Baseando-se nas experiências biográficas de seu autor, o alemão Mawil, Mas Podemos Continuar Amigos… resgata as decepções amorosas típicas do chamado homem sentimental, que se vê sem chão após uma série de términos de relações amorosas malfadadas, às vezes nem mesmo isso.
O protagonista é um rapaz novo, membro de uma igreja católica por uma obrigação ligada a tradição familiar. Markus é um rapaz introvertido, com dificuldades de sociabilidade. O primeiro fragmento revela uma arcaica instituição, que como pano de fundo ajuda a construir o background de impessoalidade no tratar de outros seres, o que ajudaria a compôr o papel de amante inconforme, repleto de inabilidades com o sexo. As situações só teriam algo próximo de um desfecho positivo quando Markus já se encontrava adulto, em uma mesa de bar, que servia de confessionário para seus momentos de melancolia, por não ser tão correspondido quanto deveria.
As frustrações românticas do narrador são muito parecidas de início, revelando um padrão de comportamento, seguido de suas óbvias consequências. O humor das tirinhas está na impossibilidade de Markus ser feliz, onde habitam quase sempre somente suas lamentações. Suas falas são quase somente questões, reclames repetidos aos borbotões, e tapas nas cervejas dos amigos, simbolizando a dificuldade que o próprio tem em desapegar de suas possíveis parceiras.
A termicidade do quadrinho está muito mais presente no campo das ideias e dos amores e sussurros não correspondidos do que nas provas físicas sexualizantes do amor e da pulsão, o que obviamente não serve de consolo para o personagem narrador, que buscava largar a contumaz esquisitice para ser então um homem “normal” e ordeiro.
As dores dos desfechos nada amorosos nos relacionamentos são aplacadas pela docilidade típica do texto de Mawil, que talvez nem sirva de consolo para sua dor, mas certamente serve para exorcizar de si alguns sentimentos espirituais que lhe rondam, além de formar um desabafo carregado de sinceridade, catalisado pelo sofrimento e reflexão. Mesmo não servindo de edificação para sua vida, encaixa-se para inspirar o leitor. O reclame do pseudo-virgem serve para ambientar milhares, unindo os que têm esse drama em comum, ao redor da confusão; Se não para resolver a questão, ao menos para perceber minimamente um espírito de comunidade.