O crescimento do mercado nacional de quadrinhos tem sido uma constante, haja vista a quantidade e qualidade de diversos autores e álbuns nacionais que são lançados mensalmente, seja por parte de grandes editoras, seja por independentes. Ciranda da Solidão é um desses ótimos exemplos da qualidade que os quadrinhos nacionais costumam ter.
Ciranda da Solidão, do quadrinista Mário César, faz parte da coletânea EntreQuadros e foi publicado pela Balão Editorial. A coleção procura focar temas de nosso cotidiano, mas esse volume em especial traz uma temática muito cara e necessária aos nossos tempos atuais, a sexualidade, relacionando principalmente situações envolvendo personagens homossexuais e sua busca pela aceitação.
A HQ contém cinco contos, todos envolvendo a temática LGBT e temas universais, sendo que o primeiro deles, O Clube das Pessoas Normais, traz a história de um jovem adolescente que não se aceita. O tema central é voltado ao mundo dos adolescentes, seu amadurecimento, as mudanças típicas da idade e uma clareza maior em relação a sua orientação sexual.
Na sequência, temos a história que dá nome ao álbum, Ciranda da Solidão. Dessa vez, a narrativa de César foca quase que exclusivamente o aspecto visual, e, ainda que utilize poucos diálogos, a trama é fluida e trata um pouco dos encontros e desencontros que vivemos e da busca incessante de alguém para amar.
A Primeira Vista trata um pouco do encontro casual que costuma ocorrer em boa parte dos relacionamentos. A história é sensível e brinca um pouco com a ideia de como a nossa rotina nos faz deixar passar diversas coisas despercebidas, e como provavelmente nesses momentos de desatenção perdemos grandes oportunidades por isso.
A penúltima história, Esperando a Cera Secar – minha preferida – retrata um casal de mulheres e seu relacionamento monótono repleto de mágoas e com um passado que não deixa de perseguir a união das duas. A trama traz uma bela metáfora na figura de uma das protagonistas, que passa a história realizando uma limpeza na casa, o que nada mais é do que a própria mudança interior necessária para a tomada de decisão a respeito de sua própria relação.
Na última história, A Escrita no Muro, outro ponto alto do álbum, conhecemos Caio, um velho ranzinza portador do mal de Alzheimer que maltrata sua enfermeira. Aos poucos, entendemos o protagonista e suas dificuldades, principalmente no que tange seu apreço em tentar não se esquecer de suas lembranças. Uma bela história sobre o amor e o drama de você deixar de ser quem é.
Ciranda da Solidão traz um texto delicado e poético acerca dos dramas da vida cotidiana. Um belo álbum.