Crítica | A Justiceira
Jennifer Garner voltou a fazer filmes de ação após um longo hiato trabalhando em dramas e comédias, mas seu retorno ao filão em A Justiceira não deixa por menos em comparação com as fitas de aventura e adrenalina que a atriz fez no passado e nem as séries que participou ou protagonizou (principalmente Alias), sobretudo no quesito lutas e visceralidade.
A primeira cena em que Riley North aparece é seca. A mulher bate em um sujeito num carro, ao estilo do que David Leitch fez em Atômica e que ele e Chad Stahelski conduziram em De Volta Ao Jogo e John Wick 2. Logo depois ela anda mancando, como a heroína falível que é, tentando fugir da situação violenta em que está e enquadrada de uma forma bem pontuada pela câmera que Pierre Morel conduz, fazendo lembrar em tom, clima e atmosfera os melhores momento de um outro filme seu, o primeiro Busca Implacável.
Coincidência ou não Riley também é uma personagem trágica que perde seu esposo e filha assassinados por uma gangue de latinos, que obviamente seguiam as ordens de um magnata podre de rico, despreocupado com tudo e capaz de usar mão de obra barata para fazer o trabalho que ele mesmo não tem coragem de fazer, ainda que North seja pega em um fogo cruzado.
Uma cena em especifico mostra bem como é o espírito deste filme. Quando uma ferida está aberta e exposta em seu braço, ela joga álcool ali, em uma movimentação nada glamourosa e distante demais do ideal higiênico. Ela usa fita isolante, outro material improvisado para conter seu ferimento, em uma versão feminina do que o personagem de Sylvester Stallone fez em Rambo: Programado Para Matar.
Morel tem costume de colocar atores gabaritados em papéis de ação, no entanto, aqui se percebe uma melhor preparação de Garner para o papel em comparação com Liam Neeson, que até participava de blockbusters violentos, geralmente como vilão e passou a ser uma espécie de Charles Bronson repaginado. Com Garner isso não é uma realidade, o que ela faz é apenas um retorno às suas origens, em uma obra que se equilibra bem com os clichês de histórias de vingança, exploração de velhos estereótipos e discussão mais séria sobre vigilantismo, fato que torna o roteiro de Chad ST. John um pouco mais responsável.
Talvez o maior diferencial do filme seja exatamente quem é Riley. Ao mesmo tempo que o roteiro acerta em mostrar todos a tratando como uma louca, em uma exploração inteligente e não panfletária de como agentes da lei podem simplesmente ignorar o discurso de uma mulher unicamente por ela ser mulher, e por isso emocional demais.
As cenas de ação são primorosas, especialmente as feitas em espaços pequenos. Garner se entrega muito ao seu papel e está em ótima forma, compondo uma mulher extremamente violenta e implacável em seu movimento de revanche, como um anjo de vingança que não consegue saciar sua fome de sangue sequer quando finalmente acha os culpados por seu infortúnio. Além das referências claras de Morel ao cinema de Paul Greengrass e homenagens as cenas animadas de Kill Bill, A Justiceira tem um desfecho que pune os bandidos e de certa forma julga a mulher que pratica a vingança, sem permitir uma visão de que aquilo é normal, ordeiro ou corriqueiro, ao contrário, o julgamento que se faz presente tem em vista a visão da opinião publica e dos órgãos de justiça, embora aponte que nenhum desses lados é composto por mocinhos, incluindo nisso até Riley e os North.
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