertados, seu conteúdo deixa a desejar. Em Nome de Deus dá seu primeiro tropeço logo na 11ª página, na qual tem início o conto O Trevo de Quatro Folhas, o primeiro do conjunto. O “defeito” do texto – que não diz respeito ao escrito em si, mas à sua disposição na coletânea – chega a ser tragicômico: a estória contada por Bethania Amaro é de uma desenvoltura e sensibilidade que o leitor não tornará a ver no restante do volume, ou seja, por ser o mais factível, o mais surpreendente e, ao fim e ao cabo, o melhor conto do apanhado justamente o primeiro deles, as narrativas subsequentes acabam por ser prejudicadas.

    A partir daí, ainda que premissas interessantes se perpetuem por todo o volume, como nos intrigantes cenários criados por Eric Novello em Dúvida em Tânatos, ou por Fernando Salvaterra em Depois do Mar, falta aos autores a habilidade para quebrar os protocolos da linguagem demasiadamente rebuscada, travada, que jamais vemos aplicada no cotidiano, e das descrições didáticas. Longe da maturidade de um Joseph Conrad ao tratar da religião, boa parte dos contos se resume a sermões pessimistas, que, por vezes fugindo para o macabro, também falham em evocar com palavras a atmosfera encontrada nos relatos das referências imediatas do gênero, como Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft.

    A essência de Extraneus Vol. 3 – Em Nome de Deus é facilmente encontrada, quer analisemos a disfuncional e pouco criativa distopia apresentada em Determinação, Fidelidade, Sacrifício – Amém, de Daniel Cavalcante, que reproduz ideias que vão de George Orwell a Alan Moore, mas sem o brio dos originais, quer peguemos o insosso Um Lobo às Ovelhas, de Marcelo Augusto Claro, que mais lembra a construção do background de um personagem qualquer de uma aventura de RPG do que um registro literário. A ideia era boa. Já o que se fez dela, nem tanto.

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    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.

  • Resenha | Os Miseráveis

    Resenha | Os Miseráveis

    Victor Hugo está inegavelmente entre os chamados imortais da literatura clássica mundial. Entre as suas principais obras, Os Miseráveis reina em uma posição de destaque por diversos fatores. Valendo-se do completo reconhecimento de tais aspectos, temos em mãos a adaptação para os quadrinhos deste grandioso romance.

    Confesso que fiquei bastante curioso ao saber de tal projeto (que conta ainda com diversos outros títulos adaptados de autores como Julio Verne, Tolstói e Cervantes, por exemplo), pois creio ser extremamente válido e de suma importância que mais e mais pessoas se familiarizem com tais clássicos, mesmo que em uma ‘’versão simplificada”.

    Os Miseráveis é a obra na qual Victor Hugo tentou consolidar todo um século em um único livro, abrangendo filosofia, política, drama e muitos outros aspectos que representavam a França no século XIX, mas que também são universais no que diz respeito ao humano e à sua luta para ser reconhecido como tal – principalmente os que vagueiam às margens da soberba e crueldade dos regimes autoritários que eram comuns e se sucediam em revoltas turbulentas e prejudiciais para o avanço da ética e de direitos humanitários que reconhecemos hoje como universais.

    O romance tem muito, mas muito estofo histórico e intelectual como um todo. Talvez esteja aí o motivo dessa adaptação apenas arranhar muitos dos quesitos levantados pelo autor no original. A espinha dorsal que rege os personagens e suas conexões está aqui e consegue, sim, levar a algum tipo de reflexão sobre alguns dos temas propostos, tais como a redenção, que é recorrente no personagem central. Jean Valjean, condenado por roubar um pão, tem sua pena aumentada por tentativas de fuga; passou 20 anos na prisão por algo que um burguês sequer teria que responder caso infringisse o mesmo ato. O personagem de Javert, o policial que passa a vida perseguindo Jean, Marius e muitos outros. Todos têm, a seu tempo, a sua redenção e a sua epifania; mesmo que não resulte em benefício direto para alguns, ela está ao alcance deles, dentro do que Victor acreditava ser inalienável ao ser humano.

