Crítica | O Vendedor de Sonhos
Longa lançado em 2016, com direção de Jayme Monjardim, a historia de O Vendedor de Sonhos é recheada de clichês estranhos. A trama acompanha o doutor Júlio, personagem de Dan Stulbach, um psicólogo suicida que se pendura no alto de um prédio para tentar finalmente dar fim a sua vida. A obra, que adapta o livro do famoso escritor Augusto Cury começa repleta de absurdos e subversões literárias, alem de incongruências.
A outra face do filme e da trama, é o personagem do uruguaio Cesar Troncoso, um homem de aparência maltrapilha, que aparenta ser um mendigo, que consegue furar o bloqueio policial e vai na direção do pretenso suicida, e fica no parapeito do 21º andar do prédio, discutindo com ele sobre suas dores, perdas e sobre a vontade de não existir, travando uma conversa que deveria soar complexa numa altura grande de uma zona urbana brasileira.
Ao contrario do que se pode pensar, a conversa é simples, direta, e recheada de lugares comuns, implausível de maneira até obvia, e bem incomoda dada sua completa falta de noção e espaço. Tal qual essa problemática de os fatos registrados pela câmera não caberem numa realidade tangível, é a postura do mendigo que salva Júlio, que utiliza seus dias para provocar nas pessoas boas reflexões, ditando o que elas devem sentir em momentos extremos, tendo o maior exemplo uma intervenção que fez em um funeral.
As faces de Troncoso são muitas: mestre, vendedor de sonhos, Mellon, bom ouvinte, um sem número de adjetivos simplistas que resultam na mesmíssima definição de mentor inspirador. Seus discursos lembram a de um pregador religioso, variando entre pastor, padre e demais sacerdotes, não professando uma fé como norte limitador de seu discurso. O fato de não se definir o coloca numa posição de universalidade, mas também o faz parecer um motivador de intenções vãs e genéricas, que se aproveita para ser um sanguessuga emocional, embora não pareça ganancioso.
A historia se desenrola de maneira bizarra, repleta de incongruências e coincidências, mostrando uma jornada de estranheza e pieguices. Mellon é um homem cujo passado assusta, e cujo presente varia entre o coach quântico e o sujeito em situação de rua que abdicou de sua vida privada para ser um abnegado típico da época de Cristo. Não há nenhuma sutileza nessa construção de personagem, ao contrario, o que se vê é uma tonelada de falas pseudo religiosas sendo mais levadas a serio do que se deve.
O final ainda guarda algumas surpresas, convenientes até em comparação com os muitos problemas dramáticos do filme de Monjardim. O Vendedor de Sonhos faz jus a literatura de Cury, é um libelo sobre a auto ajuda, e até bem conduzido tecnicamente. Uma pena que Stulbach e Troncoso não consigam traduzir o texto de uma maneira que não pareça meramente oportunista, até porque toda a trama transpira esse caráter fajuto.