Crítica | O Natal de Charlie Brown
A criação de Charles M. Schulz ganhou mais popularidade após a animação em curta-metragem O Natal de Charlie Brown. O especial começa com cantos temáticos dos meninos e meninas que cercam Minduim patinando em um lago congelado, enquanto Charlie Brown lamenta por não estar no clima de festividades.
Bill Melendez dirige a produção e seus personagens tem movimentos leves e fluídos, sobretudo nos momentos de dança antes dos ensaios da peça de natal que Charlie Brown conduzirá como diretor, já que não arruma função para fugir de suas fobias e de sua recente conclusão de que o comercial e a ânsia por dinheiro além de não naturais são também o inverso do espírito festivo e alegre presente no louvor ao nascimento de Jesus Cristo.
O humor das tirinhas de Peanuts é muito bem traduzido em tela principalmente no que cerca o pequeno Beagle branco, Snoopy. Os personagens tem personalidade própria e seu momento de protagonismo em tela. Quando esses momentos são breves, o diretor compensa em intensidade. O cachorrinho é certamente o mais chamativo entre os personagens, ainda que não emita uma palavra.
As tirinhas de Schulz variam entre a simplicidade do cotidiano das crianças e o lúdico, com os pequenos conhecendo a vida e se deixando levar por suas vontades e por sua forma característica de ver o mundo. Daí, conceitos mais complexos e importantes como o significado do natal ou a reunião em festas de pessoas queridas se tornam alvos fáceis de reflexão e poesia. Esta versão captura bem demais o quão poderoso pode ser o discurso de inclusão, seja no que tange Charlie Brown, como também a simples arvorezinha de natal que ele encontra e leva para o seu elenco.
Como é de praxe os planos de Charlie Brown não dão inteiramente certo, pois cada criança busca o seu próprio interesse, isso inclui seu fiel escudeiro Snoopy que decora sua casinha de cachorro para participar de um concurso que vale algum dinheiro. Qualquer discurso demanda interpretações múltiplas e um feriado de proporções mundiais não foge disso, O Natal de Charlie Brown é bastante direto, não demora a desenrolar sua trama, trazendo uma mensagem bela sobre aparências, e para valorizar seu texto não há uma linguagem explícita ou piegas, sendo sutil quando mostra as fragilidades emocionais das crianças, reiterando a condição de humanização dos seus personagens, maximizada nesta versão remasterizada que valoriza ainda mais as cores em comparação com outras exibições do curta.