Crítica | 007: O Espião Que Me Amava
Roger Moore marcou a memória da cultura pop como o James Bond com mais aparições em filmes, sete no total, e certamente, 007: O Espião Que me Amava é o mais elogiado de sua era. Décimo filme da franquia, se localiza no cenário político da Guerra Fria, começando com o sumiço do submarino russo chamado Potemkin, fato que faz Bond ter contato com a agente XXX, Anya Amasova (Bárbara Bach). Dos roteiros protagonizados por Moore, esse é que tem o cunho político mais evidenciado.
Moore está bem à vontade no papel. O intérprete não é conhecido por ter um grande talento dramático, mas aqui transborda carisma e charme. Trejeitos e olhares que expõe se tornaram características básicas da personagem, influenciando até no modo de agir de outras versões. É curioso como mesmo sendo bem diferente de Sean Connery, sua atuação ainda remete diretamente ao comportamento comum do agente. O olhar direto para a câmera (e consequentemente para o público) eram tão marcantes e equivalentes à postura altiva de Connery, enquanto acendia um isqueiro com um cigarro pendurado na boca, facetas de um homem educado, fino e que sabe seu lugar nesse mundo.
O roteiro de Christopher Wood guarda muitas semelhanças com o visto em Moscou Contra 007, não só pelas semelhanças entre Amasova e Tatiana Romanova, a bondgirl que co-protagoniza o filme dos anos sessenta, mas também pela cooperação entre agentes britânicos e soviéticos, rimas visuais e até por uma longa sequência em um trem que percorre a Europa. A distinção mais visível entre as obras é o uso mais livre dos gadgets de Q (Desmond Llewelyn), como relógios que recebem mensagens em plena década de 1970, mas o restante da atmosfera é bem semelhante, claro, sem perder a identidade própria desta aventura.
Esse é o filme que ficou famoso pelo Lotus Sprit, carro anfíbio charmosíssimo que ajudaram a fazer a fama de Moore como o Bond mais fantasioso e fantástico. O diretor Lewis Gilbert brinca com vários clichês da marca, como lutas na neve, vilões deformados, a exemplo de Jaws/Dentes de Aço feito por Richard Kiel. Esses aspectos ajudam a tirar um pouco a seriedade do filme, mas o equilíbrio entre momentos mais grotescos com os sóbrios são bem encaixados, resultando no mais exitoso da franquia nesse quesito.
Mesmo o cenário completamente louco de laboratório submarino do vilão é legal. O Karl Stromberg de Curd Jürgens não parece tão ameaçador, mas cabe bem ao estilo de aventura escapista que a adaptação de Ian Fleming apresenta. 007: O Espião que me Amava possui alguns problemas que certamente não seriam tão facilmente ignorados, sobretudo com sexismo, mas considerando sua época e o fato dos filmes de 007 replicarem sempre a cultura vigente há de se relevar boa parte dos seus pecados, já que está certamente está no hall das melhores aventuras do personagem, atendendo as expectativas de bons combates, romance e, claro, ações de investigação, em uma época onde o auge do escapismo residia exatamente nesse tipo de produção.