    A HQ tenta ao máximo manter a profundidade dos temas tratados, mas lhe falta justamente o ‘’excesso’’. Falta-lhe a poesia de Victor, seus longos textos e suas reflexões. Os Miseráveis se tornou o que é justamente pelo que há “entre” os acontecimentos da história narrada de seus personagens. A famosa batalha napoleônica de Waterloo (que rende um livro inteiro no romance original) é apenas um reflexo fugaz nesta edição. Um outro exemplo simples pode ser conferido no final desta HQ, na qual temos dois textos escolhidos do original e que fecham a edição desta graphic novel. Lendo o texto “Paris Vista por Uma Coruja”, percebe-se o quão rico é o conteúdo original, que infelizmente não pode ser adaptado aqui em sua mestria.

    A edição como um todo é muito bem cuidada, com papel de qualidade e capa dura. Detalhes sobre o autor, a situação política da época e a própria obra original são belos adendos e na verdade fazem muito mais jus ao livro do que a HQ em si. A arte foi bem cuidada e as ilustrações remetem, sim, a uma Paris antiga, suja, revoltada. Seus personagens refletem quase que o tempo todo a opressão à qual os excluídos estão sujeitos com seus rostos cansados ou abatidos, seja pela tristeza ou pela fome.

    Infelizmente, condensar uma obra de tamanha importância e com tanto conteúdo em 110 páginas de uma graphic novel realmente não é nada fácil, e tenho completa ciência disso. Talvez com obras mais aventurescas (Viagem ao Centro da Terra, por exemplo) o objetivo de transcrever o espírito do original a uma nova mídia seja atingido com mais sucesso, e talvez seja melhor deixar de lado os grandes…

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Crítica | Criança, A Alma do Negócio

    Crítica | Criança, A Alma do Negócio

    Poster Criança a Alma do Negócio

    Criança, a alma do negócio é um documentário nacional de 2008, dirigido por Estela Renner, produzido por Marcos Nisti e Maria Farinha Produções, que trata de um assunto de extrema seriedade e que muitas vezes é neglicenciado: a publicidade e o mercado de consumo direcionados para o público infantil.

    Criança, a alma do negócio é um documentário simples, todo baseado em depoimentos de pais, crianças, pedagogos, pesquisadores – enfim, um rol de diferentes pessoas – com o objetivo de debater e questionar tanto os métodos quanto a ética que permeia a publicidade e o consumo voltado para crianças e adolescentes, e quais os impactos que isso poderá trazer à nossa sociedade no curto e longo prazo.

    Com um estilo influenciado pelos documentários de Michael Moore e, principalmente, Super Size Me, de Morgan Spurlock, somos apresentados primeiro a uma série de curtos depoimentos intercalados de crianças, pais, especialistas e até comerciais, que nos passam como é esse relacionamento entre as crianças e o consumo. Crianças dizendo, por exemplo, que preferem comprar do que brincar; uma garotinha que sabe de cor alguns comerciais e tem nada menos do que 22 pares de sapato; até mesmo o sentimento de frustração, não só dos pequenos como dos próprios pais, quando não têm os seus desejos atendidos; além de outras influências negativas, como um sentimento de alta competitividade, e fatores de inclusão e exclusão de grupos pela posse ou não de determinados produtos.

    O documentário nos coloca alguns dados técnicos impressionantes, por exemplo, o de que o necessário para uma marca atingir uma criança é apenas 30 segundos. Ou até que 80% da influência de compra em uma casa parte das crianças. Some isso ao depoimento de uma menina, que diz o seguinte, ao ser indagada por que deseja comprar algo: “O motivo? Isso eu ainda não descobri. Só sei que eu quero”.

