Desde que foi lançado em 1973 nas histórias de personagens do segundo escalão da Marvel Comics, Howard, o Pato causa estranheza, seja pela semelhança com o Pato Donald, que rendeu aos seus criadores muitas acusações de plágio e uma mudança radical de aparência, seja por conta do filme Howard: O Super-Herói de 1986 produzido por George Lucas. Dentro da proposta da Editora Salvat de resgatar personagens da Marvel dentro de sua coleção de graphic novels, Howard não poderia ficar de fora.
A primeira aparição do personagem é estranha e repleta de clichês de fantasia, e conta ainda com a participação do Homem Coisa, a figura pantanosa da Marvel que foi muito comparada ao Monstro do Pântano, embora sua criação seja anterior. Aos poucos o personagem escrito por Steve Gerber e ilustrado por Val Mayerick (criadores do personagem) se desenvolve e é mostrado como um sujeito articulado, apreciador de charutos caros e amante de belas mulheres.
A segunda história trata melhor o personagem, Howard já entende que viajou para outro mundo, e mais ambientado acaba sendo mais engraçado e irônico. O trabalho de Frank Brunner reúne elementos visuais bem inventivos e interessantes. Berger chega a homenagear o ilustrador da Disney Carl Barks, o chamando de guia espiritual, algo natural, pois Howard tem momentos genuinamente parecidos com os de Donald, ainda que seja mais volúvel e sacana.
As histórias são ambientadas Cleveland, Ohio, um lugar diferente das grandes cidades metropolitanas que outros heróis da Marvel habitam. No livro Pancadaria: Por Dentro do Épico Confronto Marvel VS DC o autor Reed Tucker em meio ao seu estudo sobre a rivalidade das editoras, afirma que o período anterior ao segundo retorno de Jack Kirby à Marvel e a chegada de Jim Starlin foi uma época de pouca organização, tentativa e erro. Stan Lee já trabalhava no licenciamento das marcas para adaptações de TV e cinema e cuidava pouco dos gibis e desse modo as histórias seguiam sem grandes interferências dele como editor. Neste cenário surge Howard.
A personalidade do pato varia do menosprezo e misantropia a benevolência com os mais fracos. Ele é um sujeito bastante irônico e inteligente, e não à toa tem a companhia da bela Beverley, e as histórias giram em torno do personagem seguir sua vida normalmente mesmo que o cenário não favoreça, e pessoas tentando ludibria-lo. Além dos desenhos de Mayerick, há colaborações muito boas de Brunner, John Buscema e Gene Colan, além de um material extra que ambienta um bocado das histórias posteriores do personagem e suas poucas participações no universo Marvel. A Salvat acertou demais na escolha dessas historias, pois são carregadas de personalidade e de nonsense, que capturam muito bem a essência de Howard.