Crítica | Deerskin: A Jaqueta de Couro de Cervo
O cinema de Quentin Dupieux é conhecido por ter uma excentricidade absurda. Foi assim com Rubber, filme protagonizado por um pneu, Wrong e Wrong Cops. Seu novo produto, Deerskin – A Jaqueta de Couro de Cervo mostra Georges, um homem digno de pena, em crise conjugal (fato que o faz soar solitário) e que procura uma peça de roupa peculiar, uma jaqueta de pele de cervo, que segundo ele, o deixa com um estilo matador.
Georges é um homem com claros problemas de tato e relacionamento, e o roteiro não faz questão nenhuma de explicar o porquê dele ser assim. Seu intérprete, Jean Dujardin está irreconhecível quase, de tão diferente que está, faz um homem que embarca em qualquer mentira para se manter por cima, revelando sua miséria existencial ao dar atenção as vozes que povoam sua cabeça, e ao mentir para as pessoas a sua volta, entre elas, a garçonete Denise, papel de Adèle Haenel.
As fantasias que Georges propõe com suas ações se confundem entre possíveis viagens de seu combalido esta mental débil e uma possível interferência espiritual semelhante a que Danny Torrance teve em O Iluminado e Doutor Sono. O quadro vai ficando mais grotesco ( e hilário) com o decorrer do filme, quando ele gradativamente encontra outras peças de pele de cervo. A medida que ele vai se revestindo dessa armadura natural ele vai agindo ainda mais como um estranho que fugiu deu um manicômio, encontrando eco para suas sandices através do viés artístico de um cinema mais lírico e experimental, embora que conduza esse “cinema” não tenha muita noção de como conduzir a arte.
Dupieux aposta boas fichas na metalinguagem com a sétima arte e isso dá ainda mais substancia e textura a loucura que Georges acredita ser a realidade e o norte para sua vida. Seus rumos vão fazendo crescer o caráter nonsense, e a quebra de expectativa, que poderia soar forçada, vai sendo cada vez mais magnânima e grandiloquente a medida que se brinca com questões sérias como assassinato em série e psicopatia.
As atuações são otimas, sobretudo Dujardin e Haenel e todo o clima provinciano do cenário que povoa os pouco mais de 70 minutos de fita faz toda a trama macabra soar cada vez mais épica, até o momento do ato final, com um desfecho que faz valer ate a nomenclatura teatral dr atos para os momentos pontuais da trama. Deerskin é uma pérola do grotesco, não tem medo de ser inusual e aborda dramas típicos da vida adulta como carência e solidão de maneira leve sentimentalmente, e violenta como é a trajetória da humanidade desde que se entendeu por gente.
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