    Especialistas dão a sua opinião sobre qual é o papel da publicidade, e se é ético direcioná-la para um público que não tem uma real capacidade de discernir e interpretar aquilo que está sendo apresentado a elas. O CONAR, sendo um órgão institucional, acaba por defender majoritariamente os interesses da própria atividade comercial que ele representa, e não o público e as pessoas afetadas pela publicidade.

    Criança, a alma do negócio também nos aponta dados mostrando que o consumismo chegando mais cedo acaba por encurtar a fase da infância. Esta ideia culmina em um depoimento de uma “criança” de 13 anos, casada e na segunda gravidez. Esse depoimento é dado em tom natural, sem nenhuma intenção de chocar, inclusive com um ar infantil, o que é totalmente díspar em relação à situação que ela enfrentará de criar e educar um filho. Talvez ela não tenha estrutura para lidar apenas com ela mesma, sem auxílio.

    Outros pontos são abordados, como a sustentabilidade, o papel dos pais tendo que lutar contra uma indústria bilionária, e até mesmo como isso pode influenciar na formação do caráter e dos valores desses jovens.

    Criança, a alma do negócio nos faz refletir sobre a sociedade que estamos criando para o futuro. Nos faz avaliar o valor da publicidade e do consumo, e qual o impacto real dela sobre todos os indivíduos – não só do prisma das crianças, mas questionando a sua influência sobre nós mesmos, e se realmente queremos nos definir por aquilo que compramos para, aí sim, formar o que somos.

  • Crítica | 007: Quantum Of Solace

    Crítica | 007: Quantum Of Solace

    Após o sucesso de Cassino Royale, a franquia de James Bond parecia novamente blindada, com grande potencial de apresentar uma sequência tão interessante como a primeira produção. Porém Quantum Of Solace não se mantém como obra por depender do desenvolvimento da trama anterior, sem um novo enfoque.

    Há uma significativa troca dos tradicionais vilões da franquia para uma personagem mais humana, sem nenhuma característica física marcante e que, sem um objetivo evidente de destruição, é um mercenário oportunista e ganancioso.

    O grupo terrorista que tinha como líder Le Chiffre era apenas um pequeno detalhe de uma rede mundial inserida no subterrâneo de cada governo, informações que nem mesmo o MI6 tinha conhecimento prévio. É dentro dessa ordem que James Bond tenta impedir que o grupo realize um acordo que prejudicará um país de terceiro mundo.

    Se a narrativa carrega potencial, teve uma execução mal formatada. Principalmente por ter sido realizada na época da greve dos roteiristas. O abalo significou começar as filmagens sem o roteiro completo, fazendo com que até mesmo Daniel Craig fosse obrigado a escrever diálogos para dar sequencia as gravações. Recentemente o ator pediu desculpas pelo fato, ciente de sua limitação para o cargo.

    Embora composto pelos mesmos roteiristas do primeiro, a trama parece um confuso emaranhado político entrecortado por cenas de ação. A direção de Marc Foster oscila, sem o mesmo apuro que Martin Campbell nas cenas físicas que repetem a estética sem o mesmo brilho. E parecendo aguardar algum gancho importante que nunca chega no clímax.

  • Crítica | O Homem da Máfia

    Crítica | O Homem da Máfia

    Andrew Dominik chamou atenção em 2007 ao revisitar o western, um gênero praticamente esquecido, com o excelente O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford. A direção sóbria e a crueza de Dominik injetaram frescor na fórmula e, a partir de então, alguns diretores consagrados – notavelmente os irmãos Coen – voltaram a olhar para um tipo de filme até então ultrapassado.

    Em O Homem da Máfia, Dominik novamente se volta pra um gênero fora de moda e o moderniza com uma direção precisa e eficiente. A trama se foca em Jackie (Brad Pitt), uma espécie de investigador da máfia chamado a uma cidade não identificada para investigar o assalto a uma casa de carteado. O filme se passa durante a primeira campanha de Barack Obama para a presidência, no auge da crise econômica que atingiu os Estados Unidos e principalmente os bancos e instituições financeiras de Wall Street. Esse pano de fundo está sempre presente, fazendo um paralelo com a história apresentada.

    Assim que Jackie entra em cena, fica claro que a máfia de Dominik não é a de Copolla: aqui não existem valores de nenhum tipo, nenhuma consideração familiar, e o método frio, burocrático e eficiente do protagonista claramente vem tomando o lugar das investigações e ferramentas tradicionais. Segundo Jackie, os Estados Unidos não são um país baseado em comunidade, solidariedade ou qualquer um dos valores apregoados por Obama; se trata, pura e simplesmente, de dinheiro e negócios.

    A visão política do diretor é muito clara durante todo o filme; no entanto, ele nunca se torna panfletário ou didático. Dominik é claramente um republicano, mas sua posição está costurada na trama, tanto no desenrolar da história quanto nas falas de seu personagem principal. É um filme pessoal, autoral e político, mas é também um belo filme de máfia.

    A fotografia escura e cinzenta lembra o tempo todo ao espectador que se trata de um mundo devastado e uma instituição decadente. A montagem é rápida, mas rígida, sem espaço para cenas desnecessárias ou cortes que desorientem o espectador: é um filme firme, austero, no roteiro e na linguagem. Essas escolhas são aliadas a interpretações excelentes (Brad Pitt é de uma precisão absurda) e provam que Dominik é um diretor extremamente competente e que caminha para grandes filmes.

    O Homem da Máfia não chega a ser um filme tão bom quanto O Assassinato de Jesse James, mas é competente, firme e tem a qualidade muito rara de articular perfeitamente as opiniões de seu diretor à trama. A visão cínica e controversa de Dominik e o brilhantismo técnico com que ele conduz seus filmes o apontam como um dos diretores mais interessantes da atualidade.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Os Penetras

    Crítica | Os Penetras

    poster de os penetras

    Os penetras de direção e roteiro de Andrucha Waddington, além dos roteiristas Nina Crintzs, Rafael Dragaud e Marcelo Vindicato. Faz uma mescla de referências a diversas comédias de sucesso recente. Dentre as quais, filmes de penetras, como o próprio nome já diz. Desconhecidos que por acaso viverão uma aventura maluca. E coincidências que geram um grande problema e movimentam a história. Para assim contar a história de Beto (Eduardo Sterblitch), um inocente, que vem do interior para o Rio de Janeiro, afim de recuperar sua amada. E Marco Polo (Marcelo Adnet), um malandro carioca que leva a vida fazendo pequenos trambiques e golpes. Para manter seu padrão de bon vivant.

    A ligação entre os dois, se dá por Laura (Mariana Ximenes). Uma garota de programa, e também golpista, que está aplicando sua cartada final num rico fazendeiro, Coelho (Luiz Gustavo). Mas que Marco Polo, ao tentar ajudar Beto a recuperá-la em troca de algumas vantagens da situação, acaba se apaixonando.

    O plot do filme todo gira em torno disso, as situações cotidianas daqueles malandros entre uma festa e outra invadida. A obra tenta ainda, colocar todos os membros daquele círculo, seja o mais pé-de-chinelo, até a rainha do baile, como “farinha do mesmo saco”, basta apenas uma oportunidade para alguém aplicar um golpe, pular a cerca, ou enganar alguém. E a grande reviravolta da história, vem com o objetivo de dar um pano de fundo ao personagem Beto, e fazer graça com a situação toda, que tudo não passou de um mal entendido. Culminando então, em uma espécie de redenção para Marco Polo, que se solidariza com Beto, depois de tanto enganá-lo. Ao mesmo tempo que Beto se transforma num estalar de dedos, não mais no cara ingênuo, mas também um malandro, disposto a aproveitar a vida. Isso tudo porém, é explorado de maneira tão pueril, com um humor raso, que no maior esforço possível, no máximo consegue arrancar alguns sorrisos. Exceção seja feita, do curto período em que Xando Graça e Babu Santana aparecem em tela no papel de dois policiais, que estes sim, conseguem arrancar boas risadas, investindo em um humor do absurdo, mas ao mesmo tempo, não distante de se imaginar como realidade.

    Quase todos os traços cômicos de Os Penetras,  se baseia nos personagens já habituais de Adnet e Sterblitch. Com isso, o roteiro se torna pobre, que pouco cativa o espectador, tampouco faz rir. E esse acaba sendo o maior problema do filme. Por ser uma comédia, que não se propõe a quase nada além de fazer graça de situações cotidianas. Precisa de mais do que seu ator principal fazendo seu habitué ingenuo, dizendo palavras enroladas, gritando “Eu Mudei”, ou “Vamos botar para fuder” dito com todas as letras, como principal piada do filme. Ainda mais diante das possibilidades e liberdades criativas que um filme pode oferecer a esses comediantes, fora da TV.

    É possível ainda que Os Penetras agrade àqueles que são muito fãs do trabalho rotineiro de Marcelo Adnet e Eduardo Sterblitch. Fora isso, o longa tem pouco a oferecer com seu roteiro insosso, e tentativas forçadas de criar bordões fadados ao esquecimento 20 minutos após a projeção.

  • Resenha | O Incrível Cabeça de Parafuso e Outros Objetos Curiosos

    Resenha | O Incrível Cabeça de Parafuso e Outros Objetos Curiosos

    Mike Mignola um dia teve uma ideia para um brinquedo: “Um robô com a cabeça semelhante a uma lâmpada, que se encaixaria em diversos corpos”. Dessa ideia surgiu o Cabeça de Parafuso, personagem que protagoniza a história principal que dá nome ao álbum, composto por seis pequenas histórias em quadrinhos.

    “Máquinas voadoras vitorianas, uma cabeça mecânica, roubos de tumbas, fantasmas, bruxas, marionetes, alienígenas e vegetais gigantes: um vertiginoso desfile de curiosidades encontra-se reunido nesta coletânea.”

    O Incrível Cabeça de Parafuso e Outros Objetos Curiosos conta com duas histórias ganhadoras do Eisner Awards: O Incrível Cabeça de Parafuso,vencedora da categoria Melhor Publicação de Humor do Eisner 2002, e O mágico e a cobra, vencedora do Eisner por melhor história curta. Só esse fato por si só demonstra o quão valioso é este compilado de histórias. Porém, trata-se de um trabalho que pode causar um pouco de estranhamento para aqueles que não estão familiarizados com o trabalho de Mike Mignola, que é mais conhecido por ser o responsável por criar o Hellboy.

    Mignola possui uma arte peculiar e sombria, que se completa brilhantemente dentro de suas narrativas influenciadas por uma atmosfera de terror, obscurantismo e mistério. Mignola é único. Alguns podem considerar histórias como Na capela dos objetos estranhos e A bruxa e sua alma superficiais, mas têm bastante significado no universo que o autor vem desenvolvendo desde o início de sua carreira. Esta pode não ser a obra mais importante de sua vida, mas com certeza é obrigatória para todos os seus fãs, que se envolvem em seu universo oculto e misterioso.

    O preço do encadernado de fato é alto, porém ele possui um acabamento gráfico impecável. Ao final, temos 11 páginas de esboços e anotações do autor, que vão deixar qualquer fã extremamente satisfeito.

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    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Resenha | Sombras e Sonhos – Álvaro Domingues

    Resenha | Sombras e Sonhos – Álvaro Domingues

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    Sombras e Sonhos é o livro de estreia do autor Álvaro Domingues. Atuante no meio da ficção científica e autor do Blog do Pai Nerd, Domingues sempre cavou o seu espaço em sites e revistas técnicas para publicar contos que investigam a fundo a mente humana até reunir material suficiente para um livro.

    Em Sombras e Sonhos, 38 textos – entre contos, micro-contos e um poema – compõem um trabalho que explora anseios, temores, mitos e descrenças humanos. O resultado é uma ficção científica sui generis, caracterizada pelo lirismo e pela paixão dos textos e de seus personagens.

    Álvaro Domingues é um autor que demonstra experiência em sua forma de escrever. É facilmente perceptível ao ler “Sombras e Sonhos” a segurança com que o autor escreve e descreve os mais variados sentimentos presentes na vida de nós seres humanos. Surpreende o fato de que esta é a sua primeira publicação em forma de livro.

    “Sombras e Sonhos” é um livro que não só explora sentimentos, mas os recônditos da mente humana. Impossível passar pela ficção do livro sem acabar encontrando pensamentos, sentimentos e anseios familiares ao nosso cotidiano. Domingues beira o intimismo.

    O livro é composto por contos, poesias e, principalmente e micro-contos. Por esse fato, carrega simplicidade em sua forma, mas substância em seu conteúdo. Algumas histórias acabam sendo prejudicadas pela simplicidade, pois poderiam se desenvolver e envolver mais, o que não afeta a qualidade da obra como um todo. Domingues é com certeza um autor a prestar atenção.

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Resenha | Hellboy Edição Histórica: Vol. 1 – Sementes da Destruição

    Resenha | Hellboy Edição Histórica: Vol. 1 – Sementes da Destruição

    Hellboy – Sementes da Destruição é uma daquelas histórias despretensiosas que sabe como fazer uma boa introdução de personagens e ainda deixar uma semente do que viria a se tornar um grande épico dos quadrinhos, seja pela mitologia utilizada na série, sua dinâmica, ou mais ainda, pelo seu protagonista carismático. (mais…)

  • Agenda Cultural 47 | Western, Máfia e Agentes Secretos

    Agenda Cultural 47 | Western, Máfia e Agentes Secretos

    Bem vindos à bordo. Rafael Moreira (@_rmc), Isa Sinay (@isasinay), Pedro Lobato (@PedroLobato) e Jackson Good (@jacksgood) se reúnem para comentar os lançamentos do cinema, quadrinhos e games. Não esqueça de deixar suas opiniões. (mais…)

  • Crítica | Frankenweenie

    Crítica | Frankenweenie

    Baseado em seu curta metragem homônimo de 1984, Tim Burton retorna às suas raízes no remake de um dos seus primeiros trabalhos como diretor em uma homenagem aos clássicos filmes de terror cult da história do cinema (Veja aqui).

    Frankenweenie conta a história de Victor e seu cachorro Sparky, que após ser atropelado em um acidente de carro, é trazido de volta à vida pelo seu dono, que é aficionado por ciências. Desde 2005 Tim Burton não fazia mais animações em stop motion (Noiva Cadáver), porém volta com o diferencial de ser produzido inteiramente em preto e branco e

    Como de praxe, a trilha sonora de Danny Elfman é certeira ao se mesclar à atmosfera sombria característica dos filmes de Burton. Por outro lado, Johnny Depp e Helena Bonham Carter não estão no elenco das vozes do filme, para surpresa de todo um público já acostumado com a presença dos mesmos em “quase” todos os filmes do diretor.

    Burton se diverte com sua narrativa e as várias referências que implementa nela. Até mesmo o cinema japonês não ficou de fora das referências, sendo possível encontrar uma clara homenagem ao monstro Gamera, pertencente ao mesmo universo de Godzilla e um dos inimigos do monstro. Não apenas ele, mas a Múmia, Frankenstein, Drácula e tantos outros estão presentes para o deleite do espectador.

    O character design dos personagens não precisam de comentários, eis que é um dos pontos mais fortes do trabalho de Burton. Muitos dos que estão presentes no filme já foram vistos nas outras obras do diretor, cabendo ao público reconhece-los dentre os personagens.

    Frankenweenie é um filme simples, que não procura ser nada mais do que realmente é: um filme que busca a diversão em suas dezenas de referências e, por isso, acaba sendo tão bem realizado.